(Comentário de uma leitora) Tenho uma
empregada que, há muitos anos, trabalha em minha casa. É pessoa de confiança,
mas muito revoltada e infeliz. Não comigo, ela é revoltada com a vida. Ela tem
três filhos, dois bem pequenos, e sofre muito com o marido que é viciado em
bebida, trata mal, ela e as crianças.
Comparando a minha vida, a de minha família, com a vida dela, sinto que
estou no céu e ela no inferno, porque frequentemente ela chega muito
contrariada e parece que nem quer voltar pra casa. Converso às vezes com ela,
tentando orientá-la e acalmá-la, para ter mais fé em Deus, mas acho que ela nem
presta atenção no que falo, não se resolve e nem quer separar do marido. Enfim,
é uma pessoa que sofre, vive amargurada e sem saber por que. Fico pensando como
existem milhares de pessoas que não saem do lugar e nem sabem porque estão
sofrendo...
A sua preocupação
é válida. Nós, seres humanos, neste estágio evolutivo em que nos encontramos,
ainda somos muito complicados, mas uns
são bem mais complicados do que outros. Por isso, não é fácil para os mais
esclarecidos compreender algumas pessoas, principalmente aquelas que precisam
de ajuda, mas não se deixam ajudar. Ainda há muita gente que desistiu de lutar
pela vida. Não sabemos, na verdade, o que existe por trás do drama dessa senhora
que trabalha na sua casa. Devem haver motivos
ocultos que a impedem de agir, preferindo aceitar o sofrimento a reagir contra
ele.
Por
outro lado, sabemos que o sofrimento nos ensina muito. Aliás, é o que mais nos
ensina. Mas é preciso saber sofrer. N’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, de
Allan Kardec, há um texto muito interessante a respeito, cujo título é este:
“Bem sofrer, mal sofrer”. Do sofrimento ninguém se esquiva nesta vida, qualquer
que seja a nossa condição, por causa do atraso moral da humanidade, ainda muito
comprometida com o orgulho e com o egoísmo. Mas podemos sofrer o menos
possível, podemos aliviar a nossa carga de sofrimento, procurando saber por que
sofremos e aprendendo com isso.
Resignar-se diante do sofrimento não é se
entregar a ele, ensina o Espiritismo. Mas é saber avaliar o que podemos fazer
para nos ajudar melhor às nossas necessidades, sem prejudicar os outros.
Resignar-se, portanto, é aceitar o que não pode ser mudado ( a morte, por
exemplo), mas é também saber discernir o que podemos e o que não podemos mudar.
Nisso entra a ação da fé, e essa fé será tanto mais eficaz quanto mais ampla a
nossa compreensão sobre as Leis da Vida, que são as Leis de Deus.
Com
certeza, não nascemos para uma vida fácil – até porque, na condição de
aprendiz, a vida não teria sentido se não tivéssemos problemas a resolver e nem
obstáculos a superar. O paraíso é um mito, até porque ninguém conseguiria ser
feliz onde não houvesse nenhum obstáculo a vencer e nenhuma meta a
alcançar. Uma escola só é boa se ensinar
e, para ensinar, ela precisa estimular os alunos a agir, principalmente a
resolver problemas. A realização do aprendiz é obter o diploma e reconhecer sua
competência.
A
Terra é uma escola, como diz a poetisa Carmen Cinira, através do médium Chico
Xavier. Mas nós, que somos alunos, precisamos descobrir isso. Enquanto não
tomarmos consciência de que estamos neste mundo para aprender, a carga de
sofrimento será muito pesada para nós No mais, cara ouvinte, precisamos
entender que as pessoas se fecham no seu mundo pelos mais variados motivos. Às
vezes, elas estão aguardando uma oportunidade para despertar, mas ainda não
amadureceram para isso. De outras, o sentimento de culpa, que podem provir
desta ou de outras encarnações, é demasiado severo e as deixam petrificadas
diante do mal que as atormenta. Orgulho e revolta podem inibir e emudecer as
pessoas. E, quando achamos que tudo que podíamos fazer por elas já fizemos,
resta-nos confiar em Deus e orar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário