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sábado, 30 de novembro de 2024

DOENÇAS MENTAIS E O ESPIRITISMO; EM BUSCA DA VERDADE COM O ESPIRITISMO

 Aceleradamente a ciência vai acessando informações extremamente úteis para o entendimento dos outrora inexplicáveis problemas humanos. Até a Organização Mundial de Saúde na Classificação Internacional de Saúde, item F.44.3 do CID 10, de 2016, já considera a possibilidade dos transtornos mentais serem causados por perturbações espirituais. Analisando um caso de obsessão coletiva no número de maio de 1862 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec oferece elementos uteis para quem quer refletir sobre a fascinante influência espiritual intencional. Diz ele: -“Está demonstrado pela experiência que os Espíritos mal-intencionados não só agem sobre o pensamento, mas, também, sobre o corpo, com o qual se identificam e do qual se servem como se fosse o seu; que provocam atos ridículos, gritos, movimentos desordenados que apresentam todas as aparências da loucura ou da monomania. Encontrar-se-á sua explicação n’O LIVRO DOS MÉDIUNS, no capítulo da obsessão. Com efeito, é bem uma espécie de loucura, uma vez que se pode dar este nome a todo estado anormal, em que o Espírito não age livremente. Deste ponto de vista, é uma verdadeira loucura acidental. Faz-se, pois, necessário distinguir a loucura patológica da loucura obsessiva. A primeira resulta de uma desordem nos órgãos da manifestação do pensamento. Notemos que, nesse estado de coisas, não é o Espírito que é louco; ele conserva a plenitude de suas faculdades, como o demonstra a observação; apenas estando desorganizado o instrumento de que se serve para manifestar-se, o pensamento, ou, melhor dizendo, a expressão do pensamento é incoerente. Na loucura obsessiva não há lesão orgânica; é o próprio Espírito que se acha afetado pela subjugação de um Espírito estranho, que o domina e subjuga. No primeiro caso, deve-se tentar curar o órgão enfermo; no segundo basta livrar o Espírito doente do hóspede importuno, a fim de lhe restituir a liberdade. Casos semelhantes são muito frequentes e muitas vezes tomados como loucura o que não passa de obsessão, para a qual deveriam empregar meios morais e não duchas. Pelo tratamento físico e, sobretudo, pelo contato com os verdadeiros alienados, muitas vezes tem sido determinada uma verdadeira loucura onde esta não existia. Abrindo novos horizontes a todas as ciências, o Espiritismo vem, também, elucidar a questão tão obscura das doenças mentais, ao atribuir-lhes uma causa que, até hoje, não havia sido levada em consideração – causa real, evidente, provada pela experiência e cuja verdade mais tarde será reconhecida. Mas como fazer que tal causa seja admitida por aqueles que estão sempre dispostos a enviar ao hospício quem quer que tenha a franqueza de crer que temos uma alma e que esta desempenha um papel nas funções vitais, sobrevive ao corpo e pode atuar sobre os vivos? Graças a Deus, e para o bem da Humanidade, as ideias espíritas fazem mais progresso entre os médicos do que se podia esperar e tudo faz prever que, num futuro não muito remoto, a Medicina saia finalmente da rotina materialista. Estando provados alguns casos isolados de obsessão física ou de subjugação, fácil é compreender que, semelhante a uma nuvem de gafanhotos, um bando de Espíritos perturbadores pode lançar-se sobre certo número de indivíduos, deles se apoderar e produzir uma espécie de epidemia moral. A ignorância, a vulnerabilidade das percepções, a ausência de cultura intelectual naturalmente lhes facultam maior influência. É por isso que eles prejudicam, de preferência, certas classes, embora as pessoas inteligentes e instruídas nem sempre estejam isentas. Estudai o Espiritismo e compreendereis a razão”.


Nilva Rodrigues Costa, do Bairro Mariana, a respeito do períspirito, perguntou sobre o que acontece com o períspirito no caso de morte violenta, ou seja, como o perispírito se desprende do corpo, se o corpo sofrer uma violência tão grande a ponto de ficar dilacerado ou irreconhecível.

Sabemos que, na morte natural, principalmente a que ocorre em decorrência de uma prolongada enfermidade, o desprendimento do períspirito vai ocorrendo de forma gradual e paulatina, à medida que o corpo vai perdendo a sua vitalidade e os órgãos, aos poucos, vão morrendo.

Desde O LIVRO DOS ESPÍRITOS, sabemos que, nesses casos, a saída do períspirito (e consequente do Espírito), não se dá de forma brusca. Kardec chega a usar uma figura para melhor entendermos o processo, quando ele afirma que a saída do Espírito do corpo não se compara à saída de um pássaro da gaiola, quando encontra a porta aberta. Não. O desprendimento do Espírito é gradual, pois as ligações do períspirito com o corpo se dão célula por célula.

Logo, a desencarnação natural é o que chamamos de ‘desenlace’: é como cada célula do corpo, à medida que vai morrendo, fosse se desatando do períspirito. Se temos trilhões de células no corpo físico, esse processo é mais ou menos demorado. Mas, aqui, estamos nos referindo apenas aos casos de mortes lentas, de processos mais ou menos longos de enfermidade que, aos poucos, vai enfraquecendo o organismo e possibilitando o afrouxamento natural desses liames.

Para as mortes súbitas e acidentes, a situação não é mesma, pois a morte se dá num momento em que o organismo goza de toda sua vitalidade. Isso acaba gerando um rompimento brusco, que pega o Espírito desprevenido. É por isso que, no caso de mortes lentas, é bem mais fácil o Espírito tomar consciência de sua desencarnação, logo depois da morte do corpo, enquanto que nas mortes subidas, quase sempre, eles passam para o mundo espiritual totalmente inconscientes e podem levar muito tempo para acordar.

Mesmo assim, há um fator de que não tratamos ainda: que é a condição espiritual do desencarnante. Falamos de sua condição moral. Quando mais esclarecido e mais elevado moralmente for o Espírito, menos dependerá do gênero de morte no seu desencarne. Desse modo, há Espíritos que podem ter uma desencarnação lenta e, no entanto, devido ao seu baixo nível de moralidade, sofrer ou demorar para desencarnar. Outros, porém, por serem moralmente mais elevados, devido à assistência espiritual que os envolve, podem partir – mesmo subitamente – de uma forma mais equilibrada e menos sofrida.

Nos casos de dilaceração do corpo, de explosão ou outra forma catastrófica ocasionando a morte, tudo vai depender da condição moral do Espírito. O certo é que, para esse gênero de morte, o períspirito é expulso incontinenti do corpo e sofre o choque dessa brusca separação. Mas, se for uma pessoa de bons princípios e de boa conduta moral – ou seja, se tiver protetores espirituais prontos a intervir em situações de emergência – ele, com certeza, será retirado imediatamente e levado a um atendimento hospitalar no plano espiritual, onde passará a receber atendimento.

Casos como esses vão exigir cuidados especiais para o Espírito desencarnante, mas, como já dissemos anteriormente, ele acaba ficando um bom tempo inconsciente, até reunir condições de tomar ciência do que lhes aconteceu e de que modo desencarnaram. Leia NOSSA VIDA NO ALÉM de Marlene Nobre.


sexta-feira, 29 de novembro de 2024

DUVIDA COMUM; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 O problema foi apresentado a Allan Kardec em carta reproduzida na REVISTA ESPÍRITA de agosto de 1863, por um espírita de Lucarno, pequena cidade turistica da Suíça, mas constitui-se na dúvida de muitos: -“Porque Deus permite que os bem intencionados sejam enganados pelos que os deveriam esclarecer? Com aquela ponderação característica o Mestre lionês responde: -“O mundo corpóreo, retornando ao mundo espírita pela morte, e o mundo espírita, fazendo o caminho inverso pela reencarnação, resulta que a população normal do espaço que circunda a Terra é composta de Espíritos provenientes da Humanidade terrestre. Sendo esta Humanidade uma das mais imperfeitas, não pode dar senão produtos imperfeitos, razão por que à sua volta pululam os Espíritos maus. Pela mesma razão, nos mundos mais adiantados, onde o bem reina sem limite, só há Espíritos bons. Admitindo isto, compreender-se-á que a intromissão, tão frequente, dos Espíritos maus nas relações mediúnicas é inerente à inferioridade do nosso globo; aqui se corre o risco de ser vítima dos Espíritos enganadores, como num país de ladrões o de ser roubado. Não se poderia perguntar, também, por que permite Deus que pessoas honestas sejam despojadas por larápios, vítimas da malevolência e alvo de toda sorte de misérias? Perguntai antes por que estais na Terra, e vos será respondido que é porque não merecestes um lugar melhor, salvo os Espíritos que aqui estão em missão. É preciso, pois, sofrer-lhe as consequências e envidar esforços para dela sair o mais cedo possível. Enquanto isto, é necessário esforçar-se por se preservar das investidas dos Espíritos maus, o que só se consegue lhes fechando todas as brechas que lhes poderiam dar acesso em nossa alma, a eles se impondo pela superioridade moral, a coragem, a perseverança e uma fé inabalável na proteção de Deus e dos Espíritos bons, no futuro que é tudo, ao passo que o presente nada é. Mas como ninguém é perfeito na Terra, ninguém se pode vangloriar, sem orgulho, de estar ao abrigo de suas malícias de maneira absoluta. Sem dúvida a pureza de intenções é importante; é a rota que conduz à perfeição, mas não é a perfeição e, ainda, pode haver, no fundo da alma, algum velho fermento. Eis por que não há um só médium que não tenha sido mais ou menos enganado. A simples razão nos diz que os Espíritos bons não podem fazer senão o bem, pois, do contrário, não seriam bons, e que o mal só pode vir dos Espíritos imperfeitos. Portanto, as mistificações só podem provir de Espíritos levianos ou mentirosos, que abusam da credulidade e, muitas vezes, exploram o orgulho, a vaidade ou outras paixões. Tais mistificações têm o objetivo de pôr à prova a perseverança, a firmeza na fé e exercitar o julgamento. Se os Espíritos bons as permitem em certas ocasiões, não é por impotência de sua parte, mas para nos deixar o mérito da luta. A experiência que se adquire à sua custa sendo mais proveitosa, se a coragem diminuir, é uma prova de fraqueza que nos deixa à mercê dos Espíritos maus. Os Espíritos bons velam por nós, assistem-nos e nos ajudam, mas sob a condição de nos ajudarmos a nós mesmos. O homem está na Terra para a luta; precisa vencer para dela sair, senão fica nela”.



É do Odair Paisano Lima, a seguinte colocação: “Vocês falaram neste programa que Jesus disse “Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito”. Isso quer dizer que, se podemos chegar à perfeição de Deus, então seremos todos iguais a Deus, e logo não haverá mais um único Deus, mas muitos deuses. Eu pergunto: É possível isso? Todos vamos ser como Deus?”

Odair, não devemos interpretar o texto ao pé da letra, ou seja, de forma direta como está escrito. Há várias razões para pensar assim. Aqui, vamos abordar apenas uma. Os textos evangélicos, que chegaram até nós, são o resultado de muitas traduções, interpolações e supressões que vieram caminhando de mão em mão ao longo dos séculos. É preciso ver no idioma original de Jesus (Jesus falava o aramaico e os evangelhos foram escritos em grego), o que realmente ele quis dizer com isso, pois cada idioma, cada povo, em cada época, dá à cada palavra ou expressão conotações muito próprias daquele momento e que, muitas vezes, os tradutores não conseguem captar.

Mesmo assim, ao lermos essa frase, “sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito”, precisamos buscar o fundo da idéia e não ficar apenas na superfície. Na verdade, Jesus não está dizendo que seremos tanto quanto Deus em matéria de perfeição, mas que precisamos nos aperfeiçoar tendo Deus em vista – quer dizer, tomando Deus por meta de aperfeiçoamento. Isso porque a perfeição de Deus é única, absoluta, não pode haver outra. Se houvesse outra, Deus não seria Deus, pois não estaria mais no comando absoluto de tudo que existe.

Você percebe que é uma questão filosófica. Hegel, filósofo alemão, que viveu entre os séculos 18 e 19, referindo-se a Deus, afirmou que “ser perfeito é aquele que possui todas as perfeições”; e uma das perfeições é o fato de ser único, de não ter concorrente ou nada que se lhe compare. Isso, no entanto, como criaturas de Deus, não nos tira a possibilidade de sermos perfeitos, mas não de sermos perfeitos como Deus. Enquanto a perfeição de Deus é absoluta ( no sentido e que não existe outra), a nossa perfeição, a perfeição do Espírito, é relativa, até porque, se alcançássemos a perfeição de Deus, nós nos fundiríamos com Ele e cada um de nós não seria mais um indivíduo; ou seja, perderia a sua individualidade.

Isso quer dizer que – eu, você – cada um de nós vai atingir a sua própria perfeição; isto é, a minha perfeição não será a sua perfeição, nem a sua perfeição será a perfeição de outro Espírito qualquer. Cada um terá a sua, porque continuará a ser uma individualidade. Logo, a perfeição do Espirito é exclusiva, mas não é absoluta – ou seja, não pode ser única no sentido de que não existam outras perfeições. O que Jesus disse foi no sentido que, sendo Deus perfeito, ele quer que todos seus filhos também se aperfeiçoem e sejam tão perfeitos quanto suas potencialidades naturais permitam. Essa perfeição seria a felicidade de cada um.


quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O ESPÍRITO NA EXPERIÊNCIA HUMANA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 

A surpreendente resposta à questão 607ª d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS indica que a Individualidade em que nos tornamos é uma versão avançada do chamado Princípio Inteligente do Universo. E o também surpreendente Allan Kardec nas páginas de suas OBRAS BÁSICAS, particularmente da REVISTA ESPÍRITA preservou material instigante para nossas reflexões. Na sequência alguns pontos para pensarmos. Como teria se operado o início da fase Humanidade? Ignoramos absolutamente em que condições se dão as primeiras encarnações do Espírito; é um desses princípios das coisas que estão nos segredos de Deus. Apenas sabemos que são criados simples e ignorantes, tendo todos, assim, o mesmo ponto de partida, o que é conforme à justiça; o que sabemos ainda é que o livre-arbítrio só se desenvolve pouco a pouco e após numerosas evoluções na vida corpórea. Não é, pois, nem após a primeira, nem depois da segunda encarnação que o Espírito tem consciência bastante clara de si mesmo, para ser responsável por seus atos; não é senão após a centésima, talvez após a milésima. Dá-se o mesmo com a criança, que não goza da plenitude de suas faculdades, nem um, nem dois dias após o nascimento, mas depois de anos. (RE, 1864) O armazenamento do registro de percepções, sensações e experiências se dá naturalmente através da memória cujos rudimentos podem ser observados no Reino Mineral. Como o Espiritismo a explica? A memória pode ser comparada a placa sensível que, ao influxo da luz, guarda para sempre as imagens recolhidas pelo Espírito, no curso de seus inumeráveis aprendizados, dentro da vida. Cada existência de nossa alma, em determinada expressão da forma, é uma adição de experiência, conservada em prodigioso arquivo de imagens que, em se superpondo umas às outras, jamais se confundem. (ETC, 12) Que é a memória, senão uma espécie de álbum mais ou menos volumoso, que se folheia para encontrar de novo as ideias apagadas e reconstituir os acontecimentos que se foram? Esse álbum tem marcas nos pontos capitais. De alguns fatos o indivíduo imediatamente se recorda; para recordar-se de outros, é-lhe necessário folhear por longo tempo o álbum.(OP) A memória é como um livro! Aquele em que lemos algumas passagens facilmente no-las apresenta aos olhos; as folhas virgens ou raramente perlustradas têm que ser folheadas uma a uma, para que consigamos reconstituir um fato sobre o qual pouco tenhamos demorado a atenção. Quando o Espírito encarnado se lembra, sua memória lhe apresenta, de certo modo, a fotografia do fato que ele procura. A memória é um disco vivo e milagroso. Fotografa as imagens de nossas ações e recolhe o som de quanto falamos e ouvimos. Por intermédio dela, somos condenados ou absolvidos, dentro de nós mesmos. (LI, 11) O aprofundamento das pesquisas levadas a efeito por diferentes ramos da ciência permitiu concluir-se que o recurso chamado mente acompanha a evolução da nossa espécie. O Biólogo Bruce Lipton no livro BIOLOGIA DA CRENÇA (butterfly, 2006) explica essa evolução. O que diz? A evolução dos mamíferos mais desenvolvidos, incluindo os chimpanzés, os cetáceos e os humanos, criou um novo nível de consciência chamado "autoconsciência" ou mente consciente. Foi um passo muito importante em termos de desenvolvimento. A mente anterior, predominantemente subconsciente, é nosso "piloto automático"; já a mente consciente é nosso controle manual. Por exemplo: se uma bola é jogada em direção ao seu rosto, a mente consciente, mais lenta, pode não reagir em tempo de evitar a ameaça. Mas a mente inconsciente, capaz de processar cerca de 20 milhões de estímulos ambientais por segundo versus 40 estímulos interpretados pela mente consciente no mesmo segundo, nos fará piscar e nos desviar. A mente subconsciente, um dos processadores de informações mais poderosos de que se tem notícia até hoje, observa o mundo ao nosso redor e a consciência interna do corpo, interpreta os estímulos do ambiente e entra imediatamente em um processo de comportamento previamente adquirido (aprendido). Tudo isso sem ajuda ou supervisão da mente consciente. O subconsciente é um grande centro de dados e programas desprovido de emoção, cuja função é simplesmente ler os sinais do ambiente e seguir uma programação estabelecida sem nenhum tipo de questionamento ou julgamento prévio.


Solange Caffer, da rua 7 de Setembro, Bairro Labienópolis, levantou a seguinte questão no domingo passado. No caso de um condenado a pena de morte ser executado, como que ficam, em termos de culpa, aquelas pessoas que foram encarregadas de fazer a execução? Elas deverão responder por isso?

N’O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Solange - o primeiro livro espírita, lançado há 157 anos - Allan Kardec ao tratar de homicídio e de guerra, no capítulo 4 da parte 3, levanta a questão 749 que diz: “O homem é culpável pelas mortes que comete durante a guerra?” Resposta dos Espíritos: “Não, quando ele é constrangido pela força. Mas ele é culpável pelas crueldades que comete e será levada em conta seu espírito de humanidade”.

Não se trata aqui do caso específico da pena de morte ( é claro!...), mas, sim, do caso da atuação do soldado na guerra, cuja função é matar o inimigo. Ora, a questão da pena de morte tem certa analogia com a guerra. Daí podemos afirmar que seria impossível, em situações como essa, apontar um único culpado pela execução de alguém, pois a instituição da pena de morte num país depende de um conjunto de fatores e. em última análise, da própria sociedade e de decisões tomadas pelas instituições dessa sociedade.

As leis, em geral, dependem da sociedade ou de todos que compõem a sociedade: elas retratam o caminho que a sociedade vem trilhando ao longo do tempo, seus erros e seus acertos. É claro que, à frente de uma decisão, como o da condenação de um homem à morte, estão muitas pessoas: sociólogos, juristas, políticos, magistrados, advogados e, por último, aqueles que, na ponta da escala, estão encarregados de executar o condenado, tirando-lhe a vida por ordem do Estado.

Trata-se, portanto, de um grupo muito grande de pessoas e instituições, onde cada um pode ter sua parcela de participação na consumação da pena. Os carrascos – quer dizer, aqueles que, no final da escala – ficarão com a incumbência de matar, não poderão ser mais culpadas do que aqueles outros que concorreram para que a pena de morte existisse. Por isso é que dizemos que, num caso específico de execução de pena de morte, em última instância, a culpada é toda a sociedade.

Aliás, Solange, a Doutrina Espírita, na sua ampla visão de Justiça, considera que existem tanto a culpa individual como a culpa coletiva. Leia no livro, OBRAS PÓSTUMAS, de Allan Kardec, o capítulo intitulado “Questões e Problemas”. Quando o individuo infringe uma lei moral ou lei de Deus, prejudicando alguém, é esse indivíduo que vai responder pelo ato que praticou, mais cedo ou mais tarde. Mas, quando o erro veio da sociedade – ou, mais especificamente, de suas leis, de seus usos e costumes – é a coletividade como um todo que vai responder. Daí porque existem sofrimentos individuais e sofrimentos coletivos.

N’O LIVRO DOS ESPÍRITOS, principalmente no capítulo “Lei de Sociedade”, encontramos esse princípio de que o problema social não está necessariamente neste ou naquele individuo, mas em todos. Quando os Espíritos afirmam que “numa sociedade verdadeiramente cristã ninguém deve morrer de fome”, eles não estão ponto culpa somente naquela última pessoa que negou ao faminto um prato de comida, mas a toda a sociedade que permitiu que um de seus filhos chegasse a essa triste condição.

Igualmente, a pena de morte, Solange. Seria injusto imputar somente ao juiz de execução ou somente ao carrasco toda a culpa pela vida que está tirando, pretendendo com isso defender a sociedade, muitas vezes, de um criminoso contumaz. Na verdade, há toda uma conjuntura social, econômica e política atrás dessa execução – resultado dos desacertos da sociedade – que acabou por favorecer essa situação. Se você viu o filme “À Espera de um Milagre” (se não viu, veja!...), poderá perceber o drama dos policiais encarregados da execução dos condenados.


quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O LENTO, CÍCLICO E ADMINISTRADO PROCESSO DE EVOLUÇÃO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Quando o Orientador Espiritual Emmanuel respondeu ao médium Chico Xavier que “do último quartel do século 19 para cá (1965), de 15 a 20 milhões de Espíritos da cultura francesa, principalmente simpatizantes da obra de Allan Kardec, se reencarnaram no Brasil, para dar corpo às ideias da Doutrina Espírita e fixarem os valores da reencarnação”, estava sugerindo que para que o segundo propósito dessa transferência em massa fosse alcançado contava com ideias incorporadas às estruturas mentais desses Espíritos, que, como se sabe, são remanescentes daqueles que animaram a grande comunidade Celta ou Gaulesa que deu origem, segundo historiadores, à França, Bélgica e Itália. No número de abril de 1858, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec desenvolve interessantes argumentos sobre as conexões entre Espiritismo e o Druidismo praticado por aquele povo, reproduzindo interessante texto de autoria desconhecida que confirma sua suposição. Afirma Kardecsaber-se, com efeito que a Gália é, ainda em nossos dias, o mais fiel asilo da nacionalidade gaulesa que, entre nós, sofreu profundas modificações. Apenas roçada pela dominação romana, que nela se deteve pouco tempo e fracamente; preservada da invasão dos bárbaros pela energia de seus habitantes e pelas dificuldades de seu território; submetida, mas tarde, à dinastia normanda, a qual, entretanto, se viu obrigada a lhe deixar um certo grau de independência, o nome de Galles – Gallia, que sempre conservou, é um traço distintivo, pelo qual se liga, sem descontinuidade, no período antigo. A língua kymrica, fala outrora em toda parte setentrional da Gália, jamais deixou de ser usada; muitos costumes são igualmente gauleses. De todas as influências estranhas, a única que logrou um triunfo completo foi o Cristianismo. Mas não o conseguiu sem grandes dificuldades, relativamente à supremacia da Igreja Romana, cuja reforma, no século XVI não fez mais que determinar a sua queda, há muito preparada, nessas regiões cheias de um sentimento de indefectível independência. Pode-se mesmo dizer que, convertendo-se ao Cristianismo, os druidas não se extinguiram totalmente na Gália, como na nossa Bretanha e em outras regiões de sangue gaulês”. Argumentando que “os temas desenvolvidos nas tríades, estão mesmo tão completamente fora do Cristianismo que as raras influências cristãs que aqui e ali se infiltraram no seu conjunto, logo à primeira vista se distinguem do fundo primitivo. Os Druidas tinham uma predileção particular pelo número três e o empregavam especialmente, como mostram a maioria dos monumentos gauleses, para a transmissão de suas lições que, mediante esse corte preciso, mais facilmente era gravada na memória. (...). Desta série de tríades, as onze primeiras são consagradas à exposição dos atributos característicos da Divindade. É obvio que nesta seção as influências cristãs, como era fácil de prever, tivessem ação maior. Se não se pode negar que o Druidismo tenha conhecido o princípio da unidade de Deus, talvez por sua mesma predileção pelo número ternário se tenha elevado a conceber, de certo modo confuso, algo como a divina Trindade. É contudo incontestável que o que completa esta alta concepção teológica – a saber, a distinção das pessoas e, particularmente, da terceira, - ficou completamente estranho a essa antiga religião. Tudo conduz à prova de que seus antigos sectários se preocupavam muito mais em fundar a liberdade do homem do que a caridade. E foi mesmo consequência dessa falsa posição do ponto de partida que ela pereceu. Também parece razoável referir a uma influência cristã, mais ou menos determinada, todo esse exórdio, principalmente a partir da quinta tríade. Em seguida aos princípios gerais relativos à natureza de Deus, passa o texto a expor a constituição do Universo. O conjunto dessa constituição é formulado superiormente em três tríades que, mostrando ser particular numa ordem absolutamente diferente daquela de Deus, completam a ideia que deve ser feita do Ser único e imutável. Sob fórmulas mais explícitas estas tríades mais não fazem, entretanto, que reproduzir aquilo que já era sabido, pelo testemunho dos Antigos, sobre a doutrina da circulação das almas passando alternadamente, da vida à morte e da morte à vida”.


Já ouvi dizer – escreve-nos o Adeilson - que é possível dar passes em roupas ou em outros objetos pessoais, sem que a pessoa, que esteja precisando, esteja presente. Gostaria de saber se essa prática de dar passes em roupas e outros objetos realmente funciona - por exemplo, para pessoas que não possam ou que não queiram ir ao Centro Espírita.

Existe quem defenda a tese de que o passe pode impregnar fluidicamente roupas e objetos que, sendo esses objetos de uso pessoal, automaticamente favoreceriam as pessoas que os utilizam. Contudo, a esse respeito, não encontramos nenhuma referência nas obras de Kardec ou nas obras recebidas por Chico Xavier, embora saibamos que a vontade dirigida pode afetar, de certo modo, até mesmo objetos, por se tratar da manifestação natural de fenômeno magnético.

Por outro lado, sabemos que o passe (ou imposição das mãos, segundo Kardec) é uma transfusão de recursos fluídicos – que procedem tanto do passista, como de Espíritos benfeitores e do ambiente natural – com o objetivo de favorecer quem o recebe. Mas sabemos, também, que uma condição para que realmente haja essa “passagem, transferência ou transfusão” de recursos depende, quase sempre, mais daquele que recebe do que propriamente daquele que aplica o passe.

André Luiz deixa isso bem claro no livro, NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE, como funciona esse mecanismo. Ele diz que, se o paciente não quiser receber o passe ou não acreditar nele – ou, ainda, se não se fizer merecedor dos benefícios que o passe proporciona – esse paciente não receberá o passe, mesmo estando fisicamentediante do passista. É que a passagem de recursos biopsiquicomagnéticos de uma para outra pessoa não é apenas um fenômeno físico, mas envolve, como dissemos, os fatores fé e vontade que são de ordem mental ou, se quiser, espiritual.

Além do mais, devemos considerar pelo menos alguns pontos. Primeiro: o passista até pode conseguir impregnar uma peça de roupa com recursos magnéticos, mas essa impregnação é de muito pouca duração, talvez de alguns minutos ou segundos. Segundo: sem o preparo espiritual do paciente, esses recursos não permanecem, pois tendem a se dissipar em seguida. Terceiro: a presença do paciente é necessária, não só para receber o passe em si, mas principalmente para receber a mensagem do evangelho que visa à sua saúde espiritual. Quarto: o passe em objetos, muito utilizado nas práticas populares de benzimento, não é adotado pela Doutrina Espírita.


terça-feira, 26 de novembro de 2024

O MAL INVISÍVEL; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 

Obsessão é uma das mais importantes revelações do Espiritismo. Atinge níveis maiores do que se supõem. Na sequência Allan Kardec esclarece algumas das dúvidas mais comuns. Qual a diferença entre loucura patológica e loucura obsessional? A primeira é produzida por uma desordem nos órgãos da manifestação do pensamento. Notemos que, nesse estado de coisas, não é o Espírito que é louco: ele conserva a plenitude de suas faculdades, como o demonstra a observação; apenas estando desorganizado o instrumento de que se serve para se manifestar, o pensamento ou, melhor dito, a expressão do pensamento é incoerente. Na loucura obsessional não há lesão orgânica. É o próprio Espírito que se acha afetado pela subjugação de um Espírito estranho que o domina e comanda. No primeiro caso é preciso curar o órgão doente; no segundo basta livrar o Espírito doente do hóspede inoportuno, a fim de lhe restituir a liberdade. Casos semelhantes são muito frequentes e comumente tomam como loucura o que não se passa de obsessão, para a qual deveriam empregar-se meios morais e não duchas. Pelo tratamento físico, e, sobretudo, pelo contato dos verdadeiros alienados, muitas vezes tem sido determinada uma verdadeira loucura onde esta não existia. (RE;5/1862) Existe uma forma mais eficaz para afastar o Espírito causador do processo obsessivo? Só uma força moral pode opor-se a outra força moral e, esta não pode vir senão do acometido pelo processo obsessivo. É preciso esforçar-se por adquirir a maior soma possível de superioridade pela vontade, pela energia e pelas qualidades morais. Não será com a espada de coronel que vencereis, mas com a espada do Anjo, isto é, a virtude e a prece. A espécie de terror e angústia que experimentais nesses momentos é um sinal de fraqueza que o Espírito aproveita. Dominai o medo e com a vontade triunfareis. Tomai a iniciativa resolutamente, como fazeis ante qualquer inimigo. (RE; 12/1862) Um Espírito bom pode obsediar alguém? A obsessão não pode jamais ser o efeito causado por um bom Espírito. A questão essencial é saber reconhecer a natureza daqueles que se apresentam. O conhecimento prévio dos meios de distinção dos bons Espíritos e dos maus é, portanto, indispensável. É importante para o simples observador que pode, por esse meio, apreciar o valor do que vê, lê ou escuta. (OQE; 77) A morte livra a pessoa da obsessão ? A morte não liberta o homem da obsessão dos maus Espíritos: é a figura dos demônios, atormentando as almas sofredoras. Sim, esses Espíritos os perseguem após a morte e lhes causam sofrimentos horríveis, porque o Espírito atormentado se sente num abraço de que não se pode libertar. Ao contrário, o que se libertou da obsessão em vida é forte, e os maus Espíritos o encaram com medo e respeito: encontraram o seu superior. (RE;6/1860) Procede a ideia de que todas as perturbações são oriundas da influência espiritual? A gente, muitas vezes, responsabiliza os Espíritos estranhos por maldades de que não são responsáveis. Certos estados mórbidos e certas aberrações, que são atribuídas a uma causa oculta, são, por vezes, devidas exclusivamente ao Espírito do indivíduo. As contrariedades, frequentemente, concentradas em si próprio, os sofrimentos amorosos, principalmente, tem levado ao cometimento de muitos atos excêntricos, que erradamente são levados à conta de obsessão. Muitas vezes a criatura é seu próprio obsessor. (RE;12/1862) Obsessão depende de mediunidade? A obsessão de qualquer natureza que seja, independe da mediunidade e é encontrada em todos os graus, numa multidão de indivíduos, os quais jamais ouviram falar de Espiritismo. Como os Espíritos sempre existiram, sempre exerceram a mesma influência; a mediunidade não é uma causa, é apenas uma forma de manifestação dessa influência.(...). Aqueles que nada admitem fora da Natureza não podem admitir causas ocultas. Mas quando a Ciência tiver saído da rotina materialista reconhecerá na ação do Mundo Invisível que nos rodeia, e no meio do qual vivemos, uma potência que tanto age sobre as coisas físicas quanto sobre as condições morais. E este será um novo caminho aberto ao progresso. A chave de uma quantidade de fenômenos mal compreendidos. (OQE; 76)



Um ouvinte, que não quer revelar o nome, passou-nos a seguinte situação. Conheço uma pessoa que não para em nenhuma religião. Ela vive pulando de uma igreja para outra e acaba criticando todas elas. Será que isso é um sintoma de distúrbio mental ou esse é um jeito próprio de viver?

Bem, é muito difícil fazer uma avaliação desse tipo de comportamento, sem conhecer a vida dessa pessoa. Mas, ao que tudo indica, pelos poucos dados que você nos passou, podemos dizer que é um comportamento que foge à regra e que pode advir de um desajuste ou transtorno emocional. Pode ser também fruto de um sentimento de egoísmo muito intenso.

É claro que todo mundo é livre para buscar a religião que quiser, para mudar de religião quando isso lhe aprouver. Mas sair falando mal das igrejas que frequenta não é um comportamento nem moral e nem socialmente aceitável. Se eu não me agrado de uma determinada religião, o máximo que tenho a fazer é me afastar dela e procurar outra. Se vi alguma coisa errada e eu mesmo não puder ajudar com minhas opiniões ou sugestões, não me compete espalhar críticas, apenas pelo prazer de criticar.

No entanto, há pessoas que, na vida, estão sempre procurando milagres. Elas não estão interessadas em cultivar um ideal superior, em vivenciar Deus no coração e tampouco em se tornarem melhores. Elas querem é resolver seus problemas de maneira fácil e imediata. Como o papel da religião é de ajudar e não de resolver problemas, elas saem frustradas. Quereriam que Deus, através daquela religião, fizesse tudo por ela. Mas elas mesmas não se ajudam. Por isso, desapontadas - e, sobretudo, revoltadas – disparam críticas ofensivas.

A Doutrina Espírita nos esclarece que os caminhos, oferecidos pelas religiões, são muitos. Mas, seja ele qual for, não é o caminho em si o mais importante, mas, sim, a forma como cada um vai andar por esse caminho. Uma pessoa cheia de revolta tanto pode estar numa religião como em outra, nenhuma delas vai servir aos seus interesses, porque não é isso que ela quer. Para que possa mudar, ela precisa amadurecer o espírito e, para isso, o melhor remédio é o sofrimento.

Dores e decepções decorrentes do egoísmo, do orgulho, e da teimosia em não reconhecer as próprias necessidades morais, infelizmente, são o único remédio para os Espíritos obstinados. Nós, seres humanos, não estamos neste mundo senão para viver e aprender a viver cada vez com mais equilíbrio e competência. Felicidade é vencer obstáculos, principalmente aqueles que construímos dentro de nós mesmos, como é o caso do egoísmo e do orgulho.

Lembramos da antiga fábula, “A raposa e as uvas”. Conta Esopo que a raposa viu lindos cachos de uva, que pendiam de uma parreira. Salivando de vontade, como a parreira era alta, ela tentou alcançá-los mas não conseguiu. Decepcionada, a única reação que teve foi comentar: “Essas uvas estão verdes”. Em Psicologia, trata-se de um mecanismo conhecido por “racionalização”. Infelizmente, há uma tendência humana em querer justificar o próprio fracasso, apelando para a crítica...

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

COMUNICAÇÃO MEDIÚNICA ENTRE VIVOS; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Discorrendo sobre os caracteres da revelação espírita, Allan Kardec considera que “como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, isto é, aplica o método experimental, acrescentando que “é rigorosamente exato, portanto, dizer que o Espiritismo é uma ciência da observação e não o produto da imaginação”. Sua atuação à frente da Sociedade Espírita de Paris documenta o quanto ele ousou, através de diferentes médiuns, aprofundar os temas relacionados com informações obtidas com os Espíritos por ele evocados ou que se manifestavam em várias partes do Planeta abrindo caminho para o conhecimento da realidade do Mundo Espiritual. Um dos assuntos que o senso perquiridor de Kardec submeteu a testes, foi a possibilidade de comunicações mediúnicas de pessoas encarnadas ou, como se costuma dizer, vivas. Longa e minuciosa pesquisa foi por ele conduzida, evocando Espíritos encarnados, às vezes, a grandes distâncias, sob controle de entidades espirituais que dirigiam os trabalhos mediúnicos da Sociedade. .As comunicações obtidas foram publicadas na íntegra, pois sempre eram psicografadas. Constituem-se nas primeiras pesquisas e demonstrações da independência do Espírito em relação ao corpo. Sócios efetivos ou correspondentes da Sociedade se inscreviam para essas experiências nesse sentido. Um desses documentos pode ser encontrado na REVISTA ESPÍRITA, janeiro de 1860. Compreende oitenta perguntas formuladas a um Conde, oficial da Marinha Imperial, retido em sua casa por enfermidade, e, que se oferecia para estudo, propondo-se a deitar-se por volta das nove horas do dia 25 de novembro, calculando que por volta das nove e meia poderia ser chamado. Assim foi feito, na data combinada, em que respondeu à metade das perguntas a ele dirigidas, retornando na semana seguinte, no dia 2 de dezembro, complementando a interessante entrevista. Na primeira série de perguntas, revelou detalhes importantes como “ter a condição de deslocar-se instantaneamente, e, à vontade, do local em que se comunicava até sua casa e vice-versa; ter consciência do trajeto; observar os objetos existentes no caminho; estar num estado diferente ao de um sonâmbulo pelo fato de seu corpo estar dormindo; citou um remédio do qual nunca ouvira falar para tratar o mal que o acometia – a gota – o cólquico; ser capaz de auxiliar um amigo que soubesse em perigo através da inspiração; sentir-se num estado de grande felicidade como num sonho bom; sentir-se ligado ao corpo físico por um laço luminoso como uma luz fosforescente difícil de descrever; atuar sobre a mão do médium para dar-lhe uma direção que facilitava por uma ação sobre o cérebro; não experimentar fadiga física durante o fenômeno de que era o centro; ser capaz de responder uma pergunta mental”. No dia seguinte, contou que tinha sonhado que se achava na Sociedade, entre o médium e Kardec, o que foi considerado por este uma lembrança da evocação, que também diz que “sendo o sonho uma lembrança da atividade do Espírito, não é, evidentemente, o corpo que sonha”. Na segunda evocação, respondendo às questões formuladas por Kardec, expõem impressões elucidativas como “registrar de forma muito intensa percepções como a luz, sons e odores, não através dos órgãos dos sentidos como no corpo físico; ver os Espíritos desencarnados presentes à reunião que se processava; vê-los por sua própria forma perispiritual; apresentando-se também através deste corpo que imita a forma do corpo material, embora tendo consciência de ali estar no corpo fluídico luminoso; de ser capaz de dar um soco em qualquer um dos presentes, e, embora não fosse sentido pelo agredido, poderia sê-lo se o quisesse, esclarecendo ainda que o nome do remédio – cólquico –, sabia por tê-lo usado em encarnação anterior, em que, por sinal, lhe fizera muito mal”. Além das incursões feitas por Allan Kardec nessa área, Ernesto Bozzano, anos depois compilou vários relatos na obra COMUNICAÇÕES MEDIÚNICAS ENTRE VIVOS (edicel, 1968), publicado em tradução de Francisco Klör Werneck


Pergunta de uma ouvinte da cidade de Gália: “Quando uma parturiente desencarna junto com a criança, qual o procedimento no plano espiritual?”

O Espírito Manoel Philomeno de Miranda, no livro Painéis da obsessão, psicografado por Divaldo Franco, assim descreve a ação de médicos espirituais no caso de Dona Amenaide. Em adiantado estado de gravidez, mãe e filho desencarnaram num acidente automobilístico, e Amenaide passou para o mundo espiritual com todas as sensações de parto.

"Chegamos ao Núcleo de socorros conduzindo nossos irmãos, D. Amenaide e o filhinho a ela profundamente vinculado pela gestação, qual se a desencarnação de ambos não houvesse sucedido. O Benfeitor Hêber recebeu-nos em um amplo edifício e conduziu-nos, imediatamente, a um Centro Cirúrgico, em tudo semelhante aos existentes na Terra.

Levada a uma mesa especial, a gestante adormecida, com sinais de reflexos de dor, recebeu passes calmantes e então aquietou-se. Surpreso, vi adentrar-se na sala alguns trabalhadores vinculados à Medicina, que procederam a uma cirurgia cesariana, nos mesmos moldes conforme sucede em qualquer hospital do mundo. Após o ato, observei que o ser pequenino repousava ao lado da mãezinha que fora transferida para uma enfermaria especial, adredemente preparada para recebê-los

Depois de ligeiro choro – continua Miranda - o filhinho adormeceu, ficando ambos entregues a nobre senhora, toda sorrisos, que doravante se encarregaria de auxiliá-los e assisti-los. (...) Em muitos casos de gestantes acidentadas, em avançados meses de gravidez – explica o autor espiritual – em que também ocorre a desencarnação do feto, é de hábito nosso, quando as circunstâncias assim nos permitem, proceder como se não houvesse sucedido nenhuma interrupção da vida física.

Em primeiro lugar, porque o Espírito, em tais ocorrências, quase sempre já se encontra absorvido pelo corpo que foi interpenetrado e modelado pelo perispírito, no processo da reencarnação, merecendo ser deslindado por cirurgia mui especial para poupar-lhe choques profundos e aflições várias, o que não se daria se permanecesse atado aos despojos materiais, aguardando a consumpção deles."

Evidentemente, caros ouvintes, há muita coisa no mundo espiritual que ainda desconhecemos, até porque, como afirmava o professor Herculano Pires, o Espiritismo é apenas o ABC de espiritualidade. Situações como essa, descrita por Manoel Philomeno de Miranda – e também há citada nas obras de André Luiz – vêm demonstrar que o mundo espiritual não é um mundo mágico. Tanto quanto aqui, em nosso mundo físico, todos os fenômenos que lá acontecem estão submetidos às leis da natureza.

Desse modo, a desencarnação é apenas um fenômeno de desprendimento do Espirito, que assinala e confirma a continuidade da vida num outro plano. Lá, como aqui, temos um corpo; aqui, o corpo físico; lá, o períspirito. O Espirito reencarnante, ainda no processo de gestação, está no meio de um processo de transformação. Se ele não chegou a renascer na carne, em razão do acidente que lhe tirou a vida, com certeza o processo de reencarnação permanece apenas em nível de períspirito e pode ser consumado para ajudá-lo a concluir a ação iniciada desde sua concepção no ventre materno.

É claro que, cada caso tem suas próprias peculiaridades. Neste, aqui relatado, o Espírito tinha necessidade desse tipo de experiência, uma vez que para ele é sumamente importante concluir o processo de reencarnação, passando pelas diversas etapas de desenvolvimento fetal. Neste particular, é bom saber que esses nove meses, que o Espírito permanece modelando seu corpo no útero materno, constitui uma fase de aprendizado e experiência e, portanto, é de grande importância para sua evolução.

Se ele renascesse na Terra, continuaria evoluindo no corpo físico, através das experiências próprias da vida terrena. Mas, como renasceu no mundo espiritual, a evolução se dará em nível de períspirito, quando volta à condição de desencarnado para, no futuro, conforme suas próprias necessidades, buscar nova experiência em que possa, de fato, reencarnar. 

