Entre os artigos
publicados por Allan Kardec na REVISTA
ESPÍRITA, de janeiro de
1860, há um intitulado O
Magnetismo Perante a Academia, em que escreve, de forma bastante original,
sobre a forma como, após vinte anos de espera, o Magnetismo, disfarçado de Hipnotismo, conseguiu ser
considerado pela Academia de Ciências francesa. De forma até bem humorada,
revela-o como filho do primeiro, este, por sinal, “proscrito do Olimpo
grego, porque tinha ferido os privilégios de Esculápio e marchado ao seu lado,
gabando-se do poder de curar sem o seu concurso”. Antevê o fracasso da
nova tentativa do Magnetismo,
através do Hipnotismo, de
ser aceito pelos homens da Ciência pela predominância das ideias materialista,
ponderando que “vão dizer qualquer coisa, mas que, seguramente, não é
Magnetismo”, embora viessem a examinar “o fato de todas as
maneiras, ainda que por mera curiosidade”. Demonstrando a origem de seu
ceticismo, reproduz um artigo – considerado por ele como notável -, assinado
por Victor Meunier, destacado da revista científica SIÉCLE, de 16 de
dezembro de 1859. Nele, o autor comenta: “-O Magnetismo animal, conduzido
à Academia pelo Dr Paul Broca, apresentado à ilustre companhia pelo sr.
Velpeau, experimentado por vários cirurgiões de hospitais, é a grande novidade
do dia. As descobertas como os livros, tem o seu destino. A de que vamos tratar
não é nova. Data de uns vinte anos, e nem na Inglaterra, onde nasceu, nem na
França, onde, no momento, não se ocupa de outra coisa, lhe faltou publicidade.
Um médico escocês, o Dr Braid, a descobriu e lhe consagrou um livro: “Neuropnologia
ou o fundamento do sono nervoso, considerado em relação com o magnetismo animal”. Um celebre médico inglês, o Dr
Carpenter, analisou detidamente a descoberta do Dr Braid no artigo SONO da
Enciclopédia de Anatomia e Fisiologia. Um ilustre cientista francês, o Dr
Littré, reproduziu a análise do Dr Mueler. Enfim, nós mesmos consagramos um dos
nossos folhetins da Presse, de 7/7/1852 ao Hipnotismo, nome dado pelo Dr Braid
ao conjunto de fatos de que se trata. A mais recente das publicações relativas
ao assunto data, pois, de sete anos. E eis que, quando o julgavam esquecido,
ele adquire esta imensa repercussão. Há no Hipnotismo duas coisas: um conjunto
de fenômenos nervosos, e o processo por meio do qual são produzidos. O processo
empregado outrora, se não me engano, pelo Abade Faria, é de grande
simplicidade. Consiste em manter um objeto brilhante em frente aos olhos da
pessoa com a qual se experimenta, a pequena distância da raiz do nariz, de modo
que só o possa olhar enviesando os olhos para dentro; ela deve fixar os olhos
sobre ele. A princípio as pupilas se contraem, depois se dilatam bastante e, em
poucos instantes, produz-se o estado cataléptico. Levantando-se os membros do
paciente, estes conservam a posição que se lhes dá. É apenas um dos fenômenos
produzidos; dos outros falaremos oportunamente”. O autor descreve
experiências visando assegurar-se
da realidade do Hipnotismo e se a insensibilidade hipnótica
resistiria à prova das operações cirúrgicas. Constatadas essas evidências,
destaca a necessidade de aprofundamento das pesquisas sobre as causas dos
efeitos observados:1- Exaltação
da sensibilidade – o olfato é
levado a um grau de sensibilidade pelo menos igual ao que se observa nos
animais de menor olfato. 2- Sentimentos
sugeridos - pondo-se o rosto,
o corpo ou os membros do paciente na atitude que convém à expressão de um
sentimento particular e logo se desperta o estado mental correspondente. 3- Ideias provocadas – Levantem-se a mão do paciente acima
da cabeça, dobrem-se os dedos sobre a palma, e é suscitada a ideia de subir, de
se balançar ou puxar uma corda. 4- Acréscimo
de força muscular – Se se
quiser suscitar uma força extraordinária num grupo de músculos, basta sugerir
ao paciente a ideia da ação que reclama essa força e lhe assegurar que o pode
realizar com a maior facilidade, caso queira”. Concluindo sua matéria,
Allan Kardec diz: “- Aos
fatos a palavra; as reflexões virão depois”. O tempo, contudo,
consagrou o acerto do prognóstico sobre a vitória do materialismo e sua visão
organicista da vida humana.
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