As comunicações procedentes do Plano Espiritual são
totalmente confiáveis? A dúvida é procedente, constituindo-se
a resposta em argumento importante para aqueles que se esforçam em desacreditar
a realidade da influência espiritual em nossa Dimensão. No número de maio
de 1865 da REVISTA ESPÍRITA,
Allan
Kardec reproduz três manifestações do Espírito Pascal, recebidas por um
médium de Lyon, identificado apenas como Sr. X, uma das quais
posicionando-se sobre o tema. Diz o celebre matemático do século 17: –“Temos-vos
dito muitas vezes que investiguem as comunicações que vos são dadas,
submetendo-as à análise da razão, e que não tomeis sem exame as inspirações que
vêm agitar o vosso Espírito, sob a influência de causas por vezes muito
difíceis de constatar pelos encarnados, entregues a distrações sem-número. As
ideias puras que, por assim dizer, flutuam no espaço (segundo a ideia
platônica), levadas pelos Espíritos, nem sempre podem alojar-se sozinhas e
isoladas no cérebro dos vossos médiuns. Muitas vezes encontram o lugar
ocupado por ideias preconcebidas, que se espalham com o jacto da
inspiração, perturbando-o e transformando-o de maneira inconsciente, é verdade,
mas algumas vezes de maneira bastante profunda para que a ideia espiritual se
ache, assim, inteiramente desnaturada. A inspiração encerra dois elementos: o
pensamento e o calor fluídico destinado a excitar o Espírito do médium,
dando-lhe o que chamais a verve da composição. Se a inspiração encontrar o
lugar ocupado por uma ideia preconcebida, da qual o médium não pode ou não quer
desligar-se, nosso pensamento fica sem intérprete e o calor fluídico se gasta
em estimular uma ideia que não é nossa. Quantas vezes em vosso mundo egoísta e
apaixonado temos trazido o calor e a ideia! Desdenhais a ideia, que vossa
consciência deveria fazer-vos reconhecer e vos apoderais do calor, em benefício
de vossas paixões terrenas, por vezes dilapidando o bem de Deus em proveito do
mal. Assim, quantas contas terão de prestar um dia todos os advogados das
causas equivocadas! Sem dúvida seria desejável que as boas inspirações pudessem
sempre dominar as ideias preconcebidas. Mas, então, entravaríamos o
livre-arbítrio da vontade do homem e, assim, este último escaparia à
responsabilidade que lhe pertence. Mas se somos apenas os conselheiros
auxiliares da Humanidade, quantas vezes nos devemos felicitar, quando nossa
ideia, batendo à porta de uma consciência estreita, triunfa da ideia
preconcebida e modifica a convicção do inspirado! Entretanto, não se deveria
crer que nosso auxílio mal-empregado não traísse um pouco o mau uso que dele
podem fazer. A convicção sincera encontra acentos que, partidos do coração,
chegam ao coração; a convicção simulada pode satisfazer as convicções
apaixonadas, vibrando em uníssono com a primeira, mas traz um frio particular
que deixa a consciência malsatisfeita e revela uma origem duvidosa. Quereis
saber de onde vêm os dois elementos da inspiração mediúnica? A resposta é
fácil: a ideia vem do mundo extraterrestre – é a inspiração própria do
Espírito. Quanto ao calor fluídico da inspiração, nós o encontramos e o tomamos
em vós mesmos; é a parte quintessenciada do fluido vital em emanação; algumas
vezes nós a tomamos do próprio inspirado, quando este é dotado de certo poder
fluídico, ou mediúnico, como dizeis; na maioria das vezes nós o tomamos em seu
ambiente, na emanação de benevolência, de que está mais ou menos cercado. É por
isto que se pode dizer com razão que a simpatia torna eloquente. Se refletirdes
atentamente nestas causas, encontrareis a explicação de muitos fatos que a
princípio causam admiração, mas dos quais cada qual possui uma certa intuição.
Só a ideia não bastaria ao homem, se não se lhe desse o poder de exprimi-la. O
calor é para a ideia o que o perispírito é para o Espírito, o que o vosso corpo
é para a alma. Sem o corpo a alma seria impotente para agitar a matéria; sem o
calor, a ideia seria impotente para comover os corações. A conclusão desta
comunicação é que jamais deveis abdicar de vossa razão, ao examinardes as
inspirações que vos são submetidas. Quanto mais o médium tem ideias
adquiridas, mas é ele susceptível de ideias preconcebidas, mais deve fazer
tábula rasa de seus próprios pensamentos, abandonar as influências que o agitam
e dar à sua consciência a abnegação necessária a uma boa comunicação”.
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