Contar sua própria
experiência foi ideia que o Psiquiatra George G. Ritchie teve para auxiliar
seu paciente diagnosticado como portador de carcinoma nos pulmões, com
metástase para o cérebro, o que prenunciava pouco tempo de vida. Procurado por
ele meses antes, com um quadro de depressão profunda que, aliado à tosse seca,
o fumar ininterrupto durante as sessões, fizeram-no sugerir-lhe um exame físico
completo, que revelou o problema, por sinal, inoperável. Vencida a resistência
inicial, George começou a relatar o fato que acabou por entrar nos anais da
História da Medicina por ser único no mundo, o que o levou a ser submetido a
uma verdadeira inquisição na Universidade de Virgínia para que pudesse concluir
sua formação em Psiquiatria. Contava, então, 21 anos, era um jovem alto e
magro, cheio de idealismo sobre vencer a guerra contra os nazistas, razão pela
qual saíra de Richmond, Virgínia, sua terra natal para o Acampamento Berkeley,
em Abilene, no Texas, onde em torno de 250 mil homens estavam sendo treinados
para entrarem na guerra contra Hitler. Na verdade era uma cidade de barracos de
madeira estendendo-se pelo deserto texano. Tempestades de pó, chuvas, lama,
vento e, por fim, três meses depois, frio de 10 graus abaixo de zero,
resultaram para ele, a princípio, numa dor de garganta acompanhada de febre,
que o recolheram no dia 11 de dezembro, ao “estaleiro”, como era
chamado o hospital da base. O hospital era algo da ordem de cinco mil leitos,
ocupando mais de duzentas construções em madeira, baixas, todas entrecortadas
por corredores. Isolado em área apropriada pelo seu estado febril, mantinha
fixa a ideia de que no dia 18, de folga, pegaria o trem de volta para sua
cidade, a fim de visitar seus familiares. Mantido até o dia 17 em observação,
foi transferido para a recuperação após o termômetro mostrar que a febre
cedera, pôs-se a imaginar o quanto seria bom regressar à sua casa, por ocasião
do natal, mesmo que por alguns dias. A última medição de temperatura, contudo,
fez com que o removesse novamente para o isolamento, onde, amargurado pelas
conjecturas com a viagem que começava a se frustrar, tossiu miseravelmente
durante a noite toda. Somente na manhã do dia 19, apresentou melhoras, voltando
à ala da recuperação e, muito agitado, após acompanhar companheiro de quarto ao
cinema da base, sentindo-se febril, ingeriu alguns medicamentos obtidos com um
contínuo de serviço, adormeceu. A perturbação com o aumento anormal da febre, a
escarradeira onde cuspia o expelido pela tosse, a ida em maca ao setor de Raio
X, o clique da máquina, um zumbido que aumentava continuamente, a lembrança de
haver sentado sobressaltado no leito do cubículo minúsculo para o qual foi
devolvido, a ideia fixa de haver perdido o trem, o desaparecimento de seus pertences, a
constatação de ver um jovem, de cabelos curtos e castanhos, deitado, imóvel, no
leito do qual acabara de sair era algo esquisito de se pensar. Os acontecimentos
que se seguiram o deixaram estupefato: no corredor que interligava as
enfermarias, viu um enfermeiro ignorar seus berros, vindo em sua direção, sem
diminuir o passo, e, ultrapassá-lo, ignorando um esbarrão
que não aconteceu; sentiu-se, a seguir, do lado de fora das instalações em que se
encontrava, correndo velozmente como nunca fizera, sem as impressões de
frio ou calor; via as copas de alguns arbustos; deslocando-se celeremente sobre
o deserto frio e escuro; mentalmente – iniciara antes de se alistar curso
preparatório de Medicina - negando o que estava acontecendo; a visualização
de uma cidade passando sob ele feito relâmpago; um rio extremamente largo abaixo
de si; a sensação de estar suspenso a mais ou menos uns 15 metros de
altura; a tentativa frustrada de pegar a maçaneta da porta – como se
tocasse em algo rarefeito -, de um bar em cidade desconhecida em que se viu
parar; a incredulidade, a volta ao hospital refazendo o trajeto anterior, ao
pensar no rapaz que vira sobre a cama; a identificação dos ambientes bem
conhecidos desde dez dias antes, a busca aflita pela localização daquele que vira sobre a cama; a
identificação em leito na sala de Raio X, do anel que lhe pertencia na
mão de alguém cujo corpo estava coberto por um lençol, tendo apenas os braços
descobertos. Foram os primeiros momentos da aterrorizadora, intensa,
surpreendente e rica vivência de George, que, saberia depois através
dos registros hospitalares, foi considerado morto e, quando começava a ter seu
cadáver preparado por um auxiliar para o sepultamento, movimentou, a princípio,
um dos braços e retornou à vida. Nove minutos apenas haviam se passado,
mostrando que a variável tempo na Dimensão em que esteve é, realmente, muito
diferente da realidade em que vivemos. O caso virou clássico no campo das
chamadas EQMs Experiências de Quase Morte, estudadas desde os anos 70,
do século
Agora é a vez do Wilson Domingues Rocha, do Bairro Salgueiro. Ele pergunta se a Doutrina Espírita – que quer ser conhecida, que exige estudos por parte do interessados – não fica muito restrita à população em geral ou às classes menos favorecidas, porque, então, só se tornariam espíritas as pessoas que estudaram, que se formaram, que têm curso superior e que podem conhecer a fundo a Doutrina.
