faça sua pesquisa

segunda-feira, 25 de maio de 2020

REMORSO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

Convivendo com o infortúnio de encarnados e desencarnados por muitas décadas, o médium Chico Xavier comentou que “tudo passa, mas o remorso faz com que o tempo pare dentro da gente. O relógio não espera ninguém, mas a consciência culpada se recusa a avançar”. O caso seguinte comprova esta afirmação. Começa com uma manifestação psicofônica havida ao final da reunião de 13 de maio de 1954, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, na cidade de Pedro Leopoldo, Minas Gerais. Usando a mediunidade de Chico, comunicou-se um Espírito identificado apenas pelas iniciais J.P. que, curiosamente, ligava-se a uma das integrantes do grupo ali presente, a qual, meses antes da mensagem, revelava todos os sintomas de uma gravidez aparente e dolorosa, tendo sido tratada espontaneamente em várias reuniões sucessivas por um dos Benfeitores Espirituais que, carinhosamente, a libertou, através de passes magnéticos, das estranhas impressões de que se via possuída. Com grande surpresa para todos, soube-se que o Espírito J.P., era o candidato ao renascimento que não chegou a positivar-se. A história de J.P. talvez possa ser iniciada pela noite/madrugada de março de 1866, após o mesmo ter retornado de uma reunião de que participara na Câmara Municipal de Vassouras (MG), a convite de amigo pessoal para tratar de assunto que lhe era inteiramente desagradável: “a adoção de medidas compatíveis com a campanha abolicionista, então na culminância”. Admitindo que o negro havia nascido para o eito, não cogitando de concessões nem transações, apoiado  por outros que lhe partilhavam das opiniões, viu sua causa vencedora, em meio a acalorados debates. Retornando à sua propriedade, todavia, tomou conhecimento que a inspiração da providencia sugerida partira inicialmente de um dos servos de sua casa, Ricardo, a quem presumia dedicar sua melhor afeição. A ele se ligara desde pequeno por profunda simpatia por sua inteligência invulgar, propiciando-lhe condições de uma formação esmerada que o tornara hábil tradutor do francês. Afeiçoado ao rapaz, tornara-o companheiro, confidente, amigo, tudo, reconhecia hoje, por implacável egoísmo, por admirar-lhe as qualidades inatas, aproveitando-lhe o concurso, como quem se reconhece dono de uma animal raro, querendo-o como se não passasse de mera propriedade sua. Enraivecido, disposto a castiga-lo apesar do horário, determinou sua imediata prisão, contra a qual não houve nenhuma resistência e, após interrogatório encarado com calma, resignação e bondade, que só fez atiçar a ira do que se julgava seu senhor, ordenou que a prisão no tronco fosse transformada em suplício comandado através de gritos, para que sua gente por meio de violentas pancadas, dilacerassem o dorso nu de Ricardo que, apesar do jorro abundante de sangue, mergulhara em lacrimoso silêncio. À face daquela resistência tranquila, induziu o capataz a massacrar-lhe mãos e pés, recomendação imediatamente cumprida, após o que os grilhões foram dasatados. Recorda J.R., que “aquele homem, que parecia guardar no peito um coração diferente, ainda teve forças para arrastar-se, nas vascas da morte e, endereçando-me inesquecível olhar, inclinou-se à maneira de um cão agonizante e beijou-me os pés”... Acrescenta “não haver quem possa compreender o martírio de um Espírito que abandona a Terra, não posição em que deixei. Um pelourinho de brasas que me retivesse por mil anos sucessivos talvez me fizesse sofrer menos, pois desde aquele instante a existência se me tornou insuportável e odiosa”. Sem noção de tempo, em dado instante, na treva em que se debatia, a voz de Ricardo se fez ouvir aos seus pés: -Meu filho!..Meu filho!...Conta que “num prodígio de memória, em vago relâmpago na escuridão de minh’alma, recordei cenas que haviam ficado a distância, quadros que a carne da Terra havia conseguido transitoriamente apagar. Com emoção indizível, vi-me de novo nos braços de Ricardo, nele identificando meu próprio pai, meu próprio pai que algemara cruelmente ao poste de martírio e a cuja flagelação eu assistira, insensível, até ao fim... Não posso entender os sentimentos contraditórios que então me dominaram... Envergonhado, em vão tentei fugir de mim mesmo. Em desabalada carreira, desprendi-me dos braços carinhosos que me enlaçavam e busquei a sombra, qual o morcego que se compraz tão somente com a noite, a fim de chorar o remorso que meu pai, meu amigo, meu escravo e minha vítima não poderia compreender. No entanto, como se a Justiça, naquele momento, houvesse acabado de lavrar contra mim a merecida sentença condenatória, após tantos anos de inquietação, reconheci, assombrado, que meus pés e minhas mãos estavam retorcidos. Procurei levantar-me e não consegui. A Justiça vencera”. O testemunho de J.R. prossegue, narrando outras desventuras que experimentou a partir daquele dia, provocadas por cativos que lhe conheceram a truculência, até que, décadas depois, no calendário de nossa Dimensão, começasse a ser preparado para nova reencarnação a se efetivar em breve, possibilitando-lhe expiar o tenebroso e triste passado.




