A conhecida vila litorânea de Cascais, a meia hora de Lisboa, capital portuguesa, ficou abalada quando se difundiu nos noticiários do dia 15 de fevereiro de 1985, a notícia da morte por acidente com arma de fogo do jovem Carlos Teles Sobral Junior, um dos filhos do casal Yolanda e Carlos Teles Sobral. Aeronauta a serviço de importante companhia aérea, seu pai trabalhava há vários anos na rota Portugal /Brasil /Portugal, o que acabou por fazer que sua filha Mônica fixasse residência na cidade do Rio de Janeiro, o que, por sinal, mantinha na ocasião, sua mãe a seu lado. Seu pai encontrava-se cumprindo folga de sua escala de trabalho, contudo, quando se verificou a tragédia, havia saído para resolver alguns negócios. A perplexidade ante o impacto da ocorrência converteu-se em desespero e dor diante do inexplicável fato. Junior, 25 anos, estudante, trabalhava em loja de artigos musicais montada pelo pai para que ele se mantivesse ocupado. Nada justificava por isso um possível suicídio, nem a existência de qualquer tipo de armamento entre os pertences do filho. Dolorosos dias tornaram-se semanas quando ouviram falar sobre Chico Xavier e, desesperados, deslocaram-se para Uberaba, Minas Gerais. No Grupo Espírita da Prece, na primeira parte das reuniões públicas, dedicada às consultas respondidas, psicograficamente, receberam o seguinte recado: “- Jesus nos abençoe. Notícias solicitadas serão recebidas oportunamente. Confiemos no amparo de Jesus, hoje e sempre”. Esperançosos, retornaram no dia 18 de maio e, entre outras, ouviram o médium ler, ao final das páginas recebidas naquela noite/madrugada, a ansiada, esclarecedora e confortadora carta do amado filho. Logo no início da missiva, Junior revela detalhe somente do conhecimento dos familiares: “... o papai Carlos julgou prudente que me demorasse em Portugal, até que pudéssemos decidir detalhes de nosso reencontro, que ainda não sabíamos se no Rio ou em Lisboa”. Mais adiante, expõe um aspecto de sua personalidade e comportamento, absolutamente desconhecido pelos entes mais próximos: “- Em minhas travessuras de rapaz, que deveria ajustar-se aos princípios renovadores cabíveis em minha própria idade, em minhas travessuras, repito, não fui amigo de um que se habituara a passar rente a nossa moradia, suscitando-me o desejo de experimentar lhe a paciência com meus pensamentos de rapaz acriançado que eu era. Se tivesse conhecimento de sua passagem, ao lado de nossas portas, alegrava-me vê-lo atarantado com os sustos que lhe impunha, especialmente em jatos de água a descerem do alto sobre o pobre passante. Certa vez em que ele era seguido de uma criança, esculpi a figura de uma serpente em papelão pintado a caráter, controlando o animal imaginário com uma corda quase invisível para ele. Em dado momento, coloquei a estranha figura rente a ele e tamanha foi a sua reação, ao ver que a criança se tomara de terror, que o amigo, vitima de minhas brincadeira de mau gosto, me chamou às contas e prometeu cobrar-me aquela grande série de emoções descontroladas a que lhe submetia o ânimo enfermiço”. Certamente tais detalhes surpreenderam aos familiares, que ignoravam tais atitudes do filho. Prosseguindo, Junior desvenda o mistério que nem a polícia conseguiu esclarecer: “– Pois, o inconcebível aconteceu. Ele esperou que o pai se ausentasse de casa e, percebendo-me a sós, penetrou o recanto e, ao encontrar-me, despejou o projétil que me estirou no piso do quarto... Estava sob a impressão de meu injustificável espanto, quando, incapaz de mover-me, ainda o vi colocar em minha mão esquerda a arma que somente funcionaria, a rigor, em minha destra, largada à imobilidade da desencarnação. Não consegui chamar por socorro porque a hemorragia fulminante me subtraiu todas as possibilidades de movimento e, caindo no estado comatoso em que me vi, ainda lhe consegui observar a cautela com que se retirara de nossa casa, naturalmente receando qualquer punição aberta. Quem foi? Não sei. E creio que não devo saber, por que seria doloroso agravar as tribulações em que nos vimos todos, de um momento para o outro. Não vi o pai quando fui encontrado inerte. Minha visão física parecia anulada...”.. Junior prossegue: “- Uma senhora, que se me revelou na condição de minha bisavó Maria Pereira Nunes, às pressas, me retirou do quadro de minha provação. Em seus braços fortes e acolhedores consegui o sono que necessitava e, desde então, despertando transformado em meus sentimentos mais íntimos, refleti sobre a ocorrência que a polícia afinal não desvendaria”. A perícia qualificou a ocorrência apenas como um acidente com arma de fogo mostrando a superficialidade com que foi conduzida, pois o detalhe da posição do revolver na mão esquerda quando Junior era destro, deixou de ser observado.
“No livro
A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO, de Allan Kardec,
Capítulo I, Caracteres da Revelação Espírita, lemos: ‘O Espiritismo, caminhando
com o progresso, não será jamais ultrapassado porque, se novas descobertas
demonstrarem que está em erro sobre um ponto, se uma nova verdade se revelar,
ele a aceitará”. Pergunto: Esse
entendimento pode-se aplicar aos artigos da REVISTA ESPÍRITA de abril de 1862,
intitulado Frenologia Espiritualista e Espírita –Perfectibilidade da Raça
Negra” e da revista de agosto de 1864, Questões e Problemas – Destruição dos
Aborígenes do México”?
Esses artigos, escritos
respectivamente em 1862 e 1864, foram inseridos por Allan Kardec na REVISTA
ESPÍRITA com a finalidade de mostrar, primeiramente, que não existe uma verdade
pronta e acabada sobre todas as coisas.
Em segundo lugar, que a ciência é uma fonte
confiável de estudo, embora caminhe de conformidade com o progresso do
pensamento humano.
Em terceiro lugar, que o
Espiritismo deve andar ao lado da ciência, mesmo que a ciência valorize apenas
os aspectos materiais, sem descortinar a verdade espiritual que está por trás
de todos os fenômenos.
Ora, se o Espiritismo segue de
certo modo a ciência, respeitando suas descobertas, ele não pode se arvorar
igualmente como dono da verdade e, até porque as verdades científicas mudam com
o tempo.
Desse modo, lendo sobretudo a
REVISTA ESPÍRITA, podemos perceber que muita coisa mudou dos meados do século
XIX para os nossos dias em termos de verdade científica.
A Frenologia, citada por
Kardec, que no século XX foi completamente descartada pela ciência, era mais
materialista que a nova ciência que passou a investigar o cérebro ( a
neurociência) e na época era ela que pretendia ditar o caminhar da evolução das
raças.
Na época de Kardec, o que
predominava, segundo os conceitos dessa ciência e da antropologia, é o conceito
de raças humanas, que hoje não é mais concebível no meio científico, sendo
substituído pelo conceito de grupos étnicos, que consideram sobretudo os
valores culturais de cada povo.
Ao afirmar que o Espiritismo
jamais seria ultrapassado, conforme a citação da GÊNESE, Allan Kardec queria
dizer que a doutrina sempre estará disposta a se amoldar às novas verdades ou
às novas descobertas.
Logo, o que o autor escreveu
sobre a perfectibilidade da raça negra, no momento atual, tem que ser
reinterpretado à luz do caminhar progressivo do conhecimento humano, embora
Kardec estivesse mais interessado na evolução espiritual do que na evolução
biológica.
André Luiz, um século após
Kardec, deu luz a vários conceitos que ainda não se mostravam tão claros no
Espiritismo quando examinados à luz da ciência atual.
Falando do tema “aborígenes do
México”, Kardec ratifica o que pensa a doutrina até hoje nos seus princípios
filosóficos.
A filosofia é mais abrangente
que a ciência e é a filosofia espírita que dá sustentação à doutrina.
Embora o Espiritismo seja
declaradamente contra a violência, temos que reconhecer que o caminho da evolução,
que a humanidade escolheu, não dispensa os conflitos e a guerra e em muitos
casos, nem mesmo o extermínio.
Desse modo, não é difícil
concluir que os temas científicos tratados na REVISTA ESPÍRITA devam ser
interpretados à luz dos princípios filosóficos do Espiritismo.


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