Uma de nossas ouvintes solicita uma interpretação desta afirmação de Jesus: “Em verdade vos digo que sempre que o fizestes a um desses pequeninos, a mim mesmo o fizestes”.
A que Jesus estava se referindo? Esta citação faz
parte de um texto do evangelho de Mateus, capítulo 25, conhecido como “sermão
profético”, assim narrado pelo autor: “Quando vier o filho do Homem na sua
majestade e todos os anjos com ele, assentar-se-ão no trono de sua glória. E
todas as nações serão reunidas em sua presença e ele separará um dos outros,
como o pastor que separa os cabritos das ovelhas. E porá as ovelhas à sua
direita e os cabritos à sua esquerda, e dirá para os da direita: - Vinde, benditos do meu Pai, entrai na posse
do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo, porque tive fome e
me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era estrangeiro e me
hospedaste, estava nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, preso e me
fostes ver.
Então, perguntarão os justos: - Senhor, quando
foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber?
Quando te vimos forasteiro e te hospedastes? Ou nu e te vestimos? E quanto te
vimos enfermo ou preso e fomos te visitar? O rei, respondendo, lhes dirá: - Em
verdade vos digo que sempre que o fizestes a um deste pequeninos a mim mesmos o
fizestes.”
Muito elucidativa esta parábola, pois, na
verdade, como podemos ver pela redação de Mateus, ela tem toda a
características de uma das histórias que Jesus contava ao seu povo, quando
queria deixar um ensinamento. Nos
evangelhos não é tão simples diferenciar o que foi um fato do que foi uma
parábola, pois Jesus usava de uma linguagem figurada, cheia de comparações e
poesia e os próprios evangelistas nem sempre cuidaram de deixar as coisas mais
claras. Outra característica de sua fala era a repetição das palavras e das
frases, como vemos nesta oportunidade. A repetição era necessária para que os
ouvintes pudessem memorizar a história. Na verdade, não há novidade na fala de
Jesus, porque tudo que ele diz aqui, conforme a narrativa de Mateus, encaixa
plenamente no princípio do amor ao próximo, que é o ponto alto de sua doutrina.
Trata-se, portanto, de mais um reforço de suas
ideias, que podiam assim se resumir: fazer o bem sem olhar a quem. Reparem que
o rei fala a todas as nações, ou seja, à
humanidade toda, pessoas de todas as procedências e de todas as
religiões. Os pequeninos, a que se refere, são os necessitados – quer dizer,
aqueles cuja situação de necessidade justifica uma atenção, uma ajuda, um
socorro, uma providência qualquer. Nesse caso, Jesus citou várias situações, as
que eram mais comuns na época ( e também não diferencia muito das dos dias de
hoje): o do faminto, o do sedento, o do desabrigado, do enfermo e do
presidiário. Pessoas nessas condições eram para quem devia se dirigir a atenção
dos verdadeiros seguidores de Jesus – ou seja, de quem realmente quer ser seu
discípulo, assumindo sua doutrina, não só na palavra, mas sobretudo na AÇÃO.
Essa parábola desenha com traços mais fortes e
pronunciados a ideia simples da caridade, que já fora bem ilustrada por Jesus
quando contou a parábola do bom samaritano. Aqui, porém, ele retorna ao tema
numa dimensão mais ampla, porque se refere a todos os necessitados do mundo. E
quem não é necessitado? Todos necessitamos uns dos outros. O mais rico necessita
de esclarecimento e conforto diante de seus muitos conflitos; o mais pobre, de
recursos para a própria sobrevivência; o doente, da presença solidária e amiga,
o preso do apoio moral dos que querem vê-lo reconduzido à vida social com
dignidade, e assim por diante.
O julgamento a que Jesus se refere é a
consequência inevitável da Lei de Causa e Efeito, que aqui ratifica sua
afirmação “a cada um segundo as suas obras”, tanto quanto as tantas referências
que fez em relação aos que acreditam que estão agradando a Deus, vivendo apenas
de louvores e adorações, como era o caso específico dos fariseus, a quem tanto
criticou. É claro que, quando lemos os evangelhos, não podemos nos ater apenas
e tão somente ao sentido literal das palavras, das coisas que faziam parte do
cenário da vida daquele povo e nem dos seus costumes concepções que estão
adequados às novas descobertas e conhecimentos da humanidade, mas transferir
essa situação alegórica para os dias de hoje, entendendo, sobretudo, que a
volta de Jesus é, na verdade, a retomada de seus ensinos de forma a mudar o
panorama moral do mundo.
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