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quarta-feira, 31 de março de 2021

O SEGREDO DA FELICIDADE; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

Paulo de Tarso já havia escrito ao Corinthios (13,1-7 e 13) que mesmo que falasse as línguas dos homens e dos anjos; tivesse o dom da profecia; conhecesse todos os mistérios; quanto se pode saber; tivesse fé a ponto de transportar montes; distribuísse todos os seus bens para os pobres; entregasse seu corpo para ser queimado; se não tivesse caridade nada seria. Afirmou ainda que entre as virtudes da fé, da esperança e da caridade, a maior de todas é a caridade. Dezenove séculos depois, no ano de 1860, escreveria em Paris, que “fora da caridade não há salvação”. Em depoimento preservado na obra O EVANGELHO DE CHICO XAVIER (didier), relata o médium mineiro que dois dias depois de haver recebido a primeira mensagem psicografada (8/7/1927), vivenciou emocionante e marcante experiência que o fez – apesar da própria pobreza material -, iniciar duas semanas depois, com a irmã Luiza, numa ponte na cidade de Pedro Leopoldo (MG), o auxílio a alguns indigentes ali refugiados, com quem repartiram oito pães que levavam num cesto, trabalho continuado até sua morte em Uberaba (MG), para onde se transferiu em 5 de janeiro de 1959. Sua ação foi, ao longo dos anos, acompanhada por milhares de visitantes que se dirigiam à cidade do Triangulo Mineiro, a fim de encontrá-lo aspirando receber uma orientação, uma palavra de conforto, uma mensagem de um ente querido. Um fragmento das peregrinações religiosamente cumpridas, especialmente aos sábados à tarde ou mesmo em algumas madrugadas, foi preservada no livro A PONTE (lake) pelo jornalista e escritor gaúcho Fernando Worm, convencido da autenticidade do fenômeno Chico Xavier num encontro não planejado que resultou numa entrevista para jornal do Estado em que vivia. Escreveu o competente Fernando: -“Nossa caravana para frente a uma casa construída com barro socado, em bairro bem humilde de Uberaba. Uma mulher grisalha e aflita acerca-se do médium logo à chegada do carro: -“Chico, meu neto está para morrer. Que é que eu faço? –“Minha irmã, a prece fervorosa de uma avó por um neto necessitado arromba as portas do céu!” Um grupo de pessoas postadas na calçada logo se acerca dele. Uma mulher ainda jovem, em estado de visível perturbação nervosa, vem ao seu encontro: -“Chico, estou com Espírito ruim encostado em mim. Tira ele de mim”. A singular resposta do médium veio com seu jeito mineiro de falar: -“Uai gente, pra que tirar o Espírito? Vamos evangelizar-nos todos, com ele junto”.  Logo uma recém-casada toma a dianteira, queixando-se de que o marido andava violento, enfurecendo-se por nada: -“A caridade quebra a violência. Minha filha, a harmonia nas nossas relações muitas vezes é fruto da caridade”. Enquanto alguns membros da nossa caravana colaboravam na distribuição de roupas, cobertores e víveres aos necessitados, Chico entra num casebre de portas e teto muito baixos, cumprimentando uma mãe de quatro filhos retardados, todos eles vítimas também de poliomielite. –“Chico, está tudo ruim, a vida anda pela hora do morte!”. Enquanto a dona de casa conta as mazelas do cotidiano em que vive, o médium estanca frente a um quinto menino, filho adotivo da mulher: -“Olha que menino inteligente a irmã tem. Tem olhos lindos e é seu amigo! Vamos pensar em coisa boa, gente. Em maré baixa ou em maré alta, vamos com Deus, aqui neste mundo todos estamos hospitalizados em processos de cura”. A mulher recebe dois travesseiros, um pequeno rancho e roupas, alegra-se um pouco mas logo volta a lastimar-se das lutas do dia a dia. –“A irmã conhece a história daquele pedaço de barro a exalar doce perfume? Certa vez perguntaram-lhe de onde provinha a fragrância que tinha e ele respondeu: -“É que durante certo tempo fui chão num depósito de rosas”. A casa seguinte, no outro lado da rua, é de uma senhora muito idosa, muda e entrevada num leito de tábuas há muitos anos. O olhar sofrido da anciã acende-se de súbita alegria quando Chico toma da sua mão e todos acompanhamos a prece feita por um dos caravaneiros em favor daquele lar e de seus moradores. Chico reconforta a enferma com muito empenho e carinho, sempre proferindo palavras reanimadoras e positivas, de paz e esperança. Ela então persigna-se erguendo os olhos para o céu e, enquanto orava, parecia-nos ouvir palavras de agradecimento, não obstante estarem seus lábio emudecidos há muitos anos. A cena causou funda impressão em todos que a presenciaram. A última casa que adentramos naquela radiosa manhã de domingo, programa de visitação aos irmãos deserdados que Chico Xavier mantém, como sempre, foi a de uma senhora mãe de uma moça entrevada há quase trinta anos, paralítica e surda-muda, vivendo em grandes dificuldades materiais. A enferma, sempre agitada no colo da mãe, de onde não quer sair as 24 horas do dia, parece acalmar-se enquanto é feita profunda prece de agradecimento pedindo as bênçãos de Deus, o amparo e o conforto  espiritual, em favor de todo nosso grupo. Á saída, enquanto íamos para o carro que nos conduzia, Chico acrescenta: -“Esta mãe, com a filha sempre nos braços, me faz lembrar um quadro da Madona. Estes dois Espíritos, naturalmente em resgate de existências anteriores, são para mim um nobre exemplo de fé e de aceitação que muito me edificam. Muitas vezes, em horas difíceis ou em momentos de provação dos quais preciso e mereço, meu pensamento se volta para esta casa e aqui encontro novas forças”.


  Ouvi o seguinte argumento de um colega que se diz ateu. “Se Deus é bom – e todos afirmam que é – e criou o homem para sofrer, aí existe uma grande contradição. Ele só seria bom, se nos criasse prefeitos e felizes, sem precisarmos de passar pelo sofrimento. Ademais, ele nos criou porque quis; nós não pedimos”. Gostaria de um comentário sobre isso.

 Em nenhum momento o Espiritismo afirmou que Deus nos criou para sofrer. Isso seria realmente uma grande contradição diante da bondade e do infinito amor que lhe atribuímos. Deus nos criou para sermos felizes, embora nós ainda não conseguimos sequer entender no que consiste esta felicidade. Não temos como penetrar nos seus elevados desígnios, porque ainda nos faltam condições para tanto. Contudo, mesmo com os elementos de que dispomos, podemos procurar compreender seus desígnios.

 Dentro da nossa acanhada compreensão humana, felicidade seria não ter preocupação, não ter problemas ou viver contemplando a vida sem ter o que fazer. Felicidade, então, seria a ausência de qualquer desconforto material ou moral, pois, a partir do momento em que temos algo a fazer, já começamos sofrer por antecipação. Portanto, parece que esse conceito não condiz com a realidade. Mesmo entre nós, humanos, não suportaríamos viver na completa ociosidade. Ou seja, não fazer nada ou não ter nenhum problema a resolver, nenhuma meta a atingir, na verdade, seria simplesmente insuportável.

 Dentro desta linha de pensamento, teríamos que buscar um outro conceito de felicidade que, talvez não caiba em nossa estreita compreensão. Quando os pais exigem da criança certo tipo de comportamento, não é com o intuito de prejudicá-la ou fazê-la sofrer. Pelo contrário. Eles sabem que, para ser feliz, o filho precisa aprender, e aprender, em nosso estágio evolutivo, é sofrer.  A criança, por sua vez, não vai entender os pais.  Naquele momento ela vai considera-los maldosos ou cruéis.

 Nossa reação diante do sofrimento e diante de Deus é parecida com a reação da criança ou do adolescente que acham absurdo ter que fazer a vontade dos pais e não a própria. O adolescente, revoltado, costuma dizer que não pediu para nascer, mas ele não tem a mínima consciência de que faz parte de um grande processo evolutivo e que, nesse processo, os pais têm  um importante papel no controle da educação daqueles que dependem de sua tutela e que tudo fazem para o seu bem.

 Um outro aspecto, que poderia ser lembrado quanto à criação, é que se Deus nos tivesse criado perfeitos, que tipo de felicidade poderíamos experimentar? Com certeza, não seria a felicidade de ter conquistado as próprias virtudes, de ter realizado algo de valor ou de sermos donos de nós mesmos. Seriamos como filhos, que receberam tudo dos pais, menos a educação para serem independentes e autossuficientes, ou que não saberiam viver por si mesmos,

 Logo, o propósito de Deus está voltado para a nossa auto realização, para a nossa capacidade de criar o próprio caminho. Isso mostra que Deus não quis todo o mérito da criação da si, mas ele deu a cada um a capacidade de demonstrar do que é capaz ao longo de seu caminhar evolutivo. Ou seja, nós, Espíritos, não somos seres passivos, pois participamos diretamente da criação e, na linguagem de André Luiz, somos cocriadores.

Eis porque a felicidade consistiria na satisfação que cada um vai alcançar de ter percorrido o próprio caminho, de ter vencido os próprios obstáculos, criando para si um destino glorioso, quando então se encontrará com a própria perfeição. É por isso que costumamos dizer que a maior satisfação de qualquer de nós pode alcançar na vida é a de se sentir útil e a pior, é a de sofrer os revezes de sua incapacidade de servir.

 

terça-feira, 30 de março de 2021

A SENSATEZ DE ALLAN KARDEC; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Mais de 20 bilhões de Espíritos conscientes, desencarnados, compõem parte dos alunos matriculados no grande Educandário chamado Terra, dentre “as muitas moradas da Casa do Pai”, revelou o Orientador Espiritual Emmanuel, no livro ROTEIRO (feb, 1952). Dois terços “ligados aos núcleos terrenos e um terço de Espíritos relativamente enobrecidos transformados em condutores da marcha ascensional dos companheiros”, escreveu André Luiz no EVOLUÇÃO EM DOIS MUNDOS (feb,1958). Como se percebe um trabalho imenso para conduzir o Planeta à condição de Regeneração. Em observação preservada na edição de outubro de 1866, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec oferece algumas ideias de como se processa esse gigantesco trabalho: -“  Uma comparação vulgar fará se compreenda melhor ainda o que se passa nessa circunstância. Suponhamos um regimento, em sua grande maioria composto de homens turbulentos e indisciplinados: estes provocarão incessantes desordens, que a severidade da lei penal muitas vezes terá dificuldade em reprimir. Esses homens são os mais fortes, porque mais numerosos; sustentam-se, encorajam-se e se estimulam pelo exemplo. Os poucos bons não têm influência; seus conselhos são desprezados; são ultrajados, maltratados pelos outros e sofrem este contato. Não é a imagem da sociedade atual? Imaginemos que tais homens sejam retirados do regimento, um a um, cem a cem, e substituídos por igual número de bons soldados, mesmo pelos que tiverem sido expulsos, mas que se tenham emendado seriamente: ao cabo de algum tempo ter-se-á sempre o mesmo regimento, mas transformado; a boa ordem nele terá sucedido a desordem. Dar-se-á o mesmo com a Humanidade regenerada. As grandes partidas coletivas não apenas terão como objetivo ativar as saídas, mas transformar mais rapidamente o espírito da massa, desembaraçando-a das más influências, e dar maior ascendente às ideias novas. Eis por que muitos partem, a despeito de suas imperfeições, a fim de se retemperarem numa fonte mais pura, porque estão maduros para esta transformação. Se tivessem ficado no mesmo meio e sob as mesmas influências, teriam persistido em suas opiniões e em sua maneira de ver as coisas. Basta uma estada no mundo dos Espíritos para lhes abrir os olhos, porque aí vêem o que não podiam ver na Terra. O incrédulo, o fanático, o absolutista poderão, assim, voltar com ideias inatas de fé, de tolerância e de liberdade. Em seu regresso, encontrarão as coisas mudadas e sofrerão o ascendente do novo meio onde nascerem. Em vez de fazer oposição às ideias novas, serão seus auxiliares. Assim, a regeneração da Humanidade não necessita absolutamente da renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Esta modificação se opera em todos os que a isto forem predispostos, quando subtraídos à influência perniciosa do mundo. Nem sempre os que voltarem serão outros Espíritos, mas, muitas vezes, os mesmos Espíritos, pensando e sentindo diversamente. Quando essa melhora é isolada e individual, passa desapercebida e não tem influência ostensiva no mundo. Outro será o efeito, quando operada simultaneamente em grandes massas, porque, então, conforme as proporções, em uma geração as ideias de um povo ou de uma raça poderão ser modificadas profundamente. É o que se nota quase sempre depois dos grandes abalos que dizimam as populações. Os flagelos destruidores só destroem o corpo, mas não atingem o Espírito; ativam o movimento de vaivém entre o mundo corporal e o mundo espiritual e, em consequência, o movimento progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados. É um desses movimentos gerais que se opera neste momento, e que deve desencadear o remanejamento da Humanidade. A multiplicidade das causas de destruição é um sinal característico dos tempos, porque deve apressar a eclosão dos novos germes. São as folhas de outono que caem, e às quais sucederão novas folhas, cheias de vida, pois a Humanidade tem as suas estações, como os indivíduos as suas idades. As folhas mortas da Humanidade caem, levadas pela ventania, para renascer mais vivazes, sob o mesmo sopro de vida, que não se extingue, mas se purifica”.



Um indivíduo que comete um crime bárbaro com requinte de crueldade merece o perdão de Deus?”

Pensem conosco. Apesar da insistência de Jesus quanto à necessidade de nos amarmos uns aos outros e até mesmo os inimigos, de uma maneira geral, ainda não conseguimos vivenciar o que é o verdadeiro amor fraterno. Por isso, por mais queiramos compreender, ainda nos situamos um tanto distante da concepção de que todos somos verdadeiramente irmãos e ao mesmo tempo filhos amados de Deus.

 Do ponto de vista lógico até que é fácil concluir que, sendo Deus o Pai de todos – dos bons e dos maus, dos justos e dos injustos – Ele quer que nos amemos, pois a maior alegria de um pai é saber que seus filhos se querem bem e tudo fazem para isso. Não foi por outro motivo que Jesus insistiu tanto nesse ponto e jamais demonstrasse repulsa ou ódio contra quem quer que fosse.

 Contudo, trazer essa situação para o campo dos nossos sentimentos é muito difícil e impossível numa única vida, por que ainda não aprendemos a amar de verdade e certamente vamos deixar esta vida sem aprender. Amamos, sim, aqueles que nos amam, mesmo assim, até certo ponto. Damos em troca aquilo que recebemos.

Se alguém se volta contra nós, até com o intuito de nos prejudicar, ou se desconfiarmos que essa pessoa quer nos prejudicar, então esquecemos dessa palavra “amor” e no lugar dela proclamamos ódio e violência contra o pretenso agressor. Infelizmente, esta ainda é a realidade de nosso planeta.

  Mas todos sabemos  não foi isso que Jesus ensinou. Ao proclamar o amor, até mesmo ao inimigo, ele não ficou apenas no discurso vazio: ele deu exemplo vivo do que é amar o inimigo, que é seu irmão. Não condenou Judas que o traiu, nem Pedro que o negou repetidas vezes e, ao final da vida, demonstrou extrema compreensão até mesmo para aqueles que o condenaram e o executaram com requinte de crueldade numa cruz, pedindo a Deus que os perdoasse, porque não sabiam o que faziam.

 Jesus demonstrou que o perdão de Deus é sempre possível, pois Deus é nosso Pai e nos ama indistintamente.  O perdão, pois, não é uma exceção, é a regra na lei divina. O Pai nos perdoa porque nos compreende. Ele sabe de nossas necessidades, sabe de nossas fraquezas. Antes de cometermos um erro, Ele sabe que vamos errar. Mesmo assim, não nos impede de fazê-lo. Primeiro, porque nos dá inteira liberdade de decidir; depois porque sabe que esse erro de hoje, por pior que seja, nós o corrigiremos amanhã. Todavia, só vamos entender esse mecanismo da misericórdia divina, se consideramos a lei da reencarnação.

