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terça-feira, 19 de abril de 2016

LEMBRANDO UMA VIDA PASSADA

No numero de julho de 1860 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui interessante matéria relatando o desdobrando da análise de carta recebida de um assinante na qual um amigo lhe confidencia ter vívida em si a lembrança de uma vida passada. Tal reminiscência rica em detalhes surgiu-lhe ainda na infância. Conta ele: “Por mais ridículo que pareça, direi que guardo a sincera convicção de ter sido assassinado durante os massacres de São Bartolomeu. Eu era muito criança quando tal lembrança veio ferir a minha imaginação. Mais tarde, ao ler essa triste página de nossa História, pareceu que muitos detalhes me eram conhecidos, e ainda creio que, se a velha Paris pudesse ser reconstruída, eu reconheceria aquela alameda sombria, onde, fugindo, senti o frio de três punhaladas nas costas. Há detalhes desta cena sangrenta que se conservam na minha memória e que jamais desapareceram. Por que tinha eu essa convicção antes de saber o que tinha sido a noite de São Bartolomeu? Por que, ao ler o relato desse massacre, perguntei a mim mesmo: é meu sonho, esse sonho desagradável que tive em criança, cuja lembrança me ficou tão viva? Por que, quando quis consultar a memória, forçar o pensamento, fiquei como um pobre louco ao qual surge uma ideia e que parece lutar para lhe descobrir a razão? Por quê? Nada sei. Por certo me achareis ridículo, mas nem por isso guardarei menos a lembrança, a convicção. “Se vos dissesse que eu tinha sete anos quando tive um sonho assim: Eu tinha vinte anos, era jovial, bem-posto, e penso que rico. Vim bater-me em duelo e fui morto. Se dissesse que a saudação feita com a arma, antes de me bater, eu a fiz pela primeira vez que tive um florete na mão; se dissesse que cada preliminar mais ou menos graciosa que a educação ou a civilização pôs na arte de se matar me era desconhecida antes de minha educação nas armas, diríeis, sem dúvida, que sou louco ou maníaco. Bem pode ser; mas às vezes me parece que um clarão penetra nesse nevoeiro e tenho a convicção de que a lembrança do passado se restabelece em minha alma”. O remetente acrescenta ainda: -“O Sr. V..., autor desta carta, é oficial da marinha e atualmente em viagem. Poderia ser interessante ver se, evocando-o, confirmaria as suas lembranças; mas haveria a impossibilidade de o prevenir de nossa intenção e, por outro lado, considerando-se a sua profissão, poderia ser difícil encontrar o momento propício. Todavia, disseram-nos que chamássemos o seu anjo-da-guarda, quando quiséssemos evocá-lo, e ele nos diria se poderíamos fazê-lo. (...) Assim procederam e o resultado foi interessante entrevista da qual destacamos algumas questões e respostas: 1- Por que motivo essa lembrança lhe é mais precisa do que para outros? Há nisso uma causa fisiológica ou uma utilidade particular para ele? – Essas lembranças vivazes são muito raras. Dependem um pouco do gênero de morte, que de tal modo o impressionou que está, por assim dizer, encarnado em sua alma. Entretanto, muitas outras criaturas tiveram mortes igualmente terríveis, mas a lembrança não lhes ficou. Só raramente Deus o permite. 2- Depois dessa morte, ocorrida na noite de São Bartolomeu, teve ele outras existências? – Não. 3- Que idade tinha quando morreu? – Uns trinta anos. 4- Pode-se saber o que ele era? – Era ligado à casa de Coligny. 5- Se tivéssemos podido evocá-lo, ter-lhe-íamos perguntado se recorda o nome da rua onde foi assassinado, a fim de ver se, indo a esse local, quando voltar a Paris, a lembrança da cena lhe será ainda mais precisa. – Foi no cruzamento de Bucy. 6- A casa onde foi morto ainda existe? – Não; foi reconstruída. 7- Com o mesmo objetivo teríamos perguntado se recorda o nome que tinha. – Seu nome não é conhecido na História, pois era simples soldado. Chamava-se Gaston Vincent.


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