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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

O MAGNETISMO PERANTE A ACADEMIA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Entre os artigos publicados por Allan Kardec na REVISTA ESPÍRITA, de janeiro de 1860, há um intitulado O Magnetismo Perante a Academia, em que escreve, de forma bastante original, sobre a forma como, após vinte anos de espera, o Magnetismo, disfarçado de Hipnotismo, conseguiu ser considerado pela Academia de Ciências francesa. De forma até bem humorada, revela-o como filho do primeiro, este, por sinal, “proscrito do Olimpo grego, porque tinha ferido os privilégios de Esculápio e marchado ao seu lado, gabando-se do poder de curar sem o seu concurso”. Antevê o fracasso da nova tentativa do Magnetismo, através do Hipnotismo, de ser aceito pelos homens da Ciência pela predominância das ideias materialista, ponderando que “vão dizer qualquer coisa, mas que, seguramente, não é Magnetismo”, embora viessem a examinar “o fato de todas as maneiras, ainda que por mera curiosidade”. Demonstrando a origem de seu ceticismo, reproduz um artigo – considerado por ele como notável -, assinado por Victor Meunier, destacado da revista científica SIÉCLE, de 16 de dezembro de 1859. Nele, o autor comenta: “-O Magnetismo animal, conduzido à Academia pelo Dr Paul Broca, apresentado à ilustre companhia pelo sr. Velpeau, experimentado por vários cirurgiões de hospitais, é a grande novidade do dia. As descobertas como os livros, tem o seu destino. A de que vamos tratar não é nova. Data de uns vinte anos, e nem na Inglaterra, onde nasceu, nem na França, onde, no momento, não se ocupa de outra coisa, lhe faltou publicidade. Um médico escocês, o Dr Braid, a descobriu e lhe consagrou um livro: “Neuropnologia ou o fundamento do sono nervoso, considerado em relação com o magnetismo animal”. Um celebre médico inglês, o Dr Carpenter, analisou detidamente a descoberta do Dr Braid no artigo SONO da Enciclopédia de Anatomia e Fisiologia. Um ilustre cientista francês, o Dr Littré, reproduziu a análise do Dr Mueler. Enfim, nós mesmos consagramos um dos nossos folhetins da Presse, de 7/7/1852 ao Hipnotismo, nome dado pelo Dr Braid ao conjunto de fatos de que se trata. A mais recente das publicações relativas ao assunto data, pois, de sete anos. E eis que, quando o julgavam esquecido, ele adquire esta imensa repercussão. Há no Hipnotismo duas coisas: um conjunto de fenômenos nervosos, e o processo por meio do qual são produzidos. O processo empregado outrora, se não me engano, pelo Abade Faria, é de grande simplicidade. Consiste em manter um objeto brilhante em frente aos olhos da pessoa com a qual se experimenta, a pequena distância da raiz do nariz, de modo que só o possa olhar enviesando os olhos para dentro; ela deve fixar os olhos sobre ele. A princípio as pupilas se contraem, depois se dilatam bastante e, em poucos instantes, produz-se o estado cataléptico. Levantando-se os membros do paciente, estes conservam a posição que se lhes dá. É apenas um dos fenômenos produzidos; dos outros falaremos oportunamente”. O autor descreve experiências visando assegurar-se da realidade do Hipnotismo e se a insensibilidade hipnótica resistiria à prova das operações cirúrgicas. Constatadas essas evidências, destaca a necessidade de aprofundamento das pesquisas sobre as causas dos efeitos observados:1- Exaltação da sensibilidade – o olfato é levado a um grau de sensibilidade pelo menos igual ao que se observa nos animais de menor olfato. 2- Sentimentos sugeridos - pondo-se o rosto, o corpo ou os membros do paciente na atitude que convém à expressão de um sentimento particular e logo se desperta o estado mental correspondente. 3- Ideias provocadas – Levantem-se a mão do paciente acima da cabeça, dobrem-se os dedos sobre a palma, e é suscitada a ideia de subir, de se balançar ou puxar uma corda. 4- Acréscimo de força muscular – Se se quiser suscitar uma força extraordinária num grupo de músculos, basta sugerir ao paciente a ideia da ação que reclama essa força e lhe assegurar que o pode realizar com a maior facilidade, caso queira”. Concluindo sua matéria, Allan Kardec diz: “- Aos fatos a palavra; as reflexões virão depois”. O tempo, contudo, consagrou o acerto do prognóstico sobre a vitória do materialismo e sua visão organicista da vida humana.  



PRESTEM ATENÇÃO NESTA QUESTÃO. “Se o homem fosse divino por natureza -– como explicaria ser ele capaz de pecado? A doutrina da reencarnação leva, então, à conclusão de que o mal moral provém da natureza divina. O que significa a aceitação do dualismo maniqueu e gnóstico. A reencarnação leva necessariamente à aceitação do dualismo metafísico, que é tese gnóstica que repugna a razão e é contra a fé. É essa tendência dualista e gnóstica que leva os espíritas, defensores da reencarnação, a considerarem que o mal é substancial e metafísico e não apenas moral. O que se novo é a tese da Gnose.”

Primeiramente queremos esclarecer os termos gnose e maniqueísmo. O maniqueísmo é uma doutrina que surgiu na Pérsia, 3 ou 4 séculos antes de Cristo e que tinha por base a crença de que o mundo seria regido por dois poderes: o poder do bem e o poder do mal, que viviam em constante conflito. Foi desse sistema que surgiu entre os hebreus a crença no demônio, como entidade autônoma, capaz de se opor a Deus na disputa pelas almas humanas. O Gnosticismo ou gnose veio depois de Cristo e utilizava princípios filosóficos para entender e fundamentar a fé, tendo sido muito combatido pela Igreja.

Voltamos à pergunta. Caro ouvinte, não acreditamos no mal como um ente autônomo que se opõe ao bem, do mesmo modo que não aceitamos que exista um reino do mal (comandado pelo demônio), que faça frente ao reino do bem, comandado por Deus. Isto é que se chama dualismo: duas forças opostas disputando poder. Mas, não é tão simples assim. O mal para nós, no processo evolutivo dos seres, é acidental, não é substancial. Logo, ele não existe por si mesmo. Tudo se encaminha para o bem, que é Deus. Porém, nós que somos imperfeitos, vemos mal em tudo que está a caminho do bem, mas ainda não se realizou.

Deus, que é a perfeição absoluta, criou-nos para adquirirmos a própria perfeição por conta e mérito exclusivos nossos. É nesse sentido que passamos de encarnação em encarnação, palmilhando esse longo caminho, à medida que procuramos entender as leis que regem esse processo. É o que a reencarnação permite. O bem é o que nos auxilia; o bem o que nos prejudica: é assim que usualmente, em nosso limitado entendimento, interpretamos os acontecimentos da vida. No entanto, para Deus, que é a perfeição, não existe o mal, pois o bem é absoluto e, portanto, tudo que acontece no universo é necessário e bom.

Mas, do nosso acanhado ponto de vista, precisamos fazer essa diferenciação, pois, como seres limitados, a fim de penetrarmos no conhecimento de alguma coisa compará-la com outra coisa contrária. É por isso que criamos a noção de bem e de mal, de grande e pequeno, de bonito e feio, etc.,. mas cada uma dessas noções, que acompanham nossa vida, é relativa às experiências que já adquirimos e às circunstâncias do momento que estamos vivendo.

Portanto, não há o dualismo de que você fala, ou seja, o bem e o mal se fundem numa realidade mais ampla, nem sempre compreensível para nós neste estágio evolutivo em que nos encontramos. Tanto assim que, na prática, algo que nos parece um bem hoje poderá ser interpretado como um mal amanhã, e algo que aparenta um mal agora pode se revelar como um bem no futuro. Deus criou suas leis e nos deu inteligência, autoconsciência e livre-arbítrio para aprendermos a discernir e assumir o próprio destino. Por isso, tudo que nos acontece depende de nossas ações e de suas repercussões nessas leis.