 Um assassino incorrigível também tem mãe. Com certeza, a mãe ama o filho assassino e o defende, ainda que ele tenha cometido um crime hediondo. E a grande parte das mães dos criminosos lutarão até o fim para que seus filhos não sejam condenados, porque elas os amam. Se esse filho, ao final desta vida, fosse para o inferno como muita gente acredita, com certeza, essas mães prefeririam estar lá com ele, no inferno, do que no céu sem eles, pois, neste caso, o céu lhes seria de eterno sofrimento.

 Ora, se o amor de mãe chega a tal condição extrema, imaginem o que não é o amor de Deus para com  todos nós. O Pai celestial, segundo a expressão de Jesus, ama mais seus filhos do que qualquer pai ou mãe humanos. O amor de Deus é perfeito e infinito. Deus sabe que o nosso destino glorioso será junto Dele, mas sabe também que todos nós, indistintamente, respondemos pelos erros praticados, a ponto de corrigi-los um dia e nos colocarmos quites com a Lei de Justiça e de Amor.

 Por isso, sempre é que dizemos que, para entendermos a justiça divina, precisamos considerar a necessidade da reencarnação, pois só através das muitas vidas sucessivas, das múltiplas oportunidades de nos redimir através da dor e do aprendizado, é que, aos poucos - e muitas vezes a duras penas -  vamos galgando a escala evolutiva para alcançar a nossa relativa perfeição.

 

 

 

 

segunda-feira, 29 de março de 2021

PONTO DE PARTIDA, POIS, NÃO EXISTEM MILAGRES; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

-“Seria conhecer bem pouco os homens, pensar que uma causa qualquer pudesse transformá-los por encanto. As ideias se modificam pouco a pouco, com os indivíduos, e são necessárias gerações para que se apaguem completamente os traços dos velhos hábitos. A transformação, portanto, não pode operar-se a não ser com o tempo, gradualmente, pouco a pouco. Em cada geração uma parte do véu se dissipa”, responderam os Espíritos a Allan Kardec quando questionados (pergunta 800) sobre a possibilidade, por exemplo, do Espiritismo “vencer a indiferença dos homens e seu apego às coisas materiais”. Vivia-se apenas metade do século 19 e o materialismo já se constituía no grande obstáculo ao progresso da paz e da felicidade na sociedade humana. Sua destruição, aliada à destruição dos preconceitos de seita, de casta e de cor, conduziriam naturalmente os homens à grande solidariedade que os deve unir como irmãos. Ponderando que “nem o próprio Cristo convenceu seus contemporâneos com os prodígios que realizou”, apontaram a razão, a lógica, como o meio através do qual as mudanças se operariam. O próprio Jesus disse ser necessário “a ocorrência do escândalo” para - quem sabe - sair-se da inércia, da acomodação, da zona de conforto, em que parcela menor da sociedade se mantem.  Porque a maioria sofre apenas os efeitos do descaso dos egoístas e orgulhosos. Necessário, porém, dar o primeiro passo. Inteligências astutas e dissimuladas, em nome de ideologias pessoais, certamente estudam o movimento das massas no sentido de encontrar a melhor forma de manobrá-las na direção de conhecidos interesses. Provavelmente vençam mais uma vez.  A Educação Moral não é nem cogitada por aqueles cujos gritos acordam os letárgicos, liderando-os não se sabe em que direção. Em comentário à questão 685 d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Kardec escreve: -“ Quando se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, em freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das consequências desastrosas desse fato?”. Linhas antes, ele ponderara: “Não basta dizer ao homem que ele deve trabalhar., é necessário também que o que vive do seu trabalho encontre ocupação, e isso nem sempre acontece. Quando a falta de trabalho se generaliza, toma as proporções de um flagelo, como a escassez. A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, sofrerá intermitências e durante essas fases o trabalhador tem necessidade de viver. Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar caracteres, aquela que cria hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos”. Concluindo suas ilações, Kardec diz: “-Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem e previdência para si e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar de maneira menos penosa os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o ponto de partida, o elemento real do bem estar, a garantia da segurança de todos”. Como se vê não é tarefa de um governante durante seu mandato, nem de uma geração. Resultados a médio e longo prazo. Será que o imediatismo derivado da ambição permitirá  que se trabalhe para o futuro, no agora? 


  

 Considerando a forma como a Doutrina Espírita vê a infância, como ficaria, por exemplo, a situação de uma criança de 11 ou 12 anos, que cometesse um crime? Com o ficaria a consciência dela? E como ver a responsabilidade dos pais nesse caso? (JU)

 De acordo com a lei humana, enquanto criança e adolescente nenhum ato infracional praticado pelo individuo, mesmo o mais atroz, é considerado crime. Neste caso, o menor de idade é passível de medidas sócio educativas perante a sociedade.  Isso não impede que um determinado homicídio seja praticado por um menor, até mesmo por um menor de 11 ou 12 anos, tecnicamente na transição da infância para a adolescência.

 De acordo com o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, uma infração dessa natureza teria como consequência a internação do menor numa instituição de caráter educacional, como é o caso da Fundação Casa (antiga FEBEM), onde ele permanecerá por alguns anos com a finalidade de reeducar-se para a vida social.

 O ECA tem por objetivo proteger os direitos dos menores e considera que seus desvios de conduta, trazendo problema para a sociedade e particularmente para ele-o infrator,  devem-se  mais à falha da sociedade, porque, tecnicamente, o menor ( criança e adolescente) não teria a necessária maturidade para agir com conhecimento de causa.

 Do ponto de vista espiritual, a realidade é mais ampla e tem outras implicações, mas, de qualquer forma, não podemos desconsiderar como atenuante ao Espírito que o ato violento vai pesar menos na sua consciência do que se fosse praticado por um adulto, já que o Espírito está temporariamente vivendo num corpo em desenvolvimento e com uma consciência moral ainda não tão bem preparada para a vida.

 Diante da lei de Deus há uma diferença significativa entre um ato praticado de forma consciente ou deliberada e outro em que se não tinha plena consciência do que se estava fazendo. No entanto, o que vai decorrer do mal praticado depende da condição espiritual do agente. É possível que o assassinato se deu de forma apenas acidental; é possível que tenha faltado o cuidado necessário para evitá-lo e é possível, ainda, que o ato atendeu a um impulso momentâneo decorrente de uma crise raiva ou até de ligações desastrosas do passado entre o autor e a vítima do homicídio.

 Aos 11- 12 anos o indivíduo já tem noção de causa e efeito, já é capaz de fazer associações de ideias, de medir consequências (ainda que imperfeitamente) e de ter alcançado certo nível de compreensão de valores morais, notadamente os que aprendeu com seus pais. Como isso vai repercutir em sua mente, contudo, depende do nível espiritual alcançado e do poder de intervenção dos pais na sua educação.

 Um ato dessa natureza, nesta idade, certamente será impactante para a pessoa e terá repercussão negativa em sua vida adulta, podendo gerar transtornos emocionais mais ou menos graves. Ela corre o risco de desenvolver um comportamento psicótico ligado à culpa, dependendo do grau de moralidade que alcançou nesta vida. Mas não é tão simples fazer um prognóstico de um caso como esse, embora, em linhas gerais, é o que tende a acontecer.

 Com relação aos desvios de comportamento de crianças e adolescentes, convém lembrar a necessidade de os pais, desde cedo, procurar desenvolver nos filhos ideias elevadas do ponto de vista moral,  podendo para tanto recorrer aos seus princípios religiosos, que têm grande peso na conduta das pessoas. Pais, que falam de religião, mas não se esforçam por viver o princípio do amor ao próximo, terão dificuldades de conseguir bons comportamentos dos filhos. 

