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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

CURAS, MEDIUNIDADE E ESPIRITISMO

As páginas da REVISTA ESPÍRITA publicada por Allan Kardec entre 1858/1869 são manancial extremamente importante para o pesquisador sinceramente interessado em conhecer as verdades de que o Espiritismo se faz veículo. Dentre as inúmeras informações disponibilizadas por ela  estão as abordagens sobre os fenômenos de cura. Destacamos alguns desses conteúdos para nossas reflexões. Começamos por alguns tópicos reveladores: 1- Os fenômenos vão surgir de todos os lados, sob os mais variados aspectos. Mediunidade curadora, doenças incompreensíveis, efeitos físicos inexplicáveis pela ciência, tudo se reunirá num futuro próximo. (RE,10/1866) 2- A saúde é uma condição necessária para o trabalho que se deve realizar na Terra, por isso dela os Espíritos se ocupam com boa vontade; mas como há, entre eles, ignorantes e sábios, não convém, mais por isso do que por outra coisa, dirigir-se ao primeiro Espírito que se manifeste. (LM, 26:24) 3- A mediunidade curadora não vem suplantar a Medicina e os médicos; vem simplesmente provar a estes últimos que há coisas que eles não sabem e os convidar a estudá-las; que a natureza tem recursos que eles ignoram. (RE; 11/1866) 4-A CIÊNCIA ESPÍRITA nos ensina a causa dos fenômenos devidos às influências ocultas do Mundo Invisível e nos explica o que, sem isto, nos parecerá inexplicável. 5- Sempre houve médicos e os haverá sempre; apenas os que aproveitarem as novidades que lhes trouxerem os desencarnados terão uma grande vantagem sobre os que ficarem na retaguarda. Os Espíritos vêm ajudar o desenvolvimento da ciência humana, e não suprimi-la. (RE; 9/1865). Seguimos com duas perguntas comuns aos que tomam conhecimento das conexões entre a Doutrina Espíríta e os fatos observados na atualidade: O conhecimento da mediunidade de cura é uma das muitas revelações ou conquistas que devemos ao Espiritismo. O que vem a ser? A mediunidade curadora embora parte integrante do Espiritismo, é, por si só, toda uma ciência, porque se liga ao magnetismo, e não só abarca todas as doenças propriamente ditas, mas todas as variedades, tão numerosas e tão complexas, das obsessões, que, por seu turno, também influem sobre o organismo.  A mediunidade curadora é exercida pela ação direta do médium sobre o doente, com o auxílio de uma espécie de magnetização de fato ou de pensamento. Quem diz médium diz intermediário.  Há uma diferença entre o magnetizador propriamente dito e o médium curador: o primeiro magnetiza com seu fluido pessoal, e o segundo com o fluido dos Espíritos, ao qual serve de condutor.  O magnetismo produzido pelo fluido do homem é o magnetismo humano; o que provém do fluido dos Espíritos é o magnetismo espiritual. O Espírito pode agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, como foi constatado em muitas ocasiões, seja para o aliviar e o curar, se possível, seja para produzir o sono sonambúlico.  Quando age por um intermediário, é o caso da mediunidade curadora. O médium curador recebe o influxo fluídico do Espírito. (RE) Como identificar o médium de cura? Consiste a mediunidade desta espécie na faculdade que certas pessoas possuem de curar pelo simples contato, pela imposição das mãos, pelo olhar, por um gesto, mesmo sem o concurso de qualquer medicamento. Semelhante faculdade incontestavelmente tem o seu princípio na força magnética; difere desta, entretanto, pela energia e instantaneidade da ação. Nos médiuns curadores, a faculdade é espontânea e alguns a possuem sem nunca ter ouvido falar de magnetismo.  A faculdade de curar pela imposição das mãos deriva evidentemente de uma força excepcional de expansão, mas diversas causas concorrem para aumentá-la, entre as quais são de colocar-se, na primeira linha: a pureza dos sentimentos, o desinteresse, a benevolência, o desejo ardente de proporcionar alívio, a prece fervorosa e a confiança em Deus; numa palavra: todas as qualidades morais.  A força magnética é puramente orgânica; pode, como a força muscular, ser partilha de toda gente, mesmo do homem perverso; mas, só o homem de bem se serve dela exclusivamente para o bem, sem ideias ocultas de interesse pessoal, nem de satisfação de orgulho ou de vaidade.  Mais depurado, o seu fluido possui propriedades benfazejas e reparadoras, que não pode ter o do homem vicioso ou interesseiro. (OP, 52)


sábado, 28 de outubro de 2017

O REINO DE DEUS

A pergunta fundamenta-se num argumento e raciocínio comuns e lógicos. O professor José Benevides Cavalcante, autor de FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA (eme), esclarece a dúvida na sequencia: -Jesus Cristo deixou muito claro que seu reino não é deste mundo. Isso ele reafirmou para Pilatos, quando disse que era rei e que sendo "o caminho, a verdade e a vida", ninguém vai ao Pai senão por ele. Mas, se as pessoas pensarem assim, não vão fazer nada de útil para a Humanidade, porque a vida na Terra não vai ter o valor que todo mundo dá a ela. Valorizando só a vida espiritual e desvalorizando a vida terrena, não estamos concitando as pessoas a fugirem de seus compromissos e a deixarem esta vida o mais depressa possível? Não é isso que fazem aquelas pessoas que se suicidam em nome de Deus, como é o caso dos grandes suicídios coletivos que chocam a Humanidade toda? Não devemos tomar as palavras dos Evangelhos ao pé da letra, mas buscar o sentido mais profundo da mensagem de Jesus, sem nos prender demasiado a esta ou aquela citação. Se queremos compreender melhor os escritos antigos que, na maioria das vezes, já sofreram alterações, temos que penetrar um pouco na vida e na cultura do povo que o escreveu, nos valores e significados da época. O Espiritismo não se prende a palavras, como se elas fossem de bom senso para interpretá-las. Jesus e os profetas da Antiguidade não tinham uma linguagem direta, mas alegórica, que precisa ser entendida pelo critério da razão primeiramente. Se você consultar O LIVRO DOS ESPÍRITOS de Allan Kardec, questão 1.018 (edição LAKE; há edições em que esta questão vem sob o número 1017), vai encontrar o seguinte: "Em que sentido se deve entender as palavras do Cristo: Meu reino não é deste mundo? " O Cristo, ao responder assim, falava em sentido figurado. Queria dizer que não reina senão sobre os corações puros e desinteressados. Ele está em todos os lugares em que domine o amor do Bem, mas os homens ávidos das coisas deste mundo e ligados aos bens da Terra, não estão com ele". Pela resposta, você pode perceber que o Reino, de que Jesus falava, não era um reino material, não se tratava de um determinado lugar geográfico ( como erroneamente entendeu a mãe dos filhos de Zebedeu, quando lhe pediu que um filho se sentasse à sua direita e outro à sua esquerda no Reino dos Céus), mas de um "reino de elevados valores morais", onde predomina o amor, distante do "reino dos homens", em que preponderam o egoísmo e o orgulho, a violência e a injustiça; trata-se, portanto, de um novo estágio de consciência moral para a símbolos matemáticos que não podem ser vistos de outra forma, mas utiliza a princípio quanto homem deve caminhar na busca de sua verdadeira felicidade. Lendo os Evangelhos com atenção, você vai perceber, inclusive, que a doutrina de Jesus girava em torno desse conceito de "Reino de Deus" ou "Reino dos Céus", e que, dependendo, da circunstância, dá para entender que a expressão, ora parece significar a vida póstuma, ora o futuro do nosso planeta ( a nova Terra), mas aquele sentido que prevalece sempre, porque é o mais amplo e profundo é realmente este que aqui procuramos esclarecer, segundo O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Para Jesus, o "Reino de Deus" está dentro de nós, ou seja, em nosso sentimento, em nosso coração; daí a expressão do Pai Nosso do Evangelho de Mateus, "venha a nós o Vosso Reino".



quinta-feira, 26 de outubro de 2017

REENCARNAR PODE REPRESENTAR UM CASTIGO?