A reencarnação é o mecanismo pelo qual cada Espírito, ao longo de sua longa jornada evolutiva, vai adquirindo as necessárias experiências para seu aperfeiçoamento constante. Sem a reencarnação, a vida e tudo que nela passamos - em 5, 10, 30, 60 ou 100 anos de vida aqui na Terra – não faria sentido, pois as experiências de uma só encarnação não nos colocariam a todos em pé de igualdade de tratamento perante a justiça de Deus.



domingo, 30 de outubro de 2022

SEXO ALÉM DA MORTE; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 “...seu filho anda partido em dois, tamanho é o meu anseio de realizar-me na condição de homem(...). Muitos rapazes se desligam facilmente desses anseios. Tenho visto centenas que me participam estarem transfigurados pela religião e outros adotam exercícios de ioga com o objetivo de cortarem essas raízes da mocidade com o mundo(...).Meu tio Ivo fala em amor entre jovens apenas usufruindo o magnetismo das mãos dadas, e até já experimentei, mas a pequena não apresentava energias que atraíssem para longos diálogos sobre as maravilhas da vida por aqui. Fiz força e ela também; no entanto, nos separamos espontaneamente, porque não nos alimentávamos espiritualmente um ao outro. Creio que meu caso é uma provação que apenas vencerei com o apoio do tempo(...). Dizem por aqui que os pares certos trocam emoções criativas e maravilhosas no simples toque de mãos; no entanto, estou esperando o milagre”. O desabafo foi feito por Ivo Barros Correia Menezes à mãe, em carta psicografada por Chico Xavier, seis anos após seu desencarne aos 18 de idade, quando o veículo em que se encontrava com amigos foi colhido por ônibus cujo motorista ultrapassou o sinal vermelho. Embora o sexo além da morte não tenha sido objeto de mais aprofundados estudos por Allan Kardec, os Espíritos que auxiliaram no cumprimento do programa desenvolvido através do médium de Pedro Leopoldo, deixaram importantes subsídios para nossas reflexões. André Luiz, por exemplo, acompanhando a benfeitora Narcisa num atendimento num dos pavilhões em que começava a servir na colônia descrita em NOSSO LAR (feb), atraído por gritaria próxima, foi contido por ela, no instintivo movimento de aproximação, ouvindo dela: “- Não prossiga, localizam-se ali os desequilibrados do sexo. O quadro seria extremamente doloroso para seus olhos”. MISSIONÁRIOS DA LUZ (feb), expõem situação verificada com Marcondes que “no desdobramento natural do sono físico deveria estar em palestra proferida durante a madrugada pelo Instrutor Alexandre, em instituição localizada na Crosta e que é localizado em seu quarto de dormir, parcialmente desligado do corpo que descansava com bonita aparência, sob as colchas rendadas (...), revelando posição de relaxamento, característica dos viciados do ópio, tendo a seu lado, três entidades femininas” - definidas por André como da pior espécie de quantas já tinha visto nas regiões das sombras -, em atitude menos edificante, atraídas, segundo disseram pelos pensamentos curtidos pelo encarnado no dia anterior”. O caso de Odila apresentado no ENTRE A TERRA E O CÉU (feb), mostra a situação de mulher desencarnada, evidenciando no corpo espiritual, o centro genésico plenamente descontrolado, não querendo senão o marido, em vista do apego enlouquecedor aos vínculos do sexo, que a paixão nada faz senão desvirtuar”. Segundo análise do Instrutor Clarêncio, embora “possua admiráveis qualidades morais, jazem eclipsadas. Desencarnou em largo vigor de seu idealismo, sem uma fé religiosa capaz de reeducar lhe os impulsos, justificando-se desse modo a superexcitação em que se encontra”. Calderaro, o Benfeitor apresentado em NO MUNDO MAIOR (feb), explica que “a sede do sexo não se acha no corpo grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização”. Na mesma obra, acompanhando tarefa socorrista efetuada em recinto reservado de um clube de dança, André observa: “-Algumas dezenas de pares encarnados dançavam, tendo as mentes absorvidas nas baixas vibrações que a atmosfera vigorosamente insuflava. Indefinível e dilacerante impressão dominou-me o Ser. Não provinha da estranheza que a indiferença dos cavalheiros e a leviandade das mulheres me provocaram; o que me enchia de assombro era o quadro que eles não vinham. A multidão de entidades conturbadas e viciosas que aí se movia era enorme. Os dançarinos não bailavam sós, mas, inconscientemente, correspondiam, no ritmo açodado da música inferior, a ridículos gestos dos companheiros irresponsáveis que lhes eram invisíveis”. Comentando a cena, o Orientador diz: “- Observamos, neste recinto, homens e mulheres dotados de alto raciocínio, mas assumindo atitudes de que muitos símios talvez se pejassem(...). Muitos deles são profundamente infelizes, precisando de nossa ajuda e compaixão. Procuram sufocar no vinho ou nos prazeres certas noções de responsabilidade que não logram esquecer”. Finalizando, porém, destacamos um que de certo modo surpreende por sua peculiaridade. Provém do E A VIDA CONTINUA (feb), envolvendo Ernesto Fantini que, vários meses após ter desencarnado, ansioso, retorna ao lar que fora dele defrontando-se com um quadro que jamais poderia imaginar. Conta: “-Elisa – a esposa -, descansava... O corpo magro, o rosto mais profusamente vincado de rugas e os cabelos mais grisalhos. No entanto, junto dela, estirava-se um homem desencarnado”. Tratava-se de colega de infância, cuja amizade conservara adulto e que, embora também casado, pressentia nutrir atração anormal por sua esposa, a qual, a compartilhava. Anos antes, acreditava ter eliminado o rival numa caçada – na verdade atingido por tiro fatal desferido por outro – e, desligado compulsoriamente do corpo, passou a viver a partir de então na casa e na cama com a pretendida que o percebia pela ignorada mediunidade, ao longo do anos que se seguiram até aquele momento de reencontro”.



Um ouvinte, que se identificou como Josias, e que se mostra bastante confuso com a existência do diabo, faz a seguinte pergunta: “Se Deus criou tudo que existe, foi Ele que também criou o inferno?”

Caro Josias, aí está uma questão intrigante e bastante contraditória. Como que Deus, que é infinitamente bom e misericordioso, poderia criar um lugar para castigar seus filhos desobedientes para toda a eternidade? Não há contradição nisso? Quem disse que Deus é bom e misericordioso foi Jesus, a maior autoridade moral e espiritual que já encarnou na Terra. Acreditamos que ele tenha autoridade para fazer essa afirmação, de que o Pai é bom e misericordioso.

Foi ele mesmo quem disse: “Se vós que sois maus e imperfeitos sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quando eles vos pedem, quanto não vos dará o Pai Celestial que é bom e perfeito?” É claro, o pai humano não desejaria e muito menos faria mal a um filho, mesmo que esse filho fosse desobediente. Mas Jesus não disse isso. Ele disse: “Se vos que sois maus sabeis dar boas coisas aos vossos filhos” – ele não fala em filho bom ou em filho mau, fala apenas em filhos, ou seja, em todos os filhos.

Além do mais, foi o próprio Jesus que ensinou o amor ao inimigos. Ora, se nós, que somos humanos e imperfeitos, devemos amar os inimigos, o que não fará o Pai que é bom e perfeito em relação aos seus filhos que se desviaram do caminho? Veja, portanto, Josias, que nessa questão de diabo e de inferno há uma contradição lógica, e Jesus, pela sua autoridade moral, não poderia ter caído em contradição.

Mesmo assim, no evangelho de Mateus, cap. 25, vers. 41, há uma afirmação atribuída a Jesus – que nós não acreditamos tenha sido dele – e que diz o seguinte: "Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos". Ora, se Jesus tivesse dito isso, ele estaria em contradição em relação a tudo que ensinou, porque estaria dizendo que Deus criou o inferno para castigar seus próprios filhos, pois ninguém pode contestar que o que ele chama de Diabos e seus anjos também são filhos de Deus. Logo, ou Jesus não disse isso ou não entenderam bem o que ele disse.

Portanto, para o Espiritismo, não há se falar em inferno como lugar sofrimento eterno. Falamos dos Espíritos, que se desviam do caminho do bem, que se comprometem com o mal e que vão responder por isso de acordo com os erros cometidos, mas que por bondade e misericórdia do Pai, um dia serão resgatados para o rebanho dos bons, porque se transformarão no extenso e difícil caminho da evolução espiritual. Só existe um poder, Deus. Só existe uma finalidade para tudo e para todos, o Bem.


sábado, 29 de outubro de 2022

ALERTA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Na edição de março de 1859 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec incluiu um artigo comentando a atitude daqueles que se beneficiam de sua condição de canal de comunicação entre diferentes Dimensões intitulado MEDIUNS INTERESSEIROS. O Codificador, logo no início, considera esse “defeito como um dos que podem dar acesso aos Espíritos imperfeitos”. Analisando essas considerações, observamos sua atualidade, não só diante dos médiuns por trás daqueles panfletos que prometem “soluções” e “revelações” sobre problemas existenciais como relacionamento afetivo e trabalho, mas também dos transformam livros mediúnicos em meios de vida. Vejamos a opinião de Kardec: “-Na primeira linha dos médiuns interesseiros devem colocar-se aqueles que poderiam fazer de sua faculdade uma profissão, dando o que se costuma chamar de sessões ou consultas remuneradas (..). Como, porém, tudo pode tornar-se objeto de exploração, não seria de admirar que um dia quisessem explorar os Espíritos. Resta saber como eles encarariam o fato, se acaso se tentasse introduzir uma tal especulação. Mesmo sem iniciação ao Espiritismo, compreende-se quanto isso representa de aviltante; mas quem quer que conheça um pouco o quanto é difícil aos bons Espíritos virem comunicar-se conosco e quão pouco é preciso para os afastar, bem como sua repulsa por tudo quanto represente interesse egoístico, jamais poderá admitir que os Espíritos superiores sirvam ao capricho do primeiro que os evocasse a tanto por hora. O simples bom senso repele tal suposição. Não será ainda uma profanação evocar pai, mãe, filhos e amigos por semelhante meio? Sem dúvida que dessa maneira se podem ter comunicações; mas só Deus sabe de que fonte! Os Espíritos levianos, mentirosos, travessos, zombeteiros e toda a caterva de Espíritos inferiores vem sempre: estão sempre prontos a tudo responder. São Luiz nos dizia outro dia, na Sociedade: Evocai um rochedo, e ele vos responderá. Quem quiser comunicações sérias deve antes de tudo informar-se quanto às simpatias do médium com os seres do Plano Espiritual; aquelas que são dadas pela ambição do lucro só podem inspirar uma confiança falsa e precária. Médiuns interesseiros não são apenas os que poderiam exigir uma determinada importância: o interesse nem sempre se traduz na esperança de um lucro material, mas também nos pontos de vista ambiciosos de qualquer natureza, sobre os quais pode fundar-se a esperança pessoal. É ainda um tropeço que os Espíritos zombadores sabem utilizar muito bem, e de que se aproveitam com uma destreza e com uma desfaçatez verdadeiramente notáveis, acalentando enganadoras ilusões naqueles que assim se colocam sob sua dependência. Em resumo, a mediunidade é uma faculdade dada para o Bem e os bons Espíritos se afastam de quem quer que pretenda transformá-la em escada para alcançar seja o que for que não corresponda aos desígnios da Providência. O egoísmo é a chaga da sociedade; os Bons Espíritos o combatem e, portanto, não é possível supor que venham servi-lo. Isto é tão racional, que sobre tal ponto seria inútil insistir. Os médiuns de efeitos físicos não estão nas mesmas condições: seus efeitos sendo produzidos por Espíritos inferiores, pouco escrupulosos quanto aos sentimentos morais, um médium dessa natureza, que quisesse explorar sua faculdade, poderia encontrar os que o assistissem sem muita repugnância. Mas teríamos ainda outro inconveniente. Assim como o médium de comunicações inteligentes, o de efeitos físicos não recebeu sua faculdade para seu prazer; esta lhe foi dada com a condição de usá-la bem e, se abusar, ela lhe pode ser retirada ou revertida em seu prejuízo porque, afinal de contas, os Espíritos inferiores estão às ordens dos Espíritos Superiores. Os inferiores gostam de mistificar, mas não gostam de ser mistificados; se de boa vontade se prestam às brincadeiras e questões de curiosidade, como os demais, não gostam de ser explorados e, a cada momento, provam que tem vontade própria, que agem quando e como bem entendem, o que faz com que o médium de efeitos físicos esteja ainda menos seguro da regularidade das manifestações que os médiuns escreventes. Pretender as produzir em dias e horas predeterminados seria dar mostras de profunda ignorância. Que fazer então para ganhar o seu dinheiro? Simular os fenômenos. Eis o que pode acontecer, não só aos que disso fizessem uma profissão declarada, como também às criaturas aparentemente simples, que se limitam a receber uma retribuição qualquer dos visitantes. Se o Espírito nada produz, elas produzem: a imaginação é muito fecunda quando se trata de ganhar dinheiro”.



A pergunta é do Antonio Carlos Ioppe. Ele quer saber por que o câncer, que era uma doença rara no passado, tornou-se tão comum hoje em dia, a ponto de atingir todas as famílias; se esse fenômeno tem alguma causa de ordem espiritual.

As doenças sempre fizeram parte das tribulações humanas e se manifestam de formas diferentes em cada época e em cada lugar. Todo ser vivo, homem ou não, está sujeito a adoecer, até porque o corpo, de uma maneira geral, está sempre se aperfeiçoando, exigindo mudanças que nem sempre são bem sucedidas de imediato. Além disso, ele vai se adaptando às situações novas por força das leis de conservação e destruição, que são leis da natureza.

O ser humano, além do meio que habita – e devemos considerar que o ambiente físico e social em que vivemos tem-se modificado intensamente nas últimas décadas – também se modifica interiormente, na intimidade da alma, em termos de pensamento e emoções. É natural, portanto, que, sofrendo uma série de influências (tanto exteriores quanto interiores), e precisando se adaptar ao meio para a sobrevivência, o corpo humano se veja obrigado a se adequar a todas essas variáveis, impondo-se sérias mudanças.

As doenças, de uma maneira geral, podem se manifestar em consequência de defeitos e limitações do próprio organismo, podem decorrer de acidentes e dificuldades de adaptação ao meio, ao estilo de vida, aos abusos, à falta de cuidados com a saúde, alimentação, etc. Todavia, existem causas espirituais, que somadas às que acabamos de citar, acarretam enfermidades, que são os males advindos de problemas (até de ordem moral) que vão ocorrendo através das encarnações.

Atualmente, com a facilidade com que o câncer se prolifera no mundo (acreditamos que isso se deve às profundas mudanças em nosso estilo de vida, principalmente na alimentação), muito dos problemas oriundos do passado (desta ou de outras encarnações) se manifestam através dessa doença, principalmente às que estão relacionadas aos conflitos emocionais decorrentes dos resíduos da culpa e da mágoa que acompanham o Espírito além da morte.

Por isso mesmo, quem tem uma visão espiritualista da vida, não se detém apenas e tão somente no tratamento médico convencional, mas se preocupa também com o tratamento espiritual, que nasce da vontade de mudar-se interiormente ou de reorganizar seus sentimentos em consonância com a lei do amor, que Jesus ensinou. As forças da alma, quando utilizadas com disciplina e critério, apoiando-se na lei do amor, podem contribuir muito no tratamento do câncer e de outras enfermidades mais comuns da atualidade. 


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

PRECE FUNCIONA ; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

-Fui induzida a contemplar o que podemos chamar de aura da Terra. Meu guia exclamou: - Busca ver como a Humanidade se une pelo pensamento aos Planos Invisíveis. O teu golpe de vista abrangeu a paisagem, procure agora os detalhes. Fixando atentamente o quadro, notei que filamentos estranhos, em posição vertical, se entrelaçavam nas vastidões sem se confundirem. Não havia dois iguais e suas cores variavam do escuro ao claro mais brilhante. Alguns se apagavam, outros se acendiam em extraordinária sucessão e todos eram possuídos de movimento natural, sem uniformidade em suas particularidades. ‘-Esses filamentosdisse com bondade -, são os pensamentos emitidos pelas personalidades encarnadas. Esses raros que aí vês, e que se caracterizam pela sua alvura fulgurante, são os emitidos pela virtude e quando nos colocamos em imediata relação com uma dessas manifestações, que nos chegam dos Espíritos da Terra, o contato direto se verifica entre nós e a individualidade que nos interessa’. Aguçada minha curiosidade, quis entrar em relação com um pensamento luminoso que me seduzia, abandonando todos os outros, que nos circundavam, para só fixar a atenção sobre ele. Afigurou-se-me que os demais desapareciam, enquanto me envolvia nas irradiações simpáticas daquele traço de luz clara e brilhante. Ouvi comovedora prece, vendo igualmente uma figura de mulher ajoelhada e banhada em pranto. Num átimo de tempo, por intermédio de extraordinária interfluência de pensamentos, pude saber qual a razão das suas lágrimas, das suas preocupações e como eram amargos seus sofrimentos. Sensibilizada, instintivamente enviei-lhe pensamentos consoladores. Como se houvera pressentido, via-a meditar por instante com o olhar cheio de estranho brilho, levantando-se reconfortada para enfrentar a luta, sentindo grande alívio”. O curioso depoimento pertence ao Espírito Maria João de Deus que possibilitou a reencarnação a Chico Xavier, na condição de mãe, e que, em 1935, atendendo-lhe pedido começou a escrever CARTAS DE UMA MORTA (lake), concluído no ano seguinte. Pesquisando a prece, Allan Kardec, entrevistando os Espíritos que o auxiliaram a viabilizar a obra O LIVRO DOS ESPÍRITOS, obteve, entre outras, a informação na questão 662 que “pela prece aquele que ora, atrai os bons Espíritos que se associam ao Bem que deseja fazer”, comentando que “possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e a vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera corpórea”. N’ O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Kardec escreveu que “a prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o Ser a que nos dirigimos(...). As dirigidas a Deus são ouvidas pelo Espíritos encarregados da execução dos seus desígnios(...). O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de transmissão do pensamento (...). Para se compreender o que ocorre nesse caso, é necessário imaginar todos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no Fluido Universal que preenche o espaço, assim como na Terra estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido é impulsionado pela vontade, pois é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto as do Fluido Universal se ampliam ao Infinito. Quando, pois, o pensamento se dirige para algum Ser, na Terra ou no Espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som. É assim que “a prece é ouvida pelos Espíritos, onde quer que eles se encontrem, que então nos transmitem suas inspirações”. Abordando o poder da prece diz que “está no pensamento, e não depende das palavras, do lugar, nem do momento em que é feita, podendo-se orar em qualquer lugar e a qualquer hora, a sós ou em conjunto”. Afirma que a “prece em comum tem ação mais poderosa”. Nas “reportagens” escritas através de Chico Xavier pelo Espírito conhecido como André Luiz, encontramos inúmeros ensinos a propósito da prece. No ENTRE A TERRA E O CÉU (feb), o Ministro Clarêncio afirma que a “prece, qualquer que ela seja, é ação provocando reação. Conforme sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo a finalidade a que se destina.”. André aprende existir a oração refratada, ou seja, aquela cujo impulso luminoso teve sua direção desviada, passando a outro objetivo”. Tal prece, no livro, fora formulada por adolescente órfã, 15 anos, rogando auxílio à mãe desencarnada, supondo que ela se encontrasse junto a Deus, quando na verdade, inconformada e atormentada, ela se mantinha na invisibilidade do próprio lar que deixara compulsoriamente pelo fenômeno da morte física. Mais à frente, ouve que “a oração é o meio mais seguro para obter-se a influência espiritual que se faz através do pensamento, no canal da intuição”, sendo ainda “o remédio eficaz de nossas moléstias íntimas”, abrindo um caminho de reajuste para o que ora. 


Questão enviada pelo nosso ouvinte Cristiano, de Vera Cruz. Ele diz o seguinte: “O Espiritismo afirma que aquele que foi vítima de homicídio resgatou ou expiou um homicídio por ele cometido em uma encarnação ou existência passada. Pergunto: mas quando um homem foi vítima de homicídio na sua primeira encarnação humana, nesse caso, como entender o seu sofrimento quando ainda não havia erros ou crimes para expiar?”

A sua questão, Cristiano, dá ensejo a várias explicações. Primeiramente, devemos considerar que, nesse processo de resgate de dívidas morais (ou seja, de o Espírito sofra pelo mal que fez), não é necessário que ele sempre responda exatamente pelo mesmo erro que ele cometeu. Se um indivíduo pratica um assassinato numa existência, isso não quer dizer que na próxima encarnação ele necessariamente vai ser assassinado. Isso realmente pode vir a ocorrer, mas é apenas uma das possibilidades. Mas ele pode, por exemplo, voltar como pai daquele a quem tirou a vida para pagar com atenção, dedicação e carinho o prejuízo que l causou, além de conseguir a reconciliação com o ex-adversário.

Este é um dos pontos de sua questão. O outro diz respeito ao que André Luiz chama de dor-evolução. O que vem a ser dor-evolução? O próprio nome está dizendo, trata-se do sofrimento decorrente do processo de evolução do Espírito ou, em outras palavras, do aprendizado pelo qual o Espírito tem que passar, pois a finalidade da reencarnação é o seu progresso. Assim, Cristiano, nem todo sofrimento é expiação ou prova; há sofrimentos que decorrem da necessidade evolutiva do Espírito. Vamos explicar melhor.

O Espírito pode nascer num ambiente hostil, passar por grandes atribulações ou mesmo experimentar um gênero de morte muito sofrido, apenas e tão somente porque tais situações lhes propiciarão uma rica experiência de amadurecimento ou transformação espiritual. Nesse caso, portanto, não há que se falar em expiação ou prova, mas em necessidade de evolução.

No caso que você apresenta, referente à primeira encarnação humana, temos que nos reportar a um passado bem remoto da humanidade, quando os primeiros seres humanos vieram habitar este planeta. É claro que, naquela época distante, as experiências de vida eram muito sofridas e a vida muitíssimo curta, pois o que prevalecia na vida de cada um era a luta pela sobrevivência, a disputa de alimentos e abrigo com os animais, e a inteligência pouco desenvolvida.

Num ambiente em que a violência predominava, era comum a morte prematura, até mesmo por assassinato, visto que havia muita disputa por território e alimento entre as próprias tribos humanas. Por outro lado, nos albores da humanidade, ainda não tínhamos desenvolvido as principais noções de moralidade, posto que a vida humana era muito próxima da vida animal. Portanto, nada dos valores morais que temos hoje. Nessa condição, a lei de causa e efeito funcionava mui precariamente, forçando o homem a descobrir novos caminhos para o seu desenvolvimento social.

Logo, as primeiras mortes por assassinato ocorreram por contingência da própria condição quase-animal do homem, que vivia dominado pelo instinto de sobrevivência e, portanto, não tinha o necessário discernimento para saber o que é o bem e o que é o mal, como temos hoje. As experiências giravam em torno das necessidades materiais, exigindo que cada um desenvolvesse habilidades próprias que garantissem tanto a sobrevivência individual quanto a continuidade da espécie. Não há o que se falar aqui em expiação ou prova.


