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quarta-feira, 17 de março de 2021

A MORTE NÃO MODIFICA OPINIÕES PRONTAMENTE; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Na seção PERGUNTAS E PROBLEMAS da edição de maio de 1863 da REVISTA ESPÍRITA, uma dúvida interessante levantada na reunião de 27 de março daquele ano da Sociedade Espírita de Paris, foi analisada por alguns Espíritos presentes: os que morrem descrentes da continuidade da vida ante as evidências diante das quais se veem, continuam a desacreditar ?. Através do médium Sr D’Ambel, os Espíritos Viennois, Erasto e Lamenais ofereceram seus esclarecimentos, dos quais extraímos alguns pontos importantes: Viennois - “No mundo em que habitais, acreditava-se geralmente que a morte vem de repente modificar a opinião dos que se foram e que a venda da incredulidade é violentamente arrancada aos que na Terra negavam Deus. Aí está o erro, porque, para estes, a punição começa justamente em permanecerem na mesma incerteza relativamente ao Senhor de todas as coisas e a conservarem a mesma dúvida da Terra. Não, crede-me; a vista obscurecida da inteligência humana não percebe instantaneamente a luz. Procede-se na erraticidade ao menos com tanta prudência quanto na Terra; assim, não se deve projetar os raios de luz elétrica sobre os olhos dos doentes que se queira curar. A passagem da Vida Terrestre à Espiritual oferece, é certo, um período de confusão, de perturbação para a maioria dos que desencarnam. Alguns há, no entanto, que, desprendidos dos bens terrenos ainda em vida, realizam essa transição tão facilmente quanto uma pomba que se eleva no ar. É fácil perceberdes essa diferença examinando os hábitos dos viajantes que embarcam para atravessar os Oceanos. Para alguns a viagem é um prazer; para a maioria um sofrimento, uma aflição que durará até o desembarque. Pois bem! Ocorre o mesmo com quem viaja da Terra ao Mundo dos Espíritos. Alguns se desprendem rapidamente, sem sofrimento e sem perturbação, ao passo que outros são submetidos ao mal da travessia etérea. Mas acontece isto: assim como os viajantes que tocam a terra, ao sair do navio, recuperam o equilíbrio e a saúde, também o Espírito que transpõe os obstáculos da morte acaba por se achar, como no ponto de partida, com a consciência limpa e clara de sua individualidade. É, pois, certo, meu caro Sr. Kardec, que os incrédulos e os materialistas absolutos conservem sua opinião além do túmulo, até a hora em que a razão ou a graça tiver despertado em seu coração o pensamento verdadeiro, ali escondido”. Erasto: - “Apenas uma palavra: todos os corpos sólidos ou fluídicos pertencem à substância material; isto está bem demonstrado. Ora, os que em vida só admitiam um princípio na Natureza – a matéria – muitas vezes não percebem ainda, depois da morte, senão esse princípio único, absoluto. Se refletires nos pensamentos que os dominaram toda a vida, achá-los-íeis certos, ainda hoje, sob a inteira subjugação desses mesmos pensamentos. Outrora se consideravam como corpos sólidos; hoje se olham como corpos fluídicos: eis tudo. Notai bem que eles se apercebem sob uma forma claramente circunscrita, conquanto vaporosa, idêntica à que tinham na Terra, em estado sólido ou humano, de tal sorte que não veem em seu novo estado senão uma transformação de seu Ser, no qual não haviam pensado. Mas ficam convencidos de que é um encaminhamento para o fim a que chegarão, quando estiverem suficientemente desprendidos, para se diluírem no todo universal. Nada mais obstinado do que um sábio; e eles persistem em pensar que, nem por ser demorado, esse fim é menos inevitável. Uma das condições de sua cegueira moral é de aprisionar mais violentamente nos laços da materialidade e, conseguintemente, de os impedir que se afastem das regiões terrestres ou similares à Terra. E, assim como a maioria dos desencarnados, cativos na carne, não pode perceber as formas vaporosas dos Espíritos que os cercam, também a opacidade do envoltório dos materialistas lhes impede a contemplação das entidades espirituais que se movem, tão belas e tão radiosas, nas Altas Esferas do Império Celeste”.