Ouvint

domingo, 24 de novembro de 2024

O ESPIRITISMO E O SONHO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 

A Ciência afirma que todos os mamíferos sonham. Desde Freud as mais diferentes teses são apresentadas para justificar e explicar essa experiência tão importante na vida das criaturas humanas. Na sequência reunimos alguns dos elementos oferecidos pelo Espiritismo para entendimento da questão.Das conclusões do Psiquiatra Freud (1900), expostas no livro A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS - às observações dos Neurocientistas sobre o sono chamado REM – Movimento Rápido dos Olhos (1953), muitas descobertas no campo da Fisiologia e da Mente foram consumadas. Respectivamente cinquenta e cem anos antes, o pesquisador Allan Kardec incluiu n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, originais e substanciais revelações sobre o tema sono. O que dizem elas? O sono natural é a suspensão momentânea da vida de relação. Entorpecimento dos sentidos durante o qual se interrompem as relações da alma com o mundo exterior por meio dos órgãos. (IPME) O sono liberta parcialmente a alma do corpo. Quando o homem dorme, momentaneamente se encontra no estado em que estará de maneira permanente após a morte. Por efeito do sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o Mundo dos Espíritos. Nisso que chamais sono só tens o repouso do corpo, porque o Espírito está em movimento. No sono, ele recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros, seja neste ou em outros mundos. Mas como o corpo é de matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões recebidas pelo Espírito, mesmo porque o Espírito não as percebeu pelos órgãos do corpo. (LE) No sono é só o corpo que repousa, o Espírito não dorme. As observações práticas provam que, nessas condições, o Espírito goza de toda a liberdade e da plenitude das suas faculdades; aproveita-se do repouso do corpo, dos momentos em que este lhe dispensa a presença, para agir separadamente e ir aonde quer. Durante a vida, qualquer que seja a distância a que se transporte, o Espírito fica sempre preso ao corpo por um cordão fluídico, que serve para atraí-lo, quando a sua presença se torna necessária. Só a morte rompe esse laço. (OQE,136) Os sonhos não são então mero efeito dos conflitos do inconsciente e consciente? Entre os sonhos uns há que têm um caráter de tal modo positivo que, racionalmente, não poderiam ser atribuídos apenas a um jogo da imaginação; tais são aqueles nos quais se adquire, ao despertar, a prova da realidade do que se viu, e em que absolutamente não se pensava. Os mais difíceis de explicar são os que nos apresentam imagens incoerentes, fantásticas, sem realidade aparente. As pessoas que se veem em sonho, são sempre aquelas das quais tem o aspecto? São, quase sempre, essas mesmas pessoas que vosso Espírito vai encontrar ou que veem vos encontrar. (LM, 4/100) Se sonhamos mais frequentemente com as que constituem nossas preocupações é que o pensamento é um veiculo de evocação e por ele chamamos a nos o Espírito dessa pessoas, quer estejam elas encarnadas ou não. (IPSME) As experiências vividas nos sonhos então não devem ser levadas a sério? Necessariamente incompleta e imperfeita é a visão espiritual nos Espíritos encarnados e, por conseguinte, sujeita a aberrações. Tendo por sede a própria alma, o estado desta há de influir nas percepções que aquela vista faculte. Segundo o grau de desenvolvimento, as circunstâncias e o estado moral do indivíduo, pode ela dar, quer durante o sono, quer no estado de vigília: 1º - a percepção de certos fatos materiais e reais, como o conhecimento de alguns que ocorram a grande distância, os detalhes descritivos de uma localidade, as causas de uma enfermidade e os remédios convenientes; 2º - a percepção de coisas igualmente reais do mundo espiritual, como a presença dos Espíritos; 3º - imagens fantásticas criadas pela imaginação, análogas às criações fluídicas do pensamento. Estas criações se acham sempre em relação com as disposições morais do Espírito que as gera. É assim que o pensamento de pessoas fortemente imbuídas de certas crenças religiosas e com elas preocupadas lhes apresenta o inferno, suas fornalhas, suas torturas e seus demônios, tais quais essas pessoas os imaginam. Às vezes, é toda uma epopeia. (G, 14:27/28)




Pergunta formulada pelo ouvinte Eduardo Rodrigues por telefone, no domingo passado. “Como orientar uma pessoa que ainda traz muitas dúvidas quanto à fé, à religião e a Deus?”

Em primeiro lugar, Eduardo, nós precisamos saber se essa pessoa, que carrega dúvidas sobre Deus e a religião, realmente tem interesse em ouvir sobre esse assunto. Allan Kardec, no segundo capítulo d’O LIVRO DOS MÉDIUNS, intitulado “O Método”, aborda a questão. Na verdade, nesse capítulo, Kardec orienta os espíritas como podem tratar o tema “Espiritismo” para quem não conhece mas quer ter informações sobre a doutrina.

Orientado pelos instrutores espirituais, Kardec parte do princípio de que só devemos falar às pessoas sobre aquilo que elas querem ouvir. Caso contrário, vamos perder nosso tempo e nosso esforço, tentando convencê-las daquilo que elas não têm o menor interesse em saber. É por isso que o Espiritismo só se dirige àqueles que estão interessados em buscar conhecimento espiritual.

Se a pessoa está realmente interessada, não é difícil, Eduardo. Basta que você a oriente a procurar um centro espírita e combinar um momento de conversa amiga com um dirigente espírita, conhecedor da doutrina, que possa atendê-la. Nenhum centro vai negar-se a isso. Nos centros espíritas, em geral, temos um momento chamado “atendimento fraterno”, em que aqueles que nos procuram colocam suas dúvidas, necessidades e questionamentos.

Os centros têm bibliotecas com um bom acervo de livros que podem ser emprestados para leitura. A par disso, o atendente sempre vai ajudar essa pessoa a refletir sobre o lado espiritual da vida, a participar de outras atividades do centro, como palestras e reuniões de estudo, de acordo com sua necessidade e com sua vontade de aprender. Tudo de bom que obtemos na vida depende de nosso próprio esforço. É claro que isso tudo é uma opção de cada um, já que a doutrina jamais violenta consciência alguma, no sentido de convertê-la a uma determinada verdade.

Mais do que simplesmente dar respostas prontas, o Espiritismo nos ensina a pensar. Seu papel, portanto, é esclarecer, informar, oferecer opções ou caminhos para ajudar as pessoas a tirar suas próprias conclusões, e não propriamente de convertê-la ou fazer mais um adepto. Muitos chegam ao centro apenas e tão somente para se fortalecer e respirar um pouco de espiritualidade. Outros, com problemas semelhantes a este que você nos coloca: pessoas que estão passando por um período de descrença – especialmente jovens – mas que estão angustiadas com suas dúvidas.

Já dissemos neste programa que a dúvida em si não é um mal; pelo contrário, ela pode ser um grande bem, pode ser uma porta de libertação, mas isso quando estamos dispostos a procurar uma base mais firme para assentar nossas convicções. A incerteza prolongada pode nos levar a um conflito íntimo, com repercussões negativas em nosso estado emocional. O ceticismo – ou seja, a condição de não se ter uma convicção plena na vida – pode gerar intranquilidade e insegurança na pessoa, razão pela qual ela deve buscar respostas que mais atendam aos seus anseios e necessidades.

Uma coisa, porém, é certa, Eduardo: o Espiritismo sempre age com honestidade e sem segundas intenções. Está disposto a ajudar aqueles que o procuram, especialmente o que se encontram numa condição íntima difícil e procuram um meio de se libertar. Ninguém, que procura a ajuda espiritual num centro espírita, assume qualquer compromisso com o Espiritismo, até porque o único compromisso que podemos assumir na vida é com a nossa própria consciência.




