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domingo, 29 de julho de 2018

O MAGNETISMO PERANTE A ACADEMIA


Entre os artigos publicados por Allan Kardec na REVISTA ESPÍRITA, de janeiro de 1860, há um intitulado O Magnetismo Perante a Academia, em que escreve, de forma bastante original, sobre a forma como, após vinte anos de espera, o Magnetismo, disfarçado de Hipnotismo, conseguiu ser considerado pela Academia de Ciências francesa. De forma até bem humorada, revela-o como filho do primeiro, este, por sinal, “proscrito do Olimpo grego, porque tinha ferido os privilégios de Esculápio e marchado ao seu lado, gabando-se do poder de curar sem o seu concurso”. Antevê o fracasso da nova tentativa do Magnetismo, através do Hipnotismo, de ser aceito pelos homens da Ciência pela predominância das ideias materialista, ponderando que “vão dizer qualquer coisa, mas que, seguramente, não é Magnetismo”, embora viessem a examinar “o fato de todas as maneiras, ainda que por mera curiosidade”. Demonstrando a origem de seu ceticismo, reproduz um artigo – considerado por ele como notável -, assinado por Victor Meunier, destacado da revista científica SIÉCLE, de 16 de dezembro de 1859. Nele, o autor comenta: “-O Magnetismo animal, conduzido à Academia pelo Dr Paul Broca, apresentado à ilustre companhia pelo sr. Velpeau, experimentado por vários cirurgiões de hospitais, é a grande novidade do dia. As descobertas como os livros, tem o seu destino. A de que vamos tratar não é nova. Data de uns vinte anos, e nem na Inglaterra, onde nasceu, nem na França, onde, no momento, não se ocupa de outra coisa, lhe faltou publicidade. Um médico escocês, o Dr Braid, a descobriu e lhe consagrou um livro: “Neuropnologia ou o fundamento do sono nervoso, considerado em relação com o magnetismo animal”. Um celebre médico inglês, o Dr Carpenter, analisou detidamente a descoberta do Dr Braid no artigo SONO da Enciclopédia de Anatomia e Fisiologia. Um ilustre cientista francês, o Dr Littré, reproduziu a análise do Dr Mueler. Enfim, nós mesmos consagramos um dos nossos folhetins da Presse, de 7/7/1852 ao Hipnotismo, nome dado pelo Dr Braid ao conjunto de fatos de que se trata. A mais recente das publicações relativas ao assunto data, pois, de sete anos. E eis que, quando o julgavam esquecido, ele adquire esta imensa repercussão. Há no Hipnotismo duas coisas: um conjunto de fenômenos nervosos, e o processo por meio do qual são produzidos. O processo empregado outrora, se não me engano, pelo Abade Faria, é de grande simplicidade. Consiste em manter um objeto brilhante em frente aos olhos da pessoa com a qual se experimenta, a pequena distância da raiz do nariz, de modo que só o possa olhar enviesando os olhos para dentro; ela deve fixar os olhos sobre ele. A princípio as pupilas se contraem, depois se dilatam bastante e, em poucos instantes, produz-se o estado cataléptico. Levantando-se os membros do paciente, estes conservam a posição que se lhes dá. É apenas um dos fenômenos produzidos; dos outros falaremos oportunamente”. O autor descreve experiências visando assegurar-se da realidade do Hipnotismo e se a insensibilidade hipnótica resistiria à prova das operações cirúrgicas. Constatadas essas evidências, destaca a necessidade de aprofundamento das pesquisas sobre as causas dos efeitos observados:1- Exaltação da sensibilidade – o olfato é levado a um grau de sensibilidade pelo menos igual ao que se observa nos animais de menor olfato. 2- Sentimentos sugeridos - pondo-se o rosto, o corpo ou os membros do paciente na atitude que convém à expressão de um sentimento particular e logo se desperta o estado mental correspondente. 3- Ideias provocadas – Levantem-se a mão do paciente acima da cabeça, dobrem-se os dedos sobre a palma, e é suscitada a ideia de subir, de se balançar ou puxar uma corda. 4- Acréscimo de força muscular – Se se quiser suscitar uma força extraordinária num grupo de músculos, basta sugerir ao paciente a ideia da ação que reclama essa força e lhe assegurar que o pode realizar com a maior facilidade, caso queira”. Concluindo sua matéria, Allan Kardec diz: “- Aos fatos a palavra; as reflexões virão depois”. O tempo, contudo, consagrou o acerto do prognóstico sobre a vitória do materialismo e sua visão organicista da vida humana.  


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