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domingo, 1 de novembro de 2020

SEXTO SENTIDO: UM NOVO PARADIGMA?; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Abrindo o número de outubro de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec apresenta um artigo sugestivo: O sexto sentido e a visão espiritual. Para ilustrar seu ponto de vista, expõe uma experiência vivida quando em visita à casa de um membro identificado apenas como senhor W., da Sociedade Espírita de Paris, na cidade de Berna, na Suíça, onde ouviu falar e depois conheceu um camponês das cercanias, possuidor da faculdade de descobrir fontes e ver num copo respostas às perguntas que lhe fazem. Casado, pai de família, 64 anos, alto, esguio, boa saúde, torneiro de profissão, protestante, muito religioso, leitor habitual da Bíblia, vítima desde trinta anos antes de uma doença que o fazia se movimentar com dificuldade.  Segundo relato do senhor W., existindo em sua propriedade um conduto de águas muito extenso que, por força de certas causas locais, concluíram que a tomada d’agua fosse mais próxima, para evitar escavações inúteis, recorreu ao descobridor de fontes. Este, sem deixar seu quarto, disse olhando o copo: -“No percurso dos tubos existe outra fonte; está a tantos pés de profundidade, abaixo do décimo quarto tubo, a partir de tal ponto”. A coisa foi encontrada tal como ele havia indicado. Aproveitando a ocasião, Allan Kardec na companhia de seu anfitrião, sua esposa e mais duas pessoas, foi a casa desse homem, na intenção de instruir-se sobre o fenômeno. Ouviu que sua faculdade se revelou quando da manifestação da enfermidade, crendo que Deus quis lhe dar certa compensação. Rosto expressivo e alegre, olho vivo, inteligente e penetrante, só fala o dialeto alemão da região não entendendo nada de francês, vivendo do produto de algumas peças de terá e de seu trabalho pessoal, não sofrendo necessidade, sem estar numa posição confortável. Procurado por desconhecidos para uma consulta, seu primeiro movimento é de desconfiança, sondando suas intenções, respondendo só se ocupar de fontes, recusando qualquer experiência com o copo, crendo que se se ocupasse com questões frívolas, especulações amorosas, realização de algum desígnio mau, Deus lhe retiraria a faculdade. Absolutamente ignorante sobre Espiritismo, sem a menor ideia dos médiuns, da intervenção dos Espíritos, da ação fluídica, para ele sua faculdade está nos nervos, numa força que ele não explica. Citando outro exemplo da precisão das visões do visitado, inclusive em relação a si mesmo, Allan Kardec diz ser “mais comum que se pensa, pessoas com a mesma percepção, que o copo é mero acessório, útil apenas pelo hábito da mesma forma que a borra de café, a clara de ovos, o côncavo das mãos, as cartas, apenas um meio de fixar a atenção, um pretexto para falar, um suporte.(...). Porque o que tem efeito sobre um não o tem sobre outro? Porque tantas pessoas possuem essa faculdade sem auxílio de qualquer aparelho?  É que a faculdade é inerente ao individuo e não ao copo. A imagem se forma em si mesmo, ou melhor, nas irradiações fluídicas que dele emanam. O copo não oferece, por assim dizer, senão o reflexo dessa imagem: é um efeito, e não uma causa. (...). E isto é tão verdadeiro, que certas pessoas veem perfeitamente com os olhos fechados. A visão espiritual é, na realidade, o sexto sentido ou sentido espiritual, de que tanto se falou e que, como os outros sentidos, pode ser mais ou menos obtuso ou sutil. Ele tem como agente o fluido perispiritual, como a visão física tem por agente o fluido luminoso. Assim como a radiação do fluido perispiritual traz à alma certas imagens e certas impressões. Esse fluido, como todos os outros, tem seus efeitos próprios, suas propriedades sui generis. . Sendo o homem composto de Espírito, períspirito e corpo, durante a vida as percepções se produzem, ao mesmo tempo, pelos sentidos orgânicos e pelo sentido espiritual; depois da morte, os sentidos orgânicos são destruídos mas, restando o períspirito, o Espírito continua a perceber pelo sentido espiritual, cuja sutileza aumenta em razão do desprendimento da matéria. O homem em quem tal sentido é desenvolvido goza, assim, por antecipação, de uma parte das sensações do Espírito livre. Posto que amortecido pela predominância da matéria, o sentido espiritual não deixa de produzir sobre todas as criaturas uma porção de feitos reputados maravilhosos, por falta de conhecimento do princípio. Estando esta faculdade na Natureza, pois depende da constituição do Espírito, então existiu em todos os tempos; mas, como todos os efeitos cuja causa é desconhecida, a ignorância o atribuía a causas sobrenaturais. Os que a possuíam em grau eminente e podiam dizer, saber e fazer coisas acima do alcance comum, ou eram acusados de pactuar com o diabo, qualificados de feiticeiros e queimados vivos; enquanto outros eram beatificados, como tendo o dom dos milagres, quando, na realidade, tudo se reduzia à aplicação de uma lei natural”.


