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domingo, 3 de dezembro de 2017

NÃO CORRESPONDE

Nestes tempos de tanta disponibilidade de informações alguns religiosos se valem das limitações culturais e de acesso a tecnologia para propalar informações erradas. É o caso da que será esclarecida pelo professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, eme) na sequencia. É verdade que Jesus foi o fundador da Igreja Católica e Pedro seu primeiro papa? Esta é, pelo menos, a versão que a Igreja passa para seus fiéis e proclama para o Mundo todo, mas não corresponde precisamente ao que se passou na História. Jesus, na verdade, não fundou religião alguma. Muitos estudiosos da religião o consideram um moralista e não um religioso. Isto porque iniciou um movimento de moralização da sociedade, através da transformação do homem; tratava-se de uma visão nova de religiosidade, onde a relação do homem com Deus (religião) devia ser precedida da relação do homem com o homem (moral) através da fraternidade: "Um novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros". Segundo Mateus (16:18), ele teria delegado a Pedro a liderança na continuidade dessa missão, mas Will Durant, in "CESAR E CRISTO", afirma que "essa passagem é tida como enxerto", posteriormente acrescentada ao Evangelho de Mateus por motivos óbvios. A propósito, Pinheiro Martins, in "HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO", vê com estranheza o fato de Marcos, autor do Evangelho mais antigo, não fazer nenhuma referência a essa suposta delegação de Jesus a Pedro, uma vez que Marcos (João Marcos) fora íntimo de Pedro e servira como intérprete do Apóstolo, quando este pregava aos Gentios. Quanto ao movimento moralizador, iniciado por Jesus, em nada se parecia com as religiões formais da época, nem mesmo com o judaísmo (ele combatia ardorosamente os religiosos, principalmente os fariseus) , pois sua doutrina era de cunho estritamente moral, simples e direta, sem dogmas, cultos, sacerdotes, templos ou qualquer tipo de adoração exterior. No entanto, quem, de fato, assumiu a liderança do movimento depois chamado cristão, após a sua morte, foi Saulo de Tarso (depois, Paulo, considerado por muitos como o fundador do Cristianismo, face às novas características que o movimento foi tomando), antigo perseguidor de seus adeptos. Jesus, certamente, buscou Paulo, na falta de alguém mais preparado e arrojado, por causa de sua cultura e de seu caráter íntegro. Todavia, o movimento, que se seguiu a Jesus, passou a tomar características religiosas comuns, por influência dos próprios cristãos, que vinham do Judaísmo, e de outras religiões da época. Foi quando se consolidou o Cristianismo propriamente dito, marcado por implacáveis perseguições e cruéis martírios, em face da intolerância dos romanos e também por aguerridos conflitos internos, até porque os próprios cristãos não se entendiam sobre vários pontos da religião., principalmente em relação à natureza do Cristo. Nos dois primeiros séculos, esse movimento se organizou com muita dificuldade e sacrifícios, formando as igrejas locais (ekklesía, ecclesia = assembleia) com seus padres e bispos, e assumindo a feição de religião sacerdotal com ofícios litúrgicos, no que se assemelhava ao Judaísmo. Houve tentativas de organização e centralização do comando do movimento, em face da existência de vários bispos, que assumiam indiscutíveis lideranças. "A palavra papa (pai) era, nos primeiros séculos, aplicada a qualquer bispo cristão, como ao papa Clemente, que aparece como autor de uma carta, escrita em 96, à Igreja de Corinto". Contudo, a Igreja Católica Romana, com a estrutura dogmática que ela tem hoje, só se consolidou posteriormente, no século IV, a  partir do Concílio de Nicéia, no ano 325 depois de Cristo, com o Imperador Constantino, já na fase de declínio do império. Depois de declarar o Cristianismo crescente como religião oficial, estabeleceu sua sede definitiva em Roma, determinando-lhe uma estrutura adaptada do Estado e da religião romana, como o próprio título de Sumo Pontífice, "que era usado para designar a autoridade do Imperador como chefe da religião cívica", segundo o historiador Edward M. Burns, in "HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL". Com o Imperador Constantino ficaram assentadas as bases de uma igreja única e universal (católica), ao mesmo tempo em que eram declaradas heresias todas as ideias que não se coadunassem com os pontos estabelecidos no "CREDO DE NICÉIA". A partir de então, os cristãos, de dominados, passaram a dominadores e a Igreja Romana passou a exercer a sua grande hegemonia.

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