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sábado, 25 de janeiro de 2020

SOBRE EXPIAÇÃO E PROVAS



Na edição de setembro de 1863, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec, na seção Questões e Problemas, procura esclarecer dúvidas enviadas por um leitor, a respeito da diferença entre expiação e provas. Ele e participantes do pequeno grupo de estudiosos da cidade de Moullins (FR), onde residia. Divergiam sobre o sentido das duas palavras e se a manifestação das mesmas ocorria, a primeira no Plano Espiritual e a outra no Plano Físico. Da explicação de Kardec, destacamos: -“Se considerarmos o homem sobre a Terra, vemos que ele aí suporta males de toda a sorte e, por vezes, cruéis. Esses males tem uma causa. Ora, a menos que se os atribua ao capricho do Criador, é-se forçado a admitir que a causa esteja em nós mesmos, e que as misérias que experimentamos não podem ser resultado de nossas virtudes. Então tem sua fonte nas nossas imperfeições. Se um Espírito encarnar-se na Terra em meio à fortuna, honras e todos os prazeres materiais, poder-se-á dizer que sofre a prova do arrastamento; para o que cai na desgraça por sua conduta ou imprevidência, é a expiação de suas faltas atuais e pode-se dizer que é punido por onde errou. Mas que dizer daquele que, após o nascimento, está a braços com as necessidades e as privações, que arrasta uma existência miserável e sem esperança de melhora, que sucumbe ao peso das enfermidades congênitas, sem ter ostensivamente nada feito para merecer tal sorte? Quer seja uma prova, quer uma expiação, a posição não é menos penosa e não seria mais justa do ponto de vista do nosso correspondente, porque se o homem não se lembra da falta, também não se lembra de haver escolhido a prova. Assim, há que buscar alhures a solução da questão. Como todo efeito tem uma causa, as misérias humanas são efeitos que devem ter a sua; se esta não estiver na vida atual, deve estar numa vida anterior. Além disso, admitindo a justiça de Deus, tais efeitos devem ter uma relação mais ou menos íntima com os atos procedentes, dos quais são, ao mesmo tempo, castigo para o passado e prova para o futuro. São expiações no sentido de que são consequência de uma falta e provas em relação ao proveito delas tirado. Diz-nos a razão que Deus não pode ferir um inocente. Assim, se formos feridos e se não somos inocentes: o mal que sentimos é o castigo, a maneira por que o suportamos é a prova(...). Quanto ao esquecimento das faltas (...), temos demonstrado que a lembrança precisa dessas faltas teria inconvenientes extremamente graves, por isso que nos perturbaria, nos humilharia aos nossos próprios olhos e aos do próximo; trariam uma perturbação nas relações sociais e, por isto mesmo, travaria nosso livre arbítrio. Por outro lado, o esquecimento não é tão absoluto quanto o supõem. Ele se dá na vida exterior de relação, no mesmo interesse da Humanidade; mas a vida espiritual não sofre solução de continuidade. Tanto na erraticidade, quanto nos momentos de emancipação, o Espírito se lembra perfeitamente e essa lembrança lhe deixa uma intuição que se traduz na voz da consciência, que o adverte do que deve, ou não deve fazer. Se não escuta, então a culpa é sua (...). Das tribulações que suporta, das expiações e provas deve concluir que foi culpado. Da natureza dessas tribulações, ajudado pelo estudo de suas tendências instintivas, apoiando-se no princípio que a mais justa punição é a consequência da falta, pode deduzir seu passado moral. Suas tendências más lhe ensinam o que resta de imperfeito a corrigir de si. A vida atual é para ele um novo ponto de partida; aí chega rico ou pobre de boas qualidades; basta-lhe, pois, estudar-se a si mesmo e ver o que lhe falta (...). Em resumo, se certas situações da vida humana tem, mais particularmente, o caráter das provas, incontestavelmente tem o do castigo, e todo castigo pode servir de prova. É erro pensar que o caráter essencial da expiação seja o de ser imposta. Vemos diariamente na vida expiações voluntárias, sem falar dos monges que se maceram e se fustigam com a disciplina e o cilício. Assim, nada há de irracional em admitir que um Espírito na erraticidade escolha ou solicite uma existência terrena que o leve a reparar seus erros passados (...). As misérias daqui são, pois, expiação, por seu lado efetivo e material, e provas, por suas consequências morais. Seja qual for o nome que se lhes dê, o resultado deve ser o mesmo: o melhoramento.
















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