No extraordinário laboratório em que transformou a Sociedade Espírita de Paris, que como se sabe, dispunha de vários médiuns – segundo Allan Kardec cumprindo a mesma função do microscópio na pesquisa das formas de vida infinitamente diminutas -, na reunião de 10 de fevereiro de 1860, provocou-se com a concordância do dirigente espiritual das atividades ali desenvolvidas, a comunicação da senhorita Indermuhule, uma surda-muda de nascença, 32 anos de idade, ainda encarnada, residente em Berna, na Suiça, outro País, portanto. Presente à sessão estava um dos seus irmãos que confirmou várias respostas. Conforme reproduzido na edição de março de 1860, da REVISTA ESPÍRITA, após a primeira resposta do Espírito da jovem, fato confirmado por São Luiz, que acrescentou que competia a Kardec, a garantia de uma boa comunicação pela natureza e motivo das perguntas a serem feitas, iniciou-se a entrevista com a entidade, repetimos, ainda encarnada: 1- Sabeis bem onde vos encontrais agora? R- Perfeitamente. Pensais que eu não tenha sido instruída a respeito? A partir daí, quinze questões foram propostas à senhorita Indermuhle, algumas das quais confirmando várias das revelações oferecidas pelo Espiritismo. 4. Como podeis responder aqui, se vosso corpo está na Suíça?. Resp. – Porque não é meu corpo que responde. Aliás, como bem o sabeis, ele é absolutamente incapaz de o fazer. 5. Que faz vosso corpo neste momento? Resp. – Cochila. A propósito dessa respostas, quase um século depois, uma obra do Espírito André Luiz, através do médium Chico Xavier, apresenta um exemplo sobre como a Espiritualidade pode criar essas condições. É no livro AÇÃO E REAÇÃO (feb, 1957), fato assim descrito pelo autor: “Silas emitiu forte jato de energia fluídica sobre o córtex encefálico dela, e a moça, sem conseguir explicar a si mesma a razão do torpor que lhe invadia o campo nervoso, deixou-se adormecer pesadamente, qual se houvera sorvido violento narcótico”. 7. Quanto tempo levastes para vir da Suíça até aqui? R. – Um tempo inapreciável para vós. 8. Vistes o caminho que percorrestes? R. – Não. 9. Estais surpresa de vos achar nesta reunião? R – Minha primeira resposta vos prova que não. 10. Que aconteceria se vosso corpo despertasse, enquanto nos falais aqui? R. – Eu lá estaria. 11. Existe um laço qualquer entre o vosso Espírito, aqui presente, e o corpo, que se encontra na Suíça? R. – Sim; não fora assim, quem me advertiria de que devo voltar a ele? 10. Que aconteceria se vosso corpo despertasse, enquanto nos falais aqui? R. – Eu lá estaria. 11. Existe um laço qualquer entre o vosso Espírito, aqui presente, e o corpo, que se encontra na Suíça? R. – Sim; não fora assim, quem me advertiria de que devo voltar a ele? 14. Ouvis o ruído que faço neste momento, batendo? R – Aqui não sou surda. 15. Como percebeis, visto que, por comparação, não tendes a lembrança do ruído em estado de vigília? R. – Eu não nasci ontem. OBSERVAÇÃO – A lembrança da sensação do ruído lhe vem das existências em que ela não era surda. 18. Como podeis responder-nos em francês, já que sois alemã e não conheceis a nossa língua? R. – O pensamento não tem língua; eu o comunico ao guia do médium, que o traduz na língua que lhe é familiar. OBSERVAÇÃO – Desta maneira, muitas vezes as respostas não nos chegariam senão de terceira mão. O Espírito interrogado transmite o pensamento ao Espírito familiar, este ao médium e o médium o traduz, seja pela escrita, seja pela palavra. Ora, podendo o médium ser assistido por Espíritos mais ou menos bons, isto explica como, em muitas outras circunstâncias, o pensamento do Espírito interrogado pode ser alterado.
O
Cristiano, ouvinte de Vera Cruz, enviou-nos a seguinte mensagem: “Peço
comentários sobre a seguinte afirmação de Allan Kardec, na Revista Espírita de
1864, mês de novembro, aos espíritas de Bruxelas e Antuérpia: Aquilo que fiz
outro poderia ter feito em meu lugar. E acrescenta: Naquela época só Kardec
publicou livros sobre o Espiritismo?”
O que
deve ficar claro, Cristiano, é que foi Allan Kardec quem elaborou a Doutrina
Espírita, a partir das observações, estudos de fenômenos mediúnicos, e
informações fornecidas pelos Espíritos. Ao que tudo indica, os Espíritos
encarregados de revelar a doutrina sabiam da seriedade de Kardec, de seus
conhecimentos científicos, de sua dedicação e coragem, de seu compromisso com a
verdade e, portanto, confiaram a ele a missão de produzir as obras, que seriam
a base e o fundamento do Espiritismo.
É
claro que esse empreendimento não surgiu de repente e nem caiu pronto do céu. Tampouco
os Espíritos, comandados pelo Espírito da Verdade, escolheram o primeiro que
encontraram para a realização desse trabalho. Ao que tudo indica, o plano de
ação Kardec deve ter sido elaborado no mundo espiritual, antes mesmo de sua
encarnação quando, então, ele foi preparado para a missão. Se a nova revelação
estava nos planos de Jesus, com certeza, envolveu muita gente, antes mesmo de
Kardec.
No
século XVIII, por exemplo, um cientista sueco, chamado Emanuel Swedenborg havia
se interessado pela pesquisa de fatos espirituais que, na época, era um terreno
proibido. Por isso mesmo, ele foi mal visto e até perseguido; tanto assim que seu trabalho não prosperou. Pensadores e
filósofos dos séculos anteriores e mesmo do século XIX , vinham contestando a
religião com argumentos racionais, atacando alguns pontos vitais do pensamento
religioso.
Jean-Jacques Rousseau afirmava que “tudo que Deus criou é bom”,
contestando a doutrina do pecado original;
para Emmanuel Kant a alma é imortal, não apenas por questão de fé, mas por
razões lógicas que sustentam essa fé. Leibniz chega a falar sobre a natureza do
espírito em comparação com o corpo humano, afirmando que tudo está submetido às
leis de Deus.
Com
esses e outros argumentos da filosofia, faltava aliar à razão a atuação da
espiritualidade, o que se tornou possível com as manifestações mediúnicas.
Kardec já conhecia o magnetismo de Mesmer e tinha noções de que havia um mundo
de irradiações invisíveis, capaz de atuar sobre o mundo físico. Devido ao seu
espírito prático, o estudo da mediunidade lhe permitiu chegar a conclusões que
seus antecessores não puderam alcançar, surgindo assim o Espiritismo.
Allan
Kardec, porém, teve muitos opositores, dentro e fora do movimento espírita.
Para aqueles que reclamam sua posição, pois o consideravam como chefe da
doutrina, Kardec respondia que o Espiritismo não tinha chefes, nem tampouco
hierarquia; que seu trabalho foi de reunir material para elaborar a doutrina,
mas abstinha-se de considerar com seu criador, pois as informações contidas nas
obras foram dadas pelos Espíritos. E, com bastante modéstia, ele dizia que o
trabalho que estava fazendo poderia ser feito por outra pessoa e que, portanto,
ele (Kardec) se considerava como um aprendiz dos Espíritos e seu trabalho, se
não fosse por ele, poderia ser feito por outra pessoa, como os Espíritos já lhe
tinham dito.
Quanto a outras obras espíritas no mesmo
período, devemos considerar que, a partir do LIVRO DOS ESPÍRITOS, surgiram
outras obras de outros autores, buscando abrir mais esse caminho. Nem todas
essas obras, porém, eram coerentes com os postulados da Doutrina Espírita. Mesmo
assim, num dos últimos escritos às vésperas de sua desencarnação, Kardec
publica i um catálogo de obras para leitura e reflexão, considerando a
importância de se ler obras de outros autores. Dentre elas, ele recomendava,
cerca de trinta livros que, à época, tratavam de Espiritismo.
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