Amanhecia o dia 7 de novembro de 1981 em Goiânia quando o avião de pequeno porte levantou voo na direção de Alto Paraíso, região nordeste do Estado. Entre os três tripulantes, um, Ary Ribeiro Valadão Filho, supervisionava o Projeto Rio Formoso focado no desenvolvimento da região. No meio do caminho um acidente interromperia o plano de voo, causando a queda da aeronave, seguida de explosão e incêndio que determinaria daí a seis dias a morte do engenheiro de 30 anos. Removidos os sobreviventes para Hospital da capital, a evolução do quadro em que estavam prendeu a atenção da população do Estado, que acompanhava angustiada os boletins de notícias que atualizavam as informações médicas. Ary era filho do então Governador em exercício, o qual, juntamente com os demais familiares, viveu momentos aflitivos até o desfecho com a morte do jovem. Experimentando a dor indescritível dos que perdem um ente querido, sua mãe e duas irmãs, quatro meses após, misturavam-se à pequena multidão de sofredores que habitualmente acorriam às reuniões do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas Gerais, onde Chico Xavier, através da sua extraordinária mediunidade convertia-se numa espécie de correio do Além, trazendo cartas dos que partiram antes. A viagem foi compensada pela psicografia através do médium de uma das mais longas e emocionantes mensagens do extenso acervo resultante do trabalho de Chico Xavier. Iniciando sua comunicação, roga a bênção da mãe, agradece nominalmente às irmãs, afirma que “nada os separou, estando unidos na fé em Deus”, reconhecendo-se em dificuldade para escrever a carta, dizendo-se auxiliado pelo Tio Natalino, por “não ter experiência bastante para vestir a mão de uma pessoa qual se usasse uma luva”. Revive cenas do sinistro, dizendo que “momentos quais aqueles do sete de novembro passado são indescritíveis nas minudências. Sei que o Mauro deliberou aterrissar; naturalmente atendendo à experiência dele, não me ocorreu qualquer ponderação a um companheiro, cuja competência me habituei a respeitar. O resultado, porém, é que a estreiteza do campo não nos permitia manobras capazes de promover medidas mais amplas do que as que assumíamos dentro da máquina. O choque contra a árvore foi violento, em vista da velocidade compreensível. E o resto é o que sabem, talvez mais do que eu mesmo, porquanto, em procurando liberar os dois companheiros que encontravam dificuldades para se livrar dos impedimentos na hora, a explosão nos agrediu a todos”. Reportando-se aos acontecimentos posteriores diz que “os pensamentos do fim para o meu corpo ainda não me haviam aflorado à cabeça. No entanto, quando vi as condições dos companheiros, notadamente do Mauro, tive receio de que um espelho me pudesse contar o que ocorria. Rememorando seus derradeiros momentos conta: -“Libertei-me, pouco a pouco, daquela toxemia íntima que me afligia consideravelmente. Em preces, no silêncio, esperava até que senti que mãos suaves me acariciavam a cabeça e dormi... Um sono pesado, de cujas imagens de sonhos possíveis não me recordo. Apenas dormi. Acordei, porém, acabrunhado, como se estivesse sob a presença incômoda de muita gente, apesar do meu espírito de gratidão para quem estivesse ali a visitar-me. Unicamente, estranhei achar-me fora do quarto e, sim, em plena sala; achava-me na condição de uma pessoa semi-anestesiada sob a incapacidade de me controlar, quanto a movimentação e direção... Falar, não conseguia. No entanto, emitia pedidos mentais de socorro. Um desconhecido de rosto amigo me estendeu os braços e me convidou à retirada, afirmando-me que se achava incumbido de me conduzir a novo tratamento. Aceitei sem hesitação, o apoio que ele me estendia, porquanto, não me admitia com a possibilidade de caminhar; ainda assim, embora aceitando o amparo dele, segurando-lhe um dos ombros, senti-me aliviado, mais leve... Acreditei que me achava à frente de melhoras positivas. Guiado pelo amigo, encontrei um avião misto de Bonanza e helicóptero, com a feição de uma grande borboleta, onde um senhor e uma senhora, que admiti fossem meus novos enfermeiros, me aguardavam. Receberam-me com muito cuidado e carinho, recomendando que nada receasse. O desconhecido tomou a direção e saímos, na vertical, à maneira de um helicóptero, para mim desconhecido, e à medida que subíamos, respirava a longos haustos, o ar muito leve e puro de cima. Amanhecia. Reconheci que nos dirigíamos para Anicuns”.... Antes de terminar, diz aos pais: -“Tudo sucedeu como devia acontecer e estou melhorando cada vez mais para ser mais. A forma se altera. No entanto, continuamos, sempre nós mesmos”.
A nossa Telinha, nos enviou a seguinte
pergunta: “ O transexual é considerado errado? Como o Espiritismo vê isso?
Mesmo que ele tenha uma vida digna com um parceiro ou com uma parceira?
Ultimamente temos tratado várias vezes desta
questão, que ainda não é tão bem conhecida, carecendo de maiores estudos. A
transexualidade , em termos amplos, significa a condição da pessoa que , tendo
um corpo de homem se sente mulher e atraída por homem ou, tendo um corpo
feminino se sente homem, atraída por mulher. Do ponto de vista espírita,
trata-se de uma encarnação em que houve uma inversão psíquica, em termos de
sexualidade, do espírito em relação ao corpo.
Na
sequência das encarnações do Espírito esta distonia pode acontecer e, sejam
quais forem as causas que a determinaram, se essa condição realmente existe (
pois, geralmente, ela se manifesta deste a infância), é porque está no seu
roteiro de evolução desse Espirito e, por isso, precisa ser respeitada e
encarada com naturalidade. Contudo, a sociedade humana, de um modo geral, ainda
não conseguiu assimilar sem preconceito essa situação.
Como o
sexo, do ponto de vista psíquico, é uma força natural e portanto instintiva,
ele vai se manifestar no indivíduo durante seu desenvolvimento, a partir da
infância, mas a forma como ele vai incorporá-lo e utilizá-lo em sua vida, vai
depender dele, de suas necessidades e de sua visão de vida. Certamente, no caso
do transexual, há sempre conflitos com a família, pressões da sociedade, de
forma que o fato de ter um parceiro ou parceira vai depender de como ele vai se
portar diante de todos e de si mesmo.
A
concepção de que o transexual é um depravado é da sociedade, que assim vem se
portando ao longo do tempo, sem compreender precisamente do que se trata. O
Espiritismo apenas nos encaminha para a prática do bem e a vivência do
amor, mas cada um decide a melhor forma
de se conduzir dentro desses princípios. A depravação pode estar tanto no
transexual como no heterossexual, pois ela está na vida da pessoa e nos valores
que ela cultiva diante da coletividade.