quinta-feira, 27 de outubro de 2022

LUCIDEZ; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 As questões de ordem mental não estavam entre as prioridades da Medicina em meados do século 19. Os portadores de distúrbios nesta área eram tratados de forma desumana. N’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, questões 371 a 374, Allan Kardec argui a Espiritualidade sobre o assunto, obtendo informações interessantes a respeito da chamada idiotia, hoje classificada pela Psiquiatria como tríade oligofrênica que é caracterizada pelo menor grau de desenvolvimento intelectual, sendo incapaz de articular palavras; assimilar noções de higiene ou mesmo desenvolver pudor. O século 20 abriu campo para evoluções no conhecimento e tratamento dos portadores do chamado durante bom tempo excepcional, substituído pelo termo especial. Mas, por traz do corpo limitado por várias restrições, nem sempre somente mentais, como se encontra o Espírito dele prisioneiro. Na REVISTA ESPÍRITA de junho de 1860, seu editor incluiu interessante material em torno de uma abordagem a respeito da questão havida na reunião da Sociedade Espírita de Paris, de 25 de maio passado. Como campo de estudo, Charles de Saint-G..., um jovem idiota de treze anos, encarnado, e cujas faculdades intelectuais eram tais que nem conhecia os pais e apenas podia alimentar-se. Havia nele uma parada completa do desenvolvimento em todo o sistema orgânico. Pensou-se que poderia ser assunto interessante de estudo psicológico. Consultado, o Espírito São Luiz, responsável pelas atividades da Sociedade Espírita de Paris, respondeu afirmativamente, explicando que isso poderia ser feito a qualquer momento, pelo fato de sua alma se ligar ao corpo por laços materiais, mas não espirituais, podendo sempre desprender-se”. Cumpridos os procedimentos habituais, o comunicante começou iniciou sua manifestação dizendo ser “um pobre Espírito ligado a Terra, como uma ave por um pé”. Indagado se tinha consciência de sua nulidade no mundo, responde: -“Certamente: sinto bem meu cativeiro”. Perguntado se quando seu corpo dormia e seu Espírito se desprendia, tinha ideias tão lúcidas quanto se estivesse em estado normal, informou que “estava um pouco mais livre para se elevar ao Céu a que aspirava”. Questionado se como Espírito experimentava um sentimento penoso quanto ao seu estado corporal, respondeu que sim, “por se tratar de uma punição”. Quanto a se lembrar de sua existência anterior, disse que “sim, por ser ela a causa de seu exílio atual”. Revelou na entrevista conduzida por Allan Kardec que a encarnação onde se desencadeou sua desventura na presente existência, ocorreu ao tempo em que reinava Henrique III; que a forma como se processava seu reajuste não resultara de uma decisão sua, mas uma imposição como forma de punição; que embora parecesse nula pelas limitações em que vivia, tal existência perante as Leis de Deus tem sua utilidade; que não viveria muitos anos mais; que da existência em que gerou a desarmonia atual trezentos anos antes até a reencarnação recém-terminada, permaneceu no Plano Espiritual. Sobre se no estado de vigília tinha consciência do que se passava ao seu redor, a despeito da imperfeição dos órgãos de seu corpo físico, disse: -“Vejo, entendo, mas o corpo não compreende nem vê”. Se algo de útil poderia ser-lhe feito, afirmou que “nada”. Finalizando a entrevista, Kardec procurou ouvir de São Luiz se as preces poderiam ter a mesma eficácia que por um Espírito errante, que explicou: -“As preces são sempre boas e agradáveis a Deus. Na posição deste pobre Espírito, elas não lhe podem servir; servirão mais tarde”. Comentando a experiência daquela reunião, Kardec acrescentou: -“Ninguém desconhecerá o alto ensinamento moral que decorre desta evocação. Além disso, ela confirma o que sempre foi dito sobre os idiotas. Sua nulidade moral não significa nulidade do Espírito, que, abstração feita dos órgãos, goza de todas as faculdades. A imperfeição dos órgãos é apenas um obstáculo à livre manifestação das faculdades; não as aniquila. É o caso de um homem vigoroso, cujos membros fossem comprimidos por laços. Sabe-se que, em certas regiões, longe de serem objeto de desprezo, os cretinos são cercados de cuidados benevolentes. Este sentimento não brotaria de uma intuição do verdadeiro estado desses infelizes, tanto mais dignos de atenções quanto seu Espírito, que compreende sua posição, deve sofrer por se ver como um refugo da sociedade?”.

Vamos comentar, agora, um assunto muito oportuno, enviado pelo Antenor e que diz o seguinte: “Existem muitas religiões, porque existe muita gente buscando salvação. As pessoas não vão à igreja porque amam a Deus ou ao próximo, mas porque elas querem se salvar. Isso pra mim é puro egoísmo. Não parece que foi isso que Jesus ensinou. Ele mandou amar o próximo como a si mesmo. Ou estou errado?

Você não está errado, Antenor. O que pode estar errado é justamente a interpretação que muita gente dá às palavras de Jesus, muitas vezes decorando essas palavras, mas deixando de estudá-las e compreendê-las com mais profundidade. Veja que Jesus ensinou um Deus de amor e misericórdia, e não um deus carrancudo, nervoso e vingativo. No entanto, aquela mensagem anterior, de que Deus punia os desobedientes e que, sem piedade, mandava para o inferno os pecadores, ainda é levada em conta, embora não seja mais de nosso tempo

Allan Kardec, analisando a palavra, afirma que a palavra “religião” vem do latim “religare”, quer dizer, “religar”, ligar de novo. Religião seria a prática pela qual podemos nos religar a Deus. Religar, porque fomos criados por Deus, estivemos nele e com ele, e agora nos compete, pela nossa evolução espiritual, voltar a Deus, no dia a dia de nossa vida, mas através de nossos atos, da nossa conduta, praticando a justiça e o amor.

Logo, religião, no seu sentido mais amplo, deveria ser a prática do bem ao próximo, o exercício incondicional do amor e não apenas a frequência a determinada igreja. Ora, foi justamente essas práticas antigas e ultrapassadas que Jesus criticou nos fariseus, o fato de apenas se entregarem a cultos e celebrações ruidosas, pois, na vida prática, essas pessoas viviam em completa desarmonia com o princípio do respeito e do amor ao próximo. Veja que ele mandou amar até mesmo os inimigos, que é sem dúvida a expressão mais pura do amor.

Não foi por outro motivo que Jesus chamou os fariseus de hipócritas, de pessoas fingidas, que os comparou a túmulos caiados ( belos por, mas podres por dentro), que sempre trazem Deus nos lábios (nas orações), mas não O trazem no coração, pois quem traz Deus no coração são aqueles que se esforçam para amar, para praticar o bem, em relação a todos que os cercam, usando daqueles preceitos que Jesus deixou bem claro no sermão da montanha, onde exaltou a compreensão e o perdão.

Fora disso, não há verdadeira religião, mas apenas e tão somente um simulacro ou imitação de religião. Foi por isso que Jesus exaltou a atitude nobre do samaritano ao socorrer o desconhecido, que compreendeu a situação da mulher adúltera prestes a ser apedrejada, que recebeu de coração a acolhida da meretriz que veio saudá-lo, que visitou a casa de Zaqueu (um homem mau visto) e que enalteceu o malfeitor que foi crucificado ao seu lado. Amar o próximo, para Jesus, é considerar que todos somos irmãos, todos somos filhos de Deus e o Pai nos ama a todos.

Como podemos amar a Deus, a quem não vemos, se não amamos o próximo a quem vemos? - questionou João mais tarde. Essa fala de João é muito significativa (poucos se detém nela), pois, na verdade, o que sabemos de Deus? No entanto, Jesus deu a fórmula ideal para amar a Deus, pois quem ama o filho ama o Pai: AMAR A DEUS, EM ÚLTIMA INSTANCIA, É AMAR AQUELES COM QUEM CONVIVEMOS OU AQUELES COM QUEM NOS DEPARAMOS NOS CAMINHOS DA VIDA.

Religião é isso. Ela serve para nos salvar, mas para nos salvar do egoísmo, para nos salvar do orgulho, para nos salvar da perversidade, da ganância, e de tudo que concorre para nos afastar dos nossos irmãos de humanidade, porque são esses sentimentos doentios que nos levam ao inferno do sentimento. Desse modo, você tem razão, caro ouvinte, devemos procurar Deus na pessoa do próximo – não propriamente para nos salvar – mas para ajudar a todos a caminhar em direção à sua felicidade. Professar uma religião apenas porque busca a própria salvação é expressão de puro egoísmo, que vai contra os ensinos e o ideal de Jesus.



quarta-feira, 26 de outubro de 2022

ABRAHAM LINCOLN E O SEU MATADOR; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Poucos dias após a posse no início de 1865, para um segundo mandato, Abraham Lincoln, eleito para ser o decimo sexto presidente norte-americano, morreu aos 56 anos, atingido por um tiro na cabeça desferido por um inimigo politico, enquanto assistia a uma peça de teatro. Unificador dos Estados do Norte e do Sul, libertador dos escravos, Lincoln, nascido no Kentucky, de origem humilde, depois de abandonar as rudes tarefas na fazenda do pai aos 21 anos, fixou-se em New Salem, ali vivendo por cinco anos, trabalhando como empregado de fábrica, caixeiro de armazém, agente de correios, até mudar-se para Springfield, onde passou a trabalhar como advogado entrando definitivamente para a politica, que o conduziu ao primeiro mandato de Presidente em 1861. Antevira em sonho premonitório vivido dias antes, seu próprio assassinato. Lincoln e a esposa participaram também de várias sessões com a médium Nettie Colburn Maynard, conforme relatos publicados por ela em 1891, mais tarde recuperados e traduzidos para o português pelo erudito Wallace Leal Rodrigues e publicados sob o título SESSÕES ESPÍRITAS NA CASA BRANCA (clarim). A morte do grande estadista repercutiu no mundo todo, gravando seu nome na História como um exemplo de politico íntegro e honesto. Dois anos depois, Allan Kardec na edição de março de 1867, publicava uma matéria extraída do BANNER OF LIGHT, de Boston, EUA, que, por sua vez, veiculou a análise de uma comunicação de Abraham Lincoln, por um médium chamado Ravenswood. Pelo que se confirma no seu conteúdo, títulos ou posições ocupados na nossa Dimensão, não fazem nenhuma diferença na transição dela para o Plano Espiritual em consequência da morte física. Vamos ao texto: “-Quando Lincoln voltou de seu atordoamento e despertou no Mundo dos Espíritos, ficou surpreendido e perturbado, porque não tinha a menor ideia de que estivesse morto. O tiro que o feriu suspendeu instantaneamente toda sensação e não compreendeu o que lhe havia acontecido. Esta confusão e essa perturbação, contudo, não duraram muito. Ele era bastante espiritualista para compreender o que é a morte e, como muitos outros, não ficou admirado da nova existência para a qual foi transportado. Viu-se cercado por muitas pessoas que sabia de há muito tempo mortas e logo soube a causa de sua morte. Foi recebido cordialmente por muita gente por quem tinha simpatia. Compreendeu sua afeição por ele e, num olhar, pôde abarcar o mundo feliz no qual tinha entrado. No mesmo instante experimentou um sentimento de angústia pela dor que devia experimentar sua família, e uma grande ansiedade a propósito das consequências que sua morte poderia ter para o País. Seus pensamentos o trouxeram violentamente à Terra. Tendo sabido que William Booth estava mortalmente ferido, veio a ele e curvou-se sobre o seu leito de morte. Nesse momento Lincoln tinha recuperado a perfeita consciência e a tranquilidade de Espírito, e esperou com calma o despertar de Both para a Vida Espiritual. Booth não ficou espantado ao despertar, porque esperava sua morte. O primeiro Espírito que encontrou foi Lincoln; olhou-o com muita afoiteza, como se se glorificasse do ato que havia praticado. O sentimento de Lincoln a seu respeito, entretanto, não alimentava nenhuma ideia de vingança, muito ao contrário; mostrava-se suave e bom e sem a menor animosidade. Booth não pode suportar este estado de coisas, e o deixou cheio de emoção. O ato que cometeu teve vários motivos; primeiro, sua falta de raciocínio, que lho fazia considerar como meritório e, depois, seu amor desregrado aos elogios que o tinham persuadido que seria cumulado deles e olhado como mártir. Depois de ter vagado, sentiu-se de novo atraído para Lincoln. Às vezes, enchia-se de arrependimento, outras seu orgulho o impedia de emendar-se. Entretanto compreendia quanto seu orgulho era vão, sabendo, sobretudo, que não pode ocultar como em vida, nenhum dos sentimentos que o agitam, e que seus pensamentos de orgulho, vergonha ou remorso são conhecidos pelos que o rodeiam. Sempre em presença de sua vítima e não recebendo dela senão sinais de bondade, eis o seu estado atual e sua punição”. Comentando essas informações Kardec comenta: “-A situação destes dois Espíritos é, em todos os pontos, conforme aquela que diariamente vemos exemplos nos relatos de além-túmulo. É perfeitamente racional e está em relação com o caráter dos dois indivíduos”.


Questão formulada pelo Roberto Silva: “ Se é a lei de causa e efeito que funciona, como diz o Espiritismo, então a condição de pobreza e miséria em que as pessoas se encontram nada mais é do que a consequência natural do que fizeram no passado e hoje estão pagando por isso. Devemos aceitar, portanto, que existam tantos pobres e miseráveis no mundo?”

Devemos entender, Roberto, como se dá o mecanismo da Justiça Divina, onde realmente nada acontece por acaso. No entanto, conforme a questão 806 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, a desigualdade social é obra do homem e não de Deus. Isso quer dizer, em última análise, que não devemos permanecer insensíveis aos que passam necessidade, pois a missão do homem na Terra é fazer com que nela imperem a igualdade e a justiça. Nós somos sim, responsáveis pelas gritantes desigualdades sociais que ainda perduram em todos os cantos do mundo.

Assim, se uma família está passando necessidade e não conta com o mínimo necessário para ter uma vida digna, isso não quer dizer, absolutamente, que essa situação deva permanecer assim, sem que ninguém faça algo por ela ou tente trazê-la ao convívio social. Não é só a família necessitada que tem culpa no que está lhe acontecendo – e isso por erros desta ou de encarnações passadas, como você quer dizer – mas a sociedade, como um todo, também tem responsabilidade direta sobre essa lamentável discriminação.

Vejamos o que diz a questão 812 d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS sobre isso: Pergunta: “Há pessoas que caem na privação e na miséria por sua própria culpa. A sociedade não pode ser responsável por isso?” Eis a resposta: “Sim, já o dissemos. E, frequentemente, ela é a causa primeira desses erros. Aliás, não lhe cabe velar pela sua educação moral? Frequentemente é a má educação que falseia seu julgamento em lugar de sufocar-lhes as tendências perniciosas”.

Como é possível perceber, a Doutrina Espírita entende que os casos de pobreza e miséria sociais que existem no mundo dependem de vários fatores, mas principalmente da ação da sociedade no sentido de prevenir ou resolver o problema. Não resta dúvida que as vítimas dessas situações não estão sofrendo por acaso, mas compete à sociedade, e a cada cidadão que a compõe, mobilizar recursos para evitar ou resolver o problema. Da mesma forma que não vamos abandonar um familiar, porque ele ainda não aprendeu ou não pôde garantir sua subsistência, também não podemos nos omitir em face dos irmãos abandonados à própria sorte.

Portanto, podemos considerar que há dois grupos de causas para os graves problemas sociais: as causas que estão no caminho evolutivo desses Espíritos ( que não souberam ou não puderam encontrar um caminho melhor e as causas que estão na omissão ou incompetência da própria sociedade, que está deixando de cumprir seu mais importante papel. Quando falamos em sociedade, caro ouvinte, estamos nos referindo tanto aos cidadãos (homens comuns do povo, como nós), como aos governantes ou homens públicos que detêm o poder político e administrativo da coletividades e do país.

Os Espíritos veem esse problema de um ângulo mais amplo. Consideram que a ignorância e a miséria são males que precisam ser extirpados do meio social pela educação e, neste caso, entram todos os agentes responsáveis pela educação do povo, principalmente suas instituições – como as escolas, as associações, a imprensa, as obras sociais e os grupos religiosos. O ideal seria se todos esses agentes estivem unidos e trabalhando no mesmo sentido.

O que não devemos é ignorar essa parcela significativa da população que vive em condições muitas vezes sub-humanas. São todos filhos de Deus como nós. E, se eles precisam de nós para almejar uma condição melhor na vida, como incentivo ao seu progresso espiritual, nós – a sociedade – precisamos nos dedicar a essa missão de resgatar-lhes a dignidade, pois socorrer nossos irmãos também é condição para a nossa própria evolução. Veja o que Jesus ensinou o tempo todo.


