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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

DOR TRANSMUTADA EM ESPERANÇA

Amanhecia o dia 7 de novembro de 1981 em Goiânia quando o avião de pequeno porte levantou voo na direção de Alto Paraíso, região nordeste do Estado. Entre os três tripulantes, um, Ary Ribeiro Valadão Filho, supervisionava o Projeto Rio Formoso focado no desenvolvimento da região. No meio do caminho um acidente interromperia o plano de voo, causando a queda da aeronave, seguida de explosão e incêndio que determinaria daí a seis dias a morte do engenheiro de 30 anos. Removidos os sobreviventes para Hospital da capital, a evolução do quadro em que estavam prendeu a atenção da população do Estado, que acompanhava angustiada os boletins de notícias que atualizavam as informações médicas. Ary era filho do então Governador em exercício, o qual, juntamente com os demais familiares, viveu momentos aflitivos até o desfecho com a morte do jovem. Experimentando a dor indescritível dos que perdem um ente querido, sua mãe e duas irmãs, quatro meses após, misturavam-se à pequena multidão de sofredores que habitualmente acorriam às reuniões do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas Gerais, onde Chico Xavier, através da sua extraordinária mediunidade convertia-se numa espécie de correio do Além, trazendo cartas dos que partiram antes. A viagem foi compensada pela psicografia através do médium de uma das mais longas e emocionantes mensagens do extenso acervo resultante do trabalho de Chico Xavier. Iniciando sua comunicação, roga a bênção da mãe, agradece nominalmente às irmãs, afirma que “nada os separou, estando unidos na fé em Deus”, reconhecendo-se em dificuldade para escrever a carta, dizendo-se auxiliado pelo Tio Natalino, por “não ter experiência bastante para vestir a mão de uma pessoa qual se usasse uma luva”. Revive cenas do sinistro, dizendo que “momentos quais aqueles do sete de novembro passado são indescritíveis nas minudências. Sei que o Mauro deliberou aterrissar; naturalmente atendendo à experiência dele, não me ocorreu qualquer ponderação a um companheiro, cuja competência me habituei a respeitar. O resultado, porém, é que a estreiteza do campo não nos permitia manobras capazes de promover medidas mais amplas do que as que assumíamos dentro da máquina. O choque contra a árvore foi violento, em vista da velocidade compreensível. E o resto é o que sabem, talvez mais do que eu mesmo, porquanto, em procurando liberar os dois companheiros que encontravam dificuldades para se livrar dos impedimentos na hora, a explosão nos agrediu a todos”. Reportando-se aos acontecimentos posteriores diz que “os pensamentos do fim para o meu corpo ainda não me haviam aflorado à cabeça. No entanto, quando vi as condições dos companheiros, notadamente do Mauro, tive receio de que um espelho me pudesse contar o que ocorria. Rememorando seus derradeiros momentos conta: -“Libertei-me, pouco a pouco, daquela toxemia íntima que me afligia consideravelmente. Em preces, no silêncio, esperava até que senti que mãos suaves me acariciavam a cabeça e dormi... Um sono pesado, de cujas imagens de sonhos possíveis não me recordo. Apenas dormi. Acordei, porém, acabrunhado, como se estivesse sob a presença incômoda de muita gente, apesar do meu espírito de gratidão para quem estivesse ali a visitar-me. Unicamente, estranhei achar-me fora do quarto e, sim, em plena sala; achava-me na condição de uma pessoa semi-anestesiada sob a incapacidade de me controlar, quanto a movimentação e direção... Falar, não conseguia. No entanto, emitia pedidos mentais de socorro. Um desconhecido de rosto amigo me estendeu os braços e me convidou à retirada, afirmando-me que se achava incumbido de me conduzir a novo tratamento. Aceitei sem hesitação, o apoio que ele me estendia, porquanto, não me admitia com a possibilidade de caminhar; ainda assim, embora aceitando o amparo dele, segurando-lhe um dos ombros, senti-me aliviado, mais leve... Acreditei que me achava à frente de melhoras positivas. Guiado pelo amigo, encontrei um avião misto de Bonanza e helicóptero, com a feição de uma grande borboleta, onde um senhor e uma senhora, que admiti fossem meus novos enfermeiros, me aguardavam. Receberam-me com muito cuidado e carinho, recomendando que nada receasse. O desconhecido tomou a direção e saímos, na vertical, à maneira de um helicóptero, para mim desconhecido, e à medida que subíamos, respirava a longos haustos, o ar muito leve e puro de cima. Amanhecia. Reconheci que nos dirigíamos para Anicuns”.... Antes de terminar, diz aos pais: -“Tudo sucedeu como devia acontecer e estou melhorando cada vez mais para ser mais. A forma se altera. No entanto, continuamos, sempre nós mesmos”. 

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