No número de janeiro de 1861 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec reproduz a primeira parte de um interessante e extenso texto por ele intitulado CARTA DA INCREDULIDADE. Explica que o fez após ter sido solicitado a apreciá-lo pelo amigo Sr. Canu, que o elaborara com a intenção de reparar os prejuízos causados a muitas pessoas que influenciara com suas ideias materialistas. O teor do documento mostrava-se tão bem fundamentado que Allan Kardec considerara oportuno publicar após obter autorização do autor. Dos vários aspectos por ele abordados, destacamos alguns relacionados ao tema reencarnação que dão uma perfeita ideia da sua dinâmica. Diz o seguinte: 1- A Humanidade, considerada coletivamente é comparável ao indivíduo; ignorante na infância, ela se esclarece à medida que avança em idade; o que se explica naturalmente pelo próprio estado de imperfeição em que estão os Espíritos para o adiantamento dos quais essa Humanidade foi feita; 2- Quanto ao Espírito considerado individualmente, não é numa só existência que ele pode adquirir a soma de progresso que está chamado a cumprir; é porque um maior ou menor número de existências corpóreas lhe são necessárias, segundo o uso que fará de cada uma delas. Mais ele tenha trabalhado para o seu adiantamento em cada existência, menos terá que sofrê-las. 3- Como cada existência corpórea é uma prova, uma expiação, um verdadeiro purgatório, tem interesse em progredir o mais prontamente possível, para ter a sofrer menos provas, porque o Espírito não retrograda; cada progresso cumprido por ele é uma conquista assegurada que nada poderia lhe tirar. 4- Segundo este princípio, hoje averiguado, é evidente que quanto mais ele caminhar depressa, mais cedo chegará ao objetivo. Resulta do que precede que cada um de nós, hoje, não estamos em nossa primeira existência corpórea, muito longe disso, estamos mais distante ainda de última; 5- As nossas existências primitivas devem se passar em mundos bem inferiores à Terra, sobre a qual não chegamos senão quando o nosso Espírito chegou a um estado de perfeição em relação com este astro; 6- À medida que progredirmos, passaremos para Mundos mais avançados do que a Terra sob todos os aspectos, e isso, de degrau em degrau, avançando sempre para o melhor. Mas, antes de deixar um Globo, parece que se deve cumprir nele geralmente várias existências, cujo número, todavia, não é limitado, mas subordinado à soma do progresso que se terá adquirido.7- Tudo isso, pode ser verdadeiro, mas muitos podem argumentar: como não me lembro de nada, ocorrendo o mesmo com cada um de nós, tudo o que se passou em nossas existências precedentes é para nós como nulo; e se ocorre o mesmo em cada existência, pouco importa ao meu Espírito ser imortal ou morrer com o corpo, se, conservando a individualidade, não tem consciência de sua identidade. Com efeito, isso seria para nós a mesma coisa, mas não ocorre assim; não perdemos a lembrança do passado senão durante a vida corpórea, para reencontrá-la na morte, quer dizer, no despertar do Espírito, cuja verdadeira existência é a do Espírito livre, e para a qual as existências corpóreas podem ser comparadas ao sono para o corpo. 8- Em que se tornam as almas dos mortos enquanto esperam uma nova reencarnação? (...). Em geral, pouco se afastam dos vivos e, sobretudo, daqueles a quem são afeiçoados, quando se tem afeição por alguém.
A Nilva Rodrigues Costa, também telefonou domingo passado., afirmando que a história que a Bíblia conta sobre a criação da vida e do homem caiu por terra com a teoria científica da Evolução, ela quer saber o que o Espiritismo pensa sobre isso.
Nilva, no passado distante, na infância da humanidade (vamos dizer assim), quando não conhecíamos as leis da natureza, tudo que existia e todos os fenômenos naturais que aconteciam ao eram atribuídos ao sobrenatural. No entanto, a inteligência exigia uma explicação, que estivesse à altura de nossa compreensão. Quem veio responder às nossas indagações foi a religião, pois não havia outro campo de conhecimento. E, naquele tempo, o que a religião dizia era lei; ninguém podia contestar.
