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sábado, 9 de setembro de 2017

O ESPÍRITO PODE REGREDIR?

Como o Espírito foi criado simples e ignorante, com a liberdade de fazer o bem ou o mal, não haveria queda moral para aquele que tomasse o mau caminho, desde que chega a fazer o mal que antes não fazia? A questão é procedente até porque remanescem algumas correntes orientais que veem a reencarnação como uma forma de punir aqueles que assumem perante a espécie humana presente na Terra cometem faltas graves. No número de junho de 1863 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec oferece alguns argumentos respondendo a questão inicial e dirimindo duvidas quanto a segunda possibilidade. Diz ele: - Só há queda na passagem de um estado relativamente bom a um pior. Ora, criado simples e ignorante, o Espírito está, em sua origem, num estado de nulidade moral e intelectual como a criança que acaba de nascer. Se não fez o mal, também não fez o bem. Nem é feliz, nem infeliz. Age sem consciência e sem responsabilidade. Desde que nada tem, nada pode perder, como não pode retrogradar. Sua responsabilidade não começa senão no momento em que se desenvolve o seu livre-arbítrio. Seu estado primitivo não é, pois, um estado de inocência inteligente e raciocinada. Conseguintemente, o mal que fizer mais tarde, infringindo as leis de Deus, abusando das faculdades que lhe foram dadas, não é um retorno do bem ao mal, mas a conseqüência do mau caminho por onde se embrenhou. Isto nos conduz a outra questão. Por exemplo: É possível que Nero, na sua encarnação como Nero, possa ter feito mais mal que na sua precedente existência? A isto respondemos sim, o que não implica que na existência em que tivesse feito menos mal fosse melhor. Antes de tudo, o mal pode mudar de forma sem ser pior ou menos mal. A posição de Nero, como imperador, tendo-o posto em evidência, o que ele fez ficou mais notado; numa existência obscura pôde ter cometido atos igualmente repreensíveis, conquanto em menor escala, e que passaram despercebidos. Como soberano, pôde mandar incendiar uma cidade; como particular pôde queimar uma casa e fazer perecer a família. Tal assassino vulgar, que mata alguns viandantes para os despojar, se estivesse no trono seria um tirano sanguinário, fazendo em grande escala o que sua posição só lhe permite fazer em escala reduzida. Considerando a questão de outro ponto de vista, diremos que um homem pode fazer mais mal numa existência que na precedente, mostrar vícios que não tinha, sem que isto implique uma degenerescência moral. Muitas vezes são as ocasiões que faltam para fazer o mal, quando o princípio existe latente; surge a ocasião e os maus instintos se descobrem. A vida ordinária nos oferece numerosos exemplos: tal homem, que era tido como bom, de repente exibe vícios que ninguém suspeitava, e que causam admiração; é simplesmente porque soube dissimular ou porque uma causa provocou o desenvolvimento do mau germe. É indubitável que aquele em que os bons sentimentos estão fortemente arraigados nem mesmo tem o pensamento do mal; quando tal pensamento existe, é que o germe existe: muitas vezes só falta a execução. Depois, como dissemos, embora sob diferentes formas o mal não deixa de ser o mal. O mesmo princípio vicioso pode ser a fonte de uma imensidade de atos diversos, provenientes de uma mesma causa. O orgulho, por exemplo, pode fazer cometer grande número de faltas, às quais se está exposto, enquanto o princípio radical não for extirpado. Pode, pois, o homem, numa existência, ter defeitos que não se tinham manifestado numa outra e que não passam de conseqüências variadas de um mesmo princípio vicioso. Para nós, Nero é um monstro, porque cometeu atrocidades. Mas acreditais que esses homens – pérfidos, hipócritas, verdadeiras víboras que semeiam o veneno da calúnia, despojam as famílias pela astúcia e pelo abuso de confiança, que cobrem suas torpezas com a máscara da virtude para chegarem com mais segurança a seus fins e receberem elogios, quando só merecem a execração – valham mais do que Nero? Com certeza, não. Serem reencarnados num Nero para eles não seria um retrocesso, mas uma ocasião para se mostrarem sob nova face. Como tais, exibirão os vícios que ocultavam; ousarão fazer pela força o que faziam pela astúcia, eis toda a diferença. Mas essa nova prova lhes tornará o castigo ainda mais terrível se, em vez de aproveitar os meios que lhes são dados para reparar, deles se servirem para o mal. E, entretanto, por pior que seja, cada existência é uma oportunidade de progresso para o Espírito: ele desenvolve a inteligência, adquire experiência e conhecimentos que, mais tarde, o ajudarão a progredir moralmente.

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