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sábado, 26 de março de 2016

UM CORAÇÃO RENOVADO

Apesar do tradicional feriado religioso da sexta feira santa, as atividades do Centro Espírita Luiz Gonzaga da noite de 7 de abril de 1955 aconteceram como regularmente. No grupo foi mais Intensa a movimentação socorrista em favor dos sofredores desencarnados, dentre os quais sobressaíram diversos irmãos hansenianos que, mesmo além da morte, revelavam dolorosas fixações mentais de revolta e amargura. Concluindo as tarefas, no horário dedicado aos Instrutores Espirituais, os recursos psicofônicos do médium Chico Xavier foram ocupados pelo poeta Jésus Gonçalves, desencarnado em Pirapitinguí, que também passou pela provação da lepra, cuja palavra nos trouxe amoroso esclarecimento. Chico não conhecera o Espírito quando encarnado a não ser através de correspondência recebida do Leprosário de Pirapitingui onde mantinha-se segregado desde anos antes transferido de outro da cidade de Bauru (SP) onde residira até os 27 anos quando  recebeu o diagnóstico da doença degenerativa. Desencarnando no inicio de 1947, em março apresentou-se semanas depois ao médium em reunião particular que este realizava com companheiros de São Manuel (SP), irradiando intensa luminosidade, particularmente nas áreas do corpo identificadas por Chico como as mesmas que vira na derradeira foto que Jésus lhe remetera tempos antes de sua morte física. Assumindo o controle das faculdades mediúnicas de Chico disse: -“Amigos. Sou o vosso irmão Jésus Gonçalves, o leproso de Pirapitingui, a quem o Espiritismo ofereceu nova visão da vida. Agradeço-vos o concurso fraterno, em socorro dos irmãos hansenianos desencarnados. Vieram conosco, entre a lamentação e a revolta, perturbados e oprimidos... No mundo, receberam a chaga física por maldição, quando poderiam utilizá-la como porta salvadora, e, no mundo espiritual, experimentam os efeitos da rebeldia. Trazem, ainda, na organização perispirítica, os remanescentes da enfermidade que os acabrunhava e, no íntimo, sofrem a indisciplina e a inconformação. Graças a Jesus, porém, recolheram o benefício da calma, pelas sementes de renovação evangélica espalhadas em vossos estudos de hoje e esperamos possam imprimir, desde agora, novos rumos à própria transformação. E, agora, peço permissão para orar convosco. Nesta noite, em que toda a Cristandade se volta, reconhecida, para a memória do Mestre, sentimo-lo igualmente em seu derradeiro sacrifício e, mentalizando-O no madeiro, de alma genuflexa, trazemos a Ele, nosso Eterno Amigo e Divino Benfeitor, a nossa prece de leproso diante da cruz. Em seguida a leve pausa, o Espírito Jésus Gonçalves modificou a inflexão de voz e, erguendo-se para o Alto, orou, em lágrimas, comovedoramente: Senhor, eu que vivia em vãos clamores, /Vinha de longe em ânsias aguerridas,/ Sob a trama infernal de horrendas lidas,/ Entre largos caminhos tentadores./ Tronos, glórias, tiaras, esplendores/ E cidades famélicas vencidas.../ Tudo isso alcancei, de mãos erguidas/ Aos gênios tenebrosos e opressores./Mas, fatigado, enfim, de ser verdugo,/ /Roguei, chorando, a graça de teu jugo/ E enviaste-me a lepra e a solidão. /E, confinado às dores que me deste,/ Abriu-se-me a visão à luz celeste,/ E achei-te, excelso, no meu coração. / Hoje, Mestre, ante a cruz em que te apagas,/ Na compaixão que ajuda e renuncia,/Não te peço o banquete da alegria,/ Embora o doce olhar com que me afagas./ Venho rogar-te a túnica das chagas /Para que eu volte à estrada escura e fria,/ Em que os filhos da noite e da agonia/ Sofrem ulcerações, bramindo pragas.../Dá-me, de novo, a lepra que redime,/ Conservando-me a fé por dom sublime,/ Agora que, contente, me prosterno!.../ E que eu possa exaltar, por muitas vidas,/ Sobre o lenho de angústias e feridas,/ O teu reino de amor divino e eterno. Jésus Gonçalves

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