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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

TODOS NOS ENQUADRAMOS

Você já se perguntou como algumas pessoas conversando ou escrevendo parecem em alguns momentos ter sido arrebatadas por estranha inspiração? No número de novembro de 1859 da REVISTA ESPÍRITA, encontramos um interessante artigo do editor Allan Kardec que nos permite entender como isso é possível. Baseou-se na leitura na reunião de 16 de setembro daquele ano da Sociedade Espírita de Paris, em que foram lidos diversos fragmentos de um poema intitulado URÂNIA, assinado pelo sr de Porry, da cidade de Marselha, em que abundam ideias espíritas, aparentemente bebida na fonte d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS. O detalhe é que foi constatado que na época em que foi escrito o autor nenhum conhecimento possuía da Doutrina Espírita. Kardec explica o fato como tendo sido possível pela mediunidade involuntária ou inconsciente. Argumenta: -“É conhecido que os Espíritos que nos cercam, que exercem sobre nós, independente de nossa vontade ou consciência, uma influência incessante, aproveitam as disposições que encontram em certos indivíduos para transformá-los em instrumentos das ideias que querem exprimir e levar ao conhecimento dos homens. Tais indivíduos são, sem o saber, verdadeiros médiuns, e para isto não necessitam possuir a mediunidade mecânica. Todos os homens superdotados, poetas, pintores e músicos estão neste caso; certamente seu próprio Espírito pode produzir por si mesmo, caso seja bastante adiantado para tal; mas muitas ideias também nos podem vir de uma fonte estranha. Pedindo inspiração, não parece que estejam fazendo um apelo?  Ora, o que é a inspiração se não uma ideia sugerida? Aquilo que tiramos do nosso próprio fundo não é inspirado: possuímo-lo e não temos necessidade de o receber. Se o homem de gênio tirasse tudo de si mesmo, porque estão lhe faltariam ideias exatamente no momento em que as busca? Não seria ele capaz de tirá-las de seu cérebro, como aquele que tem dinheiro o tira de seu bolso? Se aí nada encontra em dado momento é porque nada tem. Porque será que, quando menos esperamos, as ideias brotam por si mesmas? Poderiam os fisiologistas dar a explicação de tal fenômeno? Algum dia procuraram resolvê-lo? Dizem eles: o cérebro produz hoje, mas não produzirá amanhã. Mas por que não produzirá amanhã? Ficam limitados a dizer que é porque produziu na véspera. Segundo a Doutrina Espírita, o cérebro pode sempre produzir aquilo que está nele. Por isso é que o homem mais inepto acha sempre alguma coisa a dizer, mesmo que seja uma tolice. Mas as ideias de que não somos senhores não são nossas: elas nos são sugeridas. Quando a inspiração não vem é porque o inspirador aí não está ou não julga conveniente inspirar. Parece que tal explicação é mais valiosa que a outra. Poder-se-ia objetar que não produzindo, o cérebro não devia fatigar-se. Isso seria um erro: o cérebro não deixa de ser o canal por onde passam as ideias estranhas, e o instrumento que executa. O cantor não fatiga seus órgãos vocais, posto que não seja a música da sua autoria? Porque se não fatigaria o cérebro ao exprimir ideias que está encarregado de transmitir, posto não as tenha produzido? Sem dúvida é para lhe dar repouso necessário a aquisição de novas forças, que um inspirador lhe impõe um compasso de espera. Pode ainda objetar-se que este sistema tira ao produtor o mérito pessoal, pois se lhe atribuem ideias de uma fonte estranha. A isto responderemos que, se as coisas assim se passassem, não saberíamos o que fazer e não teríamos muita necessidade de nos enfeitarmos com as penas de pavão. Mas tal objeção não é séria, porque não dissemos de saída, que o homem de gênio nada tirasse de si mesmo; em segundo lugar porque as ideias que nos são sugeridas se confundem com as nossas, e ninguém as distingue.  De modo que ele não é censurado por se atribuir sua paternidade, a menos que as tenha recebido a título de comunicação espiritual constatada e quisesse ter a glória das mesmas. Isto, entretanto, poderia levar os Espíritos a fazê-lo passar por algumas decepções. Diremos, enfim, que se os Espíritos sugerem grandes ideias a um homem, dessas ideias que caracterizam o gênio, é porque o julgam capaz de compreendê-las, de as elaborar, e de as transmitir. Eles não tomariam um imbecil para seu interprete. Podemos, pois, sentir-nos honrados de receber uma grande e bela missão, sobretudo se o orgulho não nos desviar do objetivo louvável e não nos fizer perder o seu mérito. Quer os pensamentos sejam do seu emissor, que sejam sugeridos indiretamente por via mediúnica, não terá menos mérito. Porque, se a ideia lhe foi dada, cabe-lhe a honra de tê-las elaborado”.

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