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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

ELES SEMPRE APARECEM

Escreveu alguém que o valor de uma ideia se mede pelo tamanho da resistência que encontra. Com o trabalho de Allan Kardec não foi diferente, inclusive entre os que o acompanhavam de perto. Essa revelação está exposta em matéria com que abriu o número de julho de 1859 da REVISTA ESPÍRITA. Depois de explicar como nasceu a Sociedade Espírita de Paris a partir de reuniões realizadas no próprio apartamento em que vivia com sua esposa, o qual foi se tornando pequeno para o número de interessados que foram sendo a ela admitidos, conta que, no que se refere à publicação d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS – único existente então -, enfrentou a seguinte situação: -“Algumas pessoas disseram que fui muito precipitado nas teorias espíritas, que ainda não era tempo de estabelecê-las e que as observações não se achavam ainda bastante completas. Permiti-me algumas palavras sobre o assunto. Duas coisas devem ser consideradas no Espiritismo: a parte experimental e a parte filosófica, ou teórica. Abstração feita do ensino dos Espíritos, pergunto se, em meu nome, não tenho o direito, como qualquer outra pessoa, de lucubrar um sistema filosófico. O campo das opiniões não se encontra aberto a todo mundo? Por que, então, não poderia dar a conhecer o meu? Compete ao público julgar se ele tem ou não tem sentido. Mas essa teoria, em vez de me conferir qualquer mérito, se mérito existe, eu declaro que emana inteiramente dos Espíritos. – Seja, dirão alguns, mas estais indo muito longe. Aqueles que pretendem dar a chave dos mistérios da Criação, desvendar o princípio das coisas e da natureza infinita de Deus, não vão muito mais longe do que eu, que declaro, da parte dos Espíritos, que não é dado ao homem aprofundar essas coisas, sobre as quais não podemos estabelecer senão conjecturas mais ou menos prováveis. – Andais muito depressa. – Seria um erro tomar a dianteira de certas pessoas? Aliás, quem as impede de caminhar? – Os fatos não se acham ainda perfeitamente observados. – Mas se eu, certo ou errado, creio tê-los observado suficientemente, devo esperar a boa vontade daqueles que ficaram para trás? Minhas publicações não barram o caminho a ninguém. – Estando os Espíritos sujeitos a erro, quem garante que aqueles que vos ensinaram não se terão enganado? – Com efeito, toda a questão se resume nisso, considerando-se que a objeção de precipitação é muito pueril. Pois bem! Devo dizer em que se funda a minha confiança na veracidade e na superioridade dos Espíritos que me instruíram. Primeiramente direi que, conforme o seu conselho, nada aceito sem controle e sem exame; não adoto uma ideia senão quando me parece racional, lógica, concorde com os fatos e as observações e se nada de sério vem contradizê-la. Mas meu julgamento não poderá ser um critério infalível. O assentimento que encontrei da parte de numerosas pessoas mais esclarecidas do que eu me fornece a primeira garantia. Mas eu encontro outra, não menos preponderante, no caráter das comunicações que foram obtidas desde que me ocupo de Espiritismo. Posso dizer que jamais escapou uma só dessas palavras, um único desses sinais pelos quais sempre se traem os Espíritos inferiores, mesmo os mais astuciosos. Jamais dominação; jamais conselhos equívocos ou contrários à caridade e à benevolência; jamais prescrições ridículas. Longe disso; neles não encontrei senão pensamentos generosos, nobres, sublimes, isentos de pequenez e de mesquinharia. Numa palavra: suas relações comigo, nas menores como nas maiores coisas, sempre foram de tal modo que, se tivesse sido um homem a me falar, eu o teria considerado o melhor, o mais sábio, o mais prudente, o mais moralizado e o mais esclarecido. Eis aí, senhores, os motivos de minha confiança, corroborada pela identidade do ensino dado a uma porção de outras pessoas, antes e depois da publicação de minhas obras. O futuro dirá se estou certo ou errado. Enquanto isso, eu creio ter auxiliado o progresso do Espiritismo, trazendo algumas pedras ao seu edifício. Mostrando que os fatos podem assentar-se no raciocínio, terei contribuído para fazê-lo sair do atalho frívolo da curiosidade, a fim de fazê-lo adentrar no caminho sério da demonstração, isto é, na única via que pode satisfazer os homens que pensam e que não se detêm na superfície.

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