Recebemos a seguinte questão. Pela Lei de Causa e Efeito, pergunto: É verdade que todos sofremos e vamos morrer um dia. Mas o bem que as pessoas fazem não conta? Uma pessoa que teve uma boa conduta, teve uma religião, ajudou e trabalhou pelos necessidades, não mereceria sofrer menos e ter uma morte mais suave?
Esta conclusão seria válida, se considerássemos que a vida é uma única, que não teremos outra oportunidade de viver aqui na Terra e refazer nosso caminho. No Espiritismo, ao analisar uma vida, percebemos que existe um passado que não estamos levando em conta e tampouco sabemos o que a dificuldade de hoje representa de positivo na escala evolutiva do Espírito. Daí a importância de se conhecer o Espiritismo para melhor avaliar o trajeto de uma encarnação.
Além disso, num mundo como o nosso, de provas e expiações, os bons geralmente sofrem, mas é um sofrimento diferente do sofrimento dos que praticam atos de maldade. Os maus sofrem por egoísmo, por orgulho, por ganância, por sede de vingança. Os bons sofrem por amor e por uma boa causa; por isso, encontram Deus no coração.
O maior exemplo disso é Jesus, que não se intimidou diante do ódio e da violência com que homens de seu tempo o trataram. Se a sua santidade fosse reconhecida por todos, ele seria homenageado e aplaudido; mas como os homens não estavam em condições de compreender a sublimidade de sua missão por causa dos interesses materiais, o perseguiram e o crucificaram. Jesus, porém, os compreendeu na sua ignorância e limitação. E aquele lamentável episódio que, para o mundo, foi uma derrota do bem, para Jesus que deu exemplo de perdão, foi uma vitória.
   Desse modo, o bons não estão imunes ao sofrimento, quando eles têm consciência de que estão ajudando a construir um mundo melhor com sua conduta. Todo aquele que age com honestidade e decência, com bondade e amor na sua vida, acaba encontrando obstáculos por parte de quem ainda não atingiu esse nível de elevação espiritual. No entanto, os que sofrem pelo bem, sofrem resignados, aliviados pelas benesses da própria consciência, porque se sentem felizes em preservar os valores da alma, que se constituem no seu mais rico tesouro.
Os que não entenderam a necessidade do bem e vivem apenas em função das vantagens imediatas da vida, vivem angustiados diante das mil necessidades que criam para si mesmos, agitam-se e se desgastam ante as perdas materiais, sofrem os aguilhões da revolta porque não conseguem suprir suas mais intimas necessidades e, quase sempre, se sentem inseguros quanto ao futuro que os perturba com graves conflitos que nascem da reprovação da sua consciência moral.
 





Nenhum comentário:

Postar um comentário