 

  

domingo, 28 de março de 2021

UMA EXPERIÊNCIA, VÁRIAS CONFIRMAÇÕES; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 No extraordinário laboratório em que transformou a Sociedade Espírita de Paris, que como se sabe, dispunha de vários médiuns – segundo Allan Kardec cumprindo a mesma função do microscópio na pesquisa das formas de vida infinitamente diminutas -, na reunião de 10 de fevereiro de 1860, provocou-se com a concordância do dirigente espiritual das atividades ali desenvolvidas, a comunicação da senhorita Indermuhule, uma surda-muda de nascença, 32 anos de idade, ainda encarnada, residente em Berna, na Suiça, outro País, portanto. Presente à sessão estava um dos seus irmãos que confirmou várias respostas. Conforme reproduzido na edição de março de 1860, da REVISTA ESPÍRITA, após a primeira resposta do Espírito da jovem, fato confirmado por São Luiz, que acrescentou que competia a Kardec, a garantia de uma boa comunicação pela natureza e motivo das perguntas a serem feitas, iniciou-se a entrevista com a entidade, repetimos, ainda encarnada: 1- Sabeis bem onde vos encontrais agora? R- Perfeitamente. Pensais que eu não tenha sido instruída a respeito? A partir daí, quinze questões foram propostas à senhorita Indermuhle, algumas das quais confirmando várias das revelações oferecidas pelo Espiritismo. 4. Como podeis responder aqui, se vosso corpo está na Suíça?. Resp. – Porque não é meu corpo que responde. Aliás, como bem o sabeis, ele é absolutamente incapaz de o fazer. 5. Que faz vosso corpo neste momento? Resp. – Cochila. A propósito dessa respostas, quase um século depois, uma obra do Espírito André Luiz, através do médium Chico Xavier, apresenta um exemplo sobre como a Espiritualidade pode criar essas condições. É no livro AÇÃO E REAÇÃO (feb, 1957), fato assim descrito pelo autor:  “Silas emitiu forte jato de energia fluídica sobre o córtex encefálico dela, e a moça, sem conseguir explicar a si mesma a razão do torpor que lhe invadia o campo nervoso, deixou-se adormecer pesadamente, qual se houvera sorvido violento narcótico”. 7. Quanto tempo levastes para vir da Suíça até aqui? R. – Um tempo inapreciável para vós. 8. Vistes o caminho que percorrestes? R. – Não. 9. Estais surpresa de vos achar nesta reunião? R – Minha primeira resposta vos prova que não. 10. Que aconteceria se vosso corpo despertasse, enquanto nos falais aqui? R. – Eu lá estaria. 11. Existe um laço qualquer entre o vosso Espírito, aqui presente, e o corpo, que se encontra na Suíça? R. – Sim; não fora assim, quem me advertiria de que devo voltar a ele? 10. Que aconteceria se vosso corpo despertasse, enquanto nos falais aqui? R. – Eu lá estaria. 11. Existe um laço qualquer entre o vosso Espírito, aqui presente, e o corpo, que se encontra na Suíça? R. – Sim; não fora assim, quem me advertiria de que devo voltar a ele? 14. Ouvis o ruído que faço neste momento, batendo? R – Aqui não sou surda. 15. Como percebeis, visto que, por comparação, não tendes a lembrança do ruído em estado de vigília? R. – Eu não nasci ontem. OBSERVAÇÃO – A lembrança da sensação do ruído lhe vem das existências em que ela não era surda. 18. Como podeis responder-nos em francês, já que sois alemã e não conheceis a nossa língua? R. – O pensamento não tem língua; eu o comunico ao guia do médium, que o traduz na língua que lhe é familiar. OBSERVAÇÃO – Desta maneira, muitas vezes as respostas não nos chegariam senão de terceira mão. O Espírito interrogado transmite o pensamento ao Espírito familiar, este ao médium e o médium o traduz, seja pela escrita, seja pela palavra. Ora, podendo o médium ser assistido por Espíritos mais ou menos bons, isto explica como, em muitas outras circunstâncias, o pensamento do Espírito interrogado pode ser alterado.



 O Cristiano, ouvinte de Vera Cruz, enviou-nos a seguinte mensagem: “Peço comentários sobre a seguinte afirmação de Allan Kardec, na Revista Espírita de 1864, mês de novembro, aos espíritas de Bruxelas e Antuérpia: Aquilo que fiz outro poderia ter feito em meu lugar. E acrescenta: Naquela época só Kardec publicou livros sobre o Espiritismo?”

 O que deve ficar claro, Cristiano, é que foi Allan Kardec quem elaborou a Doutrina Espírita, a partir das observações, estudos de fenômenos mediúnicos, e informações fornecidas pelos Espíritos. Ao que tudo indica, os Espíritos encarregados de revelar a doutrina sabiam da seriedade de Kardec, de seus conhecimentos científicos, de sua dedicação e coragem, de seu compromisso com a verdade e, portanto, confiaram a ele a missão de produzir as obras, que seriam a base e o fundamento do Espiritismo.

  É claro que esse empreendimento não surgiu de repente e nem caiu pronto do céu. Tampouco os Espíritos, comandados pelo Espírito da Verdade, escolheram o primeiro que encontraram para a realização desse trabalho. Ao que tudo indica, o plano de ação Kardec deve ter sido elaborado no mundo espiritual, antes mesmo de sua encarnação quando, então, ele foi preparado para a missão. Se a nova revelação estava nos planos de Jesus, com certeza, envolveu muita gente, antes mesmo de Kardec.

  No século XVIII, por exemplo, um cientista sueco, chamado Emanuel Swedenborg havia se interessado pela pesquisa de fatos espirituais que, na época, era um terreno proibido. Por isso mesmo, ele foi mal visto e até perseguido; tanto assim que  seu trabalho não prosperou. Pensadores e filósofos dos séculos anteriores e mesmo do século XIX , vinham contestando a religião com argumentos racionais, atacando alguns pontos vitais do pensamento religioso. 

  Jean-Jacques Rousseau afirmava que “tudo que Deus criou é bom”, contestando a doutrina do pecado original;  para Emmanuel Kant a alma é imortal, não apenas por questão de fé, mas por razões lógicas que sustentam essa fé.  Leibniz chega a falar sobre a natureza do espírito em comparação com o corpo humano, afirmando que tudo está submetido às leis de Deus.

 Com esses e outros argumentos da filosofia, faltava aliar à razão a atuação da espiritualidade, o que se tornou possível com as manifestações mediúnicas. Kardec já conhecia o magnetismo de Mesmer e tinha noções de que havia um mundo de irradiações invisíveis, capaz de atuar sobre o mundo físico. Devido ao seu espírito prático, o estudo da mediunidade lhe permitiu chegar a conclusões que seus antecessores não puderam alcançar, surgindo assim o Espiritismo.

  Allan Kardec, porém, teve muitos opositores, dentro e fora do movimento espírita. Para aqueles que reclamam sua posição, pois o consideravam como chefe da doutrina, Kardec respondia que o Espiritismo não tinha chefes, nem tampouco hierarquia; que seu trabalho foi de reunir material para elaborar a doutrina, mas abstinha-se de considerar com seu criador, pois as informações contidas nas obras foram dadas pelos Espíritos. E, com bastante modéstia, ele dizia que o trabalho que estava fazendo poderia ser feito por outra pessoa e que, portanto, ele (Kardec) se considerava como um aprendiz dos Espíritos e seu trabalho, se não fosse por ele, poderia ser feito por outra pessoa, como os Espíritos já lhe tinham dito.

