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domingo, 31 de julho de 2022

O HOMEM ATUAL QUER COMPREENDER ; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Embora cumprindo importante papel social, as escolas filosóficas e religiosas tradicionais permanecem cristalizadas em concepções e princípios que não atendem mais aos anseios do Mundo moderno, a não ser para aqueles que preferem se acomodar em fantasias inconsistentes. Os líderes dessas escolas, exalando pretensão e presunção mantem-se em debates intermináveis contribuindo para que o Ser humano coletivamente se distancie cada vez mais do entendimento sobre o significado da existência. Expondo seu ponto de vista, Allan Kardec argumenta que “o Espiritismo vem, não como uma religião, mas como doutrina filosófica, trazer sua teoria, apoiada no fato das manifestações. Ele não é imposto: não exige confiança cega; infiltra-se entre as criaturas e diz: Examinai, comparai e julgai; se achardes algo do que vos dou, tomai-o. Ele não diz: Venho derrocar as bases da religião e substituí-la por um culto novo. Diz: Dirijo-me, não aos que creem e que se acham satisfeitos em suas crenças, mas aos que abandonam as vossas fileiras pela incredulidade e que não soubestes ou pudestes reter. Venho falar-lhes sobre as verdades que repelem uma interpretação de natureza a satisfazer sua razão e que os leva a aceita-la. E a prova de que o consigo é o número dos que tiro do atoleiro da incredulidade. Escutai, e todos vos dirão: Se me tivessem ensinado estas coisas assim em minha infância, jamais teria duvidado. Agora creio porque compreendo”. Nesse sentido, um dos tópicos que poderia ajudar as criaturas a entender muita coisa e motivar revisões comportamentais é o princípio da reencarnação. Porque as limitações físico/mentais; a inversão sexual; os conflitos familiares? Porque, afinal, sofremos? Na REVISTA ESPÍRITA de março de 1862, Allan Kardec alinha alguns argumentos em artigo de sua autoria, muitos úteis em nossas reflexões: -“Mas, que é o que dá poder à teoria do futuro? Que é o que lhe consigna tantas simpatias? É - dizemos nós – a sua lógica inflexível, que resolve todas as dificuldades até então insolúveis; e isto ela deve ao princípio da pluralidade das existências. Com efeito, tirai este princípio, e imediatamente surgirão milhares de problemas cada qual mais insolúvel. A cada passo a gente se choca com inúmeras objeções. Essas objeções não eram levantadas outrora, porque ninguém pensava nelas. Mas hoje que a criança se fez adulto, quer ir ao fundo das coisas; quer ver claro o caminho por onde o conduzem; sonda e pesa o valor dos argumentos que lhe apresentam; e se estes não lhe satisfazem à razão, se o deixam no vago e na incerteza, rejeita-os e espera coisa melhor. A pluralidade das existências é uma chave que abre novos horizontes, que dá uma razão de ser a inúmeras coisas incompreendidas, que explica o inexplicado. Ela concilia todos os acontecimentos da vida com a justiça e a bondade de Deus. Por isso os que tinham chegado à dúvida quanto a essa justiça e a essa bondade, agora reconhecem o dedo da Providência onde o tinham ignorado. Sem a reencarnação, com efeito, a que atribuir as ideias inatas? Como justificar a idiotia, o cretinismo, a selvageria, ao lado do gênio e da Civilização? A profunda miséria de uns ao lado da felicidade dos outros? As mortes prematuras e tantas outras coisas? Do ponto de vista religioso certos dogmas, como o do pecado original, o da queda dos anjos, a eternidade das penas, a ressurreição da carne, etc. encontram neste princípio uma interpretação racional, que leva à aceitação do seu espírito, mesmo por aqueles que repeliam a letra. Em resumo, o homem atual quer compreender. O princípio da reencarnação ilumina o que estava obscuro. Por isso dizemos que esse princípio é uma das causas que dão favorável acolhida ao Espiritismo. Dir-se-á que a reencarnação não é necessária para crer nos Espíritos e em sua manifestação; e aprova disso é que há crentes que não a admitem. É verdade. Também não dizemos que se não possa, sem isto, ser bons Espíritas. Não somos daqueles que atiram pedras aos que não pensam como nós. Apenas dizemos que eles não abordaram todos os problemas levantados pelo sistema unitário, sem o que teriam reconhecido a impossibilidade de lhes dar uma solução satisfatória. A ideia da pluralidade das existências a princípio foi acolhida com espanto, com desconfiança. Depois, pouco a pouco, familiarizaram-se com ela, à medida que reconheciam a impossibilidade de, sem ela, saírem das inúmeras dificuldades levantadas pela psicologia e pela vida futura. Há uma coisa certa: o sistema ganha terreno diariamente, enquanto o outro o perde”.


Sei que o Espiritismo condena o aborto. Mas eu pergunto: será que o Espírito, que foi abortado e que portanto não chegou a nascer, não deveria passar por isso? Não poderia ser, por exemplo, o espírito de uma mulher que abortou na última encarnação? (Adriana)

Há nos Evangelhos uma fala muito significativa de Jesus, que nos compete analisar. É uma dessas frases que, a princípio, parecem contraditórias, mas que por trás dessa aparente contradição revela uma grande verdade. Trata-se de uma advertência de Jesus quando disse: “ É necessário que o escândalo venha, mas ai de quem der causa ao escândalo!”

Veja que interessante. Primeiro Jesus fala da necessidade do escândalo; depois ele lamenta a sorte dos que virão causá-lo. Então, perguntamos: o que é escândalo? Se o escândalo é um mal, por que ele é ao mesmo tempo necessário? E, se ele é necessário, por que a pessoa que o provoca tem que sofrer por isso?

Escândalo, segundo os dicionários, é todo fato que ofende sentimentos, crenças ou regras sociais; é indignação, perplexidade ou sentimento de revolta causado por algum ato ofensivo à moral. Então, perguntamos, como tais atos podem ser necessários? O ideal não seria se todos se conduzissem dentro da moralidade e da boa conduta, sem necessidade de escândalos?

Sim, sem dúvida; isso seria o ideal. Mas o ideal tem um preço; é preciso saber como chegar a ele. Ninguém se modifica apenas e tão somente ouvindo boas regras ou bons conselhos. Muitas vezes – talvez na maioria das vezes – precisamos sofrer as consequências de nossos erros ou do erros dos outros para mudar nosso comportamento. E é nisso que consiste o escândalo a que Jesus se referiu. Em nosso estágio evolutivo tudo que é bom tem um alto custo, e esse custo é esforço, luta, sacrifício.

No entanto, isso não quer dizer que precisamos sair por aí cometendo desatinos, agindo com desrespeito, violência ou desonestidade. Quem já conquistou a honestidade não pratica atos desonestos; quem já construiu a paz dentro de si não usa de violência. Contudo, sempre vai haver aquele que não atingiu essa condição e que cometerá erros graves, praticando o mal. Nós também aprendemos ou reforçamos o que aprendemos com os erros dos outros.

Assim, cara ouvinte, o mal nunca se justifica, mas infelizmente para nós ele é ainda necessário. O aborto é um crime perante a lei de Deus, pois consiste em tirar uma vida, a vida de um Espírito que está reiniciando uma nova oportunidade. Não nos compete, de forma alguma, questionar se ele precisa ou não precisa viver, se ele precisa passar ou não por essa prova: se foi gerado, se está no ventre materno é porque está destinado à vida. Nós fazemos a nossa parte, a Lei de Deuis faz a dela.