Nesta Dimensão em que nos encontramos, em meio a tantas contradições, tantos valores invertidos, crueldade, violência, sofrimentos, reencarnar não é uma punição? Allan Kardec didaticamente explica o engano de quem assim pensa em artigo publicado na REVISTA ESPÍRITA de junho de 1863. Diz ele: - A encarnação é, pois, uma necessidade para o Espírito que, realizando a sua missão providencial, trabalha seu próprio adiantamento pela atividade e pela inteligência, que deve desenvolver, a fim de prover à sua vida e ao seu bem-estar. Mas a encarnação torna-se uma punição quando o Espírito, não tendo feito o que devia, é constrangido a recomeçar sua tarefa, multiplicando penosas existências corporais por sua própria culpa. Um estudante não é graduado senão depois de ter passado por todas as classes. Essas classes são um castigo? Não: são uma necessidade, uma condição indispensável de seu progresso. Mas se, pela preguiça, for obrigado a repeti-las, aí está a punição. Poder passar em algumas é um mérito. O que, pois, é certo é que a encarnação na Terra é uma punição para muitos dos que a habitam, porque poderiam tê-la evitado, ao passo que talvez dobrado, triplicado e centuplicado a existência por sua própria culpa, assim retardando sua entrada em mundos melhores. O que é errado é admitir em princípio a encarnação como um castigo. Outra questão muitas vezes aventada é esta: Como o Espírito foi criado simples e ignorante, com a liberdade de fazer o bem ou o mal, não haveria queda moral para aquele que tomasse o mau caminho, desde que chega a fazer o mal que antes não fazia? Esta proposição não é mais sustentável que a precedente. Só há queda na passagem de um estado relativamente bom a um pior. Ora, criado simples e ignorante, o Espírito está, em sua origem, num estado de nulidade moral e intelectual como a criança que acaba de nascer. Se não fez o mal, também não fez o bem. Nem é feliz, nem infeliz. Age sem consciência e sem responsabilidade. Desde que nada tem, nada pode perder, como não pode retrogradar. Sua responsabilidade não começa senão no momento em que se desenvolve o seu livre-arbítrio. Seu estado primitivo não é, pois, um estado de inocência inteligente e raciocinada. Conseguintemente, o mal que fizer mais tarde, infringindo as leis de Deus, abusando das faculdades que lhe foram dadas, não é um retorno do bem ao mal, mas a consequência do mau caminho por onde se embrenhou. Isto nos conduz a outra questão. Por exemplo: É possível que Nero, na sua encarnação como Nero, possa ter feito mais mal que na sua precedente existência? A isto respondemos sim, o que não implica que na existência em que tivesse feito menos mal fosse melhor. Antes de tudo, o mal pode mudar de forma sem ser pior ou menos mal. A posição de Nero, como imperador, tendo-o posto em evidência, o que ele fez ficou mais notado; numa existência obscura pôde ter cometido atos igualmente repreensíveis, conquanto em menor escala, e que passaram despercebidos. Como soberano, pôde mandar incendiar uma cidade; como particular pôde queimar uma casa e fazer perecer a família. Tal assassino vulgar, que mata alguns viandantes para os despojar, se estivesse no trono seria um tirano sanguinário, fazendo em grande escala o que sua posição só lhe permite fazer em escala reduzida. Considerando a questão de outro ponto de vista, diremos que um homem pode fazer mais mal numa existência que na precedente, mostrar vícios que não tinha, sem que isto implique uma degenerescência moral. Muitas vezes são as ocasiões que faltam para fazer o mal, quando o princípio existe latente; surge a ocasião e os maus instintos se descobrem. A vida ordinária nos oferece numerosos exemplos: tal homem, que era tido como bom, de repente exibe vícios que ninguém suspeitava, e que causam admiração; é simplesmente porque soube dissimular ou porque uma causa provocou o desenvolvimento do mau germe. É indubitável que aquele em que os bons sentimentos estão fortemente arraigados nem mesmo tem o pensamento do mal; quando tal pensamento existe, é que o germe existe: muitas vezes só falta a execução. Depois, como dissemos, embora sob diferentes formas o mal não deixa de ser o mal. O mesmo princípio vicioso pode ser a fonte de uma imensidade de atos diversos, provenientes de uma mesma causa. O orgulho, por exemplo, pode fazer cometer grande número de faltas, às quais se está exposto, enquanto o princípio radical não for extirpado. Pode, pois, o homem, numa existência, ter defeitos que não se tinham manifestado numa outra e que não passam de consequências variadas de um mesmo princípio vicioso. Para nós, Nero é um monstro, porque cometeu atrocidades. Mas acreditais que esses homens – pérfidos, hipócritas, verdadeiras víboras que semeiam o veneno da calúnia, despojam as famílias pela astúcia e pelo abuso de confiança, que cobrem suas torpezas com a máscara da virtude para chegarem com mais segurança a seus fins e receberem elogios, quando só merecem a execração – valham mais do que Nero? Com certeza, não. Serem reencarnados num Nero para eles não seria um retrocesso, mas uma ocasião para se mostrarem sob nova face. Como tais, exibirão os vícios que ocultavam; ousarão fazer pela força o que faziam pela astúcia, eis toda a diferença. Mas essa nova prova lhes tornará o castigo ainda mais terrível se, em vez de aproveitar os meios que lhes são dados para reparar, deles se servirem para o mal. E, entretanto, por pior que seja, cada existência é uma oportunidade de progresso para o Espírito: ele desenvolve a inteligência, adquire experiência e conhecimentos que, mais tarde, o ajudarão a progredir moralmente.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

VALE A PENA REFLETIR

Poucos sabem, mas o médium Chico Xavier foi instrumento para a manifestação de dois ex-presidentes brasileiros, analisando a realidade percebida por eles desde o Plano Espiritual sobre a realidade da Pátria que os teve como dirigentes na fase republicana. A primeira vez no dia 31 de julho de 1935, em extensa mensagem assinada por Nilo Peçanha, o sétimo Presidente, e, a segunda já nos anos 50, de autoria de Deodoro da Fonseca, que além do proclamador da Republica tornou-se o primeiro improvisado mandatário, signatário da primeira Constituição. Respectivamente, podem ser encontrados no livro PALAVRAS DO INFINITO (lake, 1936) e na obra FALANDO A TERRA (feb, 1951). Opiniões expressas há tanto tento, contudo, muito atuais. Acreditando merecerem uma reflexão diante do quadro atual, bem como das origens do que aí está, destacamos alguns pontos: 1 - NILO PEÇANHA -“País essencialmente agrícola, o Brasil tem de voltar suas vistas para sua imensa extensão territorial, multiplicando os conselhos técnicos da agricultura, velando carinhosamente pelos seus problemas”. “Não bastam conciliábulos da política administrativa para a criação de leis exequíveis e benfeitoras da coletividade (...). Faz-se preciso interessar as classes, captar a adesão do povo a essas leis, seduzir as massas com a exposição os seus altos benefícios(...). As leis estiolam-se e desaparecem quando não são bafejadas pela homologação popular”. Esses problemas grandiosos tem sido relegados a um plano inferior pelos nossos administradores (1935), os quais, infelizmente, arraigados aos sentimentos de personalismo vivem apenas para as grandes oportunidades”. “Faz-se necessário melhorar as condições das classes operárias antes que elas se recordem de o fazer, segundo suas próprias deliberações, entregando-se à sanha de malfeitores que, sob as máscaras da demagogia e a pretexto de reivindicações, vivem no seu seio para explorar os entusiasmos vibrantes que se exteriorizam sem objeto definido”. Seria preciso criarmos um largo movimento de brasilidade, não para a arte balofa dos dias atuais que aí correm de bandeirolas ao vento (...), um sentimento essencialmente brasileiro, saturado de nossas realidade e necessidades inadiáveis” . “Infelizmente tivemos a fraqueza de nos apaixonarmos pelas teorias sonoras, acalentando os homens palavrosos, conduzindo-os aos poderes públicos; endeusando-os, incensando-os com a nossa injustificável admiração, olvidando homens de ação, de energia, que aí vivem isolados, corridos dos gabinetes da administração nacional, em virtude de sua inadaptabilidade às lutas da política do oportunismo e das longas fileiras do afilhadismo que vem constituindo a mais dolorosa das calamidades públicas do Brasil. Nem sempre liberdade significa prosperidade. Dar muitas liberdades a um povo que se ressente de necessidades gravíssimas, inconsciente ainda de suas responsabilidades, falando-se de um modo geral, é fornecer armas perigosas para destruição da vida desse mesmo povo. No Brasil sobram as regalias politicas e as liberdades públicas. Tudo requer ordem e método”. 2- DEODORO DA FONSECA --“Proclamada a República e lançada a Carta Magna de 1891, é que reparamos a enorme população ruralizada, a disparidade dos climas, a extensão do deserto verde, as tragédias do sertão, o problema da seca, a necessidade de uma consciência sanitária na massa popular, os imperativos da alfabetização, a incultura da liberdade, a escassez de sentimento cívico, a excentricidade das comunas municipais, e o espírito ainda estrito de numerosas regiões.(...) O programa compulsório do País não poderia afastar-se da educação nos mínimos pontos; entretanto, teceramos precioso manto constitucional com frases e textos de fina polpa democrática, quase impraticáveis além dos subúrbios do Rio de Janeiro.(...) Cabe-nos confessar hoje (1951), honestamente, que ignorávamos nossa condição de povo juvenil, com idiossincrasias que não pudéramos perceber. Como se vê, muda o calendário, sucedem-se as gerações, mas o comportamento é o mesmo.


