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sexta-feira, 25 de novembro de 2022

APROVEITADORES; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Eles sempre estiveram presentes: os que tentam vender os serviços dos Espíritos para poupar os interessados de qualquer tipo de esforço. Problemas de relacionamento, casamento, emprego, rivalidades, são algumas das opções oferecidas. Na REVISTA ESPÍRITA de maio de 1860, Allan Kardec se serve de uma notícia publicada pelo jornal SIÈCLE para comentar o assunto. Dizia a mesma que “um senhor de nome Felix N., jardineiro das proximidades de Órleans, passava por ter a habilidade de isentar os candidatos à prestação do serviço militar do sorteio, isto é, de os fazer alcançar um bom número. Prometeu a um deles, jovem vinhateiro, fazê-lo tirar o número que quisesse, mediante 60 francos, dos quais 30 adiantadamente e 30 após o sorteio. O segredo consistia em rezar três Pater e três Ave Maria durante nove dias. Além disso, o feiticeiro afirmava que, graças ao que fazia de sua parte, a coisa favorecia o rapaz e o impediria de dormir durante a última noite, mas ficaria isento. Infelizmente o encanto não funcionou: o candidato dormiu como de costume e tirou o número 31, que o fez soldado. Repetidos os fatos duas vezes, o segredo não foi mantido e o feiticeiro Felix foi levado à Justiça”. Comenta Kardec: “Os adversários do Espiritismo, o acusam de despertar ideias supersticiosas. Mas, que é o que há de comum entre a Doutrina que ensina a existência do Mundo Invisível, comunicando-se com o visível, e os fatos da natureza do que relatamos, que são os verdadeiros tipos de superstição? Onde se viu o Espiritismo ensinar semelhantes absurdos? Se os que o atacam a tal respeito se tivessem dado ao trabalho de estuda-lo, antes de o julgar tão levianamente, saberiam que não só condena todas as práticas divinatórias, como lhes demonstra a nulidade. Portanto, como temos dito muitas vezes, o estudo sério do Espiritismo tende a destruir as crenças realmente supersticiosas. Na maioria das crenças populares há, quase sempre, um fundo de verdade, mas desnaturado, amplificado. São os acessórios, as falsas aplicações que, a bem dizer, constituem a superstição. Assim é que os contos de fadas e de gênios repousam sobre a existência de Espíritos bons e maus, protetores e malévolos; que todas as histórias de aparições tem sua fonte no fenômeno real das manifestações espíritas, visíveis e, mesmo, tangíveis. Tal fenômeno, hoje perfeitamente verificado e explicado, entra na categoria dos fenômenos naturais, que são uma consequência das Leis Eternas da Criação. Mas o homem raramente se contenta com a Verdade que lhe parece muito simples: ela a reveste com todas as quimeras criadas pela imaginação e é então que cai no absurdo. Vem depois os que tem interesse em explorar essas mesmas crenças, às quais juntam um prestigio fantástico, próprio a servir aos seus objetivos. Daí essa turba de adivinhos, feiticeiros, ledores de sorte, contra os quais a lei se ergue com justiça. O Espiritismo verdadeiro, racional, não é, pois, mais responsável pelo abuso que dele possam fazer, do que o é a Medicina pelas fórmulas ridículas e práticas empregadas por charlatães ou ignorantes. Ainda uma vez, antes de julgá-lo, dai-vos ao trabalho de o estudar. Concebe-se o fundo de verdade de certas crenças. Mas talvez se pergunte sobre o que pode repousar a que deu lugar ao fato acima, crença muito espalhada no nosso interior, como se sabe. Parece-nos que tem sua origem no sentimento intuitivo dos seres invisíveis, aos quais se é levado a atribuir um poder que, por vezes, não tem. A existência de Espíritos enganadores, que pululam à nossa volta, por força da inferioridade do nosso Globo, como insetos daninhos num pântano, e que se divertem à custa dos crédulos, predizendo-lhes um futuro quimérico, sempre próprio a adular seus gostos e desejos, é um fato do qual temos provas diárias pelos médiuns atuais. O que se passa aos nossos olhos aconteceu em todas as épocas, por meios de comunicação em uso conforme o tempo e o lugar. Eis a realidade. Com o auxílio do charlatanismo e da cupidez, a realidade passou para o estado de crença supersticiosa”.


Pergunta enviada pelo Adão Roberto Crizante: “Gostaria de saber o que o Espiritismo tem a dizer sobre este versículo de Atos, 16:31: “Crê no senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”.