Se, para ser espírita, as pessoas precisassem
ter uma elevado nível cultural, reunindo títulos e credenciais que só os
intelectuais podem obter, certamente, pouquíssimos viriam ou se simpatizariam
com o Espiritismo. E mais do que isso: não haveria entre os espíritas pessoas
que não tiveram a oportunidade de estudar e obter diplomas e títulos através de cursos técnicos e universitários –
o que não é verdade. O Espiritismo está aberto e quer se colocar ao alcance de
todas as pessoas, de todas as condições sociais, mesmo as que não tiveram
oportunidade de ir à escola e aprender a ler. Não é, portanto, uma doutrina de
elite, mas uma doutrina do povo que, além de tudo, estimula a cada passo o
desenvolvimento pessoal e o interesse pelo conhecimento.
Por incrível que pareça, nem sempre as pessoas
que despertam para o Espiritismo são as que mais frequentaram escola ou as que
mais diplomas possuem. Pelo contrário, na comunidade espírita temos pessoas de
todos os níveis de instrução, até mesmo as semianalfabetas. O que a doutrina pede a seus seguidores é,
simplesmente, que usem a razão e o bom senso, que não dispensem jamais sua
visão crítica seja a que respeito for, que nada aceitem sem ponderação e exame,
venha de onde vier: que jamais se satisfaçam apenas com uma fé ingênua e
passiva.
Para tanto, não é preciso ser professor ou ter
ostentar qualquer outro título à frente do nome para ser espírita. Há muitos
anos conhecemos um militante espírita que, ao tomar os primeiros contatos com a
doutrina, ainda era analfabeto. Anos depois, ele tinha orgulho em dizer que
aprendeu a ler, lendo O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO; ou seja, acompanhando
as leituras e os estudos, que se faziam no centro espírita, onde ele espontaneamente
se alfabetizou. O Espiritismo, além de tudo, é uma fonte de cultura.
Desse modo, as pessoas, que fazem questão de
utilizar a lógica e a razão para entender e resolver os problemas da sua vida,
são as que têm mais tendência para aceitar o Espiritismo, que primeiro fala à
razão, para deixar que cada um desperte a sua própria fé. Não podemos mandar no
íntimo das pessoas. Nós, espíritas, entendemos bem isso, porque sabemos que
cada Espírito traz no inconsciente profundo uma capacidade de compreensão própria
em relação ao mundo que o cerca. Sendo uma filosofia de vida, o Espiritismo oferece
a cada um as bases para o pensamento racional, nada exigindo, mas esperando que
a pessoa pense, reflita e tire suas próprias conclusões.
Evidentemente, por sua natureza
de doutrina esclarecedora, o Espiritismo estimula o pensamento, favorece quem
gosta ou quem demostra tendências para estudar e aprender. E, quando a pessoa
não demonstra de início essa tendência, mas vem ao Espiritismo, logo ela
desperta o interesse em enriquecer seu conhecimento através do estudo. Nesse
sentido, a Doutrina Espírita é mais do que uma doutrina; é uma escola ou uma
fonte inspiradora do aprimoramento moral e intelectual de cada um, sem a tola
pretensão de doutrinar ou converter ninguém.
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