Vencida
a resistência quanto a aceitação da ideia da reencarnação, Allan Kardec
lançou-se a desenvolver reflexões que cercassem os questionamentos naturalmente
feitos pelos negadores ou contraditores do Princípio que, segundo o
Codificador, constitui-se na chave capaz de explicar a maioria dos complexos
processos humanos. Um dos aspectos é o esquecimento do passado. Já n’O LIVRO DOS ESPÍRITOS a
Espiritualidade adverte que “a recordação das passadas existências teria
inconvenientes maiores do que imaginais”. (LE, 286ª) Num dos números da REVISTA ESPÍRITA de 1861, Kardec
pondera que “é evidente que a lembrança de nossas existências precedentes causaria
lamentável confusão em nossas ideias, sem falar de todos os outros
inconvenientes já assinalados a respeito”. (RE;
1861) Na obra ENTRE A TERRA E O CÉU (feb, 1954), André Luiz repassa-nos a
informação de que “as recordações do pretérito não devem ser totalmente despertadas para
que ansiedades inúteis não nos dilacerem o presente. A Verdade para a alma é
como o pão para o corpo que não pode exorbitar da quota necessária a cada dia.
Toda precipitação gera desastres” (ETC, 26), prognosticando que “no grande futuro, o médico terrestre
desentranhará um labirinto mental, com a mesma facilidade com que atualmente
extrai um apêndice condenado”. (ETC,12), Na sequência a
resposta para duas das dúvidas mais comuns sobre o tema:1- Como o Espiritismo justifica o chamado
esquecimento do passado? Não pode o homem, nem
deve, saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta
certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro
para o claro. Esquecido de seu passado ele é mais senhor de si. (LE,
392) Os Espíritos encarnados tão logo se realize a
consolidação dos laços físicos, ficam submetidos a imperiosas leis dominantes
na Crosta. Entre eles e o Plano Espiritual existe um espesso véu. É a muralha
das vibrações. Sem a obliteração
temporária da memória, não se renovaria a oportunidade. Se o Mundo Espiritual fora francamente aberto,
olvidariam as obrigações imediatas, estimariam o parasitismo, prejudicando a
própria evolução. (M,38) Os nervos, o córtex motor e
os lobos frontais, constituem apenas regulares pontos de contato entre a
organização perispiritual e o aparelho físico, indispensáveis, uma e outro, ao
trabalho de enriquecimento e de crescimento do Ser eterno. Em linguagem mais
simples, são respiradouros dos impulsos, experiências e noções elevadas da
personalidade real que não se extingue no túmulo e que não suportariam a carga
de uma dupla vida. Em razão disto, e atendendo aos deveres impostos à
consciência de vigília para os serviços de cada dia, desempenham função
amortecedora: são quebra-luzes, atuando beneficamente para que a alma encarnada
trabalhe e evolva. (NMM;4) 2-Avançando em seu processo de Evolução, mesmo
com o esquecimento das experiências passadas a reencarnação resulta sempre num
acréscimo no desenvolvimento do Espírito?
Se, em cada existência, é
lançado um véu sobre o passado, o Espírito nada perde do que adquiriu no
passado: só esquece a maneira como o adquiriu. Se compararmos a um estudante, pouco
lhe importa saber onde, como, e com quais professores fez o terceiro ano, se
chegando ao quarto sabe o que se ensinou no terceiro. É assim que, ao reencarnar, o homem
traz, por intuição e como ideias inatas, o que adquiriu em ciência e
moralidade. Digo em moralidade, pois se, durante uma existência ele melhorou,
se aproveitou as lições da experiência, quando voltar será instintivamente
melhor. Seu
Espírito, amadurecido na escola do sofrimento e do trabalho, terá mais solidez.
Longe de
ter tudo a recomeçar, ele possui um capital cada vez mais rico, sobre o qual se
apoia para adquirir mais. O esquecimento temporário é um
benefício da Providência. A experiência é muitas vezes adquirida
por rudes provas e terríveis expiações, cuja lembrança seria muito penosa e
viria somar-se às angústias das tribulações da vida presente. (OQE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário