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sábado, 29 de outubro de 2016

NÃO ACABOU


O dia 8 de junho de 1982 é uma data que marca a história da aviação comercial no Brasil e no mundo. Isso porque, nas imediações de Fortaleza, capital do Ceará, ocorreu um acidente de grandes proporções a poucos minutos da aterrisagem. Passava das duas e meia da madrugada e envolveu o voo 168 da Varig, interrompendo a vida de 137 passageiros, inclusive a de Olimar Feder Agosti, então com 29 anos.   Advogada, casada três meses antes, seguia para a capital cearense onde seu marido a encontraria no dia seguinte, a fim de desfrutarem alguns dias de  férias ao lado dos padrinhos de sua união.   Meses depois, contudo, Olimar restabeleceria a conexão mais objetiva com seus familiares mais próximos através da prodigiosa mediunidade de Chico Xavier, testemunhando sua sobrevivência. Em sua carta, descreve minúcias de suas percepções antes, durante e depois da queda do avião.  Os detalhes são surpreendentes, confirmando a presença de Equipes de Espíritos desencarnados operando o resgate das vitimas nos minutos que se seguiram a dolorosa ocorrência. Na mensagem, testemunha a necessária adaptação à situação inesperadamente vivida, evidenciando sua condição evolutiva diferenciada em relação ao predominante na Humanidade de nosso tempo, em sua quase totalidade impulsionada pelo egoísmo ancestral. Escreve: -“Estou ainda sob a impressão difícil de descrever – a  impressão dos que passaram pela ocorrência de que compartilhei. Ainda assim, estou na condição da filha reconhecida que lhes pede a bênção. Venho trazida, porque, por mim própria, a iniciativa da visita a que me entrego, seria quase impraticável. A vovó Marieta considerou, porém, que seria justo endereçar-lhes alguma notícia e estou pronta a isso. Mesmo assim, como não poderia deixar de ser, me sinto amparada a fim de articular as minhas palavras escritas. Lembro-me perfeitamente de nossa despedida natural antes da decolagem do avião, tudo alegria e certeza de paz com a promessa do reencontro com o nosso querido Geraldo em fortaleza para que a minha alegria fosse complementada. A viagem começou sem novidades que mereçam menção especial. Alguns passageiros, creio que veteranos nas travessias aéreas, se punham a dormir, tentei fazer o mesmo, no entanto, não conseguia perder-me no repouso desejado. Refletia na vida e montava mentalmente os meus projetos para a excursão iniciada. Guardava a ideia de que alguém velava comigo, sem que eu pudesse identificar qualquer presença espiritual. Mais tarde é que soube que a vovó Marieta estava ao meu lado. Tudo seguia sem sobressaltos, máquina estável e segurança em tudo. A aeromoça ia e vinha de quando em quando, oferecendo brindes para nosso reconforto e irradiando o sorriso com que parecia desejosa de nos tranquilizar. Consultei o horário e pensava na mãezinha Helena a esperar-me na alta madrugada, quando o estrondo nos reuniu a todos na mesma ideia horrível. Num relâmpago de segundo ainda consegui mentalizá-los em companhia do GE, mas o raciocínio desapareceu como por encanto. Dores, não senti. Creio hoje que nas calamidades imprevistas qual aquela em que me vi, não há tempo para registro de sofrimento pessoal. Se isso aconteceu deve ter sido um pesadelo que o assombro empalideceu. Nada mais vi nem ouvi. Não sei fazer qualquer comparação para transmitir-lhes essa ou aquela ideia do sucedido. Quanto tempo estive largada ao esquecimento de mim, ainda ignoro. Primeiramente a amnésia me dominou totalmente, em seguida me vi colada a uma apatia sem nome. Vi pessoas em derredor de mim, sabia que um leito acolhedor me aguardava, entretanto, muito vagarosamente passei a interessar-me na busca de minhas próprias recordações. Percebia-me visitada por amigos, escutava-lhes os votos de recuperação tão rápida quanto possível, no entanto falar ainda era algo muito complicado nos mecanismos de relacionamento de que dispunha. Passaram-se dias sobre dias, até que pude interpelar minha querida avó que se identificou para minha tranquilidade. Iniciei os meus contatos e, com espanto, vim saber que já não mais pertencia ao nosso mundo familiar, segundo os vínculos físicos. Aturdia-me saber que me achava num corpo absolutamente igual ao meu e a meio custo aceitei a realidade de que o outro, aquele que eu deixara no avião sinistrado, era uma veste que me fizera inútil. A transição era violenta demais para que me conformasse sem rebeldia, sentia sim uma certa mágoa contra a vida, porque efetivamente não poderia dizer contra a morte, já que a morte passara a ser inexistente em meu modo de pensar e sentir. Dei largas ao meu pranto de angústia, o que minha avó Marieta considerou natural. Ela não me proibiu qualquer manifestação de tristeza ou desalento, mas me afirmou que seria muito importante superar a crise com minha força de vontade, como se naquelas horas a tivesse. Os conselhos e avisos, porém, valiam por medicações de muito significado para que eu conseguisse refazer energias a fim de revê-los e comecei a extrair do íntimo do meu próprio Ser, a decisão de vencer a mim própria. Reagi com as possibilidades de resistência que não perdera de todo e transferi-me da amargura para a esperança. Era preciso ajustar-me às leis de Deus que são as Leis da Vida, compreender que os meus anseios de moça deviam ceder lugar a um entendimento melhor, e gradativamente consegui entrar no conhecimento de outros amigos, todos eles familiares queridos que me estimulavam à renovação. (Visite o canal  Luiz Armando – canal do YouTube  /  Conheça também  Luiz Armando - Preces)




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