domingo, 22 de outubro de 2017

PROVAS ESCOLHIDAS PELO ESPÍRITO

Apresentando a reencarnação e peculiaridades como o sofrimento e a dor como recursos das Leis Divinas no processo de evolução do princípio inteligente do Universo individualizado e transformado em Espírito para atravessar a experiência da Humanidade, o Espiritismo induz uma série de questionamentos àquele que quer saber mais. Na sequência três respostas à prováveis duvidas que surgem. 1- O chamado esquecimento do passado não representa um fator retardador do progresso espiritual? É sem razão que se aponta o fato de o Espírito não se lembrar das suas vidas anteriores como um obstáculo para que ele possa tirar proveito das experiências que nelas viveu.  Se Deus julgou conveniente lançar um véu sobre o passado, é porque isso deve ser útil.  De fato, essa lembrança provocaria inconvenientes muito graves; poderia, em alguns casos, nos humilhar muito, ou ainda excitar nosso orgulho e, por isso mesmo, dificultar nosso livre-arbítrio.  Em outros casos ocasionaria inevitável perturbação às relações sociais.  Muitas vezes, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu e se encontra relacionado com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenha feito.  Se reconhecesse nelas as que odiou, talvez seu ódio se revelasse outra vez, e sempre se sentiria humilhado diante daqueles que tivesse ofendido. 2- As aflições diante do exposto são recurso importante no processo de auto-superação? O homem que sofre assemelha-se a um devedor de uma grande quantia e a quem o credor diz: “Se me pagares hoje mesmo a centésima parte, dou-te quitação de toda a dívida, e estarás livre. Se não o fizeres, te cobrarei até que me pagues o último centavo”.  Qual o devedor que não ficaria feliz mesmo passando por privações para se libertar de uma grande dívida, sabendo que pagaria apenas a centésima parte do que devia? Ao invés de reclamar do seu credor, não lhe agradeceria? Este é o sentido das palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois serão consolados. São felizes, porque estão pagando suas dívidas e, depois de pagar, ficarão livres. Porém, se ao procurar quitá-las de certa maneira se endividarem de outra, tornam maior o tempo para sua libertação. Portanto, cada nova falta aumenta a dívida, pois não há uma única falta, qualquer que ela seja, que não arraste consigo sua punição forçada e inevitável. Se não for hoje, será amanhã; se não for nesta vida, será noutra. Entre essas faltas, é preciso colocar em primeiro lugar a falta de submissão à vontade de Deus. Se lamentamos as aflições, se não as aceitamos com resignação e como algo que se deva merecer, se acusamos Deus de injusto, contraímos uma nova dívida que nos faz perder os frutos que a lição dos sofrimentos nos poderia dar. É por isso que recomeçaremos sempre, como se, a um credor que nos cobra, pagássemos algumas parcelas e ao mesmo tempo contraíssemos novas dívidas. 3- Então a Justiça de Deus nos persegue de forma implacável? Não se deve pensar que todos os sofrimentos suportados neste mundo sejam necessariamente a indicação de uma determinada falta.  São, na maioria das vezes, provas escolhidas pelo Espírito para concluir sua purificação e apressar seu progresso.  Assim, a expiação serve sempre de prova, porém a prova nem sempre é uma expiação.  Contudo, provas e expiações são sempre sinais de uma relativa inferioridade, pois o que é perfeito não tem mais necessidade de ser provado.  Um Espírito pode ter adquirido um certo grau de elevação, mas, querendo avançar ainda mais, solicita uma missão, uma tarefa a cumprir, da qual tanto mais será recompensado, se sair vitorioso, quanto mais difícil tiver sido a luta para vencê-la.  Tais são essas pessoas de tendências naturalmente boas, de alma elevada, que têm nobres sentimentos, que parecem não ter trazido nada de mau de sua existência anterior e que suportam com uma resignação cristã as maiores dores, pedindo a Deus coragem para suportá-las sem lamentações.  Ao contrário, podem-se considerar como expiações as aflições que provocam queixas e lamentos e fazem o homem se revoltar contra Deus.  Sem dúvida, o sofrimento sem lamentações pode ser uma expiação, mas é um sinal de que foi escolhido voluntariamente e não imposto. É uma prova de uma firme decisão, o que é um indício de progresso.


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O FABRICANTE DE SÃO PETERSBURGO

A história registra que objetivamente o primeiro fenômeno de comunicação interdimensional, ou seja, entre o Plano Físico e o Espiritual ocorreu no dia 31 de março de 1849, numa casa nas imediações de Nova York, nos Estados Unidos da América do Norte. De um lado, duas irmãs da família Fox e do outro uma Espírito chamado Charles Rosma que segundo revelaria, tinha seus restos mortais enterrado no porão daquela casa onde fora vitima de homicídio anos antes pelos moradores daquela construção. No numero de abril de 1860 da REVISTA ESPÍRITA, o editor Allan Kardec reproduz relato de um fato muito parecido ocorrido muito antes do episódio considerado como o primeiro. Diz ele: -O seguinte fato de manifestação espontânea foi transmitido ao nosso colega, Sr. Kratzoff, de São Petersburgo, por seu compatriota, o barão Gabriel Tscherkassoff, que reside em Cannes (Var) e garante a sua autenticidade. Aliás, parece que o fato é muito conhecido e fez sensação na época em que ocorreu. “No começo do século havia em São Petersburgo um rico artesão, que empregava grande número de operários em suas oficinas. Seu nome me escapa, mas creio que era inglês. Homem probo, humano e comportado, não só desfrutava a boa renda de seus produtos, mas, muito mais ainda, do bem-estar físico e moral de seus operários que, consequentemente, ofereciam o exemplo de boa conduta e de uma concórdia quase fraternal. Conforme um costume observado na Rússia até hoje, o patrão custeava o alojamento e a alimentação, ocupando os operários os andares superiores e as águas-furtadas da mesma casa que ele. Certa manhã, ao despertar, vários operários não encontraram suas roupas, que haviam posto de lado ao se deitarem. Não se podia pensar em roubo. Conjeturaram inutilmente e suspeitaram que os mais maliciosos tinham querido pregar uma peça em seus camaradas. Enfim, graças às buscas realizadas, encontraram todos os objetos desaparecidos, no celeiro, nas chaminés e até nos telhados. O patrão fez advertências gerais, já que ninguém se confessava culpado; ao contrário, todos protestavam inocência. “Passado algum tempo, o mesmo fato se repetiu; novas advertências, novos protestos. Pouco a pouco o fenômeno começou a se repetir todas as noites e o patrão inquietou-se bastante, porque além de seu trabalho ser muito prejudicado, via-se ameaçado pela debandada de todos os operários, que temiam permanecer numa casa onde se passavam, segundo eles, coisas sobrenaturais. Seguindo o conselho do patrão, foi organizado um serviço noturno, escolhido pelos próprios operários, para surpreender o culpado. Mas nada conseguiram: ao contrário, as coisas pioravam cada vez mais. Para alcançar seus quartos, os operários deviam subir escadas que não estavam iluminadas. Ora, aconteceu a vários deles receber pancadas e bofetões e, quando procuravam defender-se, não batiam senão no vazio, enquanto a violência dos golpes os fazia supor que tratavam com um ser sólido. Desta vez o patrão os aconselhou a se dividirem em dois grupos: um deveria ficar na parte superior da escada, e o outro embaixo. Desta maneira o brincalhão de mau gosto não poderia escapar e receber o corretivo que merecia. Mas a previdência do patrão falhou novamente; os dois grupos apanharam bastante e cada um acusava o outro. As recriminações tornaram-se atrozes e a desinteligência entre os operários chegou ao cúmulo, de modo que o pobre patrão já pensava em fechar as oficinas ou mudar-se. “Uma noite estava sentado, triste e pensativo, cercado pela família. Todos estavam abatidos quando, de repente, ouviu-se um grande ruído no aposento ao lado, que lhe servia de gabinete de trabalho. Levantou-se precipitadamente e foi procurar a causa do barulho. Ao abrir a porta, a primeira coisa que viu foi sua escrivaninha aberta e um castiçal aceso. Ora, há poucos instantes ele havia fechado a escrivaninha e apagado a luz. Ao aproximar-se, distinguiu sobre a mesa um tinteiro de vidro e uma pena que não lhe pertenciam, além de uma folha de papel sobre a qual estavam escritas estas palavras, que não tinham tido tempo de secar: “Manda demolir a parede em tal lugar (era acima da escada); aí encontrarás ossadas humanas, que mandarás sepultar em terra santa”. O patrão tomou o papel e correu a informar a polícia. “No dia seguinte começaram a procurar de onde provinham o tinteiro e a pena. Mostrando-os aos moradores da mesma casa, chegaram até um negociante de gêneros alimentícios que tinha a sua quitanda no rés-do-chão e que reconheceu um e outra como seus. Interrogado sobre a pessoa a quem os havia dado, respondeu: Ontem à noite, já tendo fechado a porta da loja, ouvi uma leve batida no postigo da janela; abri e um homem, cujos traços não me foi possível distinguir, disse-me: Peço-te que me dês um tinteiro e uma pena; eu os pagarei. Tendo-lhe passado os dois objetos, ele me atirou uma grande moeda de cobre, que ouvi cair no assoalho, mas não pude encontrar. “Demoliram a parede no lugar indicado e aí encontraram ossadas humanas, que foram enterradas, voltando tudo ao normal. Jamais se soube a quem pertenciam aqueles ossos.” Fatos desta natureza devem ter ocorrido em todas as épocas e vê-se que não são provocados absolutamente pelos conhecimentos espíritas. Compreende-se que, em séculos recuados, ou entre povos ignorantes, tenham dado lugar a todo tipo de conjecturas supersticiosas.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

TODOS SÃO MÉDIUNS

Fenômeno presente em todas as épocas da Humanidade, foi explicado de forma racional e lógica pela revolucionária proposta da Doutrina Espírita. Na sequência alguns desses elementos para a melhor compreensão do fato. 1- O que quer dizer mediunato? Trata-se de um termo sugerido pelos próprios Espíritos para identificar aqueles que renascem com a missão de exercerem a mediunidade. É o caso das criaturas que, por vezes, desde a infância, convivem com o fenômeno mediúnico visto por eles como algo normal e interpretado por outras pessoas como uma anormalidade patológica, um transtorno psiquiátrico. (IPME). Chico Xavier é um dos mais eloquentes exemplos pelo que sua história de vida confirma.  2-Supondo-se como válida a informação de que muitos renascem comprometidos com o exercício da mediunidade, como explicar a existência de tão poucos reconhecidos nessa condição?  Nesse terreno de assistência espiritual, muitos são os pretextos inventados pelas criaturas terrestres para fugir ao testemunho da Verdade Divina, nas tarefas que lhes são próprias. Os mordomos da responsabilidade alegam excesso de deveres, os servidores da obediência afirmam ausência de ensejo. Os que guardam possibilidades financeiras montam guarda ao patrimônio amoedado, os que receberam a bênção da pobreza de recursos monetários aconselham-se com a revolta. Os moços declaram-se muito jovens para cultivar as realidades sublimes, os mais idosos afirmam-se inúteis para servi-las. Os casados reclamam quanto à família, os solteiros queixam-se da ausência dela. Dizem os doentes que não podem, comentam os sãos que não precisam. Raros companheiros encarnados conseguem viver sem a contradição. (M; 28) 3- Como a pessoa pode saber se é médium com essa característica? Até o momento não se conhece nenhum diagnóstico para a mediunidade. (...). Experimentar é o único meio de saber se existe ou não a percepção. De resto, os médiuns são muito numerosos, sendo bastante raro que, se não o somos nós mesmos, não encontremos alguns em membros de nossas famílias ou em nosso círculo de amizades. O sexo, a idade, o temperamento são indiferentes. São encontrados entre os homens e entre as mulheres, as crianças e os velhos, as pessoas que tem boa saúde e as que estão doentes. (OQE) 4- Há sinais exteriores que podem sugerir a mediunidade? Se a mediunidade se traduzisse por um sinal exterior, isso implicaria na permanência da faculdade, e, ao contrário, esta é essencialmente móvel e fugidia. Sua causa física está na assimilação mais ou menos fácil dos fluídos perispirituais do encarnado e do desencarnado. (OQE) 5- Como desenvolver a mediunidade? Conquanto cada um encerre em si mesmo o germe das qualidades necessárias para tornar-se médium, essas qualidades não existem senão em graus muito diferentes, e seu desenvolvimento provém de causas que não dependem de ninguém fazê-las nascer à vontade. As regras da poesia, da pintura e da música não fazem nem poetas, nem pintores e nem músicos daqueles que não lhes tem a propensão: elas guiam no emprego de faculdades naturais (...). O estudo preliminar da teoria é indispensável, se se querem evitar os inconvenientes inseparáveis da inexperiência. (LM, Introdução / 27) 6- Quais os principais requisitos para alcançar esse objetivo? A calma e o recolhimento unidos a um desejo ardente e à firme vontade de ser bem sucedido; e, por vontade não entendemos uma vontade efêmera que atua por intervalos, e que a cada minuto se interrompe por outras preocupações; mas uma vontade febril. O recolhimento é favorecido pela solidão, pelo silêncio e o isolamento de tudo que possa causar distrações. Não resta mais, então, do que renovar todos os dias as tentativas durante dez minutos ou um quarto de hora ou mais de cada vez, e isso durante quinze dias, um mês, dois meses ou mais se for preciso. Conhecemos médiuns que não se formaram senão depois de seis meses de exercício, enquanto que outros escrevem corretamente desde a primeira vez. (LM; 27/204)




segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O ESPIRITISMO, AS PREVISÕES, A INDULGÊNCIA E O PERDÃO

O professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, eme) segue com suas participações esclarecendo dúvidas dos leitores.1- PREVISÕES Se existem pessoas que podem ver o futuro, como o Espiritismo fala, é porque o futuro já está determinado. Nesse caso, nada adianta o nosso esforço para modificar as coisas, pois o que vai acontecer ninguém pode mudar. A premissa está certa: há pessoas - ou, eventualmente, qualquer pessoa - que podem prever acontecimentos. Mas a conclusão não é correta. O fato de uma pessoa prever algum fato e esse fato, posteriormente, ocorrer, não significa que não havia possibilidade de muda-lo. Significa apenas que ele não foi mudado e, por isso mesmo, se confirmou a previsão. A princípio, não existe o que não pode ser modificado, porque a vida é dinâmica e o Espírito é senhor de sua vontade. Portanto, é fácil concluir que as previsões só se aplicam aos fatos que, estando previstos, não foram mudados. É sabido, no meio espírita, que a Espiritualidade, e até mesmo o Espírito, podem planejar uma encarnação, sabendo antecipadamente as probabilidades de se dar tal ou tal fato. Alguém pode ter acesso a essa informação por vias anímicas ou mediúnicas e captar, por exemplo, uma cena, geralmente, trágica que pode acontecer nesta encarnação. Isto geralmente significa um alerta para o protagonista da tragédia, que poderá alterar o rumo dos acontecimentos ou não, dependendo de sua vontade e de seu esforço. Se tudo que estivesse previsto não fosse passível de alteração, teríamos que aceitar o destino irremediável ou a predestinação e, então, de nada valendo nossa vontade e nossos esforços para melhorar, seríamos apenas e tão somente marionetes, sem mérito ou culpa pelo que nos acontece. Esta ideia do destino irrevogável, portanto, não é uma concepção espírita. Para o Espiritismo nós somos os construtores do próprio destino: “a cada um segundo as suas obras”. 2- INDULGÊNCIA E PERDÃO Qual a diferença que existe entre indulgência e perdão? No sentido utilizado em O LIVRO DOS ESPÍRITOS ( questão 886), quando Kardec pergunta qual o sentido de caridade utilizado por Jesus, a indulgência e o perdão têm um ponto comum, que é a compreensão quanto aos defeitos ou erros dos outros. No entanto, a indulgência se refere mais à compreensão que devemos ter em relação às pessoas que estão mais distantes de nós, quando elas não procedem bem na vida familiar, na vida social, ou quando as julgamos erradas por se conduziram desta ou daquela maneira. Como nada temos a ver com a vida delas, se não podemos ajudá-las, não nos cabe o direito de alardear suas fraquezas ou de comentar seus deslizes ( maledicência), uma vez que também somos imperfeitos e nos sentimos prejudicados quando os outros comentam nossos defeitos. Referindo-se à indulgência, Jesus proclamou o "não julgueis para que não sejais julgados", um dos princípios básicos de sua Doutrina. Quanto ao perdão, trata-se da compreensão que devemos ter em relação aos nossos ofensores, ou seja, a pessoas que, relacionando-se diretamente conosco, nos ofenderam, nos feriram, nos prejudicaram de alguma forma. Neste caso, somos a vítima de seu erro ou de sua imperfeição ( independente se o seu ato foi deliberado ou não), e o perdão consiste em compreender os seus limites, não desejando-lhes o mal e, muito menos, alimentando contra elas ideias de revide ou de vingança, propiciando-lhe, inclusive, a oportunidade de reparação. Não resta dúvida de que o perdão é a mais alta expressão da caridade por ser bem mais difícil que a indulgência e, portanto, reunir maiores méritos por parte da vítima. Jesus se referiu muitas vezes ao perdão, como expressão de completa abnegação, respondendo a Pedro que perdoasse não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete vezes, ou seja, quantas vezes fosse necessário.

sábado, 14 de outubro de 2017

O ESPIRITISMO É CRISTÃO

Desconhecido em sua essência pela maioria das pessoas, o Espiritismo ao contrário do que se pensa é uma proposta derivada da mensagem de Jesus. No número de setembro de 1867 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec apresenta alguns argumentos lógicos a respeito. Escreve ele: - Sendo Deus o eixo de todas as crenças religiosas e o objetivo de todos os cultos, o caráter de todas as religiões é conforme à ideia que elas dão de Deus. As religiões que fazem de Deus um ser vingativo e cruel julgam honrá-lo com atos de crueldade, com fogueiras e torturas; as que têm um Deus parcial e cioso são intolerantes e mais ou menos meticulosas na forma, por crerem-no mais ou menos contaminado das fraquezas e ninharias humanas. Toda a doutrina do Cristo se funda no caráter que ele atribui à Divindade. Com um Deus imparcial, soberanamente justo, bom e misericordioso, ele fez do amor de Deus e da caridade para com o próximo a condição indeclinável da salvação, dizendo: Aí estão toda a lei e os profetas; não existe outra lei. Sobre esta crença, assentou o princípio da igualdade dos homens perante Deus e o da fraternidade universal. (...) Entretanto, o Cristo acrescenta: “Muitas das coisas que vos digo ainda não as compreendeis e muitas outras teria a dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo por parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito de Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará todas.” Se o Cristo não disse tudo quanto poderia dizer, é que julgou conveniente deixar certas verdades na sombra, até que os homens chegassem ao estado de compreendê-las. Como ele próprio o confessou, seu ensino era incompleto, pois anunciava a vinda daquele que o completaria; previra, pois, que suas palavras não seriam bem interpretadas, e que os homens se desviariam do seu ensino; em suma, que desfariam o que ele fez, uma vez que todas as coisas hão de ser restabelecidas: ora, só se restabelece aquilo que foi desfeito. Por que chama ele Consolador ao novo Messias? Este nome, significativo e sem ambiguidade, encerra toda uma revolução. Assim, ele previa que os homens teriam necessidade de consolações, o que implica a insuficiência daquelas que eles achariam na crença que iam fundar. Talvez nunca o Cristo fosse tão claro, tão explícito, como nestas últimas palavras, às quais poucas pessoas deram atenção bastante, provavelmente porque evitaram esclarecê-las e aprofundar-lhes o sentido profético. Se o Cristo não pôde desenvolver o seu ensino de maneira completa, é que faltavam aos homens conhecimentos que eles só podiam adquirir com o tempo e sem os quais não o compreenderiam; há muitas coisas que teriam parecido absurdas no estado dos conhecimentos de então. Completar o seu ensino deve entender-se no sentido de explicar e desenvolver, não no de ajuntar-he verdades novas, porque tudo nele se encontra em estado de gérmen, faltando-lhe só a chave para se apreender o sentido das palavras. (...) Os homens, cada vez mais esclarecidos, à medida que novos fatos e novas leis se forem revelando, saberão separar da realidade os sistemas utópicos. Ora, as ciências tornam conhecidas algumas leis; o Espiritismo revela outras; todas são indispensáveis à compreensão dos Textos Sagrados de todas as religiões, desde Confúcio e Buda até o Cristianismo. Quanto à teologia, essa não poderá judiciosamente alegar contradições da Ciência, visto como também ela nem sempre está de acordo consigo mesma. O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é consequência direta da sua doutrina. À ideia vaga da vida futura, acrescenta a revelação da existência do mundo invisível que nos rodeia e povoa o espaço, e com isso precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma consistência, uma realidade à ideia. Define os laços que unem a alma ao corpo e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte. Pelo Espiritismo, o homem sabe donde vem, para onde vai, por que está na Terra, por que sofre temporariamente e vê por toda parte a justiça de Deus. Sabe que a alma progride incessantemente, através de uma série de existências sucessivas, até atingir o grau de perfeição que a aproxima de Deus. Sabe que todas as almas, tendo um mesmo ponto de origem, são criadas iguais, com idêntica aptidão para progredir, em virtude do seu livre-arbítrio; que todas são da mesma essência e que não há entre elas diferença, senão quanto ao progresso realizado; que todas têm o mesmo destino e alcançarão a mesma meta, mais ou menos rapidamente, pelo trabalho e boa vontade. 

