faça sua pesquisa

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Quem foi (7) - a primeira mensagem


“-Chico permanecia silencioso e cabisbaixo, sentado à grande mesa, dando a impressão de que aquelas palavras o incomodavam, ferindo sua humildade e simplicidade de espírito. Comovido, fitava aquele moço simpático, o jovem médium daquele PARNASO que eu tanto amava... Sentia, na indigência dos meus raciocínios sinceros e na ebulição silenciosa de sentimentos desconhecidos, que laços misteriosos e indefiníveis me uniam, em espírito, ao coração daquele servidor do Cristo, daquele moço que eu tanto valorizava e amava no meu mundo interior de quietude e de distância...Permanecia perplexo(...) Submergia-me em pensamentos e emoções de vibração desconhecida, quando foi feita a oração inicial. Em seguida, o moço de Minas Gerais começou a escrever. Escrever celeremente. Páginas e mais páginas se sucediam sob o lápis ligeiro... Tudo aquilo era para mim um quadro absolutamente insólito. Inédito, maravilhoso, admirável. Ainda me recordo de que ouvi, com os olhos molhados de lágrimas, como tantos outros que não puderam dominar as emoções daquela noite memorável, o magnífico soneto que o grande poeta português João de Deus ofertou aos nossos corações através do lápis prodigioso de Chico Xavier(...). Terminada a leitura de outra mensagem recebida – de Emmanuel -, o presidente da abençoada sessão transmite carinhosas palavras de agradecimento de Chico aos presentes e o confrade Luiz Barreto encerra, com uma sentida oração, a noite memorável. Muitos se aproximam, então, da grande mesa do Templo de Ismael. Todos queriam cumprimentar o moço – Chico estava com 25 anos -, de Pedro Leopoldo, que no dia seguinte retornaria ao lar humilde, na terra mineira. Formaram-se filas dos que queriam despedir-se do jovem médium(...). Chegou minha vez. Estendi-lhe a mão. Abracei-o, comovido, demorando-me um instante a contemplar seus olhos tranquilos e luminosos. Recordo-me muito bem de que não pude articular uma palavra sequer. Só havia júbilo e gratidão dentro de minha alma, mas meus lábios não se abriram... Tinha os olhos úmidos...O coração se me estremecia dentro do peito”. Assim, o então jovem estudante de direito Clóvis Tavares, descreve no livro TRINTA ANOS COM CHICO XAVIER (ide), o inesperado primeiro encontro com o velho amigo de outras Eras, na memorável noite de 12 de junho de 1936, nas dependências do recinto dedicado às palestras públicas na sede da Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro, então capital da República. Aos 20 anos, Clóvis concluía seu curso jurídico e ainda se recuperando da perda de sua noiva Nina Arueira, confortado pelas leituras do PARNASO DE ALÉM TUMULO, habituara-se a assistir à palestra das sextas-feiras na Federação. “-Quem calculasse uma assistência de mil pessoas não teria errado”, recorda. Desde então, a amizade se estreitou, com Clóvis visitando Chico, sempre que as atividades no magistério como Professor de História e Direito Internacional Público permitiam, em Pedro Leopoldo, mantendo com o amigo regular troca de correspondências. Clóvis fundou em 1935, em Campos (RJ), a Escola Jesus Cristo – Instituição Espírita de Cultura e Caridade, responsabilizando-se pela direção doutrinária da entidade. Colaborou com vários periódicos espíritas, deixando na literatura importantes obras como VIDA DE ALLAN KARDEC PARA CRIANÇAS, AMOR E SABEDORIA DE EMMANUEL, MEDIUNIDADE DOS SANTOS, além da citada acima, de onde destacamos parte de seu depoimento. Clóvis teve vivencias marcantes com Chico, especialmente as envolvendo seu primeiro filho Carlos Vitor, o Carlinhos, desencarnado em fevereiro de 1973, aos 17 anos, tendo vivido a maior parte de sua vida na condição de tetraplégico, desde que sofreu um acidente ao cair do carrinho de bebe. Cinco meses depois, nas habituais visitas de julho, por ocasião das férias escolares, Carlinhos dá sua primeira mensagem aos pais, em forma de versos com que exalta a importância da família que o recebeu para sua curta existência recente em nossa dimensão. Sessenta e cinco anos depois de ter reencarnado, vitimado por uma parada cardíaca, em meio aos preparativos para um raio x, após um mal súbito, Clóvis desencarna deixando para trás invejável folha de serviços prestados à causa da caridade moral e material aos seus irmãos em Humanidade. Sete meses transcorridos, em reunião na residência do amigo de tantas emoções, Clóvis psicografa por Chico a primeira de suas mensagens aos familiares presentes. Extensa, dela destacaremos alguns trechos evidenciando a continuidade da vida e detalhes de interesse geral: “-Querida Hilda, o Senhor nos inspire e abençoe! É uma experiência nova. Falar de uma vida para outra. Desejo esvaziar o coração, exteriorizando as saudades que me povoam a alma convalescente, mas as expressões me fogem da lembrança. Quero retomar a memória; no entanto, sinto-me na condição do cego devolvido à luz, ainda hesitando entre a sombra e a claridade. Perdoem-me se falo assim, mas não posso manifestar-me de outro modo. Rearticulo as estruturas de minhas reminiscências do passado ainda presente, no hoje ligado ao ontem, e noto as diferenças que se operam adentro de mim. Torno a ver você pálida e espantada, a receber-me em seu colo, para que a minha cabeça repousasse. Refletia a consternação do ambiente e procurei em seus olhos e nos olhos do Flavinho algum esclarecimento que me habilitasse a compreensão para a realidade. Não esperávamos que uma radiografia considerada simples pudesse estar próxima da parada que me fibrilou o coração. Buscava em você e no Flávio algo que me falasse ao coração, conquanto em silêncio, mas o corpo se via na condição de máquina cujo motor esmorecera. Compreendi, na oração muda que consegui formular, que o tempo me demitia da sua própria movimentação, entregando-me ao tempo de outro nível(...). Meu sono foi rápido. Quando me vi em outro recinto, notei que um rapaz me sustentava a cabeça, qual se lhe imitasse o carinho. Quando reconheci que me achava nos braços forte de nosso Carlinhos, agora um homem vigoroso, senti que reencontrara não o nosso filho que aprendemos a amar tanto, e sim o aconchego da dedicação de um pai que houvesse retirado de sua ternura de companheira para encaminhar-me com segurança. O pranto me sufocou a garganta e não pude senão dizer: -Ah! Meu filho! Ele me colou mais intensivamente ao peito viril, na ideia manifesta de fortalecer-me para a vida nova e observei que em nossa Escola querida encontráramos um novo berço de paz e amor(...). Querida Hildinha, sofro a nossa separação temporária, mas peço-lhe coragem e fé imbatível na Divina Misericórdia. Saudades tê-las-emos sempre. Aí chorava pelos que me precederam e aqui me aflijo pelos que ficaram. Creio que a saudade é o metro do amor, determinando os valores da evolução, já assimilados na vida de cada um de nós, e só pelo trabalho com a oração, venceremos”. A mensagem repleta de outros detalhes merecedores de nossa reflexão, foi preservada no livro CARAVANA DO AMOR (ide).

Nenhum comentário:

Postar um comentário