Fazia
pouco mais de quatro anos que O LIVRO
DOS ESPÍRITOS havia sido publicado e se multiplicavam por vários países europeus
os interessados no conhecimento e prática do Espiritismo. Allan Kardec já havia
reunido material suficiente para publicar O
LIVRO DOS MÉDIUNS fornecendo diretrizes para o entendimento da percepção
que coloca nossa Dimensão em contato com a dos Planos Espirituais. No número de
dezembro
de 1861 da REVISTA ESPÍRITA,
encontramos interessante estudo dividido em 25 tópicos em que ele apresenta
argumentos interessantes sobre a ORGANIZAÇÃO DO ESPIRITISMO. Dele destacamos
alguns, para nossas reflexões: 1-
EVOLUÇÃO DA IDEIA - O Espiritismo não
deve ser imposto; vem-se a ele porque dele se necessita, e porque dá o que não
dão as outras filosofias. Convém mesmo não entrar em nenhuma explicação com os
incrédulos obstinados: seria dar-lhes muita importância e leva-los a pensar que
dependemos deles. Os esforços feitos para os atrair os afastam e, por
amor-próprio, obstinam-se na sua oposição. Eis por que é inútil perder tempo
com eles; quando a necessidade se fizer sentir, virão por si mesmos. Enquanto
esperamos, é preciso deixá-los tranquilos, satisfeitos no seu cepticismo que,
acreditai, muitas vezes lhes pesa mais do que dão a parecer; porque, por mais
que digam, a ideia do nada após a morte tem algo de mais assustador, de mais
doloroso que a própria morte. 2 - CARÁTER
DAS PRINCIPAIS VARIEDADES DE ESPÍRITAS. Pode-se
pôr em primeira linha os que creem pura e simplesmente nas manifestações. Para
eles o Espiritismo não passa de uma ciência de observação, uma série de fatos
mais ou menos curiosos; a filosofia e a moral são acessórios de que pouco se
ocupam e de cujo alcance nem mesmo desconfiam. Nós os chamamos espíritas
experimentadores. Vêm a seguir os que veem no Espiritismo algo mais que simples
fatos; compreendem o seu alcance filosófico; admiram a moral dele decorrente,
mas não a praticam; extasiam-se ante as belas comunicações, como diante de um
sermão eloquente, que ouvem mas não aproveitam. A influência sobre o seu
caráter é insignificante ou nula; em nada mudam seus hábitos e não se privariam
de um único prazer: o avarento é sempre avarento, o orgulhoso sempre cheio de
si mesmo, o invejoso e o ciumento, sempre hostis. Para eles a caridade cristã é
apenas uma bela máxima e os bens deste mundo os arrastam na sua estima sobre os
do futuro. São os espíritas imperfeitos. Ao lado destes há outros, mais
numerosos do que se pensa, que não se limitam a admirar a moral espírita, mas
que a praticam e a aceitam em todas as suas consequências. Convencidos de que a
existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar estes curtos
instantes para marchar na via do progresso, esforçando-se por fazer o bem e
reprimir as más inclinações; suas relações são sempre seguras, porque sua
convicção os afasta de todo mau pensamento. Em tudo a caridade é sua regra de
conduta. São os verdadeiros espíritas, ou, melhor, os espíritas cristãos. 3 - O VERDADEIRO ESPÍRITA - Tendo como objetivo a melhoria dos homens, o
Espiritismo não vem recrutar os que são perfeitos, mas os que se esforçam em o
ser, pondo em prática o ensino dos Espíritos. O verdadeiro espírita não é o que
alcançou a meta, mas o que deseja seriamente atingi-la. Sejam quais forem os
seus antecedentes, será bom espírita desde que reconheça suas imperfeições e
seja sincero e perseverante no propósito de emendar-se. Para ele o Espiritismo
é uma verdadeira regeneração, porque rompe com o passado; indulgente para com
os outros, como gostaria que fossem para consigo, de sua boca não sairá nenhuma
palavra malevolente nem ofensiva contra ninguém. Aquele que, numa reunião, se afastasse
das conveniências, não só provaria falta de civilidade e de urbanidade, mas
falta de caridade; aquele que se melindrasse com a contradição e pretendesse
impor a sua pessoa ou as suas ideias, daria prova de orgulho. Ora, nem um nem
outro estariam no caminho do verdadeiro Espiritismo cristão. Aquele que pensa
ter uma opinião mais justa fará que os outros a aceitem melhor pela persuasão e
pela doçura; o azedume, de sua parte, seria um péssimo negócio.
Compartilhamento de informações reveladoras disponibilizadas pelo Espiritismo ampliando nosso nivel cultural
faça sua pesquisa
terça-feira, 31 de maio de 2016
domingo, 29 de maio de 2016
MENTE - CORPO - DOENÇAS
Avançando a passos largos
na direção de respostas substanciais e lógicas, numero crescente de
pesquisadores vai constatando a cada dia a evidência de algo denominado mente
ou Espírito a determinar os acontecimentos intrigantes da vida. Não se rendem mais
às evasivas argumentações de que “é porque Deus quer”. Há fatores causais determinando o chamado mundo dos
efeitos. Do trabalho MENTE-CORPO-DOENÇAS: AS RESPOSTAS QUE O
ESPIRITISMO DÁ, derivado de obras de Allan Kardec e de André Luiz pelo
médium Chico Xavier, destacamos três conteúdos para suas reflexões. Vamos a
eles: 1- A Teoria Evolucionista amplia-se sobremaneira considerando que o
Princípio Inteligente desenvolve rudimentos da memória no Reino Mineral; da
sensibilidade no Reino Vegetal e o Instinto com ideias fragmentárias no Reino
Animal Irracional dos asselvajados aos domesticáveis. O pensamento contínuo é,
então, um divisor entre uma etapa e outra, ou melhor, fator determinante no
processo evolutivo a partir da fase humana? O pensamento é uma força, é o atributo
característico do Ser Espiritual; é ele que distingue o Espírito da matéria; sem
o pensamento o Espírito não seria Espírito. O pensamento, força viva e
atuante, cuja velocidade supera a da luz, emitido por nós, volta
inevitavelmente a nós mesmos, compelindo-nos a viver, de maneira espontânea, em
sua onda de formas criadoras, que naturalmente se nos fixam no Espirito quando
alimentadas pelo combustível de nosso desejo ou de nossa atenção. O pensamento,
qualquer que seja a sua natureza, é uma energia, tendo, conseguintemente, seus
efeitos. 2- Instrumento de trabalho do Espírito no processo
evolutivo em nossa Dimensão existencial, como surgiu o corpo físico? O corpo de carne é criação mental no caminho
evolutivo. O prodigioso corpo
do homem na Crosta Terrestre foi erigido pacientemente, no curso dos séculos, e
o delicado veículo do Espírito, nos planos mais elevados, vem sendo construído,
célula a célula, na esteira dos milênios incessantes. O Espírito preside à formação e à
sustentação do corpo físico, consciente ou inconscientemente, desde a hora
primeira da organização fetal. O
corpo físico é mantido pelo corpo espiritual (perispírito) a cujos moldes se
ajusta e, desse modo, a influência sobre o organismo sutil é decisiva para o
envoltório de carne, em que a mente se manifesta.. O períspirito, para a mente, é uma capsula
mais delicada, mais suscetível de refletir-lhe a glória ou a viciação, em
virtude dos tecidos rarefeitos de que se constitui. Nossa atividade mental nos
marca o períspirito. 3- Como sob
o prisma do Mundo Espiritual entender a falta de saúde ou a manifestação das
doenças? A saúde é questão de equilíbrio vibracional, de conformação de
frequências. Naturalmente, enquanto na Terra, esse problema implica uma equação
de vários parâmetros, quais sejam a respiração e a atividade, o banho e o
alimento. Forçoso é, todavia, convir que as raízes morais são sempre os fatores
de maior importância, não somente na vida normal, senão também, e em
particular, nas horas conturbadas. A extrema vibratilidade do Espírito produz
estados de hipersensibilidade, os quais em muitas circunstâncias se fazem
sentir por verdadeiros desastres organopsíquicos. Energias atraem
energias da mesma natureza, e, quando estacionários na viciação ou na sombra,
as forças mentais que exteriorizamos retornam ao nosso Espírito, reanimadas e
intensificadas pelos elementos que com elas se harmonizam, engrossando, dessa
forma, as grades da prisão em que nos detemos irrefletidamente, convertendo-se-nos
a alma num mundo fechado, em que as vozes e os quadros de nossos próprios
pensamentos, acrescidos pelas sugestões daqueles que se ajustam ao nosso modo
de ser, nos impõem reiteradas alucinações. Durante a reencarnação, a criatura
elege, automaticamente, para si mesmo, grande parte das doenças que se lhe
incorporam às preocupações. Rende-se, habitualmente, às sugestões do mal,
criando em si não apenas condições favoráveis à instalação de determinadas
moléstias no cosmo orgânico, mas também ligações aptas a funcionarem como
pontos de apoio para as influências perniciosas interessadas em vampirizar-lhe
a vida. A grande maioria das doenças tem a sua causa profunda na estrutura
semimaterial do corpo espiritual. Havendo o Espírito agido erradamente, nesse ou
naquele setor da experiência evolutiva, vinca o corpo espiritual com
desequilíbrios ou distonias, que o predispõem à instalação de determinadas
enfermidades, conforme o órgão atingido.