Neste caso, cara ouvinte, o aborto é o escândalo, que ainda mancha a sociedade e causa tanto sofrimento. Infelizmente ele ainda precisa existir, pois, como humanidade ainda não conseguimos superar o orgulho e o egoísmo. Mas que ele não tenha o nosso consentimento, tampouco nosso envolvimento, para que não sejamos, na linguagem de Jesus, “aqueles pelos quais o escândalo vier”.





















sábado, 30 de julho de 2022

LEI DE CAUSA E EFEITO - Como Funciona e Alguns Exemplos ; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Muito se cita o Carma para justificar ocorrências que fazem no mundo de hoje, questionar-se a existência de Deus. Sua concepção, ao que tudo indica, irradiou-se pelo mundo, a partir dos princípios religiosos introduzidos no nosso Planeta, pelo grupo de Espíritos exilados de Capela reencarnados na região conhecida como Índia. Ao menos é o que revela Espírito Emmanuel, através de Chico Xavier, na obra A CAMINHO DA LUZ. A ideia sofreu ao longo das civilizações deformações, deturpações, até que no lado Ocidental da Terra, foi sendo progressivamente esquecida com o apagar doutro princípio, o da reencarnação, a partir das lamentáveis decisões do Segundo Concílio de Constantinopla, promovido pelo Imperador Justiniano, em 553 DC. Praticamente treze séculos e inúmeras gerações, distanciaram as criaturas humanas da responsabilidade de viver, infundida com as perspectivas do inevitável encontro consigo mesmas e da reparação dos estragos cometidos nos diferentes caminhos da evolução. Coube ao Espiritismo ressuscitar ambas, dentro das exigências de uma Humanidade ávida por respostas sobre porque existimos e sofremos. As pesquisas conduzidas por Allan Kardec nas reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, desde abril de 1858, resultaram em expressiva coleta de dados, obtidos através de inúmeros entrevistados que se manifestaram por diversos médiuns, sendo muitos desses depoimentos reproduzidos na REVISTA ESPÍRITA, publicada sob a direção do Codificador de janeiro de 1858 a março de 1869. Tal material serviu também para que os aterrorizantes conceitos da morte pudessem ser reformulados objetivamente a partir dos exemplos contidos n’ O CÉU E O INFERNO segundo o Espiritismo. Nele, entra-se em contato com interessantes relatos de personalidades evocadas por Kardec, testemunhando as sensações, impressões e realidades registradas por eles na transição desta para outra dimensão. Analisando-os, o Codificador enumerou 32 artigos do que ele chama de Código Penal da Vida Futura, reproduzido no capítulo 7, da Primeira Parte do livro citado. Mostram por variados ângulos a Lei implícita na afirmação “a cada um segundo as suas obras”. A vida mostra-se como uma única realidade, apesar de desenvolver-se em duas dimensões. Toma-se conhecimento, através desse conteúdo, que as leis espirituais que controlam o indivíduo aplicam-se à família, à nação, às raças, ao conjunto de habitantes dos mundos, os quais formam individualidades coletivas. As faltas do indivíduo, as da família, as da nação, qualquer seja o seu caráter, se expiam em virtude da mesma Lei. Comentando o aspecto, Kardec considera que “a criatura renasce no mesmo meio, na mesma nação, na mesma raça, quer por simpatia, quer para continuar, com os elementos já elaborados, estudos começados, para se aperfeiçoar, prosseguir trabalhos encetados e que a brevidade da vida não lhe permitiu acabar,(...) até que o progresso os haja completamente transformado”. Acrescenta que “não se pode duvidar haver famílias, cidades, nações, raças culpadas, porque, dominadas por instintos de orgulho, egoísmo, ambição, enveredam pelo caminho errado, fazendo coletivamente o que um indivíduo faz isoladamente. Uma família se enriquece a custa de outra; um povo subjuga outro povo, levando-lhe a desolação e a ruína; uma raça se esforça por aniquilar outra raça. Essa a razão por que há famílias, povos e raças sobre os quais desce a pena de Talião”. Identificando cinco exemplos de provas e expiações, individuais e coletivas, destacamos alguns do extraordinário acervo construído por Kardec ou pelo trabalho do médium Chico Xavier. Didaticamente os alinharemos mostrando o efeito e a correspondente causa determinante. CASO 1 Efeito - Industrial, morto doze horas após explosão de caldeira em sua empresa, envolvendo seu corpo em verniz fervente nela contida. Socialmente queridíssimo pela postura pessoal, em toda sua cruel agonia, não se lhe ouviu um só gemido, uma só queixa, apesar das dores lancinantes resultantes das profundas queimaduras sofridas. CausaAção assumida 200 anos antes, quando, na condição de juiz e inquisidor italiano condenou a morrer queimados os envolvidos numa conspiração visando a politica clerical, entre os quais uma jovem entre 12 e 14 anos, contra a qual os executores se recusavam cumprir a sentença, tornando-se ele, além de juiz, o carrasco que ateou fogo na quase menina. CASO 2 – Efeito – Antonio B., escritor, morto repentinamente( provavelmente um ataque cataléptico), teve seu corpo encontrado virado de bruços durante exumação feita 15 dias após o sepultamento, procedimento efetuado para que familiares recuperassem medalhão por acaso esquecido no caixão. Causa – Ação em vida anterior em que descoberta infidelidade da esposa, a enterrou viva num fosso. CASO 3Efeito - João Fausto Estuque, desencarnado em 16/10/1976, em acidente aéreo com avião de pequeno porte, na região de Votuporanga, SP. Causa – Ter sido protagonista 300 anos antes, em ações objetivando conquistar destaque nas posições da finança e do poder, que culminaram na morte de várias pessoas de vasta comunidade humana, precipitadas em penhascos, sem que seus delitos fossem descobertos ou punidos.

Anderson Lima, faz a seguinte pergunta: “O que não consigo entender em Jesus é o amor aos inimigos. Como podemos amar as pessoas que nos querem mal? Nesse caso teríamos que amar o demônio, que é o nosso maior inimigo? Será que Deus quer isso?”

Sua pergunta é no mínimo intrigante, Anderson: amar o inimigo, amar o demônio. Neste caso, queremos parabenizá-lo, porque você usou de uma lógica impecável, numa demonstração de que, para entender esse mandamento de Jesus, é preciso um conhecimento mais profundo sobre as leis de Deus: e esse conhecimento é a reencarnação, que a Doutrina Espírita nos dá. Somente concebendo a reencarnação podemos de justificar o porquê do amor ao inimigo.

É claro que, na colocação que você faz, entra a ideia de “demônio” que não existe no Espiritismo, mas que, para as religiões cristãs seria a suprema expressão do mal, o opositor de Deus na disputa das almas humanas. Então, você pergunta: devemos amar o demônio para fazer a vontade de Deus? Pergunta inteligente.

Para responder vamos começar pelo conceito de demônio. Se considerarmos o demônio como Espírito mau, todos somos demônios quando praticamos o mal. Não foi por outro motivo que, em Mateus (cap. 16, vers. 16), o próprio Jesus se dirigindo a Pedro disse: Para trás de mim, Satanás! Tu és uma pedra de tropeço, uma cilada para mim, pois tua atitude não reflete a Deus, mas, sim, os homens”. Aqui Jesus chama Pedro de satanás, de demônio...

É necessário, ainda, levar em conta que, sendo Deus o criador de tudo e o Pai de todos, ele é criador e pai tanto dos que praticam o bem quanto dos que jazem na ignorância e praticam o mal . Deus é nosso Pai e também Pai de nosso inimigo que, se quisermos, podemos chamar de demônio ou satanás. Neste caso, por um princípio de lógica, Deus também é Pai do demônio, e o ama.

Logo, o demônio ou inimigo do bem, sendo filho de Deus, é nosso irmão e, como Deus ama todos os seus filhos, ele é tão amado pelo Pai como nós e, consequentemente, Deus quer que o amemos também. Por que? Porque ele precisa desse amor, todos precisam de amor, pois ninguém está perdido. O próprio demônio, se assim queremos chamar o Espírito ainda cheio de maldade, terá oportunidade de se regenerar, pois todos nos regeneramos no caminho do progresso. E isso só é possível porque todo Espírito, mesmo mal, volta à vida inúmeras vezes por meio da reencarnação para retomar o caminho do bem.

Jesus, pois, considerava que todos somos filhos de Deus, até os seus inimigos que o traíram, e o entregaram ao supremo sacrifício; até mesmo os soldados romanos que usaram de extrema crueldade e o submeteram a terrível sacrifício, e para quem Jesus imediatamente pediu o perdão incondicional do Pai. “Pai, perdoa-os, porque eles não sabem o que fazem!” Naqueles momentos eles eram demônios, a quem Jesus amava e para quem Jesus pedia o perdão.

Portanto, Anderson, na concepção de Jesus, amar os amigos não basta. É preciso amar os inimigos. “Se amais apenas os que vos amam, o que fazei nisso de especial? Não fazem os publicanos também o mesmo? Portanto, sede vós perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial”. Mateus, capítulo 5, versículo 46.

B - No capítulo 12, “Amai os Vossos Inimigos”, d’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Allan Kardec mostra como amar os inimigos, conforme Jesus recomendou, dizendo o seguinte: “Amar os inimigos não é ter para com eles uma afeição que não está na natureza, porque o contato com um inimigo faz bater o coração de maneira bem diferente do de um amigo. “

(Amar o inimigo ). – continua Kardec - é não ter contra ele nem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; é perdoar-lhe sem segunda intenção e incondicionalmente o mal que nos fazem; é não opor obstáculo à reconciliação; é desejar-lhe o bem em lugar de desejar-lhe o mal. É regozijar-se em lugar de se afligir pelo bem que os alcança; é estender-lhe a mão em caso de necessidade; é abster-se em palavras e ações de tudo que possa prejudica-los. Enfim, é retribuir-lhe em tudo o mal com o bem, sem intenção de os humilhar.”


sexta-feira, 29 de julho de 2022

ANJO DA GUARDA- A VISÃO DO ESPIRITISMO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

Várias gerações influenciadas por ensinos religiosos se formaram acreditando na existência do Anjo da Guarda, o personagem capaz de proteger-nos ou livrar-nos de perigos eminentes ou atitudes de consequências imprevisíveis. Seria apenas uma fantasia ou ficção? No número de janeiro de 1859 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec reproduz mensagem espontânea assinada conjuntamente pelos Espíritos São Luiz e Santo Agostinho, oferecendo dados importantes para nossa reflexão sobre o tema. Indagam: -“Pensar que tendes sempre junto a vós seres que vos são superiores, que aí estão sempre para vos aconselhar, sustentar, ajudar a subir a áspera montanha do Bem, que são os amigos mais certos e mais delicados que as mais íntimas ligações que possais estabelecer nesta Terra, não é uma ideia consoladora?”, acrescentando: -“Estes seres aí estão por ordem de Deus; foi ele que os pôs ao vosso lado; aí se acham por amor a Ele e junto a vós realizam bela e penosa missão. Sim; onde quer que estejais, estarão convosco: os calabouços, os hospitais, os lugares de deboche, a solidão, nada vos separa destes amigos que não vedes, mas cujos suaves impulsos vossa alma sente, como escuta os sábios conselhos”. Em outro trecho afirmam: - “Cada Anjo da Guarda tem o seu protegido, sobre o qual vela, como um pai sobre o filho; é feliz quando o vê seguir o bom caminho e sofre quando seus conselhos são desprezados”. Meses depois, a versão definitiva d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS dedicaria trinta e três perguntas ao assunto, disponibilizando mais elementos para ampliar nosso entendimento, inserindo a referida mensagem como um adendo à questão 495. Dentre eles, destacamos: 1- Trata-se de um Espírito protetor de uma ordem elevada; 2- Acompanha seu tutelado do o nascimento até a morte, frequentemente o seguindo depois dela, na vida espiritual, e mesmo através de numerosas experiências corpóreas, consideradas fases bem curtas na vida do Espírito; 3- Para o protetor é, às vezes, um prazer, noutras uma missão ou um dever; 4- Em caso de deixar sua posição para cumprir diversas missões, são substituídos; 5- Afasta-se quando vê que seus conselhos são inúteis pela vontade mais forte do protegido em submeter-se à influência dos Espíritos inferiores, não o abandonando completamente, sempre se fazendo ouvir, voltando logo que chamado; 6- Jamais fazem o mal, deixando que o façam os que lhe tomam o lugar; 7- Quando deixa seu protegido se extraviar na vida, não é por incompetência sua, mas porque ele não o quer, saindo seu protegido mais instruído e perfeito, assistindo-o, porém, com seus conselhos, pelos bons pensamentos que lhe sugere, infelizmente nem sempre ouvidos; 8- Há circunstâncias em que a presença do Espírito protetor não é necessária; 9- Sua ação não é ostensiva pelo fato de que se o fosse o protegido não agiria por si mesmos e não progrediria, visto necessitar da experiência, exercitar suas forças, sendo a ação dos Bons Espíritos efetuada de forma a lhe deixar o livre arbítrio; 10- Quando vê seu protegido seguir o mau caminho, sofre com seus erros e os lamenta mas essa aflição nada tem das angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal, e que o que hoje não se fez, amanhã se fará. Em nota, Allan Kardec, comenta: Dessas explicações e das observações feitas sobre a natureza dos Espíritos que se ligam ao homem podemos deduzir o seguinte: 1- O Espírito Protetor, anjo da guarda ou bom gênio, é aquele que tem por missão seguir o homem na vida e o ajudar a progredir, sendo sempre de natureza superior à do protegido; 2- Os Espíritos familiares se ligam a certas pessoas por meio de laços mais ou menos duráveis, com o fim de ajuda-las na medida de seu poder., frequentemente bastante limitado, sendo bons, mas às vezes pouco adiantados; 3- Os Espíritos simpáticos são os que atraímos a nós por afeições particulares e uma certa semelhança de gostos e sentimentos, tanto no Bem como no mal, durando e se subordinando suas relações às circunstâncias; 4- O mau gênio é um Espírito imperfeito ou perverso que se liga ao homem com o fim de o desviar do Bem, mas age pelo seu próprio impulso e não em virtude de uma missão, manifestando sua tenacidade na razão do acesso mais fácil ou mais difícil que encontre. Conclui dizendo: -“O homem é sempre livre de ouvir a sua voz ou de a repelir”.


Eis o depoimento de uma ouvinte, cujo nome não quis revelar. Ela disse o seguinte: “Atravessei grande parte de minha vida carregando mágoas. Só quando tinha filhos adultos é que fui entendendo que mágoa é lixo e por isso deve ser jogada fora. Foi dando conselhos aos meus filhos, para que fossem mais tolerantes e mais compreensivos, que eu mesma aprendi a perdoar e me livrar desse nó na garganta, depois de muitos anos. Hoje, lamento não ter percebido isso bem antes. Poderia ter vivido melhor comigo mesma.”

Interessante o depoimento. Ele revela, sobretudo, que a vida é uma escola e que nossas necessidades e sofrimentos nos ensinam a viver. A maturidade espiritual, portanto, não se conquista de um dia para outro, nem depende apenas de nossa vontade. Ela pode vir em decorrência do caminho difícil e tortuoso da vida, da observação e da reflexão; mas, sobretudo, ela pode vir da dor moral, que funciona, ao longo do tempo, como um buril que fere e transforma a pedra bruta em diamante.

Há dois pontos importantes a considerar neste caso. O primeiro é que o perdão não é um simples passe de mágica, em que eu posso dizer “está perdoado”, e pronto!... Ele requer tempo, reflexão, amadurecimento, auto-aceitação e paz interior. O segundo ponto é que o perdão é possível, e que podemos exercitá-lo ainda nesta vida, embora, muitas vezes, só o percebamos na maturidade, pois ele vem se configurando paulatinamente ao longo do tempo.

A ofensa é aquela arma afiada que penetra fundo na alma do ofendido, abrindo-lhe uma ferida ou mágoa. Mas essa violência só acontece se ele se coloca com seu orgulho e vaidade pessoal na mira do ofensor, deixando-se atingir dolorosamente; ou seja, quando a pessoa ainda não tem maturidade espiritual desenvolvida para ser humilde, a ponto de compreender os limites e as necessidades do ofensor.

No entanto, se ele atinge o alvo é porque o ofendido não está suficientemente espiritualizado para se defender das investidas maldosas. Neste caso, a ferida da alma vai continuar lhe causando estrago, enquanto não aprender a tratá-la e extirpá-la do coração, podendo provocar-lhe até mesmo desajustes, enfermidades física ou mental. Receberá o grande alívio, contudo, ( e esse grande alívio é que é perdão de Deus, a que Jesus se referiu) quando conseguir ver seu desafeto com outros olhos, entendendo seus motivos, mesmo não concordando com eles.

Há, pelo menos, duas portas para livrar-se da dor da mágoa. A primeira é consciente, quando a vítima chega à conclusão de que precisa perdoar e aprender a amar seu ofensor, desvestindo-se do orgulho que a contamina. A segunda é esta, que a ouvinte nos coloca, quando só o tempo e o sofrimento, ao longo de muitos anos, lhe mostrarão quanto absurdo e irracional é continuar cultivando o lixo do ressentimento. A primeira forma é, sem dúvida, mais rápida e eficiente; a segunda, bem mais lenta e sofrida.


quinta-feira, 28 de julho de 2022

VAMPIRISMO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

Você come exageradamente, tem um rápido cochilo despertando com a sensação de esgotamento e fome. Vai dormir ao final de um dia normal, atravessa uma noite aparentemente sem sonhos e, ao acordar, inicia o novo dia sentindo-se como se estivesse de ressaca. Adentra recintos repletos de pessoas e, afastando-se, sente-se exaurido, sem forças. O cinema partindo de literatura comercialmente consagrada, faturou muito nos últimos anos com uma fórmula bem sucedida: juventude, romance e vampirismo. transpôs em várias versões o celebre sucesso literário DRACULA, do autor irlandes Bram Stoker. O assunto, contudo, vem de muito mais longe, pois, o filosofo e teólogo católico Aurélius Agostinho, conhecido hoje como Santo Agostinho, já emitira seu parecer a respeito das entidades capazes de nos “sugar” energias através de entidades chamadas por ele Íncubus(masculinas) e Súcubus (femininas), associadas à sexualidade reprimida. Abrindo caminho para o conhecimento da realidade da continuidade da vida além da morte do corpo físico, o Espiritismo revela as interações entre os habitantes dos dois Mundos ou das duas Dimensões. Das fontes reconhecidamente confiáveis, o material produzido pelo médico desencarnado oculto no pseudônimo André Luiz, servindo-se do médium Chico Xavier, através do qual transmitiu a série de obras conhecida como NOSSO LAR (feb), perfazendo treze livros, nos quais descreve suas surpresas ante a realidade ignorada pela maioria das criaturas humanas. Reconhece em interessante diálogo com o Instrutor Alexandre em MISSIONÁRIOS DA LUZ(feb), que “a ideia de que muita gente na Terra vive à mercê de vampiros invisíveis é francamente desagradável e inquietante”, indagando sobre a proteção das Esferas mais altas e ouvindo que “por não podermos “atirar a primeira pedra” em relação aos que nos são inferiores e que competiria proteger, como exigir o amparo de superiores benevolentes e sábios, cujas instruções mais simples são para nós difíceis de suportar, pela nossa lastimável condição de infratores da lei de auxílios mútuos?”. Aprende ainda que na dinâmica do processo de “roubo” de nossa energia vital, “bastará ao desencarnado agarrar-se aos companheiros de ignorância, ainda encarnados, qual erva daninha aos galhos das árvores, e sugar-lhes a substância vital”; que “vampiro - espiritual – é toda entidade ociosa que se vale, indebitamente, das possibilidades alheias e, em se tratando de vampiros que visitam os encarnados, é necessário reconhecer que eles atendem aos sinistros propósitos a qualquer hora, desde que encontrem guarida no estojo de carne dos homens”. Em outro momento de sua narrativa, descobre que os que desencarnaram “em condições de excessivo apego aos que deixaram na Crosta, nele encontrando as mesmas algemas, quase sempre se mantem ligados à casa, às situações domésticas e aos fluidos vitais da família. Alimentam-se com a parentela e dormem nos mesmos aposentos onde se desligaram do corpo físico”. Observa, espantado, “a satisfação das entidades congregadas ali, absorvendo gostosamente as emanações dos pratos fumegantes numa residência visitada à hora das refeições, colhendo a informação do Benfeitor que acompanhava que os que desencarnam viciados nas sensações fisiológicas, encontram nos elementos desintegrados – pelo cozimento -, o mesmo sabor que experimentavam quando em uso do envoltório carnal” Numa operação socorrista em favor de um recém-desencarnado, acompanha uma equipe a um abatedouro bovino, percebendo um quadro estarrecedor: “grande número de desencarnados, atirando-se aos borbotões de sangue vivo, como se procurassem beber o líquido em sede devoradora (...), sugando as forças do plasma sanguíneo dos animais”. N’ OBREIROS DA VIDA ETERNA (feb), André acompanha equipe que assiste o desencarne de doente terminal acomodado em ala hospitalar, impressionando-se com o que vê: “-A enfermaria estava repleta de cenas deploráveis. Entidades inferiores, retidas pelos próprios enfermos, em grande viciação da mente, postavam-se em leitos diversos, inflingindo-lhes padecimentos atrozes, sugando-lhes vampirescamente preciosas forças, bem como atormentando-os e perseguindo-os”. Consultando o líder do grupo de trabalho, ouve “ser inútil qualquer esforço extraordinário, pois os próprios enfermos, em face da ausência de educação mental, se incumbiriam de chamar novamente os verdugos, atraindo-os para as suas mazelas orgânicas, só competindo irradiar boa-vontade e praticar o Bem, tanto quanto possível, sem, contudo, violar as posições de cada um”. Inúmeras outras situações sobre o processo de dependência energética dos desencarnados em relação aos encarnados são alinhadas por André Luiz no conjunto de obras que materializou em nosso Plano.

Cristiano, da cidade de Vera Cruz, pede um esclarecimento sobre a questão 336 do livro O CONSOLADOR de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier.

Vamos ler e interpretar a pergunta e a resposta desta questão. A pergunta feita a Emmanuel é a seguinte: “O culpado arrependido pode receber da justiça divina o direito de não passar por determinadas provas?“ Pergunta-se, portanto, se uma pessoa que cometeu um grave erro - por exemplo, prejudicou alguém - ; se ele vier a se arrepender do mal que fez e se pedir a Deus para não sofrer mais em decorrência do erro que praticou, se assim ela pode se livrar de alguma prova ou expiação em razão do mal que fez.

A resposta de Emmanuel é a seguinte: “A oportunidade de resgatar a culpa já constitui em si mesma um ato da Misericórdia Divina e, daí, considerarmos o trabalho e o esforço próprio como a luz maravilhosa da vida. Estendendo, todavia, a questão à generalidade das provas, devemos concluir ainda que “o amor cobre a multidão de pecados”, traçando a linha reta da vida para as criaturas, e representando a única força que anula as exigências da lei de talião dentro do universo infinito”.

A forma como Emmanuel responde à pergunta é um tanto complexa, porque envolve vários conhecimentos que ele supõe que o leitor já tenha adquirido. Por isso, vamos tentar simplificar para o entendimento do Cristiano e dos demais ouvintes. Em primeiro lugar, Emmanuel está dizendo que a misericórdia de Deus, em relação aos erros que cometemos, manifesta-se através do arrependimento e do esforço que podemos fazer para nos corrigir e superar esses erros. Isto quer dizer que, ao nos conceder a oportunidade de correção, Deus já está atendendo às nossas necessidades.

O caminho da regeneração e do crescimento espiritual, que nos leva ao aperfeiçoamento, é sempre difícil, pois não é fácil para nenhum de nós, tendo prejudicado alguém, sofrer a dor do arrependimento e caminhar em sua direção a esse alguém para lhe pedir perdão pelo prejuízo que lhe causamos. No entanto, não há outro caminho, se queremos crescer diante de Deus e de nós mesmos para nos sentir em paz. E esse caminho pode será tanto mais difícil quanto maior forem nosso egoísmo e nosso orgulho.

Vamos dar um exemplo. Dois amigos, Pedro e Paulo, desempregados, resolvem abrir um negócio mediante um financiamento. O negócio prospera e, quando tudo parecia correr bem, Paulo dá um golpe e Pedro, traído pelo amigo, é obrigado a se afastar, levando todo o prejuízo, de tal modo que nunca mais conseguiu se reabilitar. O tempo passa e Paulo só vai se arrepender do que fez a Pedro e sua família, algum tempo depois de seu desencarne, na espiritualidade.

Arrependido, Pedro pede a Deus que o perdoe, pois antes era um fraco e ignorante, não sabia o que estava fazendo. Será que Deus o perdoa? Claro que o perdoa, pois Deus é a suprema misericórdia. Diante disso, Cristiano, podem ocorrer duas situações. Primeiro – é Pedro que não perdoa Paulo, pois além do prejuízo material que sofreu, juntamente com sua família, ele carrega a mágoa da traição do amigo. Neste caso, mais cedo ou mais tarde, Paulo terá que se haver com Pedro e seus familiares, em outra encarnação.

Segunda situação: Apesar da traição, Pedro acaba perdoando Paulo, compreendendo sua ignorância e sua fraqueza. Neste caso, é preciso saber agora se Paulo vai se perdoar a si mesmo. Se ele será capaz de encarar sua consciência e dizer pra ela que está tudo bem, que não precisa pagar nada do prejuízo que causou. A consciência moral é o nosso mais implacável juiz. É ela quem vai dizer, em última instância, se está tudo resolvido mesmo, caso contrário de seu julgamento decorrerá uma condenação, que vai se manifestar em Pedro como um sentimento de culpa.

Paulo, diante desse autojulgamento, ele mesmo, mais cedo ou mais tarde, decidirá voltar a uma nova encarnação para reconciliar com Pedro de alguma forma, não só para sentir que realmente foi perdoado, mas sobretudo para sentir-se livre da culpa que carrega e alcançar em paz consigo mesmo. Veja, portanto, Cristiano, que a questão do erro, da mágoa, da culpa, do arrependimento, do perdão e da reparação é mais complexo do que geralmente se imagina. Porém, na lei de Deus tudo tem solução e todos têm oportunidade de se reconciliar consigo mesmo para alcançar a paz de consciência, ou seja, a felicidade pelos seus próprios méritos.





quarta-feira, 27 de julho de 2022

PROFETIZARÃO E FARÃO PRODÍGIOS; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Fechando a edição de julho de 1863 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec apresenta mensagem obtida em Grupo Espírita da cidade de Sétif, na Argélia, em que o Benfeitor Espiritual identificado como Santo Agostinho esclarece dúvida acalentada por muitos sobre porque mensagens de conteúdos elevados ou reveladores são recebidas por médiuns que pessoalmente não demonstram nem cultura, nem conhecimentos, nem conduta que os credencie a ser porta-vozes de Espíritos Superiores? O Espiritismo, por sinal, ao definir a mediunidade como meio inerente a qualquer criatura humana, revela-a tão neutra como a inteligência, como os olhos que podem contemplar o belo e o feio, o certo e o errado. O conceito de moral, como se sabe, é extremamente relativo. Afirma o Instrutor Espiritual:-“Muitas vezes vos admirais ao ver faculdades mediúnicas, físicas ou morais e que, em vossa opinião deveriam ser prova de mérito pessoal, em criaturas que, pelo caráter moral, estão colocadas abaixo de semelhante condição. Isso se deve à falsa ideia que fazeis das leis que regem tais coisas, e que quereis considerar como invariáveis. O que é invariável é o objetivo. Os meios variam ao infinito, para que seja respeitada a vossa liberdade. Este possui uma faculdade; aquele, outra; um é levado pelo orgulho, outro pela cupidez e um terceiro pela fraternidade. Deus emprega as faculdades e as paixões de cada um, e as utiliza em suas esferas respectivas; e do próprio mal sabe fazer sair o Bem. Os atos dos homens, que vos parecem tão importantes, para ele nada são; é a intenção que, aos seus olhos, faz o mérito ou demérito. Feliz, pois, aquele que é guiado pelo amor fraterno. A Providência não criou o mal: tudo foi feito em vista do Bem. O mal só existe pela ignorância do homem e pelo mau uso que faz das paixões, das tendências, dos instintos adquiridos em contato com a matéria. Grande Deus! Quando lhe tiverdes inspirado a sabedoria para ter em mãos a direção desse poderoso móvel – a paixão – quantos males desaparecerão!. Quanto Bem resultará dessa força, da qual hoje não conhece senão o lado mau, que é sua obra. Continuai ardentemente a vossa obra, meus amigos; que, enfim, a Humanidade entreveja a rota na qual deve por o pé, a fim de atingir a felicidade que lhe é dado adquirir nesta Terra! Não vos admireis se as comunicações que vos dão os Espíritos elevados, inteiramente apoiadas na moral do Salvador, vô-la confirmando e a desenvolvendo, vos oferecem tantos pontos de contato e de similitude com os mistérios dos Antigos. É que os Antigos tinham a intuição das coisas do Mundo Invisível e do que deveria acontecer e que diversos tinham por missão preparar os caminhos. Observai e estudai com cuidado as comunicações que recebei; aceitai o que a razão não recusar; repeli o que a choca; pedi esclarecimentos sobre as que vos deixam na dúvida. Tendes aqui a marcha a seguir para transmitir às gerações futuras, sem medo de as ver desnaturadas, as verdades que separáveis sem esforço de seu cortejo inevitável de erros. Trabalhai, tornai-vos úteis aos vossos irmãos e a vós próprios. Nem podeis prever a felicidade que o futuro vos reserva pela contemplação de vossa obra”. Em comentário posterior, Allan Kardec observa: -“Esta comunicação foi obtida por um jovem, médium sonâmbulo iletrado. Foi-nos enviada por membro da Sociedade Espírita de Paris, residente em Sétif, informando que o sensitivo ignora o sentido da maioria das palavras e relacionando o nome de dez pessoas notáveis, presentes à reunião. Os médiuns iletrados que recebem comunicações acima do seu alcance intelectual são muito numerosos. Mostraram-nos há pouco uma página verdadeiramente notável, recebida em Lyon, por uma senhora que não sabe ler nem escrever, não conhecendo uma palavra do que escreve; seu marido, que é quase como ela, o decifra por intuição, no correr da sessão, o que lhe é impossível no dia seguinte. Outras pessoas a leem sem muita dificuldade. Não está aí a aplicação das palavras do Cristo: -“Vossas mulheres e vossas filhas profetizarão e farão prodígios?”. Não é um prodígio escrever, pintar, desenhar, fazer música e poesia que não se o sabe? Pedis sinais materiais? Ei-los. Dirão os incrédulos que é efeito da imaginação? Se o fosse, haveria que convir que tais pessoas tem a imaginação na mão e não no cérebro. Ainda uma vez, uma teoria só é boa com a condição de explicar todos os fatos. Se um só a contradisser, é que é falsa ou incompleta”.



