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sábado, 21 de julho de 2012

Quem Foi(2)? ( a primeira mensagem)

  Em entrevista publicada quando das comemorações dos 40 anos de exercício continuado da mediunidade, Chico Xavier contou a Elias Barbosa na obra NO MUNDO DE CHICO XAVIER (ide), que desde a primeira mensagem psicografada, no dia 8 de julho de 1927, passou a ser assediado por inúmeros Espíritos que queriam escrever por seu intermédio. Em qualquer lugar, fosse o que estivesse fazendo. As acertadas orientações recebidas, contudo, fizeram que essa ansiedade das entidades desencarnadas fosse canalizada para as reuniões do Centro Espírita Luiz Gonzaga. Coincidia com as três normas apresentadas no primeiro encontro que teve com o orientador espiritual Emmanuel, quatro anos depois, em 1931, para que conseguisse alcançar os objetivos pretendidos, ou seja, a produção de trinta livros: disciplina, disciplina, disciplina. Na época, a poesia era um gênero muito apreciado e, a maioria dos manifestantes se servia dessa forma para se expressar. Os autores, todavia, não se identificavam. Saber-se-ia depois, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Castro Alves, Guerra Junqueiro, entre outros, serviram para apurar a sensibilidade mediúnica do jovem de apenas 17 anos, instrução interrompida ao final do antigo primário, repetente do quarto ano, afastado do estudo, em parte, pelas necessidades econômicas da família e outra, para escapar da internação em hospital psiquiátrico, já que seu pai tencionava fazê-lo, diante de sua insistência em falar com os que ninguém via e escutar os que só ele ouvia. A beleza das produções, porém, tocavam fundo  a alma dos que as liam. Lembrando esse tempo, Chico disse: “- Meu irmão José Cândido Xavier e alguns amigos de Pedro Leopoldo, como, por exemplo, Ataliba Ribeiro Vianna, achavam que as páginas deviam ser publicadas com meu nome, já que não traziam assinatura e essas publicações começaram no jornal espírita AURORA, do Rio de Janeiro, dirigido nessa época, por Ignácio Bittencourt, a quem Ataliba escreveu perguntando se havia algum inconveniente em lançar as citadas páginas com meu nome. Ignácio Bittencourt respondeu que não, desde que as produções escritas por minhas mãos não trouxessem assinatura. Ninguém poderia afirmar se eram minhas ou não e que ele as publicaria, não por meu nome, mas pelas ideias espíritas que continham. Aí começaram  a enviar essas produções para diversos setores, obedecendo ao entusiasmo pelos trabalhos nascentes da Doutrina Espírita, em nossa terra. Algumas publicações não espíritas  também estamparam inúmeros trabalhos entre 1927 e 1931, quando do aparecimento de Emmanuel. O JORNAL DAS MOÇAS, o Suplemento Literário de O JORNAL  e o ALMANAQUE DE LEMBRANÇAS, de Portugal, foram alguns”. Dessa fase, uma produção ficou inesquecível em sua memória. Conta ele: “- Recordo-me de um soneto intitulado NOSSA SENHORA DA AMARGURA, que foi publicado pelo ALMANAQUE DE LEMBRANÇAS, de Lisboa, na edição de 1931. Eu estava em oração, certa noite, quando se aproximou de mim, o espírito de uma jovem, irradiando intensa luz. Pediu papel e lápis e escreveu o soneto a que me referi. Chorou tanto ao escrevê-lo que eu também comecei a chorar de emoção, sem saber, naqueles momentos, se meus olhos eram os dela ou se os olhos dela eram os meus. Mais tarde, soube, por nosso caro Emmanuel, que se tratava de Auta de Souza, poetiza do Rio Grande do Norte, desencarnada em 1901. O soneto foi enviado a Portugal por meu irmão José, em meu nome, a página foi publicada, tendo eu recebido de Lisboa uma carta de um dos colaboradores da formação do citado ALMANAQUE, com muitos elogios ao trabalho que não me pertencia”. Desde esse dia, ao longo dos próximos anos, ela se serviria de Chico para extravasar sua capacidade, totalizando quase uma centena de trabalhos, compilados, em 1976, num livro que receberia como título seu nome AUTA DE SOUZA, organizado por dois grandes admiradores: Stig Roland Ibsen e Clóvis Tavares. Este, incumbiu-se de recuperar dados biográficos de Auta. Segundo apurou, ela nasceu em Macaíba, pequena cidade do Rio Grande do Norte, em 12 de setembro de 1876. Era a quarta de uma família de cinco irmãos. Antes de completar três anos, já era órfã de mãe e, aos cinco de pai. Assumem a responsabilidade da criação dos cinco pequenos, os avós maternos que os levam para morar com eles em Recife, tornando-se ela, alvo das atenções da avó Dindinha – Dona Silvina de Paula Rodrigues. Aos sete anos, já sabia ler e escrever, lendo para as crianças pobres, para humildes mulheres do povo ou velhos escravos, as páginas simples e ingênuas da História de Carlos Magno, brochura que corria os sertões, escrita ao gosto popular da época. Aos dez anos, uma tragédia abala novamente seu espírito. Uma noite inesquecível - de 15 de fevereiro de 1887-,  seu irmão Irineu subia ao andar superior do casarão onde moravam, levando uma lamparina de querosene, quando, segundo se supõe, o vento canalizado em chaminé próxima, provocou a explosão do candeeiro, envolvendo o rapazola em chamas. Grita apavorado, desce a escada, foge para o interior do terreno onde se localizava a moradia, mas quanto mais foge, mais as labaredas o cingem. Cai, sem forças, resistindo ainda dezoito horas de dor. Antes dos doze anos, é matriculada no Colégio de São Vicente de Paulo, no bairro da Estância, onde recebe carinhosa acolhida por parte das religiosas francesas que o dirigiam, lhe ofertando primorosa educação. Aos 14 de idade, em 1890, manifestam-se os primeiros sinais da enfermidade que iria consumir seu frágil organismo: a tuberculose. A avó, depois de leva-la a vários médicos da capital pernambucana, resolve voltar com os netos para a terra norte-rio-grandense. Auta escreve, relaciona-se mais e mais com seus conterrâneos de Macaíba, ensina às crianças as primeiras noções de religião, mas a enfermidade avança... É preciso, entretanto, buscar o interior, ansiando melhoras em clima seco... E começam as peregrinações, cansativas e tristes, sempre sob o amparo da avozinha Dindinha. Seus versos são agrupados num livro intitulado HORTO, que apenas sessenta dias após sua publicação, em 20 de junho de 1900, já encontrava-se esgotado. A enfermidade, contudo, prossegue seu assédio e, em fevereiro do ano seguinte, já de volta a Natal, na madrugada do dia 7, desprende-se de seu corpo enfermo e cansado, para afirmar sua sobrevivência através do jovem Chico Xavier, trinta e um anos depois, naquela que seria a primeira dentre dezenas de manifestações psicográficas suas, intitulada NOSSA SENHORA DA AMARGURA: “- Mãe das Dores, Senhora da Amargura,  /  Eu vos contemplo o peito lacerado  /  Pelas mágoas do filho muito amado, / Nas estradas da vida ingrata e dura.      / Existe em vosso olhar tanta ternura, / Tanto afeto e amor divinizado, / Que do vosso semblante torturado  /  Irradia-se a luz formosa e pura;       / Luz que ilumina a senda mais trevosa,   / Excelsa luz, sublime e esplendorosa / Que clareia e conduz, ampara e guia.        / Senhora, vossas lágrimas tão belas / Assemelham-se a fúlgidas estrelas: / Gotas de luz nas trevas da agonia.


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