sábado, 23 de novembro de 2024

O VERDADEIRO SENTIDO ; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

Indiscutivelmente o principal meio de difusão do Espiritismo tornou-se num ponto de referência e convergência dos que são surpreendidos por revezes com os quais não imaginavam. Na superficialidade de suas avaliações concluem ser a prática espírita mero instrumento de reequilíbrio através dos passes ou outros tratamentos oferecidos nas Casas Espíritas, supõem ponto de encontro entre a realidade material e a imaterial, a tangível e a intangível. Um meio onde se pode encontrar a cura ou o caminho a seguir através das orientações dos Amigos Espirituais ou Mentores como se costuma dizer. Será apenas isso? Será apenas esta a finalidade da Doutrina Espirita. Em texto apresentado na edição de novembro de 1864, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec esclarece essa dúvida. Escreve ele: -“O Espiritismo não é uma concepção individual, um produto da imaginação; não é uma teoria, um sistema inventado para a necessidade de uma causa. Tem sua fonte nos fatos da natureza mesma, em fatos positivos, que se produzem aos nossos olhos e a cada instante, mas cuja origem não se suspeitava. É, pois, resultado da observação, numa palavra, uma ciência: a ciência das relações entre os mundos visível e invisível; ciência ainda imperfeita, mas que diariamente se completa por novos estudos e que, tende certeza, tomará posição ao lado das ciências positivas. Digo positivas, porque toda ciência que repousa sobre fatos é uma ciência positiva, e não meramente especulativa. O Espiritismo nada inventou, porque não se inventa o que está na Natureza. Newton não inventou a Lei da Gravitação: está Lei Universal, existia antes dele; cada um a aplicava e lhe sentia os efeitos, posto não a conhecessem. Por sua vez, o Espiritismo vem mostrar uma nova Lei, uma nova força da natureza: a que reside na ação do Espírito sobre a matéria, lei tão Universal quanto a da gravitação e da eletricidade, contudo ainda desconhecida e negada por certas pessoas, como o foram outras Leis no momento de sua descoberta. É que os homens geralmente sentem dificuldade em renunciar às suas ideias preconcebidas e, por amor próprio, custa-lhes concordar que estavam enganados, ou que outros tenham podido encontrar o que eles próprios não encontraram. Mas como, em definitivo, esta Lei repousa sobre fatos e contra os fatos não há negação que possa prevalecer, terão que render-se à evidência, como os mais recalcitrantes tiveram que o fazer quanto ao movimento da Terra, à formação do Globo e aos efeitos do vapor. Por mais que taxem os fenômenos de ridículos, não podem impedir a existência daquilo que é. Assim, o Espiritismo procurou a explicação dos fenômenos de uma certa ordem e que, em todas as épocas, se produziram de maneira espontânea. Mas o que, sobretudo, o favoreceu nessas pesquisas, é que lhe foi dado o poder de produzi-los e os provocar, até certo ponto. Encontrou nos médiuns instrumentos adequados a tal efeito, como o físico encontrou na pilha e na máquina elétrica os meios de reproduzir os efeitos do raio. Compreende-se que isso é uma comparação e não uma analogia. Há aqui uma consideração de alta importância: é que, em suas pesquisas, ele não procedeu por via de hipóteses, como o acusam; não supôs aexistência do Mundo Espiritual, para explicar os fenômenos que tinha sob as vistas; procedeu pela via da análise e da observação; dos fatos remontou à causa e o elemento espiritual se apresentou como força ativa; só o proclamou depois de o haver constatado. Como força e como Lei da Natureza, a ação do elemento espiritual abre, assim, novos horizontes à ciência, dando-lhe a chave de uma porção de problemas incompreendidos. Mas se a descoberta de Leis puramente materiais produziu no mundo revoluções materiais, a do elemento espiritual nele prepara uma revolução moral, porque muda totalmente o curso das ideias e das crenças mais arraigadas; mostra a vida sob um outro aspecto; mata a superstição e o fanatismo; desenvolve o pensamento e o homem, em vez de se arrastar na matéria, de circunscrever sua vida entre o nascimento e a morte, eleva-se no Infinito; sabe de onde vem e para onde vai; vê um objetivo para o seu trabalho, para seus esforços, uma razão de ser para o Bem; sabe que nada do que aqui adquire em saber e moralidade lhe é perdido, e que o seu progresso continua indefinidamente no além túmulo; sabe que há sempre um futuro para si, sejam quais forem a insuficiência e a brevidade da presente existência, ao passo que a ideia materialista, circunscrevendo a vida à existência atual, dá-lhe como perspectiva o nada, que nem mesmo tem por compensação a duração, que ninguém pode aumentar à sua vontade, desde que podemos cair amanhã, em uma hora, e então o fruto de nossos labores, de nossas vigílias, dos conhecimentos adquiridos estarão para nós perdidos para sempre, muitas vezes sem termos tido tempo de os desfrutar. Repito, demonstrando o Espiritismo, não por hipótese, mas por fatos, a existência do Mundo Invisível e o futuro que nos aguarda, muda completamente o curso das ideias; dá ao homem a força moral, a coragem e a resignação, porque não mais trabalha apenas pelo presente, mas pelo futuro; sabe que se não gozar hoje, gozará amanhã”.




A Fátima, da Rua Francisco da Silva Braga, Bairro Labienópolis, comenta o seguinte: “ Já li algumas coisas sobre cirurgias espirituais, como o caso de Zé Arigó e de outros médiuns, que se tornaram famosos. Creio que esse tipo de operação é perigoso e talvez desnecessário. Será que esses Espíritos não poderiam operar sem usar corte ou outras formas de intervenção invasiva? Uma operação cirúrgica, sem uso de instrumentos e nem de qualquer outro aparato, não pareceria bem mais extraordinária do que essas que utilizam facas, canivetes ou mesmo bisturi, apenas para impressionar as pessoas?”

Esta é uma questão que os espíritas de bom senso sempre têm feito, quando surge um médium impetuoso, que acaba se destacando através de verdadeiros espetáculos de exibição pública. Foi o próprio Kardec – sempre cauteloso – que recomendou ( e isso está n’O LIVRO DOS MÉDIUNS”) que o Espiritismo não deve subir ao palco para se fazer conhecido e respeitado. Na verdade, o respeito que o Espiritismo deve conquistar está no valor intelectual e moral de sua filosofia e, principalmente, na conduta de seus verdadeiros adeptos dentro da sociedade.

Está claro que os Espíritos-médicos – como é o caso do Dr. Fritz – que se prestam a esse tipo de intervenção, são muito impetuosos na sua maneira de agir e se propõem a convencer os incrédulos a todo custo. Eles mesmos dizem que não precisariam usar desse recurso, mas usam-nos para impressionar ou mesmo para competir com a medicina cirúrgica convencional. Embora se trate de fenômenos espantosos, que despertam a atenção e a curiosidade, eles acabam sendo mais um espetáculo.

Esses espíritos acabam, na maioria das vezes, sacrificando os próprios médiuns, que precisam se expor de forma até irresponsável perante as autoridades do país, porque ferem acintosamente as normas oficiais adotadas para a prevenção e preservação da vida dos pacientes. Como o próprio ouvinte afirma, um fenômeno de cura seria mais extraordinário, se não precisasse nada disso, se utilizasse instrumentos de que a medicina terrena pode dispor. Na sua ação benfeitora, para curar as pessoas, Jesus apenas impunha-lhes as mãos e pediam que elas se ligassem a Deus.

Chico Xavier não aceitou ser operado por Zé Arigó, quando este prometeu que lhe curaria o olho doente. Conta Divaldo Franco que isso aconteceu no ano de 1965. Chico, como um mineiro educado e, sobretudo como exemplo de espírita, respondeu: “Não, Arigó, isso que eu tenho é um carma. Eu sei que o senhor pode consertar o meu olho. Mas como o carma vai continuar e, então, tenho certeza de que vai me aparecer outra doença. Como já estou acostumado com essa, eu a prefiro. Por que eu iria querer uma doença nova?”.

Aliás, o Dr. Bezerra de Menezes, que foi médico na Terra, foi quem sugeriu ao Chico que iniciasse uma conversação com os espíritas mais influentes, no sentido de se criar um movimento que conciliasse medicina e espiritualidade, para substituir essas práticas mediúnicas esdrúxulas, uma vez que elas se chocavam com os interesses da medicina terrena e não estavam colaborando devidamente para a difusão do Espiritismo. Ao invés de os Espíritos-médicos usarem médiuns sem o devido preparo, era conveniente que médicos espíritas se preparassem para introduzirem espiritualidade na medicina. Foi daí que surgiu o movimento chamado Associação Médico-Espírita, que hoje se espalha por todo o Brasil e por vários outros países.

Além do mais, Fátima, segundo o médium e tribuno baiano, Divaldo Pereira Franco ( e estas são palavras textuais dele) “é uma temeridade transformar o centro espírita em pequeno hospital para atendimento de todas as mazelas; isso é uma loucura – diz o Divaldo - é um desvio da finalidade da prática do Espiritismo. Podemos, sim, fazer uma atividade de atendimento a doentes que são portadores de problemas na área da saúde espiritual. Poderemos aplicar-lhes passes, doar-lhes a água fluidificada, se for o caso; mas a função principal do Centro Espírita é iluminar a consciência daqueles que o buscam.”.