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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

ONDE FICA O CÉU?


Abrindo o número de março de 1865 da REVISTA ESPÍRITA, seu editor Allan Kardec apresenta interessante matéria com a qual procura descaracterizar a fantasia sustentada durante séculos pelas principais religiões existentes na Terra. Entre os ponderados argumentos sobre a razão pela qual se sustentou durante tanto tempo essa ilusão, não se acessando desde o princípio a compreensão da lógica exposta pelo – então nascente - Espiritismo, diz: -“Pela mesma razão que não se ensina à criança o que se lhe ensina na idade madura. A revelação restrita era suficiente durante certo período da Humanidade; Deus as adequa proporcionalmente às condições evolutivas do Espírito. Os que hoje recebem uma revelação mais completa são os mesmos Espíritos que noutros tempos receberam apenas uma parcela, mas que depois cresceram em inteligência. Antes que a ciência lhes tivesse revelado as forças vivas da natureza, a constituição dos astros, o verdadeiro papel e a formação da Terra, teriam compreendido a imensidade do espaço, a pluralidade dos mundos? Teriam podido identificar-se com a vida espiritual? Conceber, depois da morte, uma vida feliz ou infeliz, a não ser num lugar circunscrito e sob uma forma material? Não: compreendendo mais pelos sentidos do que pelo pensamento, o Universo era demasiadamente vasto para seu cérebro; era preciso reduzi-lo a menores proporções, para o por em seu ponto de vista, livre de o ampliar mais tarde. Uma revelação parcial tinha sua utilidade, então; era sábia; hoje é insuficiente. O erro é daqueles que, não levando em conta o progresso das ideias, creem poder governar homens maduros com os andadores da infância”. Associado à ideia de felicidade, o chamado CÉU apregoava-se ser destinado a acolher os “bem-aventurados”.  Entende Kardec que “o erro das diversas doutrinas concernente à morada dos “eleitos”, devia-se a um duplo erro: 1- que a Terra era o Centro do Universo e, 2 – que a região dos astros era limitada. “Foi – diz ele -, para além desse limite imaginário que todas colocaram a morada feliz e a morada do Todo Poderoso (...). Com a inexorável lógica dos fatos e da observação, a Ciência levou seu facho até as profundezas do espaço e mostrou a ingenuidade de todas essas teorias. A Terra já não é o pivô da Universo, mas um dos menores astros rodando na Imensidade; o próprio Sol não passa de um centro de um turbilhão planetário; estrelas são inumeráveis sóis, em torno dos quais circulam mundos incontáveis, separados por distâncias apenas acessíveis ao pensamento, posto de parece tocar-se. Nesse conjunto, regido por Leis eternas, nas quais se revelam a sabedoria e a Onipotência do Criador, a Terra não aparece senão como um ponto imperceptível e um dos menos favorecidos para a habitabilidade. Desde então se pergunta por que Deus a teria feito como única sede da vida e para aí teria relegado suas criaturas prediletas. Ao contrário, indica que a vida está por toda parte, que a Humanidade é infinita como o Universo. Revelando-nos a ciência, mundos semelhantes à Terra, Deus não os podia ter criado sem objetivo. Deveria tê-los povoado por seres capazes de os governar. As ideias do homem estão na razão do que sabe. Como todas as descobertas importantes, a da constituição dos mundos lhe deve ter dado um outro curso. Sob o império desses novos conhecimentos, suas crenças devem ter-se modificado. O Céu foi deslocado; a região das estrelas, não tendo limites, não mais lhe pode servir. Onde está ele? Ante tal questão todas as religiões ficam mudas. Num texto irretocável em que vai construindo um raciocínio que brilha pela seu conteúdo, indaga, a certa altura: -“Nesta imensidade sem limites, onde, pois, está o CÉU?”, para ele mesmo responder: -“Por toda parte; nenhum muro o limita; os mundo felizes são as últimas estações que a ele conduzem, as virtudes lhes abrindo caminho e os vícios lhes barrando o acesso”. Enfatiza a importância da visão evolucionista revelada pelo Espiritismo; as duas faces da vida – a material e a espiritual – funcionando como instrumento de progresso do princípio inteligente individualizado; a felicidade dependendo das qualidades próprias dos indivíduos e não do estado material do meio em que se acham, estando por toda parte onde haja Espíritos capazes de ser felizes, não havendo nenhum lugar circunscrito no Universo; não sendo a felicidade pessoal, mas, traço de união resultante da similitude de ideias, gostos, sentimentos, formando grupos ou famílias homogêneas, no seio das quais cada individualidade irradia suas próprias qualidades e se penetra dos eflúvios serenos e benéficos, que emanam do conjunto, cujos membros, tanto se dispersam para se darem às suas missões, tanto se reúnem num ponto qualquer do Espaço para comunicar o resultado de seus trabalhos, ou se reúnem em torno de um Espírito de ordem mais elevada, para receber conselhos e instruções”.
















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