Pergunta da Iracema Santine de Souza: “Você disseram que pessoas que têm mau comportamento sofrem mais obsessão porque atraem obsessores. Mas isso é questionável, porque a gente não percebe que ladrões, assassinos e homens corruptos sejam tão obsidiados assim; Do contrário eles não conseguiriam causar tanto sofrimento e prejuízo ao povo. O mesmo não acontece para pessoas de caráter, bem intencionadas que, muitas vezes, são acometidas de uma obsessão.”

Seu questionamento é interessante, Iracema. Contudo, nem sempre o nosso julgamento sobre o acontece às pessoas estão baseados em uma compreensão correta da situação, como nestes casos que você bem coloca. Há pessoas de boa conduta, que podem ser assediadas por Espíritos perturbadores, enquanto muitos que se comprazem no mal parecem estar livres deles. Será que é isso mesmo que acontece? Siga o nosso raciocínio.

Partimos da premissa de que o bem atrai o bem e o mal atrai o mal. Falamos das pessoas que cultivam bons pensamentos e que, desse modo, atraem para junto de si Espíritos que comungam com as mesmas ideias; e também o contrário - as que más intencionadas, que exploram e roubam o próximo que, por isso mesmo, deveriam chamar para si Espírito da mesma categoria. Essa é a regra.

Contudo, devemos considerar que pessoas de boa conduta podem trazer dívidas morais do passado que, muitas vezes, as acompanham por meio de sentimentos de culpa que jazem em seu inconsciente. Ao cometerem pequenos deslizes ou em situações que podem estimular aqueles sentimentos, trazendo esses sentimentos à tona e sofrendo algum transtorno emocional, essas pessoas podem abrir brecha à ação de Espíritos adversários que estão em busca de vingança.

Num caso como esse, que não constitui regra, mas que existe na prática, é possível que uma pessoa de bem ainda esteja ligada a questões não resolvidas de seu passado reencarnatório. Tal condição para elas é um tormento, porque geralmente passam por alguns problemas de ordem emocional, muito antes de deixarem o adversário do passado tomar conta. Contudo esse desarranjo emocional pode ser a porta de contato entre a culpa do encarnado e a mágoa do desencarnado.

Quanto àqueles que poderíamos chamar de “maus” – ou seja, de pessoas que cultivam más intenções contra o próximo – podemos dizer que elas se encontram num outro estágio de desenvolvimento espiritual, vivem num mundo diferente dos primeiros, mundo em que também vivem os Espíritos malfeitores. Daí a facilidade do contato de encarnados e desencarnados que respiram as mesmas más intenções. Só que aqui a forma de agir do obsessor é diferente, porque ele age como parceiro do crime, não para dificultar, mas para a facilitar a perpetração do delito.

Desse modo, Iracema, a obsessão têm muitas faces. Ela pode ser uma ostensiva e desconfortável contra o encarnado ou pode ser uma ação de cooperação com seus maus propósitos, mas em qualquer dos casos ela será sempre prejudicial aos encarnados. O segundo tipo – é claro! - é pior que o primeiro. 



terça-feira, 26 de julho de 2022

SURREAL, MAS RACIONALMENTE POSSÍVEL; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Diferentemente do Espírito identificado como André Luiz, Manoel Philomeno de Miranda a partir da própria cura de um processo obsessivo, passou a trabalhar enquanto encarnado em Centro Espírita na cidade de Salvador, na Bahia, para onde se mudara com trabalhos neles desenvolvidos, voltados para atendimento a pessoas acometidas por quadros da obsessão. Desencarnado em 1942, psicografou através de Chico Xavier uma mensagem dirigida ao também médium Divaldo Pereira Franco e, a partir de 1970, através do mesmo começou a transferir para nossa Dimensão obras abordando suas experiências do outro lado da vida mostrando a intensa interação existente entre os diferentes Planos Existenciais e a gravidade dos processos de obsessão através de casos que, segundo ele, atingem proporções inimagináveis. Mais de uma dezena de obras marcadas por extremo bom senso foi surgindo desde NOS BASTIDORES DA OBSESSÃO, o primeiro da série. Livros excelentes contendo instigantes revelações como TRANSIÇÃO PLANETÁRIA (2010), revelando as ações preparatórias para o grande evento de dezembro de 2004, que impôs em alguns minutos a morte de aproximadamente quatrocentas mil pessoas, no Tsunami resultante de um violento terromoto ocorrido em alto mar, a quilômetros de distancia das áreas continentais atingidas em vários Países situados no Oceano Índico. Ou ainda NAS FRONTEIRAS DA LOUCURA (1982), abordando os efeitos espirituais e materiais do carnaval nas estruturas sociais encarnadas e desencarnadas. Um deles, TORMENTOS DA OBSESSÃO (2001), apresenta um caso extremamente interessante, retratando personagem que, alcoolizado, teria, certa noite, adentrado um Centro logo após o termino das suas atividades. Superado o constrangimento inicial dos remanescentes presentes, foi convencido por um dos dirigentes a submeter-se a tratamento ali oferecido, o que o fez voltar ainda algumas vezes, até que não mais apareceu. O próprio Manoel, testemunha do fato, prossegue resgatando detalhes do sucedido na sequência: -“Não passaram duas semanas, e fomos informados da tragédia em que se envolvera o pobre Ludgério, tendo fim a consumida existência física. Discutindo com outro companheiro embriagado, comparsa habitual das extravagâncias alcoólicas, num dos bares em que se homiziavam, foi acometido de grande loucura e, totalmente alucinado, tomou de uma faca exposta no balcão da espelunca, cravando-a, repetidas vezes, no antagonista, mesmo após tê-lo abatido e morto. A cena de sangue, odienta e ultrajante, provocou a ira dos passantes e comensais do repelente recinto que, inspirados por perversos e indigitados Espíritos vampirizadores, se atiraram contra o alcoólatra, linchando-o sem qualquer sentimento de humanidade, antes que a polícia que frequentava o local pudesse ou quisesse interferir. Todo linchamento demonstra o primarismo em que ainda permanece o Ser humano, e resulta da explosão do ódio que acomete aos imprevidentes, que passam a servir de instrumentos inconscientes de hordas espirituais perversas, que dão vasa aos sentimentos vis através das paixões desordenadas (...). Os jornais fizeram estardalhaço sobre o inditoso acontecimento, que a nós outros que o conhecíamos, muito nos compungiu, deixando-nos material espiritual para demoradas reflexões e interrogações que somente após a morte nos foi possível compreender. Naquela ocasião, indagamo-nos, se teria falhado a ajuda espiritual que se estava iniciando com futuras perspectivas de atenuar o processo obsessivo. Por que os desafetos conseguiram atingir as metas estabelecidas? (...) Após a morte física, ainda interessado no caso Ludgério, tentamos encontrá-Lo, sem o conseguir. (...) Soubemos, por fim, que aquele, que lhe fora vítima do homicídio infame, era um dos comparsas de vidas anteriores, que se desaviera quando da partilha de terras que haviam sido espoliadas de camponeses humildes que lhes sofriam a dominação arbitrária, tornando-se-lhe igualmente adversário. Desde então, unidos pelos crimes, uma ponte de animosidade fora distendida entre eles. Como os adversários espirituais se vinculavam a ambos, encontraram campo vibratório propício para o assassinato de cunho espiritual”.



Quando a gente vai a um espetáculo de magia e vê coisas espantosas, não resta outra alternativa a não ser aplaudir a habilidade do mágico. Mas, quando fui a uma sessão espírita, não fui com a mesma disposição e acabei por duvidar de comunicações que ali aconteceram.

Quando assistimos um espetáculo de magia, apresentado por um exímio prestidigitador diante de um cenário misterioso, com efeitos especiais de luzes e som, certamente somos tomados de grande emoção. O mistério exerce um grande fascínio sobre o espírito humano. Por um instante, perceberemos que tudo o que o artista expõe ao público, principalmente os efeitos mágicos que desfilam no palco, parecem ser uma realidade de que todos querem se convencer, pelo menos por um instante.

Mais tarde, ao sairmos da sala de espetáculos, começaremos a buscar explicação para cada número, mas como não entendemos nada de magia, nos contentaremos em compreender que o prestidigitador apenas manipulou o público com seus truques e habilidades, criando diante dele a ilusão de um mundo que não existe. Logo, o que assistimos não foi propriamente os atos mágicos e surpreendentes, mas a capacidade de o manipulador escamotear diante da plateia.

Mas, se você vai a um centro espírita para assistir uma sessão mediúnica, certamente deve ir com outra disposição. Ou você vai para obter a mensagem ou orientação para seu problema, para ouvir Espíritos se comunicarem ou outro fenômeno de que tem curiosidade, ou você vai para saber se aquilo é mesmo verdade, se o que as pessoas estão fazendo ali é coisa séria, se aquelas pessoas são idôneas, a ponto de você poder acreditar nelas.

A grande diferença entre um espetáculo de magia e uma sessão mediúnica séria é que a primeira tem por objetivo divertir o público e a segunda ajudar as pessoas e os Espíritos na solução de seus problemas. No espetáculo de magia, você já está convencido de que tudo o que o mágico vai mostrar é ilusão e que, portanto, não tem nenhum cabimento você comparecer lá para questionar se é realidade ou não o que ele apresenta. Logo, você não precisa entender nada de magia e é até melhor que não entenda. Quanto menos souber, melhor.

Mas, quanto à sessão mediúnica, você vai lá para ver ter um contato com a realidade espiritual e, por isso mesmo, precisa se certificar se as pessoas, que estão lá, não querem enganá-lo com falsas comunicações, com falsos fenômenos. Isso fará com que você, se não estiver convencido do fenômeno espírita, tenha que saber discernir o que é e o que não é realidade, no que pode e no que não pode acreditar. Em matéria de Espiritismo, Allan Kardec dizia que não basta ver; é preciso compreender o fenômeno. Quando não conhecemos uma matéria, o que é verdade pode parecer falso e o que é falso pode parecer verdade.

Uma sessão mediúnica num centro espírita não pode ser feita com o objetivo de convencer o público. O fenômeno espírita só pode ser encarado como elemento de convicção, apenas e tão somente quando acompanhado por especialistas ou pessoas competentes para isso, submetido a condições especiais de controle. Para o público em geral, não. Porque o fenômeno em si não serve para convencer ninguém. Allan Kardec deixa bem claro em suas obras que a convicção espirita se forma a partir do estudo e do conhecimento da doutrina. No Espiritismo a fé deve estar apoiada na razão.

Por isso mesmo, não vemos com bons olhos que pessoas, sem nenhum conhecimento espírita e sem nenhum preparo anterior, venham a participar de sessões mediúnicas. Elas não teriam critério para julgar a validade ou não das comunicações: ou seriam muito crédulas e aceitariam tudo como expressão pura e simples da verdade, ou rejeitariam tudo, porque não se convenceram sobre o que presenciaram.



