A evolução do conhecimento
humano nos últimos dois séculos avança em velocidade intensa. O extraordinário encontra
muitas explicações outrora temidas pela ignorância geralmente imposta por pressões religiosas. Contra esse estado de coisas o Espiritismo trabalha
operando o desenvolvimento mental bloqueado por mentes astutas. O tópico milagres
mereceu de Allan Kardec atenção especial como se pode constatar de uma
das matérias da REVISTA ESPÍRITA de dezembro
de 1867. Dele alguns trechos para reflexões: - As razões pelas quais o
Espiritismo repudia a palavra milagre, para o que lhe diz respeito em
particular, e em geral para os fenômenos que não escapam das leis naturais,
foram muitas vezes desenvolvidas, quer em nossas obras sobre a doutrina, quer
em vários artigos da REVISTA ESPÍRITA. Estão resumidas na passagem seguinte,
tirada do número de maio de 1867. “Em sua acepção usual a palavra milagre
perdeu sua significação primitiva, como tantas outras, a começar pela palavra
filosofia (amor à sabedoria), da qual hoje se servem para exprimir as idéias
mais diametralmente opostas, desde o mais puro espiritualismo, até o
materialismo mais absoluto. Ninguém duvida que, no pensamento das massas,
milagre implica a ideia de um fato extranatural. Perguntai a todos os que creem
nos milagres se os encaram como efeitos naturais. A Igreja fixou-se de tal modo
sobre este ponto que anatematiza os que pretendem explicar os milagres pelas
leis da Natureza. A própria Academia define esta palavra: Ato do poder
divino, contrário às leis conhecidas da natureza. – Verdadeiro, falso milagre.
– Milagre comprovado. – Operar milagres. – O dom dos milagres. Para ser por
todos compreendido, é preciso falar como todo o mundo. Ora, é evidente que se
tivéssemos qualificado os fenômenos espíritas de miraculosos, o público se
teria equivocado quanto ao seu verdadeiro caráter, a menos que, de cada vez, se
empregasse um circunlóquio e dissesse que há milagres que não são milagres,
como geralmente se entende. Visto que a generalidade a isto liga a ideia de uma
derrogação das leis naturais, e que os fenômenos espíritas não passam da
aplicação dessas mesmas leis, é muito mais simples e sobretudo mais lógico
dizer sem rodeios: Não, o Espiritismo não faz milagres. Desta maneira, não há
engano, nem falsa interpretação. Assim como o progresso das ciências físicas
destruiu uma multidão de preconceitos e faz entrar na ordem dos fatos naturais
um grande número de efeitos outrora considerados miraculosos, o Espiritismo,
pela revelação de novas leis, vem ainda restringir o domínio do maravilhoso;
dizemos mais: dá-lhe o último golpe, razão por que não é malvisto em parte
alguma, como também não o são a astronomia e a geologia.” Aliás, a questão dos
milagres é tratada de maneira completa, e com todos os desenvolvimentos que
comporta, na segunda parte da nova obra que publicamos sob o título de A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES,
SEGUNDO O ESPIRITISMO. A causa natural dos fatos reputados
miraculosos, no sentido vulgar da palavra, é explicada. Se se der ao trabalho
de a ler, verá que as curas não são um problema para o Espiritismo que, desde
muito tempo, sabe como proceder neste ponto. É uma questão quase elementar. A
acepção da palavra milagre, no sentido de fato extranatural, está consagrada
pelo uso. A Igreja a reivindica por sua conta, como parte integrante de seus
dogmas; parece-nos, pois, difícil fazer esta palavra voltar à sua acepção
etimológica, sem se expor a qüiproquós. Seria preciso, diz o autor, uma palavra
nova. Ora, como tudo o que não está fora das leis da Natureza é natural, não
vemos outra podendo abarcá-los todos senão a de fenômenos naturais. Mas os
fenômenos naturais, reputados miraculosos, são de duas ordens: uns dependem de
leis que regem a matéria, outros de leis que regem a ação do princípio
espiritual. Os primeiros são da alçada da Ciência propriamente dita, os
segundos estão mais especialmente no domínio do Espiritismo. Quanto a estes últimos,
como são, na maior parte, uma consequência dos atributos da alma, a palavra
existe: são chamados fenômenos psíquicos; e quando combinados com os efeitos da
matéria, poderiam ser chamados psíquicos-materiais ou semipsíquicos. (...). O
Espiritismo não tem a pretensão de dizer a última palavra sobre todas as leis
que regem o Universo(...). Por sua própria natureza abre caminho a todas as
novas descobertas, mas até que um princípio novo seja constatado, não o aceita
senão a título de hipótese ou de probabilidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário