Porque todas as mães que choram os filhos mortos e ficariam felizes se se comunicassem com eles, muitas vezes não o podem? Porque a visualização deles lhes é recusada, mesmo em sonhos, a despeito de seu desejo e preces ardentes? Naturalmente são duas perguntas que muitos se fazem diante do entusiasmo daqueles que se surpreendem com o conteúdo de informações e detalhes pessoais constantes das cartas mediúnicas, sobretudo as psicografadas por Chico Xavier. Por sinal, o canal de comunicação objetivamente disponibilizado a partir da identificação e definição da mediunidade pelo Espiritismo, revelou-se um instrumento útil para esse fim, utilizado especialmente por aqueles que, vencidos pela dor da separação, superam as barreiras do preconceito e conceitos nascidos nas escolas religiosas tradicionais ou nas sombras da ignorância. Allan Kardec na REVISTA ESPÍRITA, edição de agosto de 1866, teceu interessantes esclarecimentos sobre os “porquês” das perguntas com que iniciamos essas considerações. Pondera ele: “ -Além da falta de aptidão especial que, como se sabe, não é dada a todos, há, por vezes, outros motivos, cuja utilidade a sabedoria da Providência aprecia melhor que nós. Essas comunicações poderiam ter inconvenientes para as naturezas muito impressionáveis; certas pessoas poderiam delas abusar e a elas se entregar com um excesso prejudicial à saúde. Em semelhante caso, sem dúvida a dor é natural e legítima; mas, algumas vezes, é levada a um ponto desarrazoado. Nas pessoas de caráter fraco muitas vezes essas comunicações reavivam a dor, em vez de a acalmar. Daí porque nem sempre lhes é permitido receber, mesmo por outros médiuns, até que se tenham tornado mais calmas e bastante senhoras de si para dominar a emoção. A falta de resignação, em casos tais, é quase sempre uma causa do retardamento. Depois, é preciso dizer que a impossibilidade de se comunicar com os Espíritos que mais se ama, quando se o pode com outros, é, muitas vezes, uma prova para a fé e a perseverança e, em certos casos, uma punição. Aquele a quem esse favor é recusado deve, pois, dizer-se que sem dúvida a mereceu. Cabe-lhe procurar a causa em si mesmo, e não atribui-la à indiferença ou ao esquecimento do Ser lamentado. Enfim, há temperamentos que, não obstante a força moral, poderiam experimentar o exercício da mediunidade com certos Espíritas, mesmo simpáticos, conforme as circunstâncias. Admiremos em tudo a solicitude da Providência, que vela pelos menores detalhes e saibamos submeter-nos à sua vontade sem murmúrio, porque ela sabe melhor que nós o que nos é útil e providencial. Ela é para nós como um bom pai, que não dá sempre a seu filho o que ele deseja. As mesmas razões ocorrem no que concerne aos sonhos. Os sonhos são as lembranças do que o Espírito viu em estado de desprendimento, durante o sono. Ora, essa lembrança pode ser bloqueada. Mas aquilo de que a gente não se lembra não está, por isto, perdido para a alma. As sensações experimentadas durante as excursões que ela faz no mundo invisível, deixam, ao despertar, impressões vagas e a gente não cita pensamentos e ideias cuja origem, muitas vezes, não se suspeita. Pode, pois, ter-se visto, durante o sono, os seres aos quais se tem afeição, entreter-se com eles e não guardar a lembrança. Então se diz que não se sonhou. Mas se o Ser lamentado não se pode manifestar de uma maneira extensiva qualquer, nem por isso estará menos junto dos que o atraem por seu pensamento. Ele os vê, ouve suas palavras e, muitas vezes, adivinha-se sua presença por uma espécie de intuição, um sentimento íntimo, e, até mesmo por certas impressões físicas. A certeza de que não está no nada; de que não está perdido nas profundezas do espaço, nem nos abismos do inferno; de que é mais feliz, agora isento dos sofrimentos corporais e das tribulações da vida; de que o verão, após uma separação momentânea, mais belo, mais resplendente, sob um envoltório etéreo imperecível, e não sob a pesada carapaça carnal; eis a imensa consolação que recusam os que creem que tudo acaba com a vida; eis o que oferece o Espiritismo”.
