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sexta-feira, 28 de junho de 2019

HUMILDADE E TOLERÂNCIA; EVOLUÇÃO E RESPONSABILIDADE E KARDEC - HOJE E SEMPRE 303

Na sequência, o professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, eme) esclarece duvidas de nossos leitores. HUMILDADE E TOLERÂNCIA "Que ensinamento Jesus quis transmitir quando disse: Se alguém quer vos constranger a fazer mil passos com ele, fazei ainda dois mil?" A Doutrina de Jesus é de ordem moral. Ele se preocupou basicamente com a convivência humana. Com isso, ele mudou muito da tradição religiosa do povo hebreu que, até então, se preocupava quase que exclusivamente com a adoração a Deus. Para Jesus, não haveria adoração sem ação, ou seja, não é possível amar a Deus se não amar o próximo. Amar ao próximo, em última instância, é fazer o bem àqueles que estão mais próximos de nós. Para se fazer entendido, Jesus usou de imagens fortes, que serviam para impressionar mais profundamente a alma do povo. E foi, através dessa técnica, que ele proferiu o Sermão da Montanha (conforme podemos ler nos capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho de Mateus). É no SERMÃO DA MONTANHA - dirigindo-se ao povo em geral - que Jesus proferiu essa frase ("Se alguém vos obrigar a andar mil passos com ele, andai mais dois mil"). À primeira vista, parece que Jesus estava dizendo para que cedêssemos sempre, mais ainda do que fôssemos obrigados a ceder, no caso de sermos constrangidos. Mas não é ao pé da letra que o Espiritismo interpreta a fala de Jesus. Em O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Kardec faz importantes considerações a respeito. Se formos observar literalmente o que está escrito, teremos que entregar o mundo aos maus, para que eles o dominem por completo. A imagem, que Jesus usa nessa expressão (ou a que a ele foi atribuída) é para causar impacto, para evitar que nossa resistência ao mal seja tão agressiva e violenta que se transforme numa vingança ou num ato condenável ou criminoso. Falando assim, Jesus está ensinando a humildade e o bom senso, uma vez que a nossa reação ao mal pode, muitas vezes, ser pior do que a própria ação que nos queria prejudicar. Os hebreus cometeram atrocidades, inúmeras vezes, em nome de Deus, a pretexto de estarem defendendo o bem e a justiça. Apesar desses ensinamentos do Evangelho, os cristãos também lançaram mão da intolerância e da violência (por ocasião da Inquisição e das Cruzadas, por exemplo), quando, em nome de Jesus, derramaram muito sangue e causaram profundos sofrimentos. EVOLUÇÃO E RESPONSABILIDADE "Na sua primeira encarnação humana, o Espírito não tem nenhum grau de responsabilidade?” A evolução é um processo permanente e tão lento, que é impossível precisar, mesmo do ponto de vista biológico, em que momento o homem surgiu sobre face na Terra. Sabemos que essa transição entre os antropóides (animais parecidos com o homem) e o Ser humano deve ter ocorrido há milhões de anos atrás, mas, cientificamente, não há como estabelecer um marco preciso. O mesmo podemos dizer em relação ao Espírito, ou seja, em que momento o individuo passa da condição animal para a condição humana, em que momento o Espírito ganha a consciência de si mesmo. Esse momento, com certeza, se deu numa larga faixa de experiências reencarnatórias, que durou milhões de anos. Leia em Evolução em Dois Mundos, de André Luiz. Em se tratando de fenômenos da natureza, não existe, em nada, uma precisão matemática, algo que possa ser determinado com exatidão. Existem, sim, largas faixas de transição. Para entendermos melhor esse difícil tema, vamos estabelecer um paralelo entre a evolução da espécie humana e a evolução do indivíduo. Por exemplo: em que momento um indivíduo se torna adulto? Difícil dizer. Da infância para a idade adulta há uma longa fase de transição, que vai se realizando no dia-a-dia, de forma que é até possível estabelecer períodos, mas não datas ou momentos precisos. Em que momento surge a responsabilidade no indivíduo? Naturalmente, o desenvolvimento de conceitos morais é mais lento que o da inteligência e vai se manifestando à medida que a pessoa vai amadurecendo para a vida. Uns vão mais depressa, outros mais devagar. Logo, não dá para dizer quando ocorre a primeira encarnação humana, Cristiano. Podemos dizer, sim, que há um largo período em que o Espírito começa a despertar a sua inteligência, passando gradativamente a ter consciência de si mesmo como ser existente e como pessoa. Até hoje, os Antropólogos procuram compreender esse processo - tanto do ponto de vista biológico (ou seja, do desenvolvimento das características físicas do homem), como do ponto de vista cultural. O aspecto cultural é o que mais ressalta essa mudança. Por isso, as pesquisas giram em torno de escavações, principalmente em regiões da África, onde foram encontrados os primeiros instrumentos e utensílios que o homem fabricou sobre a face da Terra. Nesta fase, ele já pode ser considerado humano, porque é capaz de criar e de construir uma cultura. É possível presumir, a partir desse material encontrado, como o homem pensava e que tipo de vida levava. Mesmo quando o Espírito passa à condição de humano, no seio das mais primitivas comunidades, o despertar do que chamamos hoje de responsabilidade é algo muito complexo e lento, que vai despertando com o tempo e com as experiências de vida em grupo, ou seja, com a convivência. Não há como compararmos o homem atual com o homem primitivo; a inteligência, as ideias, os conceitos morais vão se fazendo devagar ao longo dos milênios. Podemos dizer que cada povo, cada cultura, vai desenvolvendo o seu. Portanto, o Ser humano não surge pronto, acabado, como ele é hoje. O homem atual é o resultado de uma experiência muito longa, que se perde nas esteiras do tempo. Para Kardec o Adão da Bíblia já é o homem civilizado, pois ele tem todas as características da cultura de uma Civilização. Não é o homem primitivo, embrutecido, violento, agressivo, próximo do animal. Para que a Humanidade chegar à condição de Adão deve ter levado mais de 10 milhões de anos. Assim sendo, o que podemos dizer em relação à sua pergunta é o seguinte: Primeiro - não há como precisar o momento da primeira encarnação humana; Segundo - a noção de responsabilidade, como a temos hoje, só veio se desenvolvendo ao longo de uma larga experiência do Espírito na condição humana; Terceiro - a evolução não cessa, de modo que ainda hoje estamos evoluindo e desenvolvendo em nós noções cada vez mais profundas de responsabilidade, que não é a mesma para todos. 







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