segunda-feira, 25 de julho de 2022

A FATALIDADE E OS PRESSENTIMENTOS; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 No número de março de 1858 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui interessante matéria elaborada a partir da carta de um correspondente sobrevivente a naufrágio de que foi vitima ao ser surpreendido com mais sete tripulantes por temporal que durante a noite virou o barco em que navegavam causando a morte de quatro deles, enquanto ele e mais três se salvaram mantendo-se sobre a quilha da embarcação até o raiar do dia. O vento empurrou então a embarcação para a costa, possibilitando ganhar a terra a nado. Indaga porque, nesse perigo, igual para todos, apenas quatro sucumbiram, destacando que, no caso dele, era a sexta ou sétima vez que escapava de risco iminente, mais ou menos nas mesmas condições? Kardec explica ter formulado oito perguntas a São Luiz, o dirigente espiritual das reuniões da Sociedade Espírita de Paris, esclarecendo em breve nota complementar ater-se apenas à fatalidade dos acontecimentos materiais, visto a fatalidade moral ter sido tratada de maneira completa n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Vamos às perguntas e respectivas respostas: 1- Um perigo iminente que ameaça alguém é dirigido por um Espírito e a não consumação do mesmo dever-se-ia à ação de outro? Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; escolhendo-a, cria-se uma espécie de destino que não pode evitar, desde que se submeteu. Falo das provas físicas. Conservando seu livre arbítrio sobre o Bem e o mal, o Espírito é sempre livre de suportar ou repelir a prova. Vendo-o fraquejar, um bom Espírito pode vir em seu auxílio, mas não pode influir sobre ele de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe e exagerando o perigo físico, pode abalá-lo e apavorá-lo, mas nem por isso a vontade do Espírito encarnado fica menos livre de qualquer entrave. 2- Na iminência de um acidente, o livre arbítrio parece nada valer para a potencial vítima. Poderia ter sido causado ou evitado por um Espírito? Os bons ou maus Espírito não podem sugerir senão pensamentos bons ou maus, conforme sua natureza. O acidente está marcado no destino do homem. Quando tua vida é posta em perigo, é sinal que tu mesmo o desejaste, a fim de te desviares do mal e te tornares melhor. Quando escapas ao perigo, ainda sobre a influência do perigo que correste, pensas mais ou menos fortemente, conforme a ação, mais ou menos forte, dos bons Espíritos, em te tornares melhor. 3- A fatalidade que parece presidir aos destinos materiais da vida, ainda seria, então, um efeito de nosso livre arbítrio? Tu mesmo escolheste a tua prova; quanto mais rude for e melhor a suportares, tanto mais te elevas. Os que passam a vida na abundância e na felicidade humana são Espíritos fracos, que ficam estacionários. Assim, o número dos infortunados ultrapassa de muito o dos felizes deste mundo, de vez que em geral os Espíritos escolhem a prova que lhes dê mais frutos. Eles veem muito bem a futilidade de grandezas e prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada, mesmo quando não o seja por meio da dor. 4- Ainda não ficou claro se certos Espíritos tem ação direta sobre a causa material do acidente. Suponhamos que no momento em que um homem passa por uma ponte, esta desmorona. Quem levou o homem a passar por ela? Quando um homem passa por uma ponte que deve cair não é um Espírito que o impele, é o instinto de seu destino que o leva para ela. 5- Quem fez a ponte desmoronar? As circunstâncias naturais. A matéria tem em si as causas da destruição. No caso vertente, se o Espírito tiver necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para mover as forças materiais, recorrerá antes à intuição espiritual. (...). O Espírito, digamos, insinuará antes ao homem que passe por esta ponte. 6- Noutro caso, imaginemos um homem mal intencionado dá-me um tiro, cuja bala passa apenas de raspão. Teria sido desviada por um Espírito bom? Não. 7- Podem os Espíritos advertir-nos diretamente de um perigo, como no caso de uma senhora que sai de caso, seguindo por uma avenida, ouvindo uma voz íntima lhe dizendo para voltar para casa e, apesar de vacilar, volta, mas, refazendo-se, crendo ser fruto da imaginação, retorna ao caminho, sendo atingida por uma viga, mal dados alguns passos, o que a deixa desacordada. Não era um pressentimento? Era o instinto, visto que nenhum pressentimento tem essas características, sendo sempre vagos. 8- Que entendeis por voz do instinto? Entendo que, antes de encarnar-se, o Espírito tem conhecimento de todas as fases de sua existência.; quando estas tem um caráter saliente, ele conserva uma espécie de impressão em seu íntimo e, tal impressão, despertando ao aproximar-se o instante, torna-se pressentimento.


Está na Bíblia que João Batista dizia que batizava com água, mas viria aquele que batizaria com fogo, referindo-se a Jesus . Para os espíritas o que vem a ser o batismo de fogo? (anônimo)

O batismo é uma prática muito antiga na história da humanidade; tem milhares e milhares de anos, e esteve sempre ligada à mudança de rumo na vida das pessoas. Trata-se de um ritual de iniciação, quando o iniciado assume uma nova postura para recomeçar a vida buscando e defendendo novos valores.

Na história da humanidade os rituais, de um modo geral, sempre tiveram um grande valor simbólico e exerceram um importante papel na sociedade. O símbolo era usado para lembrar as pessoas do compromisso que assumiam quando passavam por ele. Geralmente, davam um sentido mágico a esse momento e muitos acreditavam que, se não cumprissem com sua promessa, seriam castigados.

É pra isso que servem os rituais cerimoniosos - para lembrar as pessoas do compromisso assumido, a fim de que passem a agir em completo respeito ao que juraram para si mesmo, enquanto passavam pela cerimônia. Até hoje usamos muito de rituais na vida social, tal como o próprio batismo realizados nas igrejas. O cerimonial do casamento, as colações de grau dos formandos e os vários ritos utilizados na área jurídica, por exemplo, são praticados mediante esses tipos de celebração.

No caso específico de João, filho de Zacarias e Isabel, primo de Jesus, ele deve ter se inspirado em alguma forma de batismo, como o praticado pelos hindus à margem do Rio Ganges, na Índia. João trouxe-o para a Palestina, à margem do Rio Jordão, considerando que a água entre os hebreus era símbolo de pureza, já que a água serve para lavar.

O batismo de João se constituía, portanto, numa imersão rápida da pessoa nas águas do rio, quando ela decidira assumir o propósito de se arrepender dos pecados que cometeu e mudar de vida. João pregava a vinda do Messias, que era uma profecia antiga, e com isso ele pretendia contribuir para a purificação dos pecadores que deveriam recebe-lo em breve. Com isso adquiriu o cognome batista, passando a ser conhecido como João Batista.

Portanto, o batismo não tinha nada de mágico. Era apenas um ritual de passagem, mas, ao conquistar a adesão de pessoas sinceras e decididas, ele passava a ser um ato elevado valor moral e espiritual que marcava um momento importante e significativo, um momento especial na vida daquelas pessoas. É claro que nem todos que se batizavam eram tão sinceros assim, mas o objetivo de João parecia puro e, desse modo, ele acabou abrindo caminho para Jesus, até porque alguns de seus discípulos foram depois discípulos de Jesus.

Todavia, ao mesmo tempo que mergulhava a pessoa no rio, João dizia que estava batizando com água - como se estivesse lavando as pessoas de seus pecados - mas após ele viria um outro profeta que seria mais forte do que ele ( referindo-se a Jesus) e que não batizaria com água, mas com fogo e com o Espírito Santo ou Espírito de Deus. É muito significativo essa declaração de João, pois, com isso, ele anunciava a chegada de Jesus – seu primo - que, de fato, apareceu e fez questão de se submeter ao seu batismo, como uma forma de aderir ao seu movimento de moralização.

O batismo com água era, de fato, o que João fazia, mas o batismo com fogo, a que se referiu, já não seria de alçada dele. De fato, em se tratando de Jesus, o batismo já não seria tão simples quanto de João – ou apenas simbólico - pois João pedia o arrependimento num simples cerimonial, enquanto Jesus viria pedir a transformação moral durante a vida, nos atos do dia a dia, no enfretamento das dificuldades naturais da vida. Arrepender-se é uma coisa, mas mudar de vida é outra. Este, sim, é o batismo de fogo, o batismo na sua expressão mais ampla.

Fogo representava sofrimento. As diversas vezes que esta palavra é usada, principalmente no Novo Testamento, ela se refere ao sofrimento. Isso quer dizer que Jesus não viria prometer uma vida fácil e prazerosa para ninguém. Pelo contrário, aqueles que decidissem segui-lo deveriam encontrar muitas dificuldades, muitas decepções e até perseguição. No sermão da montanha disse: “Bem-aventurados quando vos perseguirem por minha causa...

Jesus, diferentemente de João, não praticou o batismo da água, porque sua meta era outra. Ele vinha com uma proposta muito mais ampla, muito mais robusta de transformação moral do homem. Enquanto João, alarmado com os escândalos da época, pedia imediato arrependimento, Jesus – com o seu batismo de fogo – propunha transformação pela prática do bem, pelo amor ao semelhante, pelo amor até mesmo aos inimigos.