A nossa habitual ouvinte do Bairro Mariana, a Luzinete de Lourdes Martins, telefonou domingo passado para dizer que, lendo o livro “AS DORES DA ALMA”, surgiu-lhe a seguinte dúvida: “O que realmente podemos considerar egoísmo e orgulho? Existe um limite de sentimento, a partir do qual podemos dizer por exemplo “isto que estou sentindo é orgulho”, “isto é egoísmo”?, etc.?
Interessante a sua pergunta, Luzinete. Revela que você tem um espírito observador e bastante perspicaz. Deve ser isso o que pretendeu o autor do livro “As DORES DA ALMA”, que é o Espírito Hammed, com psicografia do médium Francisco do Espírito Santo Neto – aliás, uma excelente indicação para quem quiser de se conhecer melhor e analisar a si mesmo à luz do pensamento espírita.
O campo dos sentimentos é, sem dúvida, o mais difícil de se conhecer. Sentimento a gente sente (como o próprio nome já diz), mas saber exatamente o que é ou até que ponto vai, não é fácil. Há uma base indispensável em todos nós, para ter condições de reconhecer e analisar os próprios sentimentos: a honestidade. Primeiramente, precisamos ser absolutamente honestos conosco mesmos. A pessoa, que costuma analisar os próprios sentimentos, procura se conhecer pelos seus impulsos quando diz, por exemplo: “acho que fui muito egoísta exigindo aquilo de fulano”.
Quando ela diz isso é porque já é capaz de se colocar no lugar do outro; ou melhor, numa relação com a outra pessoa, em pensamento ela consegue trocar de lugar com essa pessoa, pensando assim: “ se eu estivesse no lugar de fulano e se ele estivesse no meu lugar, o que eu sentiria?” Neste caso, ela já deu um importante passo para seu amadurecimento e está se esforçando por melhorar-se. Desse modo, podemos deduzir que o egoísmo, tanto quanto o orgulho, começa no ponto que nos machucaria, se estivéssemos no lugar do outro.
Aliás, não há novidade nisso, pois o próprio Jesus deixou claro que o que é amar: amar é fazer ao outro aquilo que gostaria que ele nos fizesse, e não fazer aquilo que não gostaria que nos fizesse. Essa qualidade de saber se colocar no lugar do outro, é conhecida como “empatia”. Logo, quanto mais empatia tem uma pessoa, menos egoísta ela é, quanto menos empatia mais egoísta. Só podemos avaliar nossos sentimentos pelas consequências de nossas ações.
Egoísmo – como o próprio nome está dizendo – é cultivar o próprio “eu” (em latim, a palavra “ego” quer dizer “eu”), e quem cultiva demasiado o próprio eu está constantemente invadindo o direito dos outros, ofendendo, ferindo, prejudicando; pois o egoísta, acima de tudo, pensa apenas em si mesmo, não importando com as necessidades e o sofrimento do próximo. Existem outros termos que têm sentido semelhante, como egocentrismo ( que quer dizer “colocar-se no centro de tudo e de todos”) e egolatria ( adorar-se a si mesmo, idolatrar-se).
O orgulho, no seu sentido negativo, é o sentimento que nos coloca sempre acima das outras pessoas. É quando nos achamos o melhor, o mais importante ou o único. O orgulhoso, no sentido estrito da palavra, quer mostrar só qualidades, não admite defeitos. Pelo contrário, ele vive escondendo os defeitos o tempo todo ( dos outros e de si mesmo) para parecer o que não é; é o fingir-se a si mesmo, vivendo num mundo ilusório, sem querer admitir a própria pequenez ou os próprios fracassos.
Dos sentimentos, o orgulho é um dos que mais nos faz sofrer, pois nos obriga a representar o tempo todo, como se estivéssemos desempenhando um papel num palco. Leva a pessoa a fugir de si mesma, pois, no fundo, ela não se aceita e não quer ser o que realmente é. É um sentimento que acaba atingindo o próximo – e, às vezes, de forma violenta e cruel - pois o orgulhoso tende a querer impor sua grandeza, desprezando, ferindo e prejudicando as pessoas. Do orgulho vêm a prepotência e a arrogância.
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