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

ESQUECIMENTO DO PASSADO

Tema sempre oportuno, o esquecimento do passado é racionalmente justificado pelo Espiritismo. Nas chamadas OBRAS BÁSICAS, encontramos alguns tópicos apresentados a seguir ilustrando esse argumento: 1 - Em que momento se opera o esquecimento do passado? Desde que o Espírito é preso ao laço fluídico que o liga ao germe (embrião, feto), a perturbação apodera-se dele, crescendo à medida que o laço se aperta, e, nos últimos momentos, o Espírito perde toda a consciência de si mesmo, de sorte que ele nunca é testemunha consciente de seu nascimento. No momento em que a criança respira, o Espírito começa a recobrar suas faculdades, que se se desenvolveram à medida que se formam e consolidam os órgãos que devem servir para a sua manifestação.(G,XI,20) 2 - Isso seria o esquecimento do passado? Não. Ao mesmo tempo que o Espírito recobra a consciência de si mesmo, perde a lembrança de seu passado, sem perder as faculdades, qualidades e aptidões adquiridas anteriormente, aptidões que estavam, momentaneamente, estacionadas em seu estado latente e que, em retomando sua atividade, vão ajudá-lo a fazer mais e melhor que fazia precedentemente. Ele renasce como fizera na encarnação anterior; sendo seu renascimento agora um novo ponto de partida, um novo degrau a subir. (G,XI,21) 3 - Esse esquecimento é mesmo necessário? Aí a Bondade do Criador se manifesta, porquanto, adicionada aos amargores de uma nova existência, a lembrança, muitas vezes aflitiva e humilhante do passado, poderia perturbá-lo e lhe criar embaraços. Ele apenas se lembra do que aprendeu, ou lhe será útil. Se às vezes lhe é dada uma intuição dos acontecimentos passados, é como uma lembrança de um sonho fugidio. Ei-lo, pois, novo homem, por mais antigo que seja como Espírito.. Adota novos processos, auxiliado, pelas suas aquisições precedentes. (...) Cada Espírito é sempre o mesmo “EU”, antes, durante e depois da encarnação, sendo esta, apenas uma fase da sua existência. (G,XI,21) Saudando o primeiro centenário da Doutrina Espírita na Terra, o Espírito Emmanuel resumiu os estudos realizados em torno d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS na obra RELIGIÃO DOS ESPÍRITOS (1961, feb) em psicografia de Chico Xavier, onde revela dado importante- Tanto nos casos em que o processo do sono que assinala os preparativos para a reencarnação é longo como naquele que perdura durante a vida fetal, o Espírito experimenta a prostração psíquica nos primeiros sete anos da tenra instrumentação fisiológica, perfazendo mais ou menos três mil dias de sono induzido ou hipnose terapêutica, que acrescidas dos fenômenos naturais de restringimento do corpo espiritual, no refúgio uterino, induzem o entorpecimento das recordações do passado, para que se alivie a mente na direção de novas conquistas. O despertar se faz, gradativamente, na adolescência, com a vida propondo ao Espírito a continuidade do serviço devido à regeneração ou à evolução clara e simples, fazendo com que o mesmo retorne à herança de si mesmo, na estruturação psicológica do destino, reavendo o patrimônio das realizações e das dívidas que acumulou, em forma de tendências inatas, e reencontrando pessoas e as circunstâncias com as quais se ache afinizado ou comprometido. Outro argumento forte oferecido por Allan Kardec em O QUE É O ESPIRITISMO é o seguinte:  -Suponhamos ainda — o que é um caso muito comum — que em vossas relações, em vossa família mesmo se encontre um indivíduo que vos deu outrora muitos motivos de queixa, que talvez vos arruinou, ou desonrou em outra existência, e que, Espírito arrependido, veio encarnar-se em vosso meio, ligar-se a vós pelos laços de família, a fim de reparar suas faltas para convosco, por seu devotamento e afeição; não vos acharíeis mutuamente na mais embaraçosa posição, se ambos vos lembrásseis de vossas passadas inimizades? Em vez de se extinguirem, os ódios se eternizariam. Disso resulta que a reminiscência do passado perturbaria as relações sociais e seria um tropeço ao progresso. Quereis uma prova? Supondo que um indivíduo condenado às galés tome a firme resolução de tornar-se um homem de bem, que acontece quando ele termina o cumprimento da pena? A sociedade o repele, e essa repulsa o lança de novo nos braços do vício. Se, porém, todos desconhecessem os seus antecedentes, ele seria bem acolhido; e, se ele mesmo os esquecesse, poderia ser honesto e andar de cabeça erguida, em vez de ser obrigado a curvá-la sob o peso da vergonha do que não pode olvidar. Isto está em perfeita concordância com a Doutrina dos Espíritos, a respeito dos mundos superiores ao nosso planeta, nos quais, só reinando o bem, a lembrança do passado nada tem de penosa; eis por que seus habitantes se recordam da sua existência precedente, como nós nos recordamos hoje do que ontem fizemos. Quanto à lembrança do que fizeram em Mundos Inferiores, ela produz neles a impressão de um mau sonho





terça-feira, 10 de outubro de 2017

AUTODESCOBRIMENTO

O estudo continuado da Doutrina Espírita conduz naturalmente à convicção de que existimos para evoluir incessantemente, sendo a condição humana uma das etapas do processo e a vida no Planeta Terra parte do mesmo. Na sequencia alguns tópicos importantes para avaliação: 1- Todos alimentam o desejo muito natural de progredir, para forrar-se à penosa condição desta vida. Os próprios Espíritos nos ensinam a praticar o bem com esse objetivo. Será, então, um mal pensarmos que, praticando o bem, podemos esperar coisa melhor do que temos na Terra? Não, certamente; mas aquele que faz o bem, sem ideia preconcebida, pelo só prazer de ser agradável a Deus e ao seu próximo que sofre, já se acha num certo grau de progresso. Isso lhe permitirá alcançar a felicidade muito mais depressa do que seu irmão que, mais positivo, faz o bem por cálculo e não impelido pelo ardor natural do seu coração. (LE; 897)  2- Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? O conhecimento de si mesmo é a chave do progresso individual.  Mas, direis, como há de alguém julgar- se a si mesmo?  Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis?  O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade.  Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa.  Se a censurais noutrem, não na podereis ter por legítima quando fordes  o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo.  Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas.  Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida. Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. (LE; 920) 3- Em que medida a aceitação e o estudo do princípio da reencarnação nos moldes colocados pelo Espiritismo pode ser útil no processo de autodescobrimento?O estudo da reencarnação não interessa unicamente ao exame do passado, às demonstrações do renascimento da alma na ascenção evolutiva; fala, mais profundamente, ao reequilíbrio de nós mesmos. Não precisamos exumar personalidades que já desapareceram na ronda inflexível do tempo, a fim de nos certificarmos quanto à realidade dos princípios reencarnacionistas. Recorramos à introspecção. Pausemos na atividade cotidiana de quando em quando para observar-nos, no âmago do Ser, e constataremos a expressão multiface de nosso Espírito. Aí, na solidão do plano íntimo, em análise correta e desapaixonada, surpreenderemo-nos tais quais somos e, confrontando os impulsos que nos caracterizam a índole com os conhecimentos superiores que vamos adquirindo, esbarramos, de chofre, com as individualidades que temos vivido em muitas existências. Depois de semelhante auto-auscultação, vejamos o próprio comportamento na vida exterior. Encontraremos, então, o traço dominante de nossa natureza múltipla no trato com pessoas e situações pelas reações que elas nos causam. O que mais nos assombra é o desnível de nosso senso de amor e justiça, de vez que há circunstâncias em que pleiteamos tolerância e desculpa, quando por dentro estamos plenamente convencidos de que somos responsáveis e puníveis por faltas graves e, há criaturas que nos merecem o máximo apreço, sem que sintamos por elas nada mais que aversão e vice-versa. Determinemos, por nós mesmos, as oportunidades que falamos disso ou daquilo, escondendo cautelosamente a opinião verdadeira que alimentamos no assunto, atendemos à nossa arte de despistar quando os nossos interesses estejam em jogo e verificaremos que a cortesia, em certas ocasiões, não passa de capa atraente que nos guarnece a astúcia, no encalço de certos fins.  Não nos propomos ao comentário no intuito de arrasar-nos ou deprimirmos.  Longe disso, sugerimos o tema com o objetivo de fomentar a pesquisa clara e benéfica da reencarnação, em nós mesmos, sem necessidade de quaisquer recursos à revelações outras, ao modo de pessoa que acende um luz para conhecer os escaninhos da própria casa. Estudemos a lei dos renascimentos na vida física, dentro de nós. Não nos poupemos, diante da verdade, para que a verdade nos corrija. Não basta que o discípulo tenha um mestre digno para senhorear disciplina determinada. É necessário que ele se informe quanto às lições e se aplique a elas. (SA; 50)


domingo, 8 de outubro de 2017

MORTE E RESIGNAÇÃO, TEORIA E PRÁTICA, MORTE PREMATURA...