 “Após a morte, o que acontece com uma pessoa que matou uma criança?” – pergunta formulada pela ouvinte Carmen Scarparo Marion.

  Evidentemente, a sensação de quem assassinou uma criança e adentra o mundo espiritual, deve ser muito desagradável, Carmen. Contudo, cada caso se reveste de características próprias e não nos cabe julgar. O problema de um crime dessa natureza, principalmente se revestido de requintes de crueldade, é o sentimento de culpa que deve aflorar da consciência do assassino, e isso pode acontecer aqui na Terra, antes mesmo de sua desencarnação.

 Essa culpa deverá tortura-lo e será tanto maior quanto mais exigente sua consciência. Nenhum de nós, na sua plena capacidade de raciocínio, se sentiria bem consigo mesmo, após ter prejudicado um ser indefeso como a criança, quanto mais pelo fato de ter-lhe roubado a vida. No mínimo, quando não fôssemos muito exigentes em termos morais, ficaríamos incomodados com um grito interior, pois, bem lá no fundo da consciência, temos a noção do que é certo e do que é errado, do que fizemos de bem e do que fizemos de mal.

Os Espíritos disseram a Kardec que as leis de Deus estão em nossa consciência. Natural, portanto, que os criminosos infanticidas procurem driblar sua consciência moral para não terem que encará-la, pois a culpa tende a se agravar com o tempo. Para isso, eles procuram se esconder de si mesmos, disfarçando bem-estar, e procurando se convencer que seu ato não foi tão grave assim. Pura ilusão. No fundo, esse grito de consciência não se cala e, ainda que momentaneamente abafado, ecoa de sua casa mental como um elemento perturbador de sua paz interior. Podemos fugir da justiça humana, mas não engamos a Justiça Divina.

 A morte do corpo deixa livre o Espírito para uma novo tipo de experiência no mundo espiritual. Não estando mais preso às necessidades físicas e nem diretamente envolvido com os problemas terrenos, cada um se depara com uma realidade consciencial mais viva e mais atuante, como se colocasse à sua frente um espelho onde ele vai ficar contemplando a própria alma. Mas, assim mesmo, depende de quanto o Espírito já amadureceu para a realidade da vida. Quanto mais desperto, mais sofre: sofre a dor do arrependimento e sofre mais a necessidade de querer reparar o erro cometido.

 Estamos falando em termos teóricos, Carmen, pois cada caso é um caso, cada consciência uma consciência, cada dor uma dor A verdade é que, quanto mais o Espírito vai crescendo em compreensão das leis da vida, mais ele sofre o remorso pelos erros que não conseguiu evitar. Desse modo quem não sofre agora vai sofrer depois, quem não suporta o peso da culpa nesta vida, deverá suportá-lo na vida espiritual ou em outra existência. Só a oportunidade de nova encarnação é que vai lhe propiciar a oportunidade de tentar reparar o erro que cometeu e isso pode acontecer nas mais variadas condições. 
















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