  Quanto a outras obras espíritas no mesmo período, devemos considerar que, a partir do LIVRO DOS ESPÍRITOS, surgiram outras obras de outros autores, buscando abrir mais esse caminho. Nem todas essas obras, porém, eram coerentes com os postulados da Doutrina Espírita. Mesmo assim, num dos últimos escritos às vésperas de sua desencarnação, Kardec publica i um catálogo de obras para leitura e reflexão, considerando a importância de se ler obras de outros autores. Dentre elas, ele recomendava, cerca de trinta livros que, à época, tratavam de Espiritismo.

sábado, 27 de março de 2021

EM MÉDIA 50 HORAS; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Verdade ou mentira? Fantasia ou realidade? Uma amiga comentou há poucos dias que, embora não goste de ir a enterros, atendeu ao pedido de colega para darem uma passada no de pessoa de seu relacionamento visto estar próximo   do horário do enterro. Acedendo, embora não tenha entrado no recinto onde   se dava o velório, enquanto aguardava o retorno da amiga, médium que é, começou a ouvir os pedidos de socorro da entidade desperta ainda ligada ao corpo do qual estava em processo de desencarnação, gritando estar viva, perguntando por que não a atendiam ou ouviam. Apesar de intimamente guardarmos a certeza de que a vida continua, mesmo, por vezes, seguidores do Espiritismo, preferimos ignorar o conteúdo substancial oferecido pela Doutrina que, ao contrário, de inúmeras outras, fala de forma clara e objetiva sobre os detalhes dessa transição de nossa Dimensão para aquela para a qual nos dirigiremos. O Espírito Emmanuel, respondendo a uma das inúmeras questões a ele dirigidas pelo jornalista Clementino de Alencar para o jornal O GLOBO – ver o livro NOTÁVEIS REPORTAGENS COM CHICO XAVIER (ide)-, enquanto opinava a respeito da cremação, esclareceu que em condições normais, o desligamento do corpo espiritual do corpo físico a ser abandonado pelo fenômeno da morte, demanda em média 50 horas. O próprio Emmanuel havia dito na obra O CONSOLADOR (feb,1940), que “a situação de surpresa ante os acontecimentos supremos e irremediáveis que determinam a morte física, proporcionam sensações muito desconfortáveis à alma desencarnada” e o Espírito Abel Gomes, em mensagem contida na obra FALANDO Á TERRA (feb,1954), pondera que “somente alguns poucos Espíritos treinados no conhecimento superior conseguem evitar as deprimentes crises de medo que, em muitos casos, perduram por longo tempo”. Chico Xavier, em comentário registrado na obra INESQUECÍVEL CHICO XAVIER (geem), “revela que oitenta porcento das criaturas que desencarnam, voltam-se para a retaguarda sem condições de ascenderem a Planos Elevados. Apenas vinte porcento gravitam para Esferas mais altas”. Isso nos lembra depoimento de um empresário desencarnado  através do próprio médium, na noite de 14 de junho de 1955. Disse, entre outras coisas: -“Industrial, administrador e homem público, em atividade intensa e incessante, não admitia que o sepulcro me requisitasse tão apressadamente à meditação. A angina, porém, espreitava-me, vigilante, e fulminou-me sem que eu pudesse lutar. Recordo-me de haver sido arremessado a uma espécie de sono que me não furtava-me  a consciência e a lucidez, embora me aniquilasse os movimentos. Incapaz de falar, ouvi gritos dos meus e senti que mãos amigas me tateavam o peito, tentando debalde restituir-me a respiração. Não posso precisar quantos minutos gastei na vertigem que me tomara de assalto, até que, em minha aflição por despertar, notei que a forma inerte me retomava a si, que minhalma entontecida regressava ao corpo pesado; no entanto, espessa cortina de sombra parecia interpor-se entre os meus afeiçoados e a minha palavra ressoante, que ninguém atendia...Inexplicavelmente, assombrado, em vão pedia socorro, mas acabei por resignar-me à ideia de que estava sendo vítima de estranho pesadelo, prestes a terminar. Ainda assim, amedrontava-me a ausência de vitalidade e calor a que me via sentenciado. Após alguns minutos de pavoroso conflito, que a palavra terrestre não consegue determinar, tive a impressão de que me aplicavam sacos de gelo aos pés. Por mais verberasse contra semelhante medicação, o frio alcançava-me todo o corpo, até que não pude mais...Aquilo valia por expulsão em regra. Procurei libertar-me e vi-me fora do leito, leve e ágil, pensando, ouvindo e vendo...Contudo, buscando afastar-me, reparei que um fio tênue de névoa branquicenta ligava minha cabeça móvel à minha cabeça inerte. Indiscutivelmente delirava – dizia de mim para comigo-, no entanto aquele sonho me dividia em duas personalidade distintas, não obstante guardar a noção perfeita de minha identidade. Apavorado, não conseguia maior afastamento da câmara íntima, reconhecendo, inquieto, que me vestiam caprichosamente a estátua de carne, a enregelar-se. Dominava-me indizível receio. Sensações de terror neutralizavam-me o raciocínio. Mesmo assim, concentrei minhas forças na resistência. Retomaria o corpo. Lutaria por reaver-me. O delíquio inesperado teria fim. Contudo, escoavam-se as horas e, não obstante contrariado, vi-me exposto à visitação publica”...Depois de detalhar interessantes lances da exposição publica do seu velório, o Doutor G, acrescentou: -“Estava inegavelmente morto e vivo (...). Curtia dolorosas indagações, quando, em dado instante arrebataram-me o corpo. Achava-me livre para pensar, mas preso aos despojos hirtos pelo cordão que eu não podia compreender e, em razão disso, acompanhei o cortejo triste, cauteloso e desapontado (...). A vizinhança do cemitério abalava a escassa confiança que passara a sustentar em mim mesmo. O largo portão aberto, a contemplação dos túmulos à entrada e a multidão que me seguia, compacta, faziam-me estarrecer. Tentei apoiar-me em velhos companheiros de ideal e de luta, mas o ambiente repleto de palavras vazias e orações pagas como que me acentuava a aflição e o desespero. Senti-me fraquejar. Chamei debalde por socorro, até que, com os primeiros punhados de terra atirados sobre o esquife, caí na sepultura acolhedora, sem qualquer noção de mim mesmo (...). Por vários dias repousei, até que, ao clarão da verdade, reconheci que as tarefas do industrial e político haviam terminado (...). Antigas afeições surgiram, amparando-me a luta nova”.   


  Comentário da Maria Ivone, ouvinte de nosso programa. Ela diz o seguinte:  “Li numa revista que o maior milagre que Jesus realizou foi quando ele próprio voltou da morte, aparecendo para discípulos e seguidores, mas essa ressurreição não foi a primeira. Ele já tinha ressuscitado outras pessoas. Depois que li A GÊNESE, livro de Allan Kardec, é que fui entender o que realmente aconteceu, pois o Espiritismo não acredita em milagres.”

 De fato, o conceito de milagre, quando entendido como derrogação das leis da natureza, de fato não existe no Espiritismo. O que Espiritismo considera são os fenômenos naturais, muitas vezes incríveis ou inexplicáveis aos nossos olhos, que podem parecer sobrenaturais, quando desconhecemos suas causas ou não conhecemos seus mecanismos. Jesus, como Espírito puro, tinha faculdades especiais para lidar com esse tipo de fenômeno.

  Sobre este assunto, a primeira questão de ordem lógica que o Espiritismo levanta é por que Deus precisaria fazer milagres, se Ele já é todo poder e toda perfeição, se criou tudo e, portanto, pode tudo. O quer mais se espera de Deus? Por que Ele teria que derrogar a que ele mesmo fez? Somente para demonstrar que tem poder? Mas seu poder já está demonstrado no cumprimento das suas leis. A vida e a morte fazem parte das leis de Deus.

 Acontece, porém, que o ser humano não conhece todas as leis da natureza. A ciência, por mais que evolua, não é capaz de nos dar todas as respostas para todas as perguntas ou desvendar todos os mistérios do universo. Isso significa que existem leis que desconhecemos e que só vamos conhecer com a evolução moral e espiritual da humanidade. A pandemia da Covid-19 parou o mundo, revirou os laboratórios, pôs os cientistas para trabalhar com celeridade, demonstrando que a natureza guarda segredos que desconhecemos. O Espiritismo veio justamente para nos esclarecer sobre um aspecto ainda desconhecido da lei de Deus, no que diz respeito ao mundo espiritual, que não é da alçada da ciência.

 Contudo, nos evangelhos encontramos vários casos de ressurreição, como a da filha de Jairo e da viúva de Naim, de Lázaro e do próprio Jesus, mas a de Jesus foi um caso diferente dessas anteriores. As outras ressurreições, na verdade, pela forma como foram descritas e abordadas por Jesus, aconteceram porque as pessoas estavam num estado cataléptico e não propriamente mortas, como se pensava. Kardec explica cada uma delas no seu livro A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO.

  A chamada ressurreição de Jesus foi outra coisa bem diferente. De fato, Jesus morreu. Houve problemas quanto ao sepultamento e depois foi constatado o desaparecimento de seu corpo. Mas o que ressuscitou – o que apareceu às mulheres, aos discípulos e a centenas de seguidores - não foi seu corpo físico, e sim seu corpo espiritual ou perispírito, como chamamos no Espiritismo. Quem disse isso foi Paulo na 2ª Epístola aos Coríntios, capítulo 15.

 Da mesma forma que Paulo o Espiritismo entende. Todos ressuscitamos após a morte com um corpo que traz as aparências do corpo que morreu, mas ressuscitamos num corpo espiritual e não no corpo material. Desse modo, após sua morte, Jesus reapareceu aos discípulos com seu perispírito e, para demonstrar a Tomé que era ele mesmo, até com as marcas do martírio que sofreu no episódio da crucificação.

  Com isso Jesus cumpre o que havia ensinado: a vida continua, a morte do corpo não é o fim. A vida na Terra é apenas uma passagem; logo não estaremos mais aqui. A verdadeira recompensa está além desta vida. Somos seres espirituais, filhos de Deus, criados para um fim glorioso, pois o Pai ama a todos os seus filhos igualmente, mesmo os nossos inimigos, e não despreza ninguém.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

                     

 

sexta-feira, 26 de março de 2021

LUCIDEZ; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 As questões de ordem mental não estavam entre as prioridades da Medicina em meados do século 19. Os portadores de distúrbios nesta área eram tratados de forma desumana. N’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, questões 371 a 374, Allan Kardec argui a Espiritualidade sobre o assunto, obtendo informações interessantes a respeito da chamada idiotia, hoje classificada pela Psiquiatria como tríade oligofrênica que é caracterizada pelo menor grau de desenvolvimento intelectual, sendo incapaz de articular palavras; assimilar noções de higiene ou mesmo desenvolver pudor. O século 20 abriu campo para evoluções no conhecimento e tratamento dos portadores do chamado durante bom tempo excepcional, substituído pelo termo especial.  Mas, por traz do corpo limitado por várias restrições, nem sempre somente mentais, como se encontra o Espírito dele prisioneiro. Na REVISTA ESPÍRITA de junho de 1860, seu editor incluiu interessante material em torno de uma abordagem a respeito da questão havida na reunião da Sociedade Espírita de Paris, de 25 de maio passado.  Como campo de estudo, Charles de Saint-G..., um jovem idiota de treze anos, encarnado, e cujas faculdades intelectuais eram tais que nem conhecia os pais e apenas podia alimentar-se. Havia nele uma parada completa do desenvolvimento em todo o sistema orgânico. Pensou-se que poderia ser assunto interessante de estudo psicológico. Consultado, o Espírito São Luiz, responsável pelas atividades da Sociedade Espírita de Paris, respondeu afirmativamente, explicando que isso poderia ser feito a qualquer momento, pelo fato de sua alma se ligar ao corpo por laços materiais, mas não espirituais, podendo sempre desprender-se”. Cumpridos os procedimentos habituais, o comunicante começou iniciou sua manifestação dizendo ser “um pobre Espírito ligado a Terra, como uma ave por um pé”. Indagado se tinha consciência de sua nulidade no mundo, responde: -“Certamente: sinto bem meu cativeiro”. Perguntado se quando seu corpo dormia e seu Espírito se desprendia, tinha ideias tão lúcidas quanto se estivesse em estado normal, informou que “estava um pouco mais livre para se elevar ao Céu a que aspirava”. Questionado se como Espírito experimentava um sentimento penoso quanto ao seu estado corporal, respondeu que sim, “por se tratar de uma punição”. Quanto a se lembrar de sua existência anterior, disse que “sim, por ser ela a causa de seu exílio atual”. Revelou na entrevista conduzida por Allan Kardec que a encarnação onde se desencadeou sua desventura na presente existência, ocorreu ao tempo em que reinava Henrique III; que a forma como se processava seu reajuste não resultara de uma decisão sua, mas uma imposição como forma de punição; que embora parecesse nula pelas limitações em que vivia, tal existência perante as Leis de Deus tem sua utilidade; que não viveria muitos anos mais; que da existência em que  gerou a desarmonia atual trezentos anos antes até a reencarnação recém-terminada, permaneceu no Plano Espiritual. Sobre se no estado de vigília tinha consciência do que se passava ao seu redor, a despeito da imperfeição dos órgãos de seu corpo físico, disse: -“Vejo, entendo, mas o corpo não compreende nem vê”. Se algo de útil poderia ser-lhe feito, afirmou que “nada”. Finalizando a entrevista, Kardec procurou ouvir de São Luiz se as preces poderiam ter a mesma eficácia que por um Espírito errante, que explicou: -“As preces são sempre boas e agradáveis a Deus. Na posição deste pobre Espírito, elas não lhe podem servir; servirão mais tarde”. Comentando a experiência daquela reunião, Kardec acrescentou: -“Ninguém desconhecerá o alto ensinamento moral que decorre desta evocação. Além disso, ela confirma o que sempre foi dito sobre os idiotas. Sua nulidade moral não significa nulidade do Espírito, que, abstração feita dos órgãos, goza de todas as faculdades. A imperfeição dos órgãos é apenas um obstáculo à livre manifestação das faculdades; não as aniquila. É o caso de um homem vigoroso, cujos membros fossem comprimidos por laços. Sabe-se que, em certas regiões, longe de serem objeto de desprezo, os cretinos são cercados de cuidados benevolentes. Este sentimento não brotaria de uma intuição do verdadeiro estado desses infelizes, tanto mais dignos de atenções quanto seu Espírito, que compreende sua posição, deve sofrer por se ver como um refugo da sociedade?”.



 O ouvinte Adinan Silva dos Santos nos enviou a seguinte questão: Pelo que entendi do Espiritismo, devem existir outros mundos além do nosso. Essa ideia dá força à teoria dos universos paralelos. Será que tem algo a ver? Se somos Espíritos é porque não pertencemos somente a este mundo. O corpo está aqui, mas o espírito está lá.  É isso mesmo?

  Quando Kardec nos trouxe o Espiritismo, há cerca de 160 anos atrás, ele deixou claro que o Espiritismo caminharia ao lado da Ciência, mas disse também que o objeto da ciência é o mundo material e do Espiritismo o mundo espiritual. Até aquele momento, poréms, era válida essa colocação, porque havia uma nítida separação entre uma coisa e outra.  Hoje, o panorama das pesquisas científicas está mudando, à medida que novos cientistas também se voltando para a espiritualidade do homem.

 Nesse sentido, como já afirmamos aqui, parece-nos que Espiritismo e Ciência se encontrarão somente quando o homem estiver mais espiritualizado – ou seja, moralmente mais elevado. A própria psicologia não era considerada ciência no século XIX e, apesar de ter tido um grande impulso, movida por estudiosos ateus, no século XX ela sofreu uma guinada, com o surgimento de correntes voltadas para a transcendência do homem.

 No campo da astrofísica, a teoria dos universos paralelos nos chama a atenção, mas não podemos afirmar que se refere ao que o Espiritismo vem chamando de mundo espiritual. Não acreditamos, também, que só a Física poderá chegar a uma conclusão próximo ao que entendemos ser espiritualidade. Parece-nos que as ciências psicológicas ( como a psicologia, a psiquiatria e a psicanálise) estão bem mais perto dessa questão.’