Esclarecendo outras dúvidas, a visão do professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA eme), marca presença na sequência. MORTE E RESIGNAÇÃO Os espíritas pregam a resignação diante do sofrimento e da morte. Quando aceitamos a morte com resignação não estamos nos declarando impotentes diante da vida? Somos impotentes diante de muita coisa e precisamos aprender a aceitar os nossos limites, sabendo que não podemos tudo. Quem de nós poderá evitar a morte? Quem poderá dominar as leis da vida? Se não aceitarmos a existência de Deus, o Supremo Poder, estaremos menosprezando o valor da vida e o valor do homem, uma vez que ele nada mais será do que mera obra do acaso. Assim, a nossa impotência maior é aquela que surge da incapacidade de conceber Deus e a continuidade da vida, porque, aceitando a morte como o fim e a vida sem um sentido divino, na verdade, nada mais nos restará que lamentar nossa triste sorte, chorar ou nos desesperar, uma vez que o nosso tudo redundará em nada. A resignação é uma forma de nos adaptar momentaneamente às condições que não podemos mudar, mas o conhecimento espírita que embasa essa resignação nos dá a certeza de que a vida não termina com a morte do corpo e que, portanto, aí não existe mero conformismo, mas compreensão de que a experiência da desencarnação é necessária para alcançarmos uma situação melhor. TEORIA E PRÁTICA Se o conhecimento valesse, médico não fumava. No entanto, muitos médicos fumam, demonstrando que o fato de que o saber não muda o comportamento humano. A partir daí, podemos concluir que o Ser humano é assim em tudo. Não basta saber, é preciso mudar. O que fazer? O conhecimento é, sem dúvida, o primeiro passo para a transformação do homem, mas, incontestavelmente, não é o último. Sabemos muitas coisas boas, mas bem poucas praticamos, porque temos dificuldade de transformar esses conhecimentos em valores efetivos de vida. Foi por isso que Jesus, mui apropriadamente, antecipava às suas afirmativas a seguinte expressão, " Veja quem tem olhos de ver, ouça quem tem ouvidos de ouvir", ou seja, nem todos os olhos e ouvidos que vêem e ouvem estão preparados para se apropriar do conteúdo moral da Verdade; apenas constatam, mas não aplicam. Percebendo essa natural dificuldade do aprendiz, Jesus, como um bom Mestre, conduziu seus discípulos à prática do Bem, quer dizer, ao exercício pleno dos princípios que ensinava. De que valeria Jesus falar em amor ao próximo, se ele mesmo não desse conta disso? De que valeria recomendar aos discípulos que amassem seus semelhantes, se não lhes pusessem às mãos a oportunidade do trabalho em favor do próximo, para se modificarem. Jesus não concebia a teoria sem a prática, nem a prática sem a teoria. Em razão disso, estimulava os discípulos a fazer o Bem, a vivenciarem o que estavam aprendendo e o que iriam ensinar. Esta é a forma pela qual cada um de nós pode se melhorar moralmente, alimentando-nos de conhecimento e aplicando-o imediatamente à prática da vida, começando aqui e agora, desde as relações familiares ao contato com os mais estranhos. Assim, o primeiro degrau para a transformação se chama convencimento ( confiança plena naquilo que está aprendendo), ao que se segue a aplicação da teoria e a sua repetição constante, para que se formem novos esquemas de comportamento em nosso modo de conviver. MORTE PREMATURA Por que pessoas boas morrem cedo? Será porque Deus precisa delas do lado de lá? É possível que exista alguma relação entre a bondade e a duração da vida na Terra. No Velho Testamento da Bíblia, Iavé, o deus hebreu, assim mandava: "Honra vosso pai e vossa mãe para que longos sejam os vossos dias na Terra". No entanto, vemos pessoas boníssimas, que amam seus pais, que honram seus familiares, partirem cedo desta vida e outras, que até desprezam ou abandonam aos pais, sem nenhuma consideração ou respeito por eles, terem uma vida longa neste mundo, prova de que o mandamento de Moisés não estava muito bem formulado, pois, ele não sabia conceber uma vida além desta. Pela lógica, quanto mais elevado moralmente o Espírito menos precisa da encarnação. Mas, na verdade, cada caso é um caso e precisa ser analisado individualmente: não devemos generalizar. O que existe atrás desse mecanismo encarnação/desencarnação é o currículo anterior do Espírito que, sendo bom, deve ter planejado a sua vida na Terra para poucos anos, mesmo porque o Espírito mais avançado não mede suas experiências pela extensão no tempo, mas pela profundidade com que elas são vividas. Difícil para os familiares e os amigos, que lamentam a sua desencarnação precoce, muitas vezes, inconformados! Mas, geralmente, quando encarnados, não sabemos aquilatar o que está atrás de tudo isso, de modo que a nossa tristeza se justifica apenas porque o queremos fisicamente perto de nós e não levamos em consideração que, mesmo dolorosa, essa inesperada partida foi de inestimável valor para sua evolução espiritual.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

APENAS MAIS UMA OPÇÃO?

