faça sua pesquisa

domingo, 7 de março de 2021

ALÉM FRONTEIRAS; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

A conhecida vila litorânea de Cascais, a meia hora de Lisboa, capital portuguesa, ficou abalada quando se difundiu nos noticiários do dia 15 de fevereiro de 1985, a notícia da morte por acidente com arma de fogo do jovem Carlos Teles Sobral Junior, um dos filhos do casal Yolanda e Carlos Teles Sobral. Aeronauta a serviço de importante companhia aérea, seu pai trabalhava há vários anos na rota Portugal /Brasil /Portugal, o que acabou por fazer que sua filha Mônica fixasse residência na cidade do Rio de Janeiro, o que, por sinal, mantinha na ocasião, sua mãe a seu lado. Seu pai encontrava-se cumprindo folga de sua escala de trabalho, contudo, quando se verificou a tragédia, havia saído para resolver alguns negócios. A perplexidade ante o impacto da ocorrência converteu-se em desespero e dor diante do inexplicável fato. Junior, 25 anos, estudante, trabalhava em loja de artigos musicais montada pelo pai para que ele se mantivesse ocupado. Nada justificava por isso um possível suicídio, nem a existência de qualquer tipo de armamento entre os pertences do filho.  Dolorosos dias tornaram-se semanas quando ouviram falar sobre Chico Xavier e, desesperados, deslocaram-se para Uberaba, Minas Gerais. No Grupo Espírita da Prece, na primeira parte das reuniões públicas, dedicada às consultas respondidas, psicograficamente, receberam o seguinte recado: “- Jesus nos abençoe. Notícias solicitadas serão recebidas oportunamente. Confiemos no amparo de Jesus, hoje e sempre”.  Esperançosos, retornaram no dia 18 de maio e, entre outras, ouviram o médium ler, ao final das páginas recebidas naquela noite/madrugada, a ansiada, esclarecedora e confortadora carta do amado filho. Logo no início da missiva, Junior revela detalhe somente do conhecimento dos familiares: “... o papai Carlos julgou prudente que me demorasse em Portugal, até que pudéssemos decidir detalhes de nosso reencontro, que ainda não sabíamos se no Rio ou em Lisboa”. Mais adiante, expõe um aspecto de sua personalidade e comportamento, absolutamente desconhecido pelos entes mais próximos: “- Em minhas travessuras de rapaz, que deveria ajustar-se aos princípios renovadores cabíveis em minha própria idade, em minhas travessuras, repito, não fui amigo de um que se habituara a passar rente a nossa moradia, suscitando-me o desejo de experimentar lhe a paciência com meus pensamentos de rapaz acriançado que eu era. Se tivesse conhecimento de sua passagem, ao lado de nossas portas, alegrava-me vê-lo atarantado com os sustos que lhe impunha, especialmente em jatos de água a descerem do alto sobre o pobre passante. Certa vez em que ele era seguido de uma criança, esculpi a figura de uma serpente em papelão pintado a caráter, controlando o animal imaginário com uma corda quase invisível para ele. Em dado momento, coloquei a estranha figura rente a ele e tamanha foi a sua reação, ao ver que a criança se tomara de terror, que o amigo, vitima de minhas brincadeira de mau gosto, me chamou às contas e prometeu cobrar-me aquela grande série de emoções descontroladas a que lhe submetia o ânimo enfermiço”. Certamente tais detalhes surpreenderam aos familiares, que ignoravam tais atitudes do filho. Prosseguindo, Junior desvenda o mistério que nem a polícia conseguiu esclarecer: “– Pois, o inconcebível aconteceu. Ele esperou que o pai se ausentasse de casa e, percebendo-me a sós, penetrou o recanto e, ao encontrar-me, despejou o projétil que me estirou no piso do quarto... Estava sob a impressão de meu injustificável espanto, quando, incapaz de mover-me, ainda o vi colocar em minha mão esquerda a arma que somente funcionaria, a rigor, em minha destra, largada à imobilidade da desencarnação. Não consegui chamar por socorro porque a hemorragia fulminante me subtraiu todas as possibilidades de movimento e, caindo no estado comatoso em que me vi, ainda lhe consegui observar a cautela com que se retirara de nossa casa, naturalmente receando qualquer punição aberta. Quem foi? Não sei. E creio que não devo saber, por que seria doloroso agravar as tribulações em que nos vimos todos, de um momento para o outro. Não vi o pai quando fui encontrado inerte. Minha visão física parecia anulada...”.. Junior prossegue: “- Uma senhora, que se me revelou na condição de minha bisavó Maria Pereira Nunes, às pressas, me retirou do quadro de minha provação. Em seus braços fortes e acolhedores consegui o sono que necessitava e, desde então, despertando transformado em meus sentimentos mais íntimos, refleti sobre a ocorrência que a polícia afinal não desvendaria”. A perícia qualificou a ocorrência apenas como um acidente com arma de fogo mostrando a superficialidade com que foi conduzida, pois o detalhe da posição do revolver na mão esquerda quando Junior era destro, deixou de ser observado.