terça-feira, 25 de outubro de 2022

PERIGO; EM BUSCA DA VEERDADE COM O PROFESSOR

 “O que se verificou foi a hipnose por parte de criaturas desencarnadas que me seguiam e junto das quais não me furto às responsabilidades do meu gesto infeliz. A minha vontade era uma alavanca de Deus em minhas mãos(...). Ideias lamentáveis pareciam maribondos em meu cérebro, sugerindo-me pusesse termo à existência de rapaz errante, em busca de um emprego que não aparecia. Deixei-me invadir por aqueles pensamentos amargos, quando me falaram de almoço. Antes que me retirasse do trabalho, alvejei o meu próprio coração com um tiro certo”.(Wladimir Cezar Ranieri,25) / “...me via insuflada pelas inteligências sombrias...mão pesada que comandava os meus dedos. Sentia-me possuída por uma vontade que não era minha vontade e um constrangimento imbatível para a minha fraqueza com o que me hipnotizava, mostrando-me o pessimismo de quem fracassara por dentro de si mesma”.( Claudia Pinheiro Galasse, 18) / “Seu filho lhe pede perdão pelo que fez, conquanto saiba que agiu sob a pressão de inimigos invisíveis que golpearam a mente...eu fui um simples autômato para aquele ou aqueles que me indicaram o suicídio como sendo o melhor a fazer. Tinha um monte de desculpas dentro de mim”. (Dimas Luiz Zornetta, ) / “Ainda não sei que força me tomou naquela quarta-feira. Tive a ideia de que uma ventania me abraçava e me atirava fora pela janela. Certamente devia mobilizar minha vontade e impedir que o absurdo daquele momento me enlouquecesse. Obedecia maquinalmente àquela voz que me ordenava projetar-me no vácuo. Quis recuar, mudar o sentido da situação, não consegui(...). O que sei é que agi na condição de uma rã que uma serpente atraísse”. (Renata Zaccaro de Queiroz,18). Esses depoimentos fazem parte de algumas das centenas de cartas de jovens, psicografadas pelo médium Chico Xavier, ilustrando grave problema: o suicídio decorrente de influências espirituais. Desemprego, decepções amorosas, cabeça vazia são alguns fatores predisponentes à depressão que, por sua vez, abre espaço para as sugestões mentais de entidades espirituais desequilibradas ou mal intencionadas que arrastam suas vítimas para gestos extremos. O mundo não tomou conhecimento seja pelo preconceito e intolerância religiosa, mas desde meados do século dezenove uma informação altamente reveladora – entre outras -, encontra-se disponível alertando as criaturas humanas sobre os riscos a que vivem permanentemente expostas. Inclui se entre mais de 130 perguntas formuladas sobre o tema INFLUÊNCIA OCULTA DOS ESPÍRITOS SOBRE OS NOSSOS PENSAMENTOS E AÇÕES pelo educador francês conhecido como Allan Kardec aos Espíritos que o auxiliaram a compor O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Numa delas, por sinal, a 459, a resposta é enfática: “-A influência dos Espíritos sobre nossos pensamentos e ações é maior que supondes, porque muito frequentemente são eles que vos conduzem”. Diante disso fica evidenciado que podemos ser induzidos a atitudes e comportamentos diante dos quais até nos surpreendemos. Evidente que não se trata de algo ostensivo, declarado. É sutil, discreta, quase imperceptível, já que se mistura ao fluxo inestancável de nossos pensamentos. Em sua incessante busca por respostas, Kardec reuniria outras descobertas n’ O LIVRO DOS MÉDIUNS, publicado quatro anos depois. Nele escreveu: “-Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar”. Aprofundando-se no assunto, reproduziu no item 226 da mesma obra afirmação de Instrutor Espiritual segundo a qual “a faculdade propriamente dita é orgânica”. A fisiologia já sabia desde antes de Galeno sobre a existência da diminuta glândula ‘batizada’ Pineal ou Epífise, incrustrada em nossa região cerebral, desconhecendo, todavia, muito do que a Escola Mecanicista descobriria ao longo do Século Vinte. Varias correntes de estudiosos da Antiguidade - especialmente Orientais – atribuíam, porém, ela o papel de conexão com as dimensões extrafísicas hoje consideradas pela Teoria das Supercordas. René Descartes, o grande matemático e filósofo do século 17, afirmava ser a Pineal, o local de atividade da alma. O médico Nubor Facure explica que “a pineal é sensível às irradiações eletromagnéticas, é um sintonizador dos fenômenos de comunicação mental, numa mesma faixa de vibração”. Assim sendo, ela é uma estrutura cerebral capaz de captar ondas eletromagnéticas do pensamento e decodificá-los para as demais partes do cérebro e, portanto, do organismo. Exames neurológicos (tomo/eletro) durante transe mostram que a atividade na epífise a torna uma espécie de antena que capta estímulos da alma de outras pessoas, vivas ou mortas, como se fosse um olho sensível à energia eletromagnética. Por tudo isso, fica evidenciado que os depoimentos dos comunicantes com que abrimos esses comentários, fundamentam-se em fatos reais.

Pergunta da Maria Helena Alves: “Por que certas pessoas ficam felizes quando fazem o mal aos outros?”

Acreditamos que ainda exista maldade no coração humano, Maria Helena. Mas não deveria haver, pelo menos de uma forma indiscriminada. No fundo, somos filhos de Deus e Deus, como Pai de Amor e Misericórdia, nos ama a todos e, por isso, quer que seus filhos se amem. Não foi o que Jesus ensinou? No entanto, ainda podemos trazer no coração resquícios de maldade, quando odiamos alguém, porque odiar quer dizer desejar o mal ou se satisfazer com o mal que acontece a alguém.

Quando Jesus recomendou o amor, ele disse: “Amai ao próximo como a si mesmo”. E, quando lhe perguntaram o que é amar o próximo, ele respondeu que amar o próximo é querer para ele o que queremos para nós e não querer para ele o que não queremos para nós. Ficava estabelecido assim que o amor que devemos ao outro, seja quem for esse outro, depende do amor que temos para conosco mesmo.

Podemos aplicar esse mesmo princípio no caso do ódio. Odiar alguém é desejar-lhe o mal, é satisfazer-se com o mal que lhe acontece. É de se perguntar, então, se essa pessoa que usa o ódio como medida de seus sentimentos, que vive odiando este ou aquele, se não estaria ela, antes de tudo, odiando a si mesma, incapaz de se amar; se ela não seria uma pessoa doente, desajustada e infeliz, insatisfeita com a vida e com tudo que lhe acontece. Isso porque, Maria Helena, o ódio não pode fazer bem a ninguém. Ao contrário, é um veneno que destilamos no coração, comprometendo a nossa autoestima.

É bem verdade que, quando uma determinada pessoa nos ofende ou nos prejudica, geralmente passamos a ter um sentimento contra ela. Mas acreditamos que esse sentimento não deva ser algo que devemos cultivar no dia a dia, pois não é nada agradável ter que odiar quando podíamos amar. O amor, sim, é compensador, agradável e feliz, nos dá satisfação com a vida e conosco mesmos, mas o ódio é desconfortável e doloroso. Quem odeia não pode ser feliz por isso.

Fomos criados por Deus, Maria Helena, para sermos bons como Deus é. Qualquer desvio, que nos empurra para o lado contrário ao bem vai doer em nossa alma, porque não está de acordo com a nossa natureza, mas conspira contra a nossa felicidade Fomos feitos para amar e não para odiar, fomos criados para o bem e não para o mal. Desse modo, classificaríamos uma pessoa, que só odeia, de enferma, doente ou desajustada, e não como uma pessoa feliz.

É possível que, em determinado momento e em relação ao sofrimento de determinada pessoa, ela vibre de alegria , mas essa alegria seguramente não vai durar. A vida é curta, passa depressa. Muitas vezes, durante a vida, as coisas mudam muito e as circunstâncias acabam se revertendo, fazendo com que da ira surja o arrependimento, do arrependimento a compaixão, da compaixão o amor. E quando isso não acontece numa mesma existência, com certeza vai acontecer depois, porque o mal não pode prevalecer na obra de Deus. Cedo ou tarde ele desaparece do nosso coração.

Que nenhum de nós esteja na condição de quem só odeia, porque o ódio não se sustenta a si mesmo, é um veneno para alma e pode levar a pessoa ao seu completo desequilíbrio. E, quando um sentimento de profunda rejeição por alguém tocar nosso coração, que nos voltemos para dentro de nós mesmos e procuremos ajuda, examinemos o que pode estar errado em nós, para não comprometermos a vida, transformando-a num inferno insustentável.


segunda-feira, 24 de outubro de 2022

POR QUE NÃO?; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Porque todas as mães que choram os filhos mortos e ficariam felizes se se comunicassem com eles, muitas vezes não o podem? Porque a visualização deles lhes é recusada, mesmo em sonhos, a despeito de seu desejo e preces ardentes? Naturalmente são duas perguntas que muitos se fazem diante do entusiasmo daqueles que se surpreendem com o conteúdo de informações e detalhes pessoais constantes das cartas mediúnicas, sobretudo as psicografadas por Chico Xavier. Por sinal, o canal de comunicação objetivamente disponibilizado a partir da identificação e definição da mediunidade pelo Espiritismo, revelou-se um instrumento útil para esse fim, utilizado especialmente por aqueles que, vencidos pela dor da separação, superam as barreiras do preconceito e conceitos nascidos nas escolas religiosas tradicionais ou nas sombras da ignorância. Allan Kardec na REVISTA ESPÍRITA, edição de agosto de 1866, teceu interessantes esclarecimentos sobre os “porquês” das perguntas com que iniciamos essas considerações. Pondera ele: “ -Além da falta de aptidão especial que, como se sabe, não é dada a todos, há, por vezes, outros motivos, cuja utilidade a sabedoria da Providência aprecia melhor que nós. Essas comunicações poderiam ter inconvenientes para as naturezas muito impressionáveis; certas pessoas poderiam delas abusar e a elas se entregar com um excesso prejudicial à saúde. Em semelhante caso, sem dúvida a dor é natural e legítima; mas, algumas vezes, é levada a um ponto desarrazoado. Nas pessoas de caráter fraco muitas vezes essas comunicações reavivam a dor, em vez de a acalmar. Daí porque nem sempre lhes é permitido receber, mesmo por outros médiuns, até que se tenham tornado mais calmas e bastante senhoras de si para dominar a emoção. A falta de resignação, em casos tais, é quase sempre uma causa do retardamento. Depois, é preciso dizer que a impossibilidade de se comunicar com os Espíritos que mais se ama, quando se o pode com outros, é, muitas vezes, uma prova para a fé e a perseverança e, em certos casos, uma punição. Aquele a quem esse favor é recusado deve, pois, dizer-se que sem dúvida a mereceu. Cabe-lhe procurar a causa em si mesmo, e não atribui-la à indiferença ou ao esquecimento do Ser lamentado. Enfim, há temperamentos que, não obstante a força moral, poderiam experimentar o exercício da mediunidade com certos Espíritas, mesmo simpáticos, conforme as circunstâncias. Admiremos em tudo a solicitude da Providência, que vela pelos menores detalhes e saibamos submeter-nos à sua vontade sem murmúrio, porque ela sabe melhor que nós o que nos é útil e providencial. Ela é para nós como um bom pai, que não dá sempre a seu filho o que ele deseja. As mesmas razões ocorrem no que concerne aos sonhos. Os sonhos são as lembranças do que o Espírito viu em estado de desprendimento, durante o sono. Ora, essa lembrança pode ser bloqueada. Mas aquilo de que a gente não se lembra não está, por isto, perdido para a alma. As sensações experimentadas durante as excursões que ela faz no mundo invisível, deixam, ao despertar, impressões vagas e a gente não cita pensamentos e ideias cuja origem, muitas vezes, não se suspeita. Pode, pois, ter-se visto, durante o sono, os seres aos quais se tem afeição, entreter-se com eles e não guardar a lembrança. Então se diz que não se sonhou. Mas se o Ser lamentado não se pode manifestar de uma maneira extensiva qualquer, nem por isso estará menos junto dos que o atraem por seu pensamento. Ele os vê, ouve suas palavras e, muitas vezes, adivinha-se sua presença por uma espécie de intuição, um sentimento íntimo, e, até mesmo por certas impressões físicas. A certeza de que não está no nada; de que não está perdido nas profundezas do espaço, nem nos abismos do inferno; de que é mais feliz, agora isento dos sofrimentos corporais e das tribulações da vida; de que o verão, após uma separação momentânea, mais belo, mais resplendente, sob um envoltório etéreo imperecível, e não sob a pesada carapaça carnal; eis a imensa consolação que recusam os que creem que tudo acaba com a vida; eis o que oferece o Espiritismo”.




Fábio trouxe-nos a seguinte questão: será que a reencarnação não é uma forma de o Espiritismo explicar o pecado original de outras religiões? Digo isso, porque, pelo que a Doutrina Espírita ensina, todos somos herdeiros de nossos pecados.

- Desde os primórdios da humanidade, Fábio, quando o ser humano começava a raciocinar ou a pensar com inteligência e lógica, ele passou a fazer indagações a respeito de tudo e principalmente a respeito de si mesmo. Desde então, ele vem procurando essa explicação para o mundo, para a vida, para o sofrimento e para o destino humano. Isso é muito natural porque somos seres racionais.

Isso porque a mente humana instintivamente procura a ordem. Isso parece estar em nós, porque certamente vem de Deus, razão pela qual todos observamos o mundo e buscamos explicações que possam justificar o porquê de tudo que existe. Desses questionamentos surgiram a religião, a filosofia e, mais tarde, a ciência. A religião, praticamente, existe há milhões de anos nas formas mais primitivas. A filosofia, por sua vez, surge mais ou menos 5 séculos antes de Cristo e a ciência data de alguns poucos séculos para cá.

De tudo, o que mais nos intriga, Fábio, é o sofrimento, e foi isso que levou o homem a conceber a existência de seres superiores que teriam poder sobre nossa vida. Daí os deuses e as religiões em todo o mundo. Entre os hebreus, a religião se apoiou na crença em um único deus que, inicialmente, teria criado o homem e a mulher e os colocou num lugar de delícias. Mas esse casal não reconheceu isso e pecou contra esse deus, ficando, a partir de então, com a marca inapagável desse pecado.

Segundo a Bíblia, esse pecado transmitiu-se para as gerações humanas. Com isso, nascendo sob o estigma do pecado, o homem já nascia sofrendo suas consequências e assim ficava esclarecida a razão do sofrimento humano. Quem retomou esse conceito, alguns anos depois de Jesus, foi Paulo de Tarso, que continuou explicando o sofrimento como consequência desse pecado original. No entanto, a crença no pecado original não é racional e nem suficiente para explicar a bondade e a justiça de Deus.

Como alguém pode nascer com pecado, se nunca pecou? Que justiça é essa? Nós, que somos imperfeitos, não reconhecemos que alguém possa ser culpado de um crime que não cometeu, quanto mais Deus, que é bom e perfeito. Nem mesmo na justiça humana se pode transferir uma culpa de um indivíduo para outro: a culpabilidade é pessoal e intransferível. Seja o mérito, seja a culpa, nenhuma dessas qualidades pode passar de uma pessoa para outra, muito menos de uma para outra geração.

O Espiritismo nos ensina, no entanto, que a vida terrena não é única. A vida do Espírito é única porque o Espírito não morre, mas a vida terrena é passageira e às vezes muito rápida, razão pela qual o Espirito passa por inúmeras vidas. Criado simples e ignorante – ou seja, como um ser primitivo – ele vem reencarnando ao longo do tempo para desenvolver suas potencialidades, de maneira que nesse encadeamento de vidas sucessivas o que prevalece é o caminho que cada um vem fazendo, gozando de seu livre-arbítrio ou sua liberdade de escolha.

Quando uma criança vem ao mundo, portanto, ela não vem como um Espírito novo, mas como um Espírito que já existia antes, razão porque ela já nasce com certas tendências, com certas capacidades e com certas limitações, além de renascer numa determinada época, num determinado povo e numa determinada família. Todas essas variáveis constituem, na verdade, a somatória de uma série de fatores decorrentes de seu caminhar e de suas necessidades evolutivas.

A reencarnação é a única resposta para as diferenças humanas, como tempo de vida na Terra, inteligência, ideias e ideais, aptidões, sentimentos, limitações, etc. É a única doutrina que derruba por terra todo preconceito contra o quer que seja: raça, posição social, dotes físicos e intelectuais, etc. Pela reencarnação, compreendemos porque as pessoas não podem ser iguais, porque as culturas e os povos são diferentes. Mas entendemos também porque todos são necessários para se entreajudarem, criando sempre novas perspectivas para a humanidade.

Pela reencarnação passamos a compreender porque cada geração nova é mais inteligente e capaz que a geração anterior, porque a evolução o progresso abrange todos os setores da vida humana – como a religião, as artes, a ciência, a filosofia, a indústria, o comércio, a agricultura, a tecnologia. Pela reencarnação compreendemos a necessidade das mudanças, reformas, das novas ideias e da renovação constante da humanidade. Pela reencarnação compreendemos a necessidade e a evolução das religiões.