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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quinta-feira, 25 de março de 2021

FISIOGNOMIA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Religioso, filósofo, poeta, entusiasta do magnetismo animal, Johan Gaspar Laváter (1741/1801), é considerado o fundador da Fisiognomonia, a arte de conhecer a personalidade das pessoas através dos traços fisionômicos, baseando-se no princípio incontestável de que é o pensamento que põe os órgãos em jogo, imprimindo aos músculos certos movimentos. No número de julho de 1860, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec analisa o tema. Diz ele: -“Estudando as relações entre os movimentos aparentes e o pensamento, dos movimentos vistos, podemos deduzir o pensamento, que não vemos. É assim que não nos enganaremos quanto à intenção de quem faz um gesto ameaçador ou amigável; que reconheceremos o modo de andar de um homem apressado e o do que não o é. De todos os músculos, os mais móveis são os da face; ali se refletem muitas vezes até os mais delicados matizes do pensamento. Eis por que, com razão, se diz que o rosto é o espelho da alma. Pela frequência de certas sensações, os músculos contraem o hábito dos movimentos correspondentes e acabam formando a ruga. A forma exterior se modifica, assim, pelas impressões da alma, de onde se segue que, dessa forma, algumas vezes se podem deduzir essas impressões, como do gesto podemos deduzir o pensamento. Tal é o princípio geral da arte ou, se se quiser, da ciência fisiognomônica. Este princípio é verdadeiro; não apenas se apoia sobre base racional, mas é confirmado pela observação.(...) Entre as relações fisiognomônicas, existe principalmente uma sobre a qual a imaginação muitas vezes se exerceu: é a semelhança de algumas pessoas com certos animais. Procuremos, então, buscar a causa. A semelhança física entre os parentes resulta da consanguinidade que transmite, de um a outro, partículas orgânicas semelhantes, porque o corpo procede do corpo. Mas não poderia vir ao pensamento de ninguém supor que aquele que se parece com um gato, por exemplo, tenha nas veias o sangue de gato. (...) Conforme os Espíritos, nenhum homem é a reencarnação do Espírito de um animal. Os instintos animais do homem decorrem da imperfeição de seu próprio Espírito, ainda não depurado e que, sob a influência da matéria, dá preponderância às necessidades físicas sobre as morais e sobre o senso moral, não ainda suficientemente desenvolvido. (...) Outra indução não menos errônea é tirada do princípio da pluralidade das existências. Da sua semelhança com certas personagens, algumas concluem que podem ter sido tais personagens. Ora, do que precede, é fácil demonstrar que aí existe apenas uma ideia quimérica. Como dissemos, as relações consanguíneas podem produzir uma similitude de formas, mas não é este aqui o caso, pois Esopo pode ter sido mais tarde um homem bonito e Sócrates um belo rapaz. Assim, quando não há filiação corporal, só haverá uma semelhança fortuita, porquanto não há nenhuma necessidade para o Espírito habitar corpos parecidos e, ao tomar um novo corpo, não traz nenhuma parcela do antigo. Entretanto, conforme o que dissemos acima, quanto ao caráter que as paixões podem imprimir aos traços, poder-se-ia pensar que, se um Espírito não progrediu sensivelmente e retorna com as mesmas inclinações, poderá trazer no rosto identidade de expressão. Isto é exato, mas seria no máximo um ar de família, e daí a uma semelhança real há muita distância. Aliás, este caso deve ser excepcional, pois é raro que o Espírito não venha em outra existência com disposições sensivelmente modificadas. Assim, dos sinais fisiognomônicos não se pode tirar absolutamente nenhum indício das existências anteriores. Só podemos encontrá-las no caráter moral, nas ideias instintivas e intuitivas, nas inclinações inatas, nas que não resultam da educação, assim como na natureza das expiações suportadas.


O ouvinte, José Donizete Dias, ligou  domingo passado para perguntar como o Espiritismo explica a frase de Paulo, no capítulo 9, versículos 27 e 28 de sua carta dirigida aos hebreus, quando afirmou: “E assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo, assim também o Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”?  Pergunta o José Donizete se essa afirmação de Paulo não contraria o princípio da reencarnação.

 Aparentemente, sim. Os hebreus ( mais conhecidos por judeus) para quem Paulo endereçava sua carta,  Não sabiam o que é reencarnação. Eles acreditavam na ressurreição dos mortos e no juízo final conforme diz Allan Kardec em O EVANGELHOS SEGUNDO ESPIRITISMO. Nada de especial, portanto, o fato de Paulo ter lembrado aos seus compatriotas a importância de seguirem os ensinos morais de Jesus, a partir de suas próprias crenças.  Por outro lado, a reencarnação era crença dominante nas religiões do Oriente e alvo de interesse dos antigos filósofos gregos, como Pitágoras, Sócrates e Platão. Os hebreus, que durante muitos séculos nem levavam em conta a vida futura (Moisés, por exemplo, não tratou da imortalidade da alma), só passaram a acreditar na ressurreição e no juízo final depois que estiveram sob o domínio dos persas, uma vez que esses dogmas faziam parte da religião daquele povo.

 Durante sua missão, Jesus não se preocupou com as diferentes formas de crer, apesar de existirem divergências religiosas no seio daquele povo- entre fariseus, saduceus, samaritanos e essênios. Se entrasse em questões particulares das crenças desses grupos religiosos, ele não teria tempo de proclamar o Reino de Deus, que é o reino da paz e do amor. O amor está acima das religiões. Por essa razão, ocupou-se em deixar claro três pontos essenciais: a crença num Deus-Pai de amor e misericórdia, a prática do bem ao próximo e a continuidade da vida além da morte. Na verdade, a lei do amor, ideia básica de sua doutrina, é o único ponto de que ninguém, duvida e, portanto, ele é comum a todas as religiões.

 Paulo de Tarso, por sua vez, veio depois de Jesus. E embora não tenha sido um de seus discípulos, foi ele quem se pôs à frente de um movimento que tinha como meta levar sua doutrina ao mundo de seu tempo e foi ele quem deu impulso à propagação do Cristianismo. Como tinha grande cultura e vivência também com outros povos da época, Paulo tratou de conformar as ideias e o ideal da doutrina às necessidades de cada comunidade a que se dirigia. Em relação aos hebreus ele devia falar como hebreu, segundo a linguagem e a crença do povo, pois talvez ninguém mais que ele conhecia sua tradição, ideias e costumes. Era a hora de consolidar a crença no que Jesus havia ensinado e não perder tempo com outro tipo de discussão.

 Aliás, para Jesus, o que seria mais importante? Acreditar na ressurreição ou na reencarnação, ou fazer a vontade do Pai?  É claro que “fazer a vontade do Pai”. Aí, então, você pergunta: e qual é a vontade do Pai? E nós lembramos da Parábola do Bom Samaritano, em que Jesus colocou como exemplo de amor e fraternidade um homem que não frequentava o templo e que por isso era discriminado e considerado herege. Nem o sacerdote, nem o levita, religiosos que dirigiam os ofícios  do templo, achavam-se próximos de Deus, pois eles se recusaram a socorrer o necessitado. Enquanto isso, o Samaritano, criticado e mal visto, foi quem, tomado de compaixão, veio em  auxílio do homem ferido..

 Era nisso que Paulo tinha que se inspirar, se quisesse levar adiante a Mensagem de Jesus. Evidentemente, há dois mil anos atrás, os conhecimentos humanos eram incipientes.  Jesus podia falar do amor fraterno e foi sobre isso que falou o tempo todo, mas não achou prudente falar de coisas que o povo ainda não podia entender. Evidentemente, não poderia dizer tudo. Por isso mesmo que, nos seus últimos momentos de convivência com os discípulos, ele disse que voltaria para o Pai, mas este enviaria um consolador, que reviveria tudo o que ele havia ensinado e ensinaria muito mais, conforme lemos no evangelho de João.

 Logo, Jesus só ensinou somente o que estava à altura de seu povo compreender naquele momento, na certeza de que o Espírito de Verdade o sucederia e com os séculos esclareceria pontos ainda não conhecidos ou mal compreendidos. A Doutrina Espírita faz o papel desse consolador, na medida em que retoma os ensinamentos morais de Jesus em espírito e verdade, alia a fé à razão e explica muitos pontos que não ficaram definitivamente esclarecidos e que só o tempo e a maturidade do ser humano seriam capazes de explicar.

  Contudo, José Donizete, se levarmos ao pé da letra o que Paulo coloca em sua carta, podemos dizer que mesmo assim ele estava certo, porque o homem (formado de corpo e de espírito), na verdade só morre uma vez, pois morto o corpo, este não retorna à vida e aquela personalidade humana desaparece. O que não acaba, no entanto, é a vida do Espírito, que não morre, que continua sua jornada no mundo espiritual para, em seguida, buscar outras oportunidades de renovação. E se você quiser mais informações de como a Espiritualidade vê o trabalho de Paulo de Tarso, leia o livro “PAULO E ESTÊVÃO” de Emmanuel, recebido pelo médium Chico Xavier.

