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terça-feira, 18 de março de 2014

Kardec e As "Revelações" Espirituais

Conselhos estapafúrdios, revelações espantosas, opiniões intrigantes tornam-se comum em trabalhos práticos ou literários que circulam no meio espírita ou não atualmente. Abrindo o número de agosto de 1858 da REVISTA ESPIRITA, Allan Kardec reproduziu extenso artigo de sua autoria intitulado “Contradições na Linguagem dos Espíritos”, contendo ponderações do Codificador extremamente importantes em face da grande quantidade de “revelações” contidas em obras mediúnicas publicadas atualmente. Na avaliação exposta, pondera: -“As contradições encontradas tão frequentemente na linguagem dos Espíritos, mesmo sobre questões essenciais, para algumas pessoas foram até aqui uma causa de incerteza quanto ao valor real de suas comunicações, circunstância da qual não deixam os adversários de tirar partido. À primeira vista essas contradições parecem realmente uma das principais pedras de tropeço da Ciência Espírita. Vejamos se tem elas a importância que lhes emprestam. Perguntaremos, de início, qual a Ciência que não teve, em seus primórdios, semelhantes anomalias. Qual o sábio que, nas suas investigações, não foi algumas vezes confundido por fatos que  aparentemente contradiziam as regras estabelecidas? Se a Botânica, a Zoologia, a Fisiologia, a Medicina, e a nossa própria língua não nos oferecem milhares de exemplos semelhantes e se suas bases desafiam qualquer contradição? É comparando os fatos, observando as analogias e as dessemelhanças que, pouco a pouco, se chegam a estabelecer as regras, as classificações, os princípios: numa palavra, a constituir a Ciência”. Mais à frente, acrescenta: -“A princípio, fez-se uma ideia absolutamente falsa da natureza dos Espíritos. Foram imaginados como seres à parte, de natureza excepcional, nada possuindo em comum com a matéria e devendo saber tudo. Eram, conforme opinião pessoas, seres benfeitores ou malfeitores, uns com todas as virtudes, outros com todos os vícios e todos, em geral com um saber infinito, superior ao da Humanidade (...). Quem poderia dizer o número dos que sonharam fortuna fácil pela revelação de tesouros ocultos, pelas descobertas industriais ou científicas que não custariam aos inventores mais que o trabalho de fazer uma descrição ditada pelos sábios do outro Mundo! Só Deus sabe quantos fracassos e desilusões. Quantas pretensas receitas, cada qual mais ridícula, não foram dadas pelos charlatões do Mundo Invisível!. Conhecemos alguém que pediu uma receita infalível para pintar os cabelos. Foi-lhe dada uma fórmula de composição cerosa, que reduziu a cabeleira a uma espécie de massa compacta, da qual o paciente teve um trabalho imenso para se livrar (...). A escala espírita, traçada pelos próprios Espíritos e conforme a observação dos fatos, dá-nos a chave de todas as anomalias aparentes da linguagem dos Espíritos. É preciso chegar, pela força do hábito, a conhecê-los, por assim dizer, à primeira vista e poder  identificar-lhes a classe conforme a natureza de suas manifestações”. Esclarece que “os Espíritos sérios não se contradizem nunca: sua linguagem é a sempre a mesma com as mesmas pessoas (...). Finalizando o esclarecedor texto, Kardec escreveu: - “As causas das contradições na linguagem dos Espíritos podem, pois, ser assim resumidas: 1- O grau de ignorância ou de saber dos Espíritos aos quais nos dirigimos; 2- O embuste dos Espíritos inferiores que podem, por malícia, ignorância ou malevolência tomando um nome por empréstimo, dizer coisas contrárias às que alhures foram ditas pelo Espírito cujo nome usurparam; 3- As falhas pessoais do médium, que podem influir sobre as comunicações, alterar ou deformar o pensamento do Espírito; 4- A insistência por obter uma resposta que um Espírito recusa dar, e que é dada por um Espírito inferior; 5- A própria vontade do Espírito, que fala conforme o momento, o lugar e as pessoas e pode julgar conveniente nem tudo dizer a toda gente; 6- A insuficiência da linguagem humana para exprimir as coisas do mundo incorpóreo; 7- A interpretação que cada um pode dar a uma palavra ou a uma explicação, de acordo com as suas ideias, os seus preconceitos ou o ponto de vista sob o qual encara o assunto. São outras tantas dificuldades, das quais não se triunfa a não ser por um estudo longo e assíduo. Também nunca dissemos que a Ciência espírita fosse fácil. O observador sério, que tudo aprofunda maduramente, com paciência e perseverança, aprende uma porção de nuanças delicadas, que escapam ao observador superficial. É por tais detalhes íntimos que ele se inicia nos segredos desta ciência. A experiência ensina a conhecer os Espíritos, como nos ensina a conhecer os homens”.

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