sexta-feira, 27 de maio de 2016
ESQUIZOFRENIA
A
evolução no século 20 do conhecimento sobre o corpo humano, seus distúrbios e
comportamento deles derivados, abriu campo para a grande ampliação e
aprofundamento das chamadas doenças mentais bem como diagnósticos e terapias
observadas na atualidade. Novas nomenclaturas baseadas nas especificidades de
cada caso ante o adensamento demográfico do Planeta. Um dos tipos foi
descoberto pelo médico Eugen Broiler que a denominou
esquizofrenia já na primeira década do século passado e que sobre o tema mantinha intensos debates
com Freud
e Jung.
Estima-se atingir hoje algo em torno de 24 milhões de pessoas, sendo que a
doença caracteriza-se pela chamada demência precoce, atingindo com uma
deterioração mental jovens entrando na vida adulta. Apesar das
conquistas desde os debates citados há muito a pesquisar no que tange às
origens do problema. Nesse sentido, a visão oferecida pelo Espiritismo tem algo
a dizer. Afirmando que o Ser humano na
verdade é a resultante do complexo Espírito (mente)/ corpo espiritual/ corpo
físico integrado num processo denominado reencarnação que objetiva
a evolução da individualidade tendo a regulá-lo a chamada Lei de Causa e
Efeito, oferece elementos importantes para a compreensão das origens da doença
até porque o problema atinge faixas etárias compreendidas pela infância e
juventude. Solicitado algumas vezes a se manifestar sobre a questão, o médium
Chico Xavier explicou: SOBRE A ORIGEM: -Muitas vezes, nascemos com
processos alusivos a moléstias chamadas incuráveis, como resultados de
complexos de culpas adquiridos por nós mesmos em existências passadas. Por
exemplo: um homem extermina a vida de outro homem e parte para o Além; a vítima
perdoou ao verdugo, mas a consciência do verdugo não concordou com esse perdão,
e ele continua com o remorso, com o problema da culpa a lhe estragar a
tranquilidade íntima. Dessa forma, os pensamentos de remorso repercurtem sobre
o corpo espiritual e determinam o desequilíbrio da distribuição dos agentes
químicos do organismo, já que, em verdade, cada um de nós tem determinada
farmácia na sua própria vida íntima e as substâncias químicas erram o seu nível
ideal, particularmente no cérebro, a cabine por onde o Espírito se manifesta. Adquirindo
culpas intensas e profundas, é muito natural que e criatura renasça com problemas
de esquizofrenia. SOBRE A INCIDÊNCIA NA INFÂNCIA: - A esquizofrenia, na essência,
decorre de transformações de caráter negativo
do quimismo da vida cerebral. Esse problema, no entanto, procede da Vida
Espiritual, antes do processo reencarnatório, de vez que o problema da culpa,
instalando em nós, por nós mesmos, na experiência terrestre, se transfere
conosco, pela desencarnação, no rumo do mais Além. Muitas vezes, atravessamos
condições de vida purgatorial, no Outro Mundo, mas somos devolvidos à Terra
mesmo, aos núcleos habitacionais em que as nossas culpas foram adquiridas, e,
frequentemente, carreamos conosco as telas da esquizofrenia. Quando o processo
da esquizofrenização se patenteia violento, eis que as pertubações consequentes
se manifestam na criatura em período de desenvolvimento infantil, mas na
maioria dos caso a esquizofrenia aparece depois da puberdade ou logo após a
maioridade física. Os Instrutores Espirituais são unânimes em afirmar que esse
desequilíbrio decorre de nossos próprios débitos, nas áreas das forças
espirituais de que dispomos no campo da própria consciência. SOBRE O FATOR
PREPONDERANTE: -A esquizofrenia é o
homicida que se fez suicida, porque o complexo de culpa é tão grande, o remorso
é tão terrível que aquilo se reflete na própria vida física da criatura durante
algum ou muito tempo.
quarta-feira, 25 de maio de 2016
TEMPOS DE QUESTIONAMENTOS
Vivemos
uma época prodigiosa pela liberdade que oferece ao pensamento humano. Claro que há países onde a intolerância
religiosa ou política não concedem esse direito básico aos seus seguidores ou
governados. A questão da origem da
espécie humana estar assentada no mito de Adão, hoje não se sustenta mais. No
número de janeiro de 1862 da REVISTA
ESPÍRTA, Allan Kardec desenvolve interessantes raciocínios sobre a
questão. Diz ele: -“Do presente, como ponto conhecido, procuremos deduzir o desconhecido,
ao menos por analogia, se não tivermos a certeza de uma demonstração
matemática. A questão de Adão, como tronco único da espécie humana na Terra é,
como se sabe, muito controvertida, porque as leis antropológicas lhe demonstram
a impossibilidade, sem falar dos documentos autênticos da história chinesa, que
provam que a população do globo remonta a uma época muito anterior à atribuída
a Adão pela cronologia bíblica. Então a história de Adão é pura invencionice?
Não é provável; é uma imagem que, como todas as alegorias, deve encerrar uma
grande verdade, cuja chave só poderá ser dada pelo Espiritismo. Em nossa
opinião, a questão principal não é saber se a personagem de Adão realmente
existiu, nem em que época viveu, mas se a raça humana, designada como sua
posteridade, é uma raça decaída. A solução dessa questão não é destituída de
conteúdo moral, porque, esclarecendo-nos quanto ao passado, pode orientar a
nossa conduta para o futuro. Antes de mais, notemos que, aplicada ao homem, a
ideia da queda, sem a reencarnação, é um contra-senso, assim como a
responsabilidade que carregássemos pela falta de nosso primeiro pai. Se a alma
de cada homem é criada ao nascer, é que não existia antes; não terá, desse
modo, nenhuma relação, nem direta, nem indireta, com a que cometeu a primeira
falta, o que nos leva a indagar como poderia ser responsável por sua própria
queda. A dúvida sobre este ponto conduz naturalmente à dúvida ou, mesmo, à
incredulidade sobre muitos outros, porquanto, se falso o ponto de partida,
igualmente falsas devem ser as consequências. Tal o raciocínio de muita gente.
Pois bem! esse raciocínio cairá se considerarmos o espírito, e não a letra do
texto bíblico, e se nos reportarmos aos princípios mesmos da Doutrina Espírita,
destinados, conforme já foi dito, a reavivar a fé que se extingue. Notemos,
ainda, que a ideia dos anjos rebeldes, dos anjos decaídos e do paraíso perdido
se acha em quase todas as religiões e, como tradição, entre quase todos os
povos. Deve, pois, fundamentar-se numa verdade. Para compreender o verdadeiro
sentido que se deve ligar à qualificação de anjos rebeldes, não é necessário
supor uma luta real entre Deus e os anjos, ou Espíritos, desde que o vocábulo
anjo é aqui tomado numa acepção geral. Admitindo-se sejam os homens Espíritos
encarnados, o que são os materialistas e os ateus senão anjos ou Espíritos em
revolta contra a Divindade, pois que negam a sua existência e não reconhecem
seu poder, nem suas leis? Não é por orgulho que pretendem que tudo aquilo de
que são capazes vem deles mesmos, e não de Deus? Não é o cúmulo da rebelião
pregar o nada depois da morte? Não são muito culpados os que se servem da
inteligência, de que se ufanam, para arrastar os semelhantes ao precipício da
incredulidade? Até certo ponto não praticam também um ato de revolta os que,
sem negar a Divindade, desconhecem os verdadeiros atributos de sua essência? Os
que se cobrem com a máscara da piedade para cometer más ações? Os que a fé no
futuro não os desliga dos bens deste mundo? Os que em nome de um Deus de paz
violentam a primeira de suas leis: a lei de caridade? Os que semeiam
perturbação e ódio pela calúnia e pela maledicência? Enfim aqueles, cuja vida,
voluntariamente inútil, se escoa na ociosidade, sem proveito para si próprios,
nem para os seus semelhantes? A todos serão pedidas contas, não só do mal que
tiverem feito, mas do bem que tiverem deixado de fazer. Pois bem! todos esses
Espíritos, que tão mal empregaram as suas encarnações, uma vez expulsos da
Terra e enviados a mundos inferiores, entre hordas ainda na infância da
barbárie, o que serão, senão anjos decaídos, remetidos à expiação? A Terra que
deixam não será para eles um paraíso perdido, em comparação ao meio ingrato
onde ficarão relegados durante milhares de séculos, até o dia em que tiverem
merecido a libertação?
segunda-feira, 23 de maio de 2016
INSPIRADORA ORIENTAÇÃO
Até
quando seu corpo físico desgastado permitiu Chico Xavier não deixou
de exercitar a caridade em favor dos desventurados do caminho. Foram mais de
oito décadas de compartilhamento do pouco que tinha e, mais à frente do que lhe
entregavam para minimizar as penúrias de pessoas socialmente carentes do pão,
da vestimenta, do abraço, da palavra amiga de esperança. Poucos sabem como tudo
começou, dias após a primeira mensagem psicografada, em 8 de julho de 1927.