As instituições religiosas, ao longo da história, sempre assumiram a interpretação das escrituras, e do modo que lhes pareceu mais conveniente, conduzindo o povo para seus objetivos, não só no mundo cristão, mas também fora dele. É assim que, para se manter, elas tiveram que investir tudo na fé, até porque a fé , dependendo da direção que lhe é dada, tanto pode levar à verdade, como pode desviar-se totalmente dela. Os falsos profetas já existiam ao tempo de Jesus e ele mesmo nos alertou contra o perigo dos falsos formadores de opinião.


Ao contrário, o Espiritismo, como uma doutrina moderna, não tem nenhum interesse em prender a fé de ninguém, tampouco em guiar as pessoas para uma visão única e exclusiva a respeito do que quer que seja. Pelo contrário: ela defende a liberdade individual de pensar e de acreditar, de ler e interpretar cada um a seu modo, de acordo com suas próprias convicções. Por isso mesmo, Allan Kardec, desde a constituição da doutrina, em 1857, afirma que o espírita precisa ler de tudo, principalmente as idéias contrárias à Doutrina Espírita, para não ser conduzido pelo pensamento dos outros, mas assumir a sua própria maneira de pensar. Logo, essa liberdade que o Espiritismo prega, não existe nas religiões, que temem perder adeptos.


Os evangelhos nos mostram que um ponto importante na doutrina de Jesus, para nos assegurar a verdadeira paz de espírito é, sem dúvida, a fé. Mas a fé no sentido amplo; quer dizer, a fé esclarecida, a fé operante, a fé que se manifesta no serviço do amor e na busca da verdade. É nesse sentido que a fé salva, ou seja, é nesse sentido amplo e atuante que a fé se constitui numa porta libertadora que nos leva à felicidade – ou, em outras palavras, que nos leva à verdadeira salvação.


Veja bem. Para chegarmos à verdade, Jesus nos recomendou a fé, mas a fé através do conhecimento: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Para conquistarmos o amor, que é ponto alto de sua doutrina, ele nos concitou à prática do bem: “fazeis aos outros aquilo que quereis que eles vos façam e não façais o que não quereis que vos façam”. Desse modo, a fé não é um estado passivo de ingenuidade ou de mera contemplação de Deus, através da adoração, mas uma condição que nos impõe ação e autotransformação todos os dias de nossa vida.


Vamos entender melhor. Por que a fé para Jesus era diferente da fé que os fariseus demonstravam? Porque a fé dos fariseus era apenas uma fé contemplativa, inoperante, ausente dos atos do dia-a-dia. Ela se satisfazia apenas com orações, com louvores; enfim, com a observância das regras religiosas – como guardar o sábado, freqüentar o templo, pagar o dízimo, praticar o jejum, oferecer sacrifícios, participar das cerimônias, etc. Foi essa fé contemplativa e inoperante que Jesus tanto combateu, para dizer que ela não era suficiente para salvar o homem do pecado e dos tormentos da alma, até porque aqueles fariseus – a quem ele criticava – de religião só tinham a aparência, pois viviam na iniqüidade e na corrupção dos verdadeiros valores morais.


Sempre temos recorrido à Parábola do Bom Samaritano, porque essa parábola, mais do que qualquer outra, aponta o comportamento ideal do homem em relação ao homem. É o que podemos chamar de fé verdadeira – quer dizer, de prática que corresponde a um valor espiritual que a pessoa realmente aplica em sua vida. O socorro ao desconhecido prestado pelo samaritano, nessa parábola contada por Jesus, representa a concretização do verdadeiro amor – ou seja, a expressão mais elevada da fé que ele recomendou a todos nós, a fé que se manifesta através da ação.


Apenas crer, na prática, nada significa. É como ter um projeto que nunca é levado à execução, ou dizer que ama alguém, sem nunca lhe ter feito um bem. Ora, quando a pessoa consegue trazer para sua vida diária atitudes e comportamentos que expressem esse amor incondicional pelo próximo, podemos dizer que ela verdadeiramente crê em Jesus – porque crê naquilo que ele ensinou - e, em razão disso, ela está salva do egoísmo e do orgulho, dos tormentos do coração e juntamente com ela aqueles que desfrutam de sua presença, porque esses também se sentirão envolvidos e beneficiados pelas suas elevadas expressões de amor. 


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