  



 


quarta-feira, 24 de março de 2021

ENTRE OS MAIORES; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Calafrios, fraqueza, visões, desespero, desânimo, obsessões e, a alternativa de apatias profundas, com delírios, seguidos de levitações, transportes vidência, clariaudição, pancadas e outros fenômenos; determinaram a internação do jovem Carmine Mirabelli num Hospício, aos 24 anos, pois a associação de todos os sintomas e efeitos sugeria ser ele portador da doença classificada à época como loucura. Vivia-se a segunda década do século XX e, submetido no Hospital a toda sorte de experimentos pelos seus renomados dirigentes Dr Franco da Rocha e Felipe Aché, ficou comprovada a veracidade dos fenômenos mediúnicos, triunfando sobre os testes da equipe médica, que se viu obrigada a reconhecer que “se o Sr Mirabelli era louco, não deixava de ser uma loucura genial”. De pais imigrantes italianos, ele luterano, ela católica, Carmine nasceu em Botucatu, interior de São Paulo, sendo um dos 28 filhos do casal, tendo sido um menino irrequieto e de invejável inteligência, com grande facilidade de compreender e assimilar rapidamente tudo que lhe era ensinado. Personalidade combativa gostava de polêmicas intelectuais. Aproximando-se da idade adulta, viu seu pai ser arruinado financeiramente pela falência de determinado banco, o que não intimidou o jovem inteligente e ativo. Transferindo-se para a Capital paulista, empregou-se na Companhia de Gás, galgando postos cada vez mais elevados à custa de muito trabalho. Tempos depois, retornando da Alemanha para onde viajara em busca de ampliar seus conhecimentos, ambicionando novas empreitadas, com recursos economizados, investe numa propriedade rural, tornando-se agricultor por encontrar-se cansado da cidade grande, casa-se, volta à São Paulo empregando-se como comprador em uma, depois outra companhia de calçados como cobrador, atividade que teve de abandonar pela eclosão exuberante dos fenômenos mediúnicos que passaram a ocorrer através dele. Liberado do manicômio, após passagens por alguns laboratórios farmacêuticos – sempre epicentro de intrigantes e incríveis fenômenos -, reside algum tempo em Santos (SP), onde inicia suas atividades no campo da assistência social, fundando a Casa de Caridade São Luiz, transfere-se para Niterói(RJ), voltando à São Paulo, aos 47 anos, onde funda o Instituto Psíquico Brasileiro de São Paulo. Caluniado, injuriado, sofrendo toda sorte de perseguições por parte dos inimigos da Verdade, Carmine resistiu e triunfou sobre todos. Acusado de “pratica do Espiritismo” (embora o Espiritismo não esteja associado à suas ações) e “exercício ilegal da Medicina”, unicamente por orientar doentes com a distribuição de água fluidificada e insumos homeopáticos, foi compelido a depoimentos em processos policiais contra ele movidos. Enquanto isso, fenômenos de EFEITOS INTELIGENTES extraordinários eram testemunhados e pesquisados, dentro das possibilidades, como telepatia, previsões, diagnósticos, prognósticos, comunicações psicofônicas, psicográficas, neste campo com mensagens escritas em línguas vivas ou mortas (xenoglóxicas). Na área dos EFEITOS FÍSICOS, materializações, desmaterializações, transportes, transfigurações, escrita direta, moldagens de mãos e esfinges estranhas ao médium, em farinha de trigo, carvão e parafina, de membros perfeitos ou deformados, levitação, raps(pancadas); deslocamentos, entre outros. E o mais incrível é que os fenômenos de ordem física, obtidos com sua energia, realizavam-se, geralmente, à plena luz, e mesmo de dia, dentro e fora de recintos fechados. Em 1929, Espíritos afeitos às artes da pintura começaram a aproximar-se, influenciando-o diariamente e produzindo lindas pinturas a óleo, crayon e aquarelas, perfazendo em dois meses, 46 quadros, reproduzindo retratos, grupos, paisagens, ramos de flores, pássaros, tudo pintado sem original – pelo menos em nossa Dimensão. Carmine nunca estudara pintura e, segundo testemunha, “desde que o Espírito atuante aparece, modifica-se a atitude do médium, que logo se transforma, parecendo outro, pelo cumprimento ou saudação que dirige aos presentes”. Esse exuberante exemplo de que mediunidade e Espiritismo são coisas distintas e independentes, desencarnado de forma trágica aos 62 anos, em 1951, após ter sido atropelado em importante avenida de São Paulo, foi brilhantemente retratado pelo pesquisador Lamartine Palhano Jr, no livro MIRABELLI – UM MÉDIUM EXTRAORDINÁRIO (celd), por sinal reunindo raríssimo acervo de fotografias documentando inúmeros fatos produzidos pela Espiritualidade através dele.

  Mais uma vez, o Cristiano, de Vera Cruz, participando do programa, pede-nos um comentário sobre uma questão de O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Trata-se da questão 982, cuja pergunta é a seguinte: “É necessário que a façamos  a profissão de fé espírita e de crermos nas manifestações dos Espíritos para assegurarmos nossa sorte na vida futura?

  Se o Espiritismo fosse uma religião que viesse salvar as almas da perdição eterna, como as religiões geralmente se apresentam, com certeza, ele estaria disputando adeptos com elas e não se cansaria de formar um rebanho cada vez mais numeroso. No entanto, o Espiritismo não tem esse caráter salvacionista e tampouco essa pretensão: principalmente pelo fato de não acreditar na perdição eterna.

  Uma vez perguntaram a Allan Kardec se o Espiritismo é uma religião, e ele respondeu: só se for no sentido filosófico da palavra “religião”, até porque a palavra “religião” vem do latim “religare” e tem o sentido de “religar as pessoas a Deus”. Contudo, o Espiritismo é mais uma filosofia que uma religião.  Ele não disputa lugar entre as religiões, mas apoia todas as religiões e todos aqueles que professam sua religião movidos por uma fé sincera.

   O Espiritismo nunca se atribuiu qualquer privilégio diante de Deus, mas sempre procurou seguir Jesus, que colocou o amor ao próximo, a prática do bem, acima de todas as convenções humanas. Mas, por que ele veio, então? – você perguntaria. Ele veio justamente para solidificar a fé dos que creem em Deus e na imortalidade da alma, para aqueles que não estão satisfeitos com sua religião; veio para mostrar que a fé, para se fortalecer e combater a incredulidade, é somente aquela que se apoia na razão e no bom senso.

 Ninguém está obrigado a ser espírita e nem o Espiritismo quer que alguém o siga por mera obrigação. Cada pessoa tem o direito de escolher livremente o  caminho que quer seguir, aquele que está mais apropriado à sua maneira de crer, pois o que conta realmente, em matéria de ascensão espiritual, é o bem que se faz e o mal que se evita, seja qual for a religião que a pessoa professe e mesmo que ela não professe religião alguma.

 Desse modo, a nossa sorte além desta vida não depende do Espiritismo e nem mesmo de qualquer religião, mas depende de nossa conduta diante do próximo e da humanidade. A cada um segundo as suas obras. No entanto, aqueles que têm o conhecimento espírita, por estarem mais esclarecidos, podem estar mais bem preparados para adentrar a vida espiritual com mais serenidade.

 Kardec, em nota à questão 982, afirma que “a crença no Espiritismo ajuda a pessoa a melhorar-se, fixando-lhe as ideias sobre certos pontos do futuro. Essa crença apressa o adiantamento dos individuo e das massas, porque permite conhecer o que seremos um dia; é um ponto de apoio, uma luz que nos guia. O Espiritismo ensina a superar as provas com paciência e resignação. Ele desvia os atos que podem retardar a felicidade futura e é assim que contribui para essa felicidade, mas o Espiritismo não diz que sem isso não se pode alcançá-la.”