Recordando o fator desencadeante, Chico conta: -“Na
noite de 10 de julho referido, dois dias depois de haver recebido a primeira
mensagem, quando eu fazia as orações da noite, vi o meu quarto pobre se
iluminar, de repente. As paredes refletiam a luz de um prateado lilás. Eu
estava de joelhos, conforme os meus hábitos católicos, e descerrei os olhos,
tentando ver o que se passava. Vi, então, perto de mim uma senhora de admirável
presença, que irradiava a luz que se espraiava pelo quarto. Tentei levantar-me
para demonstrar- lhe respeito e cortesia, mas não consegui permanecer de pé e
dobrei, involuntariamente, os joelhos diante dela. A dama iluminada fitou uma imagem
de Nossa Senhora do Pilar que eu mantinha em meu quarto e, em seguida, falou em
castelhano que eu compreendi, embora sabendo que eu ignorava o idioma, em que ela
facilmente se expressava: - "Francisco - disse-me pausadamente - em nome
de Nosso Senhor Jesus Cristo, venho solicitar o seu auxílio em favor dos
pobres, nossos irmãos." A emoção me possuía a alma toda, mas pude
perguntar-lhe, embora as lágrimas que me cobriam o rosto: - Senhora, quem sois
vós? Ela me respondeu: - "Você não se lembra agora de mim, no entanto em
sou Isabel, Isabel de Aragão." Eu não conhecia senhora alguma que tivesse
este nome e estranhei o que ela dizia, entretanto uma força interior me
continha e calei qualquer comentário, em tomo de minha ignorância. Mas o
diálogo estava iniciando e indaguei: - Senhora, sou pobre e nada tenho para
dar. Que auxílio poderei prestar aos mais pobres do que eu mesmo? Ela disse: -
"Você nos auxiliará a repartir pães com os necessitados." Clamei com
pesar: - Senhora, quase sempre não tenho pão para mim. Como poderei repartir
pães com os outros?...!A dama sorriu e me esclareceu: - "Chegará o tempo em
que você disporá de recursos. Você vai escrever para as nossas gentes peninsulares
e, trabalhando por Jesus, não poderá receber vantagem material alguma pelas
páginas que você produzir, mas vamos providenciar para que os Mensageiros do
Bem lhe tragam recursos para iniciar a tarefa. Confiemos na Bondade do
Senhor." Em seguida a estas palavras a dama se afastou deixando o meu
quarto em pleno escuro. Chorei sob emoção para mim inexplicável até o amanhecer
do dia imediato. Não tinha mais o Padre Scarzelli para consultar e notei que os
meus novos companheiros não poderiam me auxiliar, porque eu não sabia o que
vinha a ser a expressão "gentes peninsulares" ouvidas por mim; quanto
a estas duas palavras, nenhum deles conseguiu fornecer qualquer explicação.
Sentindo-me a sós com a lembrança da inesquecível visão, passei a orar, todas
as noites, pedindo a Nossa Senhora para que alguém me socorresse com as informações
que eu julgava precisas. Duas semanas após a ocorrência, estando eu nas preces
da noite, apareceu-me um senhor vestido em roupa branca que, por intuição,
notei tratar-se de um sacerdote. Saudei-o com muito respeito e ele me respondeu
com bondade, explicando-se: - "Irmão Francisco, fui no século XIV um dos confessores
da Rainha Santa, D. Isabel de Aragão, que se fez esposa do Rei de Portugal, D.
Dinis. Ela desenvolveu elevadas iniciativas de beneficência e instrução nos
dois reinos que formam a Península, conhecida na Europa, e voltou ao Mundo
Espiritual em 4 de julho de 1336. Desde então, ela protege todas as obras de
caridade e educação na Espanha e Portugal. Foi ela que o visitou, há alguns
dias, nas preces da noite, e prometeu lhe assistência. Ela me recomenda
dizer-lhe que não lhe faltará recursos para a distribuição de pães com os
necessitados. Meu nome em 1336 era Fernão Mendes. –“Confiemos em Jesus e
trabalhemos na sementeira do bem." Eu não tive garganta livre para falar.
O padre se retirou e, sentindo a premência do que desejava a nobre senhora, que
eu não sabia ter sido, na Terra, tão amada e tão ilustre Rainha. No primeiro
sábado que se seguiu às ocorrências que descrevo, fui com minha irmã Luíza até
uma ponte muito pobre, na cidade onde nasci, conduzindo um pequeno cesto com oito
pães. Ali estavam refugiados alguns indigentes; parti os pães, a fim de que
cada um tivesse um pedaço, e assim foi iniciado o nosso serviço de assistência.
sábado, 21 de maio de 2016
UM AVANÇO IMPORTANTE
Segundo convencionado,
o resultado de uma pesquisa somente é validado por dois critérios: 1-
ter sido realizada dentro de protocolo estabelecido reconhecido pelos meios
acadêmicos e, 2- ter sido reproduzido o resumo analítico
da pesquisa em publicação avaliada como merecedora de credibilidade no meio.
Foi o que aconteceu com o trabalho desenvolvido por profissionais da área de
saúde ligados à uma das mais importantes e conceituadas instituições de ensino
superior do Brasil, a UNESP -
Universidade Estadual Paulista, que tiveram seu experimento avaliado,
reconhecido e incluído no veículo TERAPIAS COMPLEMENTARES EM MEDICINA, uma
das publicações da holandesa Elsevier,
editora academica especializada em literatura médica e científica em sua edição
de 6 de maio de 2016. O estudo clínico dos médicos brasileiros foi randomizado,
o que é considerado uma das ferramentas mais poderosas na obtenção de
evidências para o cuidado à saúde.Consistiu na utilização durante oito semanas,
da transferência de energia no metodo conhecido como passe conforme praticado nos meios espíritas acompanhando
50 pacientes adultos, ambos os sexos, diferentes credos religiosos ou não,
escolhidos entre 97, diagnosticados como acometidos de ansiedade cronica a fim
de verificar a existência ou não da redução dos sintomas conhecidos. Os
participantes foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: Intervenção (23 submetidos sessões
espíritas de "Passe”) e controle
(simulação de aplicação do "Passe" – efeito placebo, n = 27). A ansiedade foi avaliada usando o
Inventário de Ansiedade Traço (IDATE-traço). Ao final do estudo, 17% e 63% dos
participantes de intervenção e controle, respectivamente, ainda cumpria o
critério para a ansiedade. No entanto, a redução da ansiedade foi mais
acentuado no grupo espírita "passe" (p = 0,02). Em outras palavras, o grupo placebo teve melhora de 37% da ansiedade e o
grupo passe a melhora foi de 83%. Se recorrermos às informações
disponibilizadas pelo Espiritismo, descobriremos que acrescentam às descobertas desenvolvidas pelo médico Franz Anton Mesmer desde o final do
século 18 que casualmente descobriu que os corpos humanos emanam o que ele
chamava Fluido Elétrico Animalizado e que, segundo exposto em nota à pergunta 70
d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS é
denominado Fluido Vital. Mas afirmando a existência de um corpo
intermediário entre o Espírito e o corpo físico chamado períspirito, Allan
Kardec explica emanar dele o fluido perispiritual que, por sua
vez, se constitui num elemento importante no procedimento conhecido como passe,
seja na transferência do que o aplica, seja na absorção daquele que o
recebe. De forma mais simples: o que aplica cede durante a transfusão,
fluidos perispirituais associados ao próprio fluido vital, enquanto o receptor
absorve pelo corpo espiritual - ou períspirito - essa carga de energia,
identificada pelo Espírito do beneficiado que a reenvia para o corpo físico produzindo as
sensações de bem estar ou reequilíbrio de que o indivíduo se sentia necessitado.