Se o que funciona na Justiça de Deus é a Lei de Causa e Efeito e todos já cometemos erros no passado, certamente teremos que arcar com as consequências inevitáveis desses erros. Ora, desse modo acabamos caindo na Lei de Talião – olho por olho, dente por dente, porque, na Lei de Deus, nenhum erro fica sem reparação. Essa concepção não pode nos levar a um sentimento de culpa ao invés de nos trazer o consolo que o Espiritismo promete?

-  A lei de talião, proposta por Moisés, estabelecia rigoroso castigo aos infratores, devolvendo na mesma moeda o mal que cada um praticou. Para aquele contexto cultural de cerca de 40 séculos atrás, no entanto, precisamos levar em conta dois fatores, que diferenciam totalmente da concepção espírita. Primeiro, o castigo vinha de Deus, e de um deus severo e impiedoso. Segundo, a vida era apenas esta que estamos vivendo agora – não se cogitava de vida após a morte e muito menos de reencarnação.

 O maior castigo que Deus podia impingir contra o homem era a morte. E morte significava de fato morte, aniquilação total do ser. Não havia apelação, não havia outra oportunidade. Por isso, a pena de morte estava presente naquele povo para várias infrações, como o adultério por exemplo. Para o Espiritismo, porém, não há castigo, o que existe de fato é apenas a consequência natural do erro cometido, e essa consequência pode ocorrer de variadas formas, dependendo do desempenho de cada um.

 Além do mais, para o Espiritismo a vida continua. O que não resolvemos numa vida, podemos resolver em outra ou em outras. Deus não é mais o ditador impiedoso que castiga severamente seu povo, mas o Pai compreensível e amoroso que Jesus ensinou, que nos dá inúmeras oportunidades para nos levantar e prosseguir.

 Nossos erros não afetam Deus, nem suas leis. Deus é demasiado grande para ser prejudicado por nós, que somos infinitamente pequenos diante dele. Nossos erros, sejam quais forem, atingem somente a nós mesmos, porque se a infração fere os outros, fere muito mais nossa própria consciência. Desse modo a dívida moral que cada um pode contrair é para com os outros e para consigo mesmo. Daí a necessidade do perdão e do auto perdão.

 O fato de não lembrarmos de vidas anteriores significa que não devemos nos preocupar com o que fizemos no passado, pois essa preocupação só nos deixaria perturbados e com forte sentimento de culpa. É por isso que, ao reencarnar, esquecemos o passado.  Bastam os erros atuais. Os erros que porventura cometemos no passado devem ser encarados com naturalidade, pois fazem parte da jornada de aperfeiçoamento de todos os Espíritos.

  A mensagem, que o Espiritismo nos oferece, portanto, é uma mensagem de consolo e de paz, fundamentada numa visão realista da vida. A bondade e a perfeição de Deus nos permitem construir o próprio destino, cada qual a seu modo e conforme suas possibilidades. Os males da jornada, decorrentes de nossas faltas, vão sendo saneados aos poucos, conforme o ritmo de crescimento de cada um.

 Não há um determinismo na vida, ou seja, não existe um destino rigorosamente traçado, existe apenas um caminho que escolhemos e que devemos percorrer através das encarnações, usando de nosso livre arbítrio. Logo, a forma de percorrê-lo depende de nós. Podemos ir mais depressa ou mais devagar, mas todos, invariavelmente, alcançaremos a meta da perfeição. Neste sentido, Jesus nos recomendou: “Sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito”.

 Finalmente, devemos considerar que a Lei do Talião, embora se baseasse no princípio de causa e efeito, não levava em conta a misericórdia divina, verdade esta que só Jesus revelou àquele povo quase treze séculos depois de Moisés. Na lei mosaica era Deus que castigava; na doutrina de Jesus, o sofrimento decorria de nossas escolhas e de nossos atos. Na visão de Moisés a justiça divina era inapelável, severa e implacável; na concepção de Jesus, justa e misericordiosa.

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário