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domingo, 23 de outubro de 2016

QUEM ACREDITARIA?

Político, Industrial e Administrador de méritos indiscutíveis, recentemente desencarnado, levado por Amigos Espirituais que lhe acompanhavam a recuperação necessária a reunião de tratamento espiritual, mostrava-se enfermiço e indisposto. A breve tempo, retemperado e fortalecido, retornou à instituição relatando suas impressões do sucedido nas horas que se seguiram  à sua inesperada morte., revelando que o “A cada um conforme as próprias obras” é regra a que todos se subemetem.  Identificado apenas pela letra G. por razões compreensíveis oferece elementos para nossas reflexões. De seu depoimento destacamos alguns trechos: - “Não admitia que o sepulcro me requisitasse tão apressadamente à meditação. A angina, porém, espreitava-me, vigilante, e fulminou-me sem que eu pudesse lutar. Recordo-me de haver sido arremessado a uma espécie de sono que me não furtava a consciência e a lucidez, embora me aniquilasse a os movimentos. Incapaz de falar, ouvi os gritos dos meus e senti que mãos amigas me tateavam o peito, tentando debalde restituir-me a respiração. Não posso precisar quantos minutos gastei na vertigem que me tomara de assalto, até que, em minha aflição por despertar, notei que a forma inerte me retomava a si, que minh’alma entontecida regressava ao corpo pesado; no entanto, espessa cortina de sombra parecia incorporar-se agora entre os meus afeiçoados e a minha palavra ressoante, que ninguém atendia... Inexplicavelmente assombrado, em vão pedia socorro, mas acabei por resignar-me à ideia de que estava sendo vítima de estranho pesadelo, prestes a terminar. Ainda assim, amedrontava-me a ausência de vitalidade e calor a que me via sentenciado. Após alguns minutos de pavoroso conflito, que a palavra terrestre não consegue determinar, tive a impressão de que me aplicavam sacos de gelo aos pés. Por mais verberasse contra semelhante medicação, o frio alcançava-me todo o corpo, até que não pude mais... Aquilo valia por expulsão em regra. Procurei libertar-me e vi-me fora do leito, leve e ágil, pensando, ouvindo e vendo... Contudo, buscando afastar-me, reparei que um fio tênue de névoa branquicenta ligava minha cabeça móvel à minha cabeça inerte. Indiscutivelmente delirava, no entanto aquele sonho me dividia em duas personalidades distintas, não obstante guardar a noção perfeita de minha identidade. Apavorado, não conseguia maior afastamento da câmara íntima, reconhecendo, inquieto, que me vestiam caprichosamente a estátua de carne, a enregelar-se. Dominava-me indizível receio. Sensações de terror neutralizavam-me o raciocínio. Mesmo assim, concentrei minhas forças na resistência. Retomaria o corpo. Lutaria por reaver-me. O delíquio inesperado teria fim. Contudo, escoavam-se as horas e, não obstante contrariado, vi-me exposto à visitação pública. Mas oh! irrisão de meu novo caminho!... Eu, que me sentia singularmente repartido, observei que todas as pessoas com acesso ao recinto, diante de mim, revelavam-se divididas em identidade de circunstâncias, porque, sem poder explicar o fenômeno, lhes escutava as palavras faladas e as palavras imaginadas. Muitas diziam aos meus familiares em pranto: - Meus pêsames! Perdemos um grande amigo... E o pensamento se lhes esguichava na cabeça, atingindo-me como inexprimível jato de força elétrica, acentuando: - “não tenho pesar algum, este homem deveria realmente morrer...” Outras se enlaçavam aos amigos, e diziam com a boca: - Meus sentimentos! O doutor G. morreu moço, muito moço. E acrescentavam, refletindo: - “morreu tarde, ainda bem que morreu...Velhaco! deixou uma fortuna considerável... deve ter roubado excessivamente...” Outras, ainda, comentavam junto à carcaça morta: - Homem probo, homem justo!... E falavam de si para consigo: - “político ladrão e sem palavra! Que a terra lhe seja leve e que o inferno o proteja!...” Via-me salteado por interminável projeção de espinhos invisíveis a me espicaçarem o coração. Torturado de vergonha, não sabia onde esconder-me. Ainda assim, quisera protestar quanto às reprovações que me pareceram descabidas. Realmente não fora o homem que deveria ter sido, no entanto, até ali, vivera como o trabalhador interessado em quitar-se com os seus compromissos. Não seria falta de caridade atacarem-me, assim, quando plenamente inabilitado a qualquer defensiva? Por muito tempo, perdurava a conturbação, até que encontrei algum alívio... Muitas crianças das escolas, que eu tanto desejaria ter ajudado, oravam agora junto de mim. Velhos empregados das empresas em que eu transitara, e de cuja existência não cogitara com maior interesse, vinham trazer-me respeitosamente, com lágrimas nos olhos, a prece e o carinho de sincera emoção. Antigos funcionários, fatigados e humildes, aos quais estimara de longe, ofertavam-me pensamentos de amor. Alguns poucos amigos envolveram-me em pensamentos de paz. Aquietei-me, resignado. Doce bálsamo de reconhecimento acalmou-me a aflição e pude chorar, enfim... (...) Acompanhei o cortejo triste, cauteloso e desapontado. A vizinhança do cemitério abalava a escassa confiança que passara a sustentar em mim mesmo. O largo portão aberto, a contemplação dos túmulos à entrada e a multidão que me seguia, compacta, faziam-me estarrecer. Senti-me fraquejar. Clamei debalde por socorro, até que, com os primeiros punhados de terra atirados sobre o esquife, caí na sepultura acolhedora, sem qualquer noção de mim mesmo. Apagara-se o conflito. Tudo era agora letargo, abatimento, exaustão... Por vários dias repousei, até que, ao clarão da verdade, reconheci que as tarefas do industrial e político haviam chegado a termo. Antigas afeições surgiram, amparando-me a luta nova e, desse modo, voltou à condição do servidor anônimo o homem que talvez indebitamente se elevara no mundo aos postos de diretiva”. A integra desta mensagem pode ser lida na obra VOZES DO GRANDE ALÉM, reunindo psicofonias de Chico Xavier, publicado pela FEB. (Visite o canal  Luiz Armando – canal do YouTube  /  Conheça também  Luiz Armando - Preces)

Um comentário:

  1. Gostaria de agradecer imensamente pelas maravilhosas postagens que você tem feito neste blog. Descobri o mesmo por acaso, em um momento difícil, em que estou desempregada e desiludida com o mundo e as pessoas, em geral, e os ensinamentos contidos nestas postagens me deram ânimo para prosseguir lutando, apesar das dificuldades. Muito obrigada!

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