O assunto, apesar dos resultados obtidos em milhões de atendimentos ao longo do
século 20, especialmente no Brasil onde o Espiritismo alcançou um nível de
desenvolvimento como em nenhum outro País, sempre foi visto como algo místico,
fruto da boa fé ou ignorância popular. Com a contribuição da pesquisa
comentada, um passo importante é dado no sentido de abrir caminho para outras
investigações que levem a um aprofundamento da questão, até porque há alguns
anos, na busca de um titulo de Doutorado, o biólogo molecular Ricardo
Monezzi alcançou resultados positivos na ministração de outro processo
de transferência de fluidos ou energias a camundongos nos quais foram injetadas
células cancerígenas
quinta-feira, 19 de maio de 2016
ESQUECIMENTO DO PASSADO: RECURSO PROVIDENCIAL
Uma
das heresias cometidas pelo Espiritismo em sua apresentação à sociedade humana
foi afirmar a Pluralidade dos Mundos Habitados, dizendo que as fascinantes
imagens capturadas pelo nosso acanhado sentido da visão e aprofundadas pela
evolução dos instrumentos óticos (como o telescópio Huble, por exemplo) que a Terra não é o único planeta
habitado. Tudo tem sua utilidade na Criação Divina. Ousa afirmar que há uma
hierarquização dentro das construções do Cosmos, variando essa classificação
conforme o estágio evolutivo da maioria humana predominante. No caso do Sistema Solar, o Planeta Júpiter estaria enquadrado como um Mundo Superior. O advento da
Teoria das Cordas e suas evoluções a partir dos anos 70 sugerem que as
afirmações dos Espíritos que auxiliaram Allan Kardec a compor as bases da
Terceira Revelação podem ter fundamento, como que ressoando vida além dos
limites da matéria como definida e estruturada. Esses comentários surgem a
propósito da seção QUESTÕES E PROBLEMAS DIVERSOS da edição de fevereiro
de 1861 da REVISTA ESPÍRITA,
onde três perguntas sobre o esquecimento do passado são levantadas e respondidas
pelo dirigente espiritual das reuniões da Sociedade
Espírita de Paris: 1. Em um Mundo Superior, como Júpiter ou outro, tem o
Espírito encarnado a lembrança de suas existências passadas, assim como a do
seu estado errante? - Não; desde que o Espírito se reveste do
envoltório material, perde a lembrança de suas existências anteriores. 2-Entretanto,
sendo rarefeito em Júpiter o envoltório corporal, ali o Espírito não seria mais
livre? – Sim, mas ainda suficientemente denso para extinguir, no Espírito, a
lembrança do passado. 3- Então os Espíritos que habitam Júpiter e que
se comunicaram conosco encontravam-se mergulhados no sono? – Certamente.
Naquele mundo, sendo o Espírito muito mais elevado, melhor compreende Deus e o
Universo; mas o seu passado se apaga por enquanto, sem o que se obscureceria a
sua inteligência. Ele mesmo não se compreenderia; seria o homem da África, o da
Europa ou da América? o da Terra, de Marte ou de Vênus? Não se recordando mais,
é ele mesmo, o homem de Júpiter, inteligente, superior, compreendendo a Deus;
eis tudo. Em observação adicional, o Editor Allan Kardec pondera: – Se o
esquecimento do passado é necessário num mundo adiantado como Júpiter, com mais
forte razão deve sê-lo em nosso mundo material. É evidente que a lembrança de
nossas existências precedentes causaria lamentável confusão em nossas ideias,
sem falar de todos os outros inconvenientes já assinalados a respeito. Tudo
quanto Deus faz leva o selo de sua sabedoria e de sua bondade; não nos cabe
criticar, ainda mesmo quando não compreendamos o objetivo. A questão do
esquecimento do passado serve de argumento para muitos dos que tentam
justificar as ações possibilitadas pelo livre arbítrio que caracteriza as
individualidades em processo de evolução. Os homens que no século 20
aprofundaram alguns estudos em torno da veracidade ou não da reencarnação,
concluíram que o intervalo curto entre reencarnações denominado por eles de
intermissão seria o responsável pelo aflorar de lembranças de vida passada,
sobretudo na infância, bem como a genialidade demonstrada por instrumentistas,
conhecedores de física, matemática, aspectos científicos de maneira geral. A
lógica confirma a exatidão das revelações espirituais segundo as quais o
esquecimento tem fins terapêuticos, visto que seria muito difícil alguém que
tivesse conhecimento de que o filho rebelde oculta o rival ou desafeto do
passado conseguir conviver com ele sem reincidir em antigos atos extremos.
Assim sendo, a reencarnação como instrumento de aperfeiçoamento através da
educação do Espírito somente dará certo se durante a permanência no corpo
físico, seja por limitações deste, seja por medidas providenciais, esquecermos
quem é quem no novo enredo que vamos construindo dia após dia.
terça-feira, 17 de maio de 2016
AINDA SOBRE A ESCRAVIDÃO NO BRASIL
Escolhida
por editores e leitores como uma das mais importantes obras mediúnicas do
século 20, curiosamente esperou quase três décadas para se tornar conhecida pelo
grande público na forma de um livro. Tudo pelo temor da médium Yvonne
do Amaral Pereira em relação aos possíveis efeitos na mente e coração
dos leitores. Uma revisão do Espírito Léon Denis, todavia, infundiu-lhe a
segurança necessária para nos anos 50, disponibilizar a obra MEMÓRIAS DE UM SUICÍDA (feb, 1954). O
trabalho descortina a intensa atividade desenvolvida nos Planos Espirituais em
favor dos que cedem aos impulsos pessoais ou induzidos para a consumação do
suicídio. No terceiro capítulo da segunda parte, uma revelação histórica
importante e interessante é apresentada. Comenta um Instrutor Espiritual de
nome Epaminondas
de Vigo: "— As sociedades brasileiras, meus
caros discípulos, sofrem hoje e sofrerão ainda por espaço de tempo que estará
ao seu alcance o dilatar ou reprimir, as consequências das iniquidades que em pleno domínio da Era Cristã permitiram fossem
cometidas em seu seio. Refiro-me, como bem percebeis, à escravização de seres
humanos, tratados por elas com maior rigor do que o eram os próprios animais
inferiores, para a extração de posses e haveres que lhes facultassem o gozo e o
império das paixões! Se não foi crime individual e
sim coletivo, será a coletividade que expiará e reparará o grande opróbrio, o
grande martírio infligido a uma raça carecedora do amparo fraternal da Civilização
cristã, a fim de que, por sua vez, também se gloriasse as alvíssaras da
educação fornecida através da Boa Nova do Reino de Deus! Sob os céus assinalados
pelo símbolo augusto da Iniciação como do Cristianismo — a Cruz —, ressoam ainda,
ecoando aflitivamente na Espiritualidade, os brados angustiosos de milhares de
corações torturados que durante o dobar dos decênios
se compungiram ante a infâmia de que eram vítimas! Não deixaram de repercutir
ainda nas ondas delicadas do éter, onde se assentam as Esferas de proteção às
sociedades humanas, os rumores trágicos dos látegos sanhudos dos capatazes
diabólicos, a vergastarem homens e mulheres indefesos, cujas lágrimas,
recolhidas uma a uma pela Incorruptível Justiça do Todo Poderoso, foram, por
lei, espalhadas, em seguida, sobre essa mesma coletividade criminosa, para que,
por sua vez, as sorvesse em pelejas posteriores, a se purificarem do acervo de
maldades e infâmias praticadas! (...) E assim prosseguirão até que a Voz Celeste
dos Missionários do Senhor as oriente para finalidade apaziguadora, no trabalho
sublime da reconciliação individual por amor do Cristo de Deus! (...) Sabei que
entre os escravos que, sob os céus do Cruzeiro Sublime, choraram, vergados sob
o trabalho excessivo, famintos, rotos, doentes, tristes, saudosos, desesperados
frente à opressão, à fadiga, à maldade, nem todos traziam os característicos
íntimos da inferioridade, como bastas vezes
foi comprovado por testemunhas idôneas; nem todos apresentavam caracteres
primitivos! Grandes falanges de romanos ilustres, do império dos Césares; de
patrícios orgulhosos, de guerreiros altivos, autoridades das hostes de
Diocleciano, como de Adriano e Maxêncio, dolorosamente arrependidas das
monstruosas séries de arbitrariedades cometidas em nome da Força e do Poder
contra pacíficos adeptos do Cordeiro Imaculado, pediram reencarnações na África
infeliz e desolada, a fim de testemunharem novos propósitos ao contacto de
expiações decisivas, fustigando, assim, o desmedido orgulho que a raça poderosa dos romanos adquirira com as mentirosas glórias do
extermínio da dignidade e dos direitos alheios! Suplicaram, ainda e sempre
corajosos e fortes, novas conquistas! Mas, agora, nas pelejas contra si
próprios, no combate ao orgulho daninho que os perdera! Suplicaram disfarce carnal
qual armadura redentora, em envoltórios negros, onde peadas fossem suas
possibilidades de reação, e arvorada em suas consciências a branca bandeira da
paz, flâmula augusta concedida pela reparação do mal! E os escravizadores de
tantos povos e tantas gerações dignas! Os desumanos senhores do mundo
terráqueo, que gargalhavam enquanto gemiam os oprimidos! Que faziam seus regalos
sobre o martírio e o sangue inocente dos cristãos, expungiram sob o cativeiro
africano a mancha que lhes enodoava o Espírito!Daí, meus discípulos queridos, a
doce, mesmo sublime resignação dessa raça africana digna, por todos os motivos,
da nossa admiração e do nosso respeito, a passividade heroica que nem sempre se
estribou na ignorância e na incapacidade oriunda de um estado inferior, mas também
no desejo ardente e sublime da própria reabilitação espiritual!