Desse modo, o relato bíblico da criação que atendeu aos anseios do povo hebreu, conforme lemos no Gênesis, não foi o único da época. Acontece que conhecemos muito pouco ou quase nada a respeito de outros povos e outras religiões da antiguidade, que também tem relatos milagrosos para explicar a origem do mundo e do homem. Esses relatos apareceram por toda parte: entre os sumérios, entre os chineses, entre os indianos, os maias, os japoneses, os persas, e muitos outros. Cada povo ou cada cultura criou o seu próprio modelo.
Hoje, tais relatos mágicos, miraculosos ou extraordinários são conhecidos como Mitos da Criação. Na verdade, esse esforço para dar uma explicação de tudo que existe tem um valor inestimável, uma vez que não se tratava apenas e tão somente de explicar um fato, mas de sustentá-lo com valores morais e espirituais de que os povos antigos necessitavam. Tanto assim que, ao lermos a criação, conforme o Gênesis Bíblico, dela podemos tirar elevados ensinamentos morais, da mesma forma que Jesus os tirava das parábolas que criava para facilitar o entendimento do povo.
A religião, de um modo geral, é a força mais conservadora que existe; isso significa que é a mais resistente para aceitar uma mudança. Quando muda, ela é sempre a última a mudar. Assim, as religiões vieram trazendo, ao longo dos séculos e milênios alguns ensinamentos que elas não queriam mudar, e de tanto insistir neles as bases desses ensinamentos ficaram cristalizadas na alma do povo e, de tal forma, que ainda hoje há muita gente que fala de Adão e Eva, como se esses personagens tivessem sido reais.
Contudo, não é uma verdade que se possa mais sustentar. Ela serviu até certo ponto, quando não existia ciência e quando o ser humano ainda era muito ingênuo para aceitar verdades sem nenhuma comprovação. Não é mais a realidade de hoje, Nilva. Nem mesmo as religiões mais progressistas tratam do episódio do paraíso como uma verdade inconteste. Dentro das próprias religiões encontramos um posicionamento que entende que os episódios mais antigos da Bíblia são apenas alegorias ou representações, dos quais podemos tirar elevados ensinamentos morais, mas não confundi-los com a realidade.
É assim que o Espiritismo vê. Desde as obras de Kardec, que inauguraram a doutrina, há mais de 160 anos – principalmente no livro intitulado “A GÊNESE”, de 1868 – ficou claro que a Doutrina Espírita aceita a versão da ciência e tem nos textos bíblicos alegorias, que constituíram na mais remota antiguidade as únicas fontes de informação para o conhecimento humano. Embora, Darwin ainda não tivesse apresentado a Teoria da Evolução, antes disso, o Espiritismo já era evolucionista.
Quanto ao fato de as pessoas aceitarem ou não, é um direito que elas têm, Nilva; mas isso não muda nada. A realidade independe de nossa opinião. Podemos estar certos ou errados, a realidade é a mesma. O Sol que iluminou Jesus, 2 mil anos atrás, é o mesmo que nos ilumina hoje: a única diferença que existe é o conhecimento que se tinha naquela época e o conhecimento que se tem hoje a respeito do Sol.
Em 1616, início do século 17, Galileu Galilei – conhecido como Pai da Ciência – já idoso, aos 70 anos de idade, foi condenado à fogueira pelo Tribunal da Inquisição da Igreja porque afirmava que era a Terra que girava em torno do Sol e não o Sol em torno da Terra. Depois de muita insistência, para não morrer queimado, Galileu se retratou publicamente, dizendo que não era o que afirmara. Diante disso, o Tribunal reconsiderou a sentença e libertou Galileu.
Conta-se que, ante os olhares atônitos da plateia que assistia àquela farsa, Galileu ( que teve de mentir para não morrer), saiu cabisbaixo, aparentemente vencido, e os que estavam mais próximo dele, ouvia ele dizer baixinho: “Apesar de tudo isso, é a Terra que gira...” O fato de a Igreja, na época, sentir-se vencedora – e, mais do que isso, temida – jamais mudou a realidade das coisas,... pois a Terra continuou a girar em torno do Sol, conforme a lei da natureza.
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