Por que Allan Kardec afirmou em O LIVRODOS ESPÍRITOS, na “Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita”, item 7, “que o Espiritismo não é da alçada da ciência?” Ele (o Espiritismo) não seria da alçada nem da ciência do século 21?”

 Nos meados do século XIX, Kardec via a ciência com muito respeito, por ser uma área de investigação da verdade, embora se restringisse apenas ao conhecimento da matéria. Ele  considerava que um biólogo, um químico, um físico ou um matemático, que são autoridades em seus campos de ação,  não tinham autoridade para falar ou criticar o Espiritismo, porque o Espiritismo não era sua área de estudo e, portanto, não o conheciam. A Doutrina Espírita cuidava do espírito e a ciência da matéria.

 Apesar disso, o Espiritismo vinha recebendo inúmeras críticas de cientistas que, na verdade, só podiam entender bem de seu âmbito de pesquisa, mas nada da doutrina que era uma verdade nova e revolucionária para as ideias vigentes. Nesse sentido é que Allan Kardec dizia que  “o Espiritismo não era da alçada da ciência”. Isso, porém, não impediu que diversos cientistas, a partir da evidência de alguns fenômenos, se lançassem à pesquisa, utilizando dos métodos científicos correntes na época.

 Mas essa fase se intensificou após Kardec, quando tivemos expressivas figuras da comunidade científica – como William Crookes, Cesar Lombroso, Charles Richet, Alfred Wallace e muitos outros – que realizaram seus trabalhos por conta própria e com denodado esforço, não obstante as críticas e até o desprezo de colegas, que viam no Espiritismo apenas uma tentativa de sistematizar ideias supersticiosas ou crenças próprias da religião. Não é preciso dizer que os cientistas tinham verdadeira ojeriza contra a religião, e a luta que se travava na época era justamente a da ciência contra a religião.

Mesmo assim, por mais que esses intrépidos pesquisadores se dedicassem a comprovar cientificamente fenômenos espíritas, ainda continuaram com grandes limitações, pois os fenômenos mediúnicos ( mesmos os de materialização e efeitos físicos), embora mostrassem fortes evidências da atuação de forças desconhecidas, não vinham comprovar diretamente a existência do Espírito, uma vez que o espírito em si não pode ser fotografado, pesado ou medido. Além do que não era possível repetir indefinidamente e à vontade um fenômeno espírita, como se faz com um fenômeno físico ou químico. Nesse sentido que o Espiritismo estaria fora da alçada da ciência.

 O que se propunha, a partir de então, portanto, era a busca de uma metodologia própria para o estudo do Espiritismo, uma forma mais adequada para abarcar fenômenos de natureza para-psíquica.  Nesse sentido, até hoje os pesquisadores ainda se deparam com barreiras de natureza metodológica e procuram comprovar a tese da existência do Espírito de forma indireta, como, por exemplo, pesquisando reencarnação, psicografias, experiência de quase morte. Contudo, a maior barreira não é o estudo em si, mas a falta de recursos que, certamente, não aparecem por falta de interesse no estudo de uma área que não traria vantagem financeira aos patrocinadores.     

  Todavia, Allan Kardec acreditava que, com o tempo, as ideias espíritas se propagariam, exercendo grande efeito sobre a sociedade para se tornar uma crença geral , e o progresso moral da sociedade contribuiria para que os homens de ciência voltassem seu interesse ao estudo mais adequado e mais aprofundado da questão. É claro que muita coisa mudou no campo da investigação científica neste último século, mas ainda não o suficiente para fazer do estudo do Espírito um real foco de interesse . Enquanto isso, o Espiritismo prosseguiria desenvolvendo a sua própria ciência.  


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