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terça-feira, 31 de maio de 2016

NÃO DEVE SER IMPOSTO

Fazia pouco mais de quatro anos que O LIVRO DOS ESPÍRITOS havia sido publicado e se multiplicavam por vários países europeus os interessados no  conhecimento e prática do Espiritismo. Allan Kardec já havia reunido material suficiente para publicar O LIVRO DOS MÉDIUNS fornecendo diretrizes para o entendimento da percepção que coloca nossa Dimensão em contato com a dos Planos Espirituais. No número de dezembro de 1861 da REVISTA ESPÍRITA, encontramos interessante estudo dividido em 25 tópicos em que ele apresenta argumentos interessantes sobre a ORGANIZAÇÃO DO ESPIRITISMO. Dele destacamos alguns, para nossas reflexões: 1- EVOLUÇÃO DA IDEIA - O Espiritismo não deve ser imposto; vem-se a ele porque dele se necessita, e porque dá o que não dão as outras filosofias. Convém mesmo não entrar em nenhuma explicação com os incrédulos obstinados: seria dar-lhes muita importância e leva-los a pensar que dependemos deles. Os esforços feitos para os atrair os afastam e, por amor-próprio, obstinam-se na sua oposição. Eis por que é inútil perder tempo com eles; quando a necessidade se fizer sentir, virão por si mesmos. Enquanto esperamos, é preciso deixá-los tranquilos, satisfeitos no seu cepticismo que, acreditai, muitas vezes lhes pesa mais do que dão a parecer; porque, por mais que digam, a ideia do nada após a morte tem algo de mais assustador, de mais doloroso que a própria morte. 2 - CARÁTER DAS PRINCIPAIS VARIEDADES DE ESPÍRITAS. Pode-se pôr em primeira linha os que creem pura e simplesmente nas manifestações. Para eles o Espiritismo não passa de uma ciência de observação, uma série de fatos mais ou menos curiosos; a filosofia e a moral são acessórios de que pouco se ocupam e de cujo alcance nem mesmo desconfiam. Nós os chamamos espíritas experimentadores. Vêm a seguir os que veem no Espiritismo algo mais que simples fatos; compreendem o seu alcance filosófico; admiram a moral dele decorrente, mas não a praticam; extasiam-se ante as belas comunicações, como diante de um sermão eloquente, que ouvem mas não aproveitam. A influência sobre o seu caráter é insignificante ou nula; em nada mudam seus hábitos e não se privariam de um único prazer: o avarento é sempre avarento, o orgulhoso sempre cheio de si mesmo, o invejoso e o ciumento, sempre hostis. Para eles a caridade cristã é apenas uma bela máxima e os bens deste mundo os arrastam na sua estima sobre os do futuro. São os espíritas imperfeitos. Ao lado destes há outros, mais numerosos do que se pensa, que não se limitam a admirar a moral espírita, mas que a praticam e a aceitam em todas as suas consequências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar estes curtos instantes para marchar na via do progresso, esforçando-se por fazer o bem e reprimir as más inclinações; suas relações são sempre seguras, porque sua convicção os afasta de todo mau pensamento. Em tudo a caridade é sua regra de conduta. São os verdadeiros espíritas, ou, melhor, os espíritas cristãos. 3 - O VERDADEIRO ESPÍRITA - Tendo como objetivo a melhoria dos homens, o Espiritismo não vem recrutar os que são perfeitos, mas os que se esforçam em o ser, pondo em prática o ensino dos Espíritos. O verdadeiro espírita não é o que alcançou a meta, mas o que deseja seriamente atingi-la. Sejam quais forem os seus antecedentes, será bom espírita desde que reconheça suas imperfeições e seja sincero e perseverante no propósito de emendar-se. Para ele o Espiritismo é uma verdadeira regeneração, porque rompe com o passado; indulgente para com os outros, como gostaria que fossem para consigo, de sua boca não sairá nenhuma palavra malevolente nem ofensiva contra ninguém. Aquele que, numa reunião, se afastasse das conveniências, não só provaria falta de civilidade e de urbanidade, mas falta de caridade; aquele que se melindrasse com a contradição e pretendesse impor a sua pessoa ou as suas ideias, daria prova de orgulho. Ora, nem um nem outro estariam no caminho do verdadeiro Espiritismo cristão. Aquele que pensa ter uma opinião mais justa fará que os outros a aceitem melhor pela persuasão e pela doçura; o azedume, de sua parte, seria um péssimo negócio.

domingo, 29 de maio de 2016

MENTE - CORPO - DOENÇAS

Avançando a passos largos na direção de respostas substanciais e lógicas, numero crescente de pesquisadores vai constatando a cada dia a evidência de algo denominado mente ou Espírito a determinar os acontecimentos intrigantes da vida. Não se rendem mais às evasivas argumentações de que “é porque Deus quer”.  Há fatores causais determinando o chamado mundo dos efeitos. Do trabalho MENTE-CORPO-DOENÇAS: AS RESPOSTAS QUE O ESPIRITISMO DÁ, derivado de obras de Allan Kardec e de André Luiz pelo médium Chico Xavier, destacamos três conteúdos para suas reflexões. Vamos a eles: 1- A Teoria Evolucionista amplia-se sobremaneira considerando que o Princípio Inteligente desenvolve rudimentos da memória no Reino Mineral; da sensibilidade no Reino Vegetal e o Instinto com ideias fragmentárias no Reino Animal Irracional dos asselvajados aos domesticáveis. O pensamento contínuo é, então, um divisor entre uma etapa e outra, ou melhor, fator determinante no processo evolutivo a partir da fase humana? O pensamento é uma força, é o atributo característico do Ser