No processo evolutivo do Espírito, as personalidades construídas a cada nova encarnação vão extravasando as imperfeições carregadas por cada um. Pelo que o Espiritismo revela, o desenvolvimento da inteligência gera o conhecimento através da experiência, dotando o Ser da noção de responsabilidade que, por sua vez, vai expandindo a consciência. A noção de erro se manifesta e a culpa vai, a partir do remorso e arrependimento, levando-o a desejar a liberação dos registros gravados no inconsciente profundo com vistas a acessar a felicidade e a paz. Sem maior estudo do Espírito em sua estrutura profunda, a ciência mental não conseguirá entender a questão da origem dos transtornos. Na continuidade, algumas considerações de Allan Kardec capazes de nos auxiliar nessa busca: 1- Como se constrói no Espírito em evolução o mecanismo da culpa? Dominado pelo instinto - uma espécie de inteligência irracional - o Espírito começa a desenvolver a inteligência racional a partir das experiências que vai vivenciando. Os conhecimentos resultantes, registrados na memória de profundidade ou inconsciente, vão compondo um acervo de informações que cria a noção de responsabilidade que, por sua vez, vai expandindo a consciência, instrumento indutor e controlador da evolução. Nasce a compreensão do dever, a obrigação moral, primeiro consigo mesmo e depois com os outros. O dever começa precisamente no ponto em que alguém ameaça a felicidade ou tranquilidade do próximo, e termina no limite que não se deseja seja transposto em relação a si mesmo. O Espírito cumprindo seu dever é a um só tempo, juiz e escravo na sua própria causa. As ações intencionalmente executadas geram - quando contrárias às referências preservadas no Ser imortal ou Espírito - desarmonias que chamamos culpa conduzindo num primeiro momento ao remorso, no segundo ao arrependimento determinando o desejo da expiação e a necessidade de reparação para a dissipação daquilo que representa a dor de consciência. 2- Considerando valido que “na sua origem, o homem possui instintos; mais avançado e corrompido, possui sensações; mais instruído e purificado, possui sentimentos”, em que ponto os valores adquiridos e incorporados vão influenciando positivamente o trabalho evolutivo? À medida que as sensações corporais se tornam maiores, mais aperfeiçoadas, suas sensações espirituais também despertam e crescem. Então começa o trabalho moral e a depuração da alma se une à aspiração do corpo para chegar ao estado superior. Esse estado de igualdade de aspirações materiais e espirituais não é de longa duração. Logo o Espírito se eleva acima da matéria e suas sensações não mais podem ser satisfeitas por ela; necessita mais; precisa de melhor. Nesse ponto, tendo sido o corpo levado à perfeição sensitiva, não pode acompanhar o Espírito que, então, o domina e dele se desprende cada vez mais, como de um instrumento inútil. 3- Na escala de seres humanos presentes na Terra, o início da evolução se localiza entre os chamados selvagens? Sem dúvida os nossos selvagens estão muito atrasados em relação a nós, no entanto, já se acham bem longe de seu ponto de partida. Durante longos períodos, o Espírito encarnado é submetido à influência exclusiva dos instintos de conservação; pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes ou, melhor dizendo, se equilibram com a inteligência; mais tarde, e sempre gradualmente, a inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria responsabilidade. Se houvesse acaso ou fatalidade, toda responsabilidade seria injusta. O Espírito fica num estado inconsciente durante numerosas encarnações; a luz da inteligência não se faz senão aos poucos e a responsabilidade real só começa quando o Espírito age livremente e com conhecimento de causa.
Uma coisa, que eu não entendo, é
porque existem vulcões, terremotos, enchentes e outras calamidades, que tiram a
vida de milhares de pessoas boas e más ao mesmo tempo. Como que uma pessoa tão
boa, como a Dra. Zilda Arns, morreu quando estava fazendo o bem, e não foi
poupada por Deus. Essas coisas deixam a gente muitas vezes descrente de tudo.
Gostaria que vocês me dessem uma explicação. (Anônima)
O seu questionamento é o de todas as pessoas
que ainda não concebem a lei da reencarnação e processo evolutivo do Espírito.
É claro que, se a vida fosse uma única (apenas esta, que estamos vivendo agora),
não haveria explicação para a maioria dos sofrimentos humanos, sob o ponto de
vista da justiça de Deus. Se Deus é a justiça, também o amor e a verdade – se é
o Pai perfeito, de que Jesus nos falou; além de tudo, misericordioso – com
certeza, nada do que acontece no mundo (e, principalmente, aquilo que vem da
própria natureza) pode ser causa de alguma injustiça.
Se a
vida fosse única, como explicaríamos a sorte das crianças, que já nascem
limitadas, portadoras das mais graves deficiências ou enfermidades e que,
durante esta vida, jamais terão a oportunidade de viver como as outras
crianças? Por aí, podemos perceber que a ampla variedade de destinos do homem,
antes mesmo de considerarmos as circunstâncias da morte, já se dá a partir do
nascimento. Somente admitindo a lei da reencarnação, podermos entender porque
as sinas das pessoas neste mundo são tão diferentes.
A reencarnação, segundo o Dr. Décio Iândoli
Junior, é uma lei biológica (Leia este livro, A Reencarnação como Lei Biológica). O Espírito, ao longo de seu
longo processo evolutivo, vai passando por várias existências na Terra,
experimentando situações, as mais variadas, visando ao seu progresso moral e
intelectual. O fato de vivermos num planeta, onde o mal e a dor ainda dominam,
significa que somos Espíritos que precisamos desses tipos de experiências para
progredir. E nisso ninguém tem privilégio algum, pois todos sofrem e todos
passam pelo crivo da morte.
A Doutrina Espírita nos ensina que cada
Espírito, ao reencarnar, traz na sua consciência um plano de vida, que se
constitui na série de experiências que o ajudarão no seu desenvolvimento espiritual.
Há vários tipos de experiências, de acordo com o Espírito ou mesmo com as
coletividades espirituais. Algumas dessas experiências vêm em decorrência de
erros que ele cometeu no passado, outras de escolhas que ele fez visando ao
próprio crescimento.
Quando se trata de escolha (É bom que se diga
que nem todos os Espíritos têm condições de escolher), ao contrário do que se
pode pensar, essa escolha não visa ao seu bem-estar imediato nesta vida, mas à
realizações futuras. Alguns Espíritos escolhem tarefas difíceis, verdadeiros
desafios. Às vezes, são Espíritos que estão exercitando o amor em larga escala
e que, por isso, assumem pesados compromissos diante de coletividades ou com
uma causa nobre - situações que,
geralmente, exigem lutas e pesados sacrifícios.
Isso tudo para proporcionar a esses Espíritos
uma condição espiritual mais elevada, razão pela qual a maioria dos homens e
mulheres, que deixaram obras e lições de vida – como os abnegados, os santos,
os heróis anônimos e a própria Dra. Zilda Arns – são conhecidos pelos inúmeros
problemas que enfrentaram, mas, em compensação, deixaram recomendações de
elevado valor moral para todos nós.
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