domingo, 15 de maio de 2016
O PREÇO ALTO DA INTOLERÂNCIA
Há varias formas pela qual ela se
manifesta na vida das pessoas. Intolerância religiosa, politica, social,
racial. As revelações do Espiritismo, contudo, demonstram que ninguém foge à
responsabilidade, quaisquer sejam seus atos. O exemplo a seguir confirma
isso, tornando-se publico através de depoimento através da mediunidade de Chico Xavier em 13 de maio de 1954. O fato envolve lamentável decisão adotada no
final do século 19 na cidade de Vassouras, Estado do Rio de Janeiro. Uma das
proeminentes figuras da cidade foi convidada a participar de uma “reunião para estudar-se medidas compatíveis
com a campanha abolicionista, então em culminância”. Discussões
acaloradas resultaram em nada, deliberando-se pelas surpresas governamentais. O
escravagista radical, “de volta ao lar, porém, veio a saber que a
inspiração da providência sugerida partira inicialmente de um homem simples, de um homem escravizado, Ricardo,
servo de sua casa, a quem presumia dedicar minha melhor afeição. Era seu companheiro, confidente, amigo... Inteligência
invulgar, traduzia o francês com
facilidade. Comentávamos juntos as notícias da Europa e as intrigas da Corte...
Muitas vezes, era ele o escrivão predileto em meus documentários, orientador nos
problemas graves e irmão nas horas difíceis... Minha amizade, contudo, não
passava de egoísmo implacável. Admirava-lhe as qualidades inatas e
aproveitava-lhe o concurso, como quem se reconhece dono de um animal raro e queria-o como se não passasse de mera
propriedade minha. Enraivecido, propus-me castigá-lo. E, para escarmento das
senzalas, na sombra da noite, determinei a imediata prisão de quem havia sido
para mim todo um refúgio de respeito e carinho, qual se me fora filho ou pai. Ricardo
não se irritou ante o desmando a que me entregava. Respondeu-me às perguntas
com resignação e dignidade. Calmo, não se abateu diante de minhas exigências.
Explicou-se, imperturbável e sereno, sem trair a humildade que lhe brilhava no
espírito. Aquela superioridade moral atiçou-me a ira. Golpeado em meu orgulho,
ordenei que a prisão no tronco fosse transformada em suplício. Gritei, desesperado.
Assemelhava-me a fera a cair sobre a presa.
Reuni minha gente e as pancadas — triste é
recordá-las! — dilaceraram-lhe o dorso nu, sob meus olhos impassíveis.
O sangue do companheiro jorrou, abundante. A
vítima, contudo, longe de exasperar-se, entrara em lacrimoso silêncio. E,
humilhado por minha vez, à face daquela resistência tranquila, induzi o capataz
a massacrar-lhe as mãos e os pés. A recomendação foi cumprida. Logo após,
porque o sangue borbotasse sem peias, meu carrasco desatou-lhe os grilhões... Ricardo,
na agonia, estava livre... Mas aquele homem, que parecia guardar no peito um
coração diferente, ainda teve forças para arrastar-se, nas vascas da morte, e,
endereçando-me inesquecível olhar, inclinou-se à maneira de um cão agonizante e
beijou-me os pes... Não acredito estejais em condições de compreender o martírio
de um Espírito que abandona a Terra, na posição em que a deixei... Um
pelourinho de brasas que me retivesse por mil anos sucessivos talvez me fizesse
sofrer menos, pois desde aquele instante a existência se me tornou insuportável
e odiosa. A Lei Áurea não me ocupou o pensamento. E quando a morte me
requisitou à verdade, não encontrei no imo do meu ser senão austero tribunal,
como que instalado dentro de mim mesmo, funcionando em ativo julgamento que me
parecia nunca terminar... Lutei infinitamente. Um homem perdido por séculos, em
noite tenebrosa, creio eu padece menos que a alma culpada, assinalando a voz gritante
da própria consciência. Perdi a noção do tempo, porque o tempo para quem sofre
sem esperança se transforma numa eternidade de aflição. Sei apenas que, em dado
instante, na treva em que me debatia, a voz de Ricardo se fez ouvir aos meus
pés: — Meu filho!... meu filho!... Num prodígio de memória, em vago relâmpago
que luziu na escuridão de minhalma, recordei cenas que haviam ficado a
distância, quadros que a carne da Terra havia conseguido transitoriamente
apagar... Com emoção indizível, vi-me de novo nos braços de Ricardo, nele
identificando meu próprio pai... Meu próprio pai que eu algemara cruelmente ao
poste de martírio e a cuja flagelação eu assistira, insensível, até ao fim... Não
posso entender os sentimentos contraditórios que então me dominaram... Envergonhado,
em vão tentei fugir de mim mesmo. Em desabalada carreira, desprendi-me dos braços
carinhosos que me enlaçavam e busquei a sombra, qual o morcego que se compraz
tão somente com a noite, a fim de chorar o remorso que meu pai, meu amigo, meu
escravo e minha vítima não poderia compreender... No entanto, como se a Justiça,
naquele momento, houvesse acabado de lavrar contra mim a merecida sentença condenatória,
após tantos anos de inquietação, reconheci, assombrado, que meus pés e minhas
mãos estavam retorcidos... Procurei levantar-me e não consegui. A Justiça
vencera. Achava-me reduzido à condição de um lobo mutilado e urrei de dor...
Mas, nessa dor, não encontrei senão aquelas mesmas criaturas que eu havia
maltratado, velhos cativos que me haviam conhecido a truculência... E, por
muitos deles, fui também submetido a processos pavorosos de dilaceração.
Passei, porém, a rejubilar-me com isso. Guardava, no fundo, a consolação do
criminoso que se sente, de alguma sorte, reabilitado com a punição que lhe é
imposta”.
sexta-feira, 13 de maio de 2016
VIDA E EVOLUÇÃO: AMPLIANDO CONCEITOS
Abrindo
a edição de abril de 1865 da REVISTA
ESPÍRITA, Allan Kardec apresenta interessante matéria em que sintetiza
conforme o Espiritismo a dinâmica da evolução espiritual. Diz ele: -“A
verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no invólucro corporal,
do mesmo modo que não está no vestuário. Está no princípio inteligente que
preexiste e sobrevive ao corpo. Esse princípio necessita do corpo, para se
desenvolver pelo trabalho que lhe cumpre realizar sobre a matéria bruta. O
corpo se consome nesse trabalho, mas o Espírito não se gasta; ao contrário, sai
dele cada vez mais forte, mais lúcido e mais apto. Que importa, pois, que o
Espírito mude mais ou menos frequentemente de envoltório?! Não deixa por isso
de ser Espírito. É precisamente como se um homem mudasse cem vezes no ano as
suas vestes. Não deixaria por isso de ser homem. Por meio do incessante
espetáculo da destruição, ensina Deus aos homens o pouco caso que devem fazer do
envoltório material e lhes suscita a ideia da Vida Espiritual, fazendo que a
desejem como uma compensação. Objetar-se-á: não podia Deus chegar ao mesmo
resultado por outros meios, sem constranger os seres vivos a se entre destruírem?
