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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

LEMBRANÇAS DE VIDAS PASSADAS


O Journal Littéraire de 25 de setembro de 1864, publicou um artigo biográfico de Pierre Dangeau sobre o escritor francês Joseph Méry destacando suas convicções, para muitos apenas teorias. Méry, nascido em Marselha, viveu 68 anos, foi dramaturgo, libretista, jornalista político, autor de ficção e ensaios, conhecido por sua sagacidade e habilidade de improvisar, e, embora tenha escrito um grande número de histórias, hoje está praticamente esquecido, a não ser por  contribuições com libretos transformados em ópera por Giuseppe Verdi, e, em três obras de Offenbach, seu amigo pessoal. Entre outras coisas, escreve Dangeu: -“Ele crê firmemente que viveu várias vezes; lembra-se das menores circunstâncias de suas existências precedentes e as detalha com uma nota de certeza, que impõe como uma autoridade. Assim, foi uma dos amigos de Virgílio e de Horácio, conheceu Augustus Germanicus e fez a guerra nas Gálias e na Germânia. Era general e comandava as linhas romanas quando estas atravessaram o Reno. Conhecia nas montanhas lugares onde havia acampado, nos vales, campos de batalha onde combateu. Lembra-se das palestras em casa de Mecenas, que são o eterno objeto de seus pesares. Chamava-se Mínius. Um dia, na vida atual, estava em Roma e visitava a biblioteca do Vaticano. Ali foi recebido por gente moa, noviços em longas vestes escuras, que se puseram a lhe falar em latim mais puro. Méry era bom latinista, no que se refere à teoria e às coisas escritas, mas ainda não havia experimentado conversar familiarmente na língua de Juvenal. Ouvindo esses romanos de hoje, admirando esse magnífico idioma, tão harmonizado com aqueles monumentos, com os costumes da época em que era usado, pareceu-lhe que um véu caia de seus olhos; pareceu-lhe que ele próprio havia conversado, em outros tempos, com amigos que se serviam dessa linguagem divina. Frases feitas e impecáveis saiam-lhe da boca; achava imediatamente a linguagem e a correção; enfim, falou latim como fala francês; teve em latim o espírito que tem em francês. Nada disso podia fazer-se sem um aprendizado e, se não tivesse sido um súdito de Augusto, se não tivesse atravessado aquele século de todos os esplendores, não teria improvisado um conhecimento, impossível de adquirir em poucas horas. Outra passagem sua na Terra foi nas Índias, por isso as conhece tão bem. Por isso, quando publicou a GUERRE DU NIZAN, nenhum de seus leitores terá duvidado que não tivesse morado muito tempo na Ásia. Suas descrições são vivas, seus quadros são originais, toca com o dedo os mínimos detalhes e é impossível não tenha visto o que conta, pois lá está o cunho da verdade. Pretende ter entrado naquele país com uma expedição muçulmana em 1035. Lá viveu cinquenta anos, passou belos dias e se fixou para não mais sair. Ainda era poeta, mas menos letrado do que em Roma e em Paris. Inicialmente guerreiro, depois sonhador, guardou na alma as imagens empolgantes das margens do Rio Sagrado e dos ritos indús. Tinha várias moradas, na cidade e no campo, orou nos templos dos elefantes, conheceu a Civilização avançada de Java, viu de pé as esplendidas ruínas que assinala e ainda tão pouco conhecidas”. O artigo segue enaltecendo outros aspectos da personalidade de Méry. No número de novembro de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec aproveita a abordagem para destacar alguns aspectos revelados pela Espiritualidade n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS a propósito do restabelecimento  da questão existencial com a  reencarnação, linha interrompida treze séculos antes por deliberações do II Concílio de Constantinopla, distanciando inúmeras gerações nascidas no chamado Ocidente do mecanismo da lógica evolucionista. Da análise de Kardec, podemos citar: 1- Se Méry já viveu, não deve ser exceção, porque as Leis da Natureza são as mesmas para todos e, assim, todos os homens também devem ter vivido; se se viveu, não é certamente pelo corpo que se renasce; é, pois, o princípio inteligente, a alma, o Espírito. 2- Desde que Méry conservou a lembrança de várias existências, desde que os lugares lhe recordam o que viu outrora, com a morte do corpo a alma não se perde do todo Universal, conservando, pois, sua individualidade, o conhecimento do seu “EU”.  3- Lembrando-se Méry do que foi há dois mil anos, em que se tornou sua alma no intervalo? (...). Deve ter ficado na esfera da atividade terrestre, vivendo a Vida Espiritual, em nosso meio ou no espaço que nos rodeia, até tomar um novo corpo. Não sendo Méry único no mundo, deve haver em torno de nós uma população inteligente invisível. 4- Nada do que adquirimos em inteligência, em saber e em moralidade fica perdido; quer morramos jovens ou velhos, quer tenhamos ou não tempo de o aproveitar na existência presente, colheremos seus frutos em existências subsequentes. 5- A medida que o Espírito se depura, os laços materiais são menos tenazes, o véu que obscurece o passado é menos opaco, seguindo assim a faculdade da lembrança retrospectiva o desenvolvimento do Espírito.


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