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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

PRESSENTIMENTOS E PROGNÓSTICOS FUTUROS: A POSIÇÃO DO ESPIRITISMO

A edição de novembro de 1967 da REVISTA ESPÍRITA inclui interessante comentário de Allan Kardec sobre os surpreendentes fenômenos sobre ocorrências futuras. Diz o texto: - Não se poderia negar os pressentimentos, dos quais há poucas pessoas que não tenham tido exemplos. É um desses fenômenos cuja explicação a matéria, sozinha, é impotente para dar, porque se a matéria não pensa, também não pode pressentir. É assim que o materialismo a cada instante se choca contra as coisas mais comuns que o vêm desmentir. Para ser advertido de maneira oculta daquilo que se passa ao longe e cujo conhecimento não podemos ter senão num futuro mais ou menos próximo pelos meios ordinários, é preciso que algo se desprenda de nós, veja e escute o que não podemos perceber pelos olhos e pelos ouvidos, para referir a sua intuição ao nosso cérebro. Esse algo deve ser inteligente, visto que compreende e, muitas vezes, de um fato atual ele prevê as consequências futuras; é assim que por vezes temos o pressentimento do futuro. Esse algo não é outra coisa senão nós mesmos, nosso Ser espiritual, que não está confinado no corpo, como um pássaro na gaiola, mas que, semelhante a um balão cativo, se afasta momentaneamente da Terra, sem deixar de a ela estar ligado. É principalmente nos momentos em que o corpo repousa, durante o sono, que o Espírito, aproveitando o pequeno descanso que lhe deixa o cuidado de seu invólucro, recobra parcialmente a liberdade e vai haurir no espaço, entre os outros Espíritos, encarnados como ele, ou desencarnados, e naquilo que vê, ideias cuja intuição traz ao despertar. Esta emancipação da alma frequentemente se dá no estado de vigília, nos momentos de absorção, de meditação e de devaneio, em que a alma parece não estar mais preocupada com a Terra; ocorre, sobretudo de maneira mais efetiva e mais ostensiva, nas pessoas dotadas do que se chama dupla vista ou visão espiritual. Ao lado das intuições pessoais do Espírito, há que se colocar as que lhe são sugeridas por outros Espíritos, quer em vigília, quer durante o sono, pela transmissão de pensamento de alma a alma. É assim que muitas vezes se é advertido de um perigo, solicitado a tomar tal ou qual direção, sem que por isto o Espírito deixe de ter o seu livre-arbítrio. São conselhos, e não ordens, porque é sempre senhor de sua vontade. Os pressentimentos têm, pois, a sua razão de ser e encontram a sua explicação natural na Vida Espiritual, que não cessamos um instante de viver, porque é a vida normal. Já não se dá o mesmo com os fenômenos físicos, considerados como prognósticos de acontecimentos felizes ou infelizes. Em geral esses fenômenos não têm nenhuma ligação com as coisas que parecem pressagiar. Podem ser os precursores de efeitos físicos que são a sua consequência, como um ponto negro no horizonte pode pressagiar ao marinheiro uma tempestade, ou certas nuvens anunciar uma saraivada, mas a significação desses fenômenos para as coisas de ordem moral deve ser classificada entre as crenças supersticiosas, que nunca seriam combatidas com demasiada energia. Essa crença, que absolutamente não repousa sobre nada de racional, faz que, quando chega um acontecimento, a gente se lembre de algum fenômeno que o precedeu, e ao qual o Espírito impressionado o liga, sem se importar com a possibilidade de relações que só existem na imaginação. Não pensam que os mesmos fenômenos se repetem diariamente, sem que daí resulte nada de azar, e que os mesmos acontecimentos chegam a cada instante sem serem precedidos por nenhum pretenso sinal precursor. Se se tratar de acontecimentos que digam respeito a interesses gerais, narradores crédulos ou, no mais das vezes, oficiosos, para lhes exaltar a importância aos olhos da posteridade, amplificam os prognósticos, que se esforçam por tornar mais sinistros e mais terríveis, adicionando-lhes supostas perturbações da Natureza, das quais os tremores de terra e os eclipses são os acessórios obrigatórios, como fez o bispo de Rodez a propósito da morte de Henrique IV. Esses relatos fantásticos, que muitas vezes tinham sua fonte nos interesses dos partidos, foram aceitos sem exame pela credulidade popular que viu, ou à qual queriam fazer ver, milagres nesses estranhos fenômenos. Quanto aos acontecimentos vulgares, na maioria das vezes o homem é a sua primeira causa. Não querendo confessar suas próprias fraquezas, busca uma desculpa pondo à conta da Natureza as vicissitudes que são quase sempre o resultado de sua imprevidência e de sua imperícia. É em suas paixões, em seus defeitos pessoais que deve buscar os verdadeiros prognósticos de suas misérias, e não na Natureza, que não se desvia da rota que Deus lhe traçou por toda a Eternidade. Explicando por uma lei natural a verdadeira causa dos pressentimentos, o Espiritismo demonstra, por isso mesmo, o que há de absurdo na crença nos prognósticos. Longe de dar crédito à superstição, ele lhe tira seu último refúgio: o sobrenatural.

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