Surgido em meados do século 19, o Espiritismo foi seguido no século 20 por grande quantidade de alternativas espiritualistas que por sua vez atendem anseios e necessidades de grande número de pessoas em várias regiões do Planeta. Diante disso, surge naturalmente a pergunta: qual o real papel a ser cumprido pela Doutrina Espírita. Allan Kardec na edição de agosto de 1865, da REVISTA ESPÍRITA oferece alguns elementos para reflexões. Diz ele: -O Espiritismo contribui para a regeneração da Humanidade: isto é um fato constatado. Ora, não podendo essa regeneração operar-se senão pelo progresso moral, resulta que seu objetivo essencial, providencial, é o melhoramento de cada um; os mistérios que pode nos revelar são a parte acessória, porquanto, ao nos abrir o santuario de todos os conhecimentos só estaremos mais adiantados para o nosso estado futuro se formos melhores. Para nos admitir no banquete da suprema felicidade, Deus não pergunta o que sabemos, nem o que possuímos, mas o que valemos e o bem que fizemos. Portanto, é acima de tudo pelo seu melhoramento individual que todo espírita sincero deve trabalhar. Só aquele que dominou suas más tendências aproveitou realmente o Espiritismo e receberá a sua recompensa. É por isto que os Espíritos bons, por ordem de Deus, multiplicam suas instruções e as repetem até à saciedade; só um orgulho insensato pode dizer: não preciso de mais. Só Deus sabe quando serão inúteis, e só a ele cabe dirigir o ensino de suas mensagens e de o proporcionar ao nosso adiantamento. Contudo, vejamos se, fora do ensinamento puramente moral, os resultados do Espiritismo são tão estéreis quanto pretendem alguns. 1– Antes de mais ele dá, como todos sabem, a prova patente da existência e da imortalidade da alma. Não é uma descoberta, é verdade, mas é por falta de provas sobre este ponto que há tantos incrédulos ou indiferentes quanto ao futuro; é provando o que não passava de teoria que ele triunfa sobre o materialismo e previne suas funestas consequências para a sociedade. Tendo mudado em certeza a dúvida quanto ao futuro, o Espiritismo opera toda uma revolução nas ideias, cujos resultados são incalculáveis. Se aí se limitasse exclusivamente o resultado das manifestações, quão imensos seriam esses resultados! 2 – Pela firme crença que desenvolve, exerce poderosa ação sobre o moral do homem; impele-o ao bem, consola-o nas aflições, dá-lhe força e coragem nas provações da vida e lhe desvia do pensamento o suicídio. 3– Retifica todas as ideias falsas que se tivessem sobre o futuro da alma, sobre o céu, o inferno, as penas e recompensas; destrói radicalmente, pela irresistível lógica dos fatos, os dogmas das penas eternas e dos demônios; numa palavra, descobre-nos a vida futura e no-la mostra racional e conforme à justiça de Deus. É ainda uma coisa que tem muito valor. 4 – Dá a conhecer o que se passa no momento da morte; este fenômeno, até hoje insondável, não mais tem mistérios; as menores particularidades dessa passagem tão temível são hoje conhecidas. Ora, como todos morrem, este conhecimento interessa a todo o mundo. 5 – Pela lei da pluralidade das existências, abre um novo campo à filosofia; o homem sabe de onde vem, para onde vai e com que objetivo está na Terra. Explica a causa de todas as misérias humanas, de todas as desigualdades sociais; dá as próprias leis da Natureza como base dos princípios de solidariedade universal, de fraternidade, de igualdade e de liberdade, que só se assentavam na teoria. Enfim, projeta luz sobre as mais árduas questões da metafísica, da psicologia e da moral. 6 – Pela teoria dos fluidos perispirituais, torna conhecido o mecanismo das sensações e das percepções da alma; explica os fenômenos da dupla vista, da vista a distância, do sonambulismo, do êxtase, dos sonhos, das visões, das aparições, etc.; abre novo campo à Fisiologia e à Patologia. 7 – Provando as relações existentes entre o mundo corporal e o mundo espiritual, mostra neste último uma das forças ativas da Natureza, um poder inteligente e dá a razão de uma porção de efeitos atribuídos a causas sobrenaturais, e que alimentaram a maior parte das idéias supersticiosas. 8 – Revelando o fato das obsessões, faz conhecer a causa, até aqui desconhecida, das numerosas afecções, sobre as quais a Ciência se havia enganado em prejuízo dos doentes, e dá os meios de os curar. 9 – Dando-nos a conhecer as verdadeiras condições da prece e seu modo de ação; revelando-nos a influência recíproca dos Espíritos encarnados e desencarnados, ensina-nos o poder do homem sobre os Espíritos imperfeitos para os moralizar e os arrancar aos sofrimentos inerentes à sua inferioridade. 10 – Tornando conhecida a magnetização espiritual, que era desconhecida, abre novo caminho ao magnetismo e lhe traz um novo e poderoso elemento de cura. O mérito de uma invenção não está na descoberta de um princípio, quase sempre conhecido anteriormente, mas na aplicação desse princípio. Sem dúvida a reencarnação não é uma ideia nova, como o perispírito descrito por São Paulo sob o nome de corpo espiritual também não o é, e nem mesmo a comunicação com os Espíritos.


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

PRESENÇA DE DEUS

Genericamente repetindo informações plantadas na memória por escolas religiosas tradicionais, afirmam muitos a presença e ação de Deus em momentos cruciais das próprias existências. Allan Kardec nas páginas da REVISTA ESPÍRITA oferece alguns conteúdos interessantes para nossas reflexões. 1- Como acreditar que Deus pode atender aos rogos da criatura humana?  As flutuações que sua vontade pode imprimir aos acontecimentos da própria vida de modo algum perturbam a harmonia universal, pois essas mesmas flutuações faziam parte das provas que incumbem ao homem na Terra.  No limite das coisas que dependem da vontade do homem, Deus pode, pois, sem derrogar suas leis, anuir a uma prece, quando é justa, e cuja realização pode ser útil; mas acontece muitas vezes que ele julga a sua utilidade e a sua oportunidade de modo diverso que nós, razão por que nem sempre aquiesce.  Se lhe aprouver atendê-la, não é modificando seus decretos soberanos que o fará, mas por meios que não saem da ordem geral, se assim nos podemos exprimir.  Os Espíritos, executores de sua vontade, são então encarregados de provocar as circunstâncias que devem levar ao resultado desejado.  Quase sempre esse resultado requer o concurso de algum encarnado; é, pois, esse concurso que os Espíritos preparam, inspirando os que devem nele cooperar o pensamento de uma ação, incitando-os a ir a um ponto e não a um outro, provocando encontros propícios que parecem devidos ao acaso.  Ora, o acaso não existe nem na assistência que se recebe, nem nas desgraças que se experimenta.  Nas aflições, a prece não só é uma prova de confiança e de submissão à vontade de Deus, que a escuta, se for pura e desinteressada, mas ainda tem por efeito, como sabeis, estabelecer uma corrente fluídica que leva longe, no espaço, o pensamento do aflito, como o ar leva os acentos de sua voz.  Este pensamento repercute nos corações simpáticos ao sofrimento e estes, por um movimento inconsciente e como atraídos por um poder magnético, dirigem-se para o lugar onde sua presença pode ser útil.  Deus, que quer socorrer aquele que o implora, sem dúvida poderia fazê-lo por si mesmo, instantaneamente, mas, como eu disse, ele não faz milagres, e as coisas devem seguir seu curso natural; ele quer que os homens pratiquem a caridade, socorrendo-se uns aos outros.  Por seus mensageiros, o lamento que encontra eco é levado até ele e lá os Espíritos bons insuflam um pensamento benévolo.  Embora provocado, este pensamento deixa ao homem toda a sua liberdade, por isto mesmo que sua fonte é desconhecida; nada o constrange; ele tem, por conseguinte, todo o mérito da espontaneidade, se ceder à voz íntima que nele faz apelo ao sentimento do dever, e todo o demérito se resistir, porque dominado por uma indiferença egoísta. (RE; 5/1865) Num perigo iminente, em que a assistência deve ser imediata, como pode o socorro de Deus chegar em tempo hábil ?  Não deveis esquecer que os Anjos-da-Guarda, os Espíritos Protetores, cuja missão é velar pelos que lhes são confiados, os seguem, a bem dizer, passo a passo.  Não lhes podem poupar as apreensões dos perigos, que fazem parte de suas provações; mas se as consequências do perigo podem ser evitadas, como o previram antes, não esperam o último momento para preparar o socorro.  Se, por vezes, dirigem-se aos homens de má vontade, é visando procurar despertar neles bons sentimentos, mas não contam com eles.  Quando, numa posição crítica, uma pessoa se acha, como que de propósito, para vos assistir, e exclamais que “é a Providência que a envia”, dizeis uma verdade bem maior do que muitas vezes supondes.  Se há casos prementes, outros que o são menos exigem certo tempo para trazer um concurso de circunstâncias favoráveis, sobretudo quando é preciso que os Espíritos triunfem, pela inspiração, da apatia das pessoas cuja cooperação é necessária para o resultado a obter.  Essas demoras na realização do desejo são provas para a paciência e a resignação; depois, quando chega a realização do que se desejou, é quase sempre por um encadeamento de circunstâncias tão naturais que absolutamente nada denuncia uma intervenção oculta, nada afeta a mais leve aparência de maravilhoso; as coisas parecem arranjar-se por si mesmas.  Isto deve ser assim pelo duplo motivo de que os meios de ação não se afastam das leis gerais e, em segundo lugar, que se a assistência dos Espíritos fosse muito evidente, o homem se fiaria neles e habituar-se-ia a não contar consigo mesmo.  Essa assistência deve ser compreendida por ele por pensamento, pelo senso moral, e não pelos sentidos materiais; sua crença deve ser o resultado de sua fé e de sua confiança na bondade de Deus. Infelizmente, porque não viu o dedo de Deus fazer um milagre para ele, muitas vezes esquece aquele a quem deve sua salvação para glorificar o acaso. (RE; 5/1866)