(...) Desde que na sua obra tudo é sabedoria, devemos supor que esta não
existirá mais num ponto do que noutros; se não o compreendemos assim, devemos
atribuí-lo à nossa falta de adiantamento. (...) Há também considerações morais
de ordem elevada. É necessária a luta para o desenvolvimento do Espírito. Na
luta é que ele exercita suas faculdades. O que ataca em busca do alimento e o
que se defende para conservar a vida usam de habilidade e inteligência,
aumentando, em consequência, suas forças intelectuais. Um dos dois sucumbe;
mas, em realidade, que foi o que o mais forte ou o mais destro tirou ao mais
fraco? A veste de carne, nada mais; ulteriormente, o Espírito, que não morreu,
tomará outra. Nos seres inferiores da
Criação, naqueles a quem ainda falta o senso moral, nos quais a inteligência
ainda não substituiu o instinto, a luta não pode ter por móvel senão a
satisfação de uma necessidade material. Ora, uma das mais imperiosas dessas
necessidades é a da alimentação. Eles, pois, lutam unicamente para viver, isto
é, para fazer ou defender uma presa, visto que nenhum móvel mais elevado os
poderia estimular. É nesse primeiro período que a alma se elabora e ensaia para
a vida. Quando a alma atingiu o grau de maturidade necessário à sua
transformação, recebe de Deus novas faculdades: o livre arbítrio e o senso
moral, numa palavra a centelha divina, que dão novo curso às suas ideias e a
dotam de novas aptidões e percepções. Mas as novas faculdades morais de que é
dotada só se desenvolvem gradualmente, pois nada é brusco na Natureza. No
homem, há um período de transição em que ele mal se distingue do bruto. Nas
primeiras idades, domina o instinto animal e a luta ainda tem por móvel a
satisfação das necessidades materiais. Mais tarde, contrabalançam-se o instinto
animal e o sentimento moral; luta então o homem, não mais para se alimentar,
porém, para satisfazer à sua ambição, ao seu orgulho, à necessidade, que experimenta,
de dominar. Para isso, ainda lhe é preciso destruir. Todavia, à medida que o
senso moral prepondera, desenvolve-se a sensibilidade, diminui a necessidade de
destruir, acaba mesmo por desaparecer, por se tornar odiosa. O homem ganha
horror ao sangue. Contudo, a luta é sempre necessária ao desenvolvimento do
Espírito, pois, mesmo chegando a esse ponto, que parece culminante, ele ainda
está longe de ser perfeito. Só à custa de muita atividade adquire conhecimento,
experiência e se despoja dos últimos vestígios da animalidade. Mas, nessa
ocasião, a luta, de sangrenta e brutal que era, se torna puramente intelectual.
O homem luta contra as dificuldades, não mais contra os seus semelhantes.
quarta-feira, 11 de maio de 2016
ESCRAVIDÃO: UM PROBLEMA RESOLVIDO?
O
calendário histórico do Brasil registra o dia 13 de maio como a data da
assinatura da Lei que libertou os escravos. No lado Ocidental da Terra, por
sinal, foi a última das Nações a fazê-lo (1888) ao lado de Cuba (1886). O
monitoramento das atividades humanas em torno do trabalho, contudo, revela que
ela ainda existe em várias partes do Planeta, demonstrando o nível de evolução
precário dos habitantes da Terra. De várias formas, explorando a mão de obra desde crianças até adultos, homens e
mulheres. Prostituição infantil, feminina, tráfico de drogas, confecção de
roupas e calçados, produtos manufaturados comercializados, em todos os Países,
independentemente do seu grau de desenvolvimento econômico. Dados de 2014
estimam que 36 milhões de seres humanos são explorados em sua força de
trabalho, mantidos em cativeiro contra sua vontade sem que tais indivíduos
tenham condição de se libertar a não ser ocasionalmente através de fugas
espetaculares. Calcula-se que o Brasil foi de longe o que mais recebeu escravos
trazidos da África: mais de 5 milhões embora pouco mais de 4 milhões tenham
chegado vivos durante os três séculos em que a prática perdurou. Quando do
surgimento do Espiritismo (1857), a prática ainda resolvia os problemas da mão
de obra nas regiões mais desenvolvidas do Planeta, fazendo com que o tema bastante
incômodo para os detentores do poder econômico. Nas quatro perguntas (829 a
832) formuladas por Allan Kardec aos Espíritos que o assessoraram na organização d’
O LIVRO DOS ESPÍRITOS oferecem
elementos para várias reflexões sobre o problema, infelizmente, ainda não
resolvido Confirmemos: 1- Haverá
homens que estejam, por natureza, destinados a ser propriedades de outros homens? É contrária à lei de Deus toda sujeição
absoluta de um homem a outro homem. A escravidão é um abuso da força.
Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os abusos. É
contrária à Natureza a lei humana que consagra a escravidão, pois que assemelha
o homem ao irracional e o degrada física e moralmente. 2- Quando a escravidão faz parte dos costumes de um povo, são censuráveis
os que dela aproveitam, embora só
o façam conformando-se com um uso que lhes parece natural? O mal é sempre o mal
e não há sofisma que faça se torne
boa uma ação má. A responsabilidade, porém, do mal é relativa aos meios de que o homem disponha para compreendê-lo. Aquele que tira
proveito da lei da escravidão é
sempre culpado de violação da lei da Natureza. Mas, aí, como em tudo, a culpabilidade é relativa. Tendo-se a escravidão introduzida nos costumes de
certos povos, possível se tornou
que, de boa-fé, o homem se aproveitasse dela
como de uma coisa que lhe parecia natural. Entretanto, desde que, mais desenvolvida e, sobretudo, esclarecida pelas luzes do Cristianismo, sua razão
lhe mostrou que o escravo era um seu
igual perante Deus, nenhuma desculpa mais
ele tem. 3- A desigualdade natural das aptidões não
coloca certas raças humanas sob
a dependência das raças mais
inteligentes? Sim, mas para que estas as elevem, não para embrutecê-las ainda mais pela escravização.
Durante longo tempo, os homens
consideram certas raças humanas como animais
de trabalho, munidos de braços e mãos, e se julgaram com o direito de vender os dessas raças como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais
puro os que assim procedem.
Insensatos! Nada veem senão a matéria. Mais ou menos puro não é o sangue, porém o Espírito. 4- Há, no entanto, homens que tratam seus escravos com humanidade; que não deixam lhes falte nada e
acreditam que a liberdade os exporia a maiores privações. Que dizeis disso? Digo que esses
compreendem melhor os seus interesses. Igual
cuidado, dispensam aos seus bois e
cavalos, para que obtenham bom preço
no mercado. Não são tão culpados como
os que maltratam os escravos, mas, nem por isso deixam de dispor deles como de uma mercadoria, privando os do direito de se pertencerem a si
mesmos.
segunda-feira, 9 de maio de 2016
A ÚNICA SAÍDA
A
reflexão sobre a complexa e caótica situação observada na sociedade humana nestes
tempos de transição planetária, conduz a uma resposta única para reverter o
quadro: a educação integral. O que seria? Do estudo desenvolvido em
torno do tema dentro da série AS RESPOSTAS QUE O ESPIRITISMO DÁ,
destacamos três das 27 oferecidas para sua avaliação. Partimos de quatro
premissas básicas: 1- Quando se pensa, na massa de indivíduos diariamente
lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios, entregues aos
próprios instintos, deve-se admirar das consequências desastrosas desse fato? (LE) 2- Somente a
educação pode reformar os homens. (LE, 796). 3- Educação é
conjunto de hábitos adquiridos. (LE;
685ª/nota) 4-Conhecereis a Verdade e a Verdade vos
libertará – (Jesus) Vamos às respostas selecionadas: 1 - O que
vem a ser Educação Integral? Atividade meio – ou fim - dos ciclos evolutivos capazes de conduzir a
individualidade ou Espírito na direção da conquista da felicidade e paz, ou
progresso pleno. Principia no reconhecimento do Ser como Espírito, imortal,
preexistente e sobrevivente a caminho da perfeição através de reencarnações
sucessivas na condição humana, controlado pela Lei de Causa e Efeito cujo
mecanismo e conceito funcionando adentro de si mesmo, vai se ampliando à medida
que o grau de inteligência e consciência se desenvolvem. Pode ser considerada
sob dois ângulos: do indivíduo que se compenetra dessa realidade e daquele que
tem sob sua responsabilidade outros Espíritos na condição de tutelados com o
nome de filhos. 2- Considerando ser a evolução espiritual
consequência da educação do Espírito percebe-se que após a ascensão do
Princípio Inteligente à condição humana ele vai como que sendo empurrado pelas
circunstâncias. Em que ponto a Individualidade começa a agir conscientemente no
seu processe evolutivo? O Espírito fica num estado inconsciente
durante numerosas encarnações; a luz da inteligência não se faz senão aos
poucos e a responsabilidade real só começa quando o Espírito age livremente e
com conhecimento de causa. (RE, 1864)
Não
é nem após a primeira, nem à segunda encarnação que a alma tem consciência
bastante nítida de si mesma, para ser responsável por seus atos, talvez só após
a centésima ou milésima. Durante longos
períodos o Espírito encarnado é submetido a influência exclusiva dos instintos
de conservação; pouco a pouco se transformam em instintos inteligentes ou,
melhor dito, se equilibram com a inteligência; mais tarde, e sempre
gradativamente, a inteligência domina os instintos. Só então começa a séria
responsabilidade. A responsabilidade cresce em razão do desenvolvimento da
inteligência. No ponto em que estamos, a inteligência está bastante
desenvolvida para permitir ao homem julgar sadiamente o Bem e o mal; e é também
deste ponto que a sua responsabilidade é mais seriamente empenhada. (RE)
3 - Neste contexto de
mudanças, a visão do papel da família na busca de soluções para o caos social
dominante precisa ser revisto e melhor compreendido? Sendo os primeiros
médicos da alma de seus filhos, os pais deveriam estar instruídos, não só de
seus deveres, mas dos meios de cumpri-los; não basta ao médico saber que deve
procurar curar, é preciso que saiba como deve fazê-lo. Ora, para os pais, onde estão os meios de se
instruírem sobre essa parte tão importante de sua tarefa? Dá-se às mulheres
muita instrução hoje; fazem-na suportar exames rigorosos, mas jamais foi
exigido de uma mãe que ela saiba como deve fazer para formar o moral de seu
filho? São-lhes ensinadas receitas do
governo da casa; mas se a iniciou nos mil segredos de governar os jovens
corações? Os pais são, pois, abandonados sem guia à sua iniciativa, é por isso
que, frequentemente, tomam um falso caminho; também recolhem, nos erros de seus
filhos tornados grandes, o fruto amargo de sua experiência ou de uma ternura
mal combinada, e a sociedade toda disso recebe o contra golpe. Uma vez que está
reconhecido que, o egoísmo e o orgulho são a fonte da maioria das misérias
humanas, que enquanto reinarem sobre a Terra, não se podem esperar nem paz, nem
caridade, nem fraternidade, é preciso, pois, atacá-los no seu estado de
embrião, sem esperar que sejam vivazes. (RE,
1864)
sábado, 7 de maio de 2016
AFINAL, O ESPIRITISMO É OU NÃO RELIGIÃO?
Má
fé, ignorância, intolerância são alguns dos aspectos relacionados à resposta ouvidas
das pessoas comuns sobre a pergunta: -“O Espiritismo é ou não uma religião? No
número de dezembro de 1868, da REVISTA
ESPÍRITA, Allan Kardec oferece elementos para reflexões a respeito.
Argumenta ele: -“O verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a comunhão
de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma
religião, em sua acepção larga e verdadeira, é um laço que religa os homens
numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças; consecutivamente,
esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas
ou artigos de fé. (...). Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma
religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o
Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto, porque é a
Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos,
não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis
da Natureza. Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma
religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas ideias
diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de
culto; porque desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não
tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que
uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em
matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de
cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos
abusos contra os quais tantas vezes a opinião se levantou. Não tendo o
Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra,
não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente
se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e
moral. As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isto é,
com o recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de
que se ocupa; pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem
ditas em particular, são ditas em comum, sem que, por isto, sejam tomadas por
assembleias religiosas. Não se pense que isto seja um jogo de palavras; a
nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão não provém senão da falta
de uma palavra para cada ideia. Qual é, pois, o laço que deve existir entre os
espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por
nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos
os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário:
o da caridade para com todos ou, em outras palavras: o amor do próximo, que
compreende os vivos e os mortos, pois sabemos que os mortos sempre fazem parte
da Humanidade. A caridade é a alma do Espiritismo; ela resume todos os deveres
do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se
pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade. Mas a caridade é ainda
uma dessas palavras de sentido múltiplo, cujo inteiro alcance deve ser bem
compreendido; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e defini-la, é que,
provavelmente, reconhecem que isto ainda é necessário. O campo da caridade é
muito vasto; compreende duas grandes divisões que, em falta de termos
especiais, podem designar-se pelas expressões Caridade beneficente e caridade
benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente
proporcional aos recursos materiais de que se dispõe; mas a segunda está ao
alcance de todos, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é
forçosamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à
benevolência.
quinta-feira, 5 de maio de 2016
UMA EXPERIÊNCIA INCRÍVEL DE CHICO XAVIER
Chico Xavier vivenciou como médium situações proporcionadas pelo Espírito Emmanuel que nos oferecem interessantes ensinamentos sobre variados temas. A relatada por ele a seguir demonstra bem isso: -“Em outubro de 1958, ouvi, pela primeira vez, referência ao ácido lisérgico (...). Perguntei ao Espírito de Emmanuel, se eu poderia ter uma experiência desta com amigos de Belo Horizonte. Ele disse que eu não precisava ter essa experiência e que, me facultaria um ensinamento, nesse sentido, na primeira oportunidade. Quando foi à noite, vi-me no desdobramento fora do corpo. Emmanuel se aproximou informando que iria fazer a experiência desejada. Colocou uma bebida branca num copo – naturalmente em outro estado de matéria – e disse-me que aquele líquido era um alcaloide que iria me facultar experiência semelhante à que se tem com o ácido lisérgico. Depois que bebi aquela bebida, que era um tanto quanto amarga, comecei a me sentir muito mal, senti que estava entrando num pesadelo, vendo animais monstruosos em torno de mim, vendo criaturas de interpretação difícil, cenas muito desagradáveis, e acordei com a impressão de muito mal-estar, passando um dia terrível. Em Outubro, na minha terra, comumente, temos muita bruma seca e vi, então, o Sol como se fosse uma fogueira incendiando o céu e a bruma seca como se fosse a fumaça daquela fogueira. Tudo me irritava, tudo me descontrolava. Ã noite, então, ele me informou que na experiência que estava tendo e desejava, o alcaloide não fez senão aumentar os recursos que estava alimentando na minha mente. A bebida alterou minhas percepções e estava tendo resultado: vendo por fora de mim o que estava acontecendo dentro de mim. Com o espírito aflito, porque a situação era muito desagradável, pedi instruções para readquirir minha tranquilidade. Mandou-me que orasse, procurasse recolher-me ao silêncio e não falasse, e procurasse lugar onde praticar o bem para adquirir vibrações de alegria. Comecei a visitar doentes desamparados; procurar vibrações de simpatia aqui e ali, e durante uns cinco dias estive trabalhando por me desfazer daquele estado terrível da minha mente, que não era um estado muito longe da alienação mental. No sexto dia, melhorou. Aquela nuvem passou e adquire otimismo, compreensão da vida e paz de espírito. À noite, ele informou-me que eu iria ter a mesma experiência, iria beber o mesmo alcaloide do Mundo Espiritual, semelhante ao da Terra. Tornei aquela bebida de gosto amargo e o meu otimismo se transformou numa expressão de alegria profunda, numa embriaguez de felicidade. No outro dia tive sonhos maravilhosos, como se estivesse numa cidade de cristal, como se o céu fosse todo de vidro e qualquer luz se refletia em muitos ângulos. Acordei feliz. Fui para a repartição e o meu chefe de serviço tinha para mim expressão angélica. Os meus companheiros estavam todos nimbados de uma luz que eu não podia explicar. Os livros pareciam encadernados por pedras preciosas. As plantas e os animais tinham luz. Eu me sentia com aquele anseio de comunhão, aquela vontade de abraçar as pessoas, coma se todas fossem minhas e eu pertencesse a elas, sem nenhuma ideia de sexo, mas uma ideia, um desejo de transubstanciação, de transmutação nos outros seres. Durante uns quatro dias estive assim, naquele estado de alegria anormal. Ele, então, me disse: – Você também está vendo seu estado mental aumentado pelo alcaloide. Está vendo seu próprio mundo íntimo fora de você. Quero, então dizer-lhe que é preciso ter muito cuidado, porque o cérebro terrestre está condicionado a guiar a nossa mente para os assuntos alusivos à vida humana. Nós não podemos estar nem muito à frente, nem muito na retaguarda. O cérebro está condicionado para guardar-nos em equilíbrio, a fim de que possamos suportar a carga dos acontecimentos da vida, das provas de que necessitamos. Explicou-me, então, que a criatura, conforme seu estado mental traz para si mesma os próprios reflexos. Se a pessoa está muito triste, muito pessimista e toma ácido lisérgico, cai numa condição temível e não se sabe quais serão as consequências. Se ela está muito otimista, pode cair num problema de irresponsabilidade É um estado de embriaguez incompatível com a nossa necessidade de lutar com os nossos problemas humanos, com os nossos deveres. Nós estamos aqui para cumprir obrigações. Não estamos aqui para gozar de um céu imaginário, nem para fantasiar um inferno que devemos evitar. Chegamos à conclusão de que o acido lisérgico, ou um alcaloide qualquer, ou produto sintético que provoque estas sensações, são de resultados ruinosos se a Ciência não entra no assunto.
terça-feira, 3 de maio de 2016
JESUS TERIA SIDO APENAS UM MITO?
Uma
das inteligências mais impregnadas do pensamento espírita no século XX, foi o
professor de Filosofia, Jornalista e escritor J. Herculano Pires. Com
ele, a divulgação do Espiritismo ganhou importante espaço na mídia impressa e radiofônica, neste caso em particular através
de um programa que esclareceu muitas dúvidas de interessados na visão espírita
sobre variadas questões: NO LIMIAR DO
AMANHÃ. Valiosos conhecimentos foram ali desdobrados e alguns admiradores
da época recuperaram as opiniões do Professor e os enfeixaram em livro pouco
conhecido. Dentre as dúvidas levantadas e ali preservadas destacamos uma tão
interessante quanto curiosa: JESUS FOI
UM MITO APENAS? Com a palavra Herculano Pires: -“A
ideia de que Jesus é um “mito” levou alguns pensadores europeus a publicarem
livros a respeito. Mas todo o esforço nesse sentido foi mal dado, diante
daquilo que Deus negou a esses pensadores, isto é, diante das provas históricas
irrefutáveis da existência de Jesus. Pois Jesus não está na História. Ele fez a
História. O mundo em que vivemos é o mundo cristão e o mundo cristão nasceu de
que? Dos ensinamentos de Jesus. Alguns naturalmente se apegam a certas
exposições de pensadores materialistas, que querem negar a existência de Jesus.
Mas a mesma é tão mais firmada na História do que qualquer outra. Além disso,
os fatos comprovados e investigados atualmente, nas pesquisas universitárias,
não apenas nas pesquisas dos religiosos, mostram que realmente Jesus existiu,
foi um homem, agiu intensamente na Palestina, criou uma nova concepção do
mundo, que foi registrada pelos seus discípulos, aparecendo mais tarde nas
formulações dos Evangelhos. Poderão dizer, por exemplo: Os Evangelhos foram
escritos muito depois da morte de Jesus (...). Ernesto Renan, por exemplo, que
foi o grande investigador histórico, famoso por suas obras de investigação da
história do Cristianismo, tem livros dedicados aos Evangelhos em que explica
pormenorizadamente e afirma, de maneira decisiva, que os mesmos nasceram do
círculo dos mais íntimos de Jesus, dos seus familiares, dos seus discípulos,
daqueles que privaram com Ele. Passados mais de cem anos depois de Renan,
aparece na França Charles Lindenberg, grande pesquisador e professor de
história do Cristianismo na Sorbonne, que afirma, depois de profundos estudos a
respeito, a mesma coisa que Renan. Os Evangelhos nasceram nos círculos mais
íntimos, ligados a Jesus, portanto procedem da fonte dos Seus ensinos orais. Se
isso não bastasse para provar a existência de Jesus, existem todos os
testemunhos, dados pelos apóstolos. Alguém pode dizer: não há na História um
registro assim, por um historiador qualquer, da passagem de Jesus na Terra.
Realmente, essa passagem foi obscura. Jesus viveu na época do mundo clássico
greco-romano. O que era importante, no tempo, era a história de Roma e não a
história da Palestina. O que se passava na Palestina tinha pouca importância.
Quando o historiador judeu Josefo trata da história da Palestina, ele não dá
atenção a Jesus, porque Jesus era um rabino popular. Ele era uma figura
exponencial do mundo judaico; não era nem sequer um sacerdote do templo. Ele
era um daqueles tipos de rabinos populares, mestres do povo, que andavam pela
Palestina, ensinando. A grandeza de Jesus não era material, exterior. Não era
dada pelos nomes, nem pelos títulos. Era a grandeza moral e espiritual de Jesus
que transparecia nos Seus ensinos. E a melhor grandeza desses ensinos se
confirma pelos resultados que eles produziram no mundo. Qual foi o homem que,
humildemente andando de sandálias, pelas praias de um lago humilde, como o lago
de Genesaré, pregando nas estradas, nos povoados, nas ruas das cidades judaicas
daquele tempo, numa província obscura do império romano, que era a Judéia, qual
foi o homem, repito, que dessa humildade e nessa humildade conseguiu produzir,
através simplesmente de palavras, ensinos orais, uma revolução total, que
transformou a civilização greco-romana na Civilização Cristã? Quem conseguiu
isso? Ninguém. Só Jesus. Esta é a maior prova, a mais decisiva prova de sua
existência, do seu trabalho, da sua grandeza.
domingo, 1 de maio de 2016
MAUS ESPÍRITOS: COMO AFASTÁ-LOS
“Os
Espíritos constituem todo um mundo, toda uma população que enche o espaço,
circula ao nosso lado, mistura-se a tudo quanto fazemos. Se o véu que nô-los
oculta viesse a ser levantado, nós os veríamos à nossa volta, indo e vindo,
seguindo-nos ou nos evitando, conforme o grau de simpatia; uns indiferentes,
verdadeiros desocupados do mundo oculto, outros muito ocupados, quer consigo
mesmos, quer com os homens aos quais se ligam, com um propósito mais ou menos
louvável, segundo as qualidades que os distinguem”. O comentário de Allan
Kardec é amplamente autenticado por outro, o do físico Marcelo
Gleiser no seu livro CRIAÇÃO
IMPERFEITA (record) ao se referir visão da Teoria das Supercordas ao
considerar que diz, “mesmo que as dimensões do espaço sejam imperceptíveis, são elas que
determinam a realidade física em que vivemos”. Se pensarmos o nível
de exposição às influências possíveis na atualidade pela desconexão que as
pessoas vivem pelo afastamento dos assuntos da Espiritualidade, bem como, o
desconhecimento sobre a realidade da revelação oferecida pelo Espiritismo, vale
a pena avaliarmos o exposto no artigo que abre a edição de setembro de 1859 da REVISTA ESPÍRITA. Entre outras coisas,
escreveu o autor da matéria sobre essas influências recíprocas do Mundo
Espiritual ao Material e vice-versa: -“uma cópia perfeita do gênero humano, com
suas boas e más qualidades, com suas virtudes e vícios. Esse envolvimento, ao
qual não podemos escapar, já que não há recantos por demais ocultos que sejam
inacessíveis aos Espíritos, exerce sobre nós e à nossa revelia, uma influência
permanente. Uns nos impelem ao bem, outros ao mal; muitas vezes as nossas
determinações resultam de suas sugestões; felizes daqueles que têm juízo
suficiente para discernir o bom ou o mau caminho por onde nos procuram
arrastar. Considerando-se que os Espíritos nada mais são que os próprios homens
despojados de sua indumentária grosseira, ou almas que sobrevivem aos corpos,
segue-se que há Espíritos desde que há seres humanos no Universo”.
Tratando do fator desencadeador de qualquer processo de envolvimento e
influencia observa: -“Antes de tudo podemos estabelecer como princípio que os Espíritos
maus não aparecem senão onde alguma coisa os atrai. Portanto, quando se
intrometem nas comunicações, é que encontram simpatias no meio onde se
apresentam ou, pelo menos, lados fracos que esperam aproveitar; em todo caso,
porque não encontram uma força moral suficiente para os repelir. Entre as
causas que os atraem, é preciso colocar em primeira linha as imperfeições morais
de qualquer natureza, porque o mal simpatiza sempre com o mal”. Como
orientação para nos precavermos contra as más influências, devemos refletir
sobre o seguinte: -“A primeira coisa é não os atrair e evitar tudo quanto lhes possa dar
acesso. Como vimos, as disposições morais são uma causa preponderante. Todavia,
abstração feita dessa causa, o modo empregado não deixa de ter influência. (...).
Ora, se nos recordarmos do que já dissemos sobre a variada e numerosa população
dos Espíritos que nos cercam, compreenderemos sem dificuldade que isso seria
colocar-nos à mercê do primeiro que viesse, bom ou mau. E como nessa multidão
há mais Espíritos maus do que bons, existe mais oportunidade para os maus,
exatamente como se abríssemos a porta a todos os passantes da rua”., (...) Os
bons chegam mesmo a permiti-lo para exercitar a nossa sagacidade em
reconhecê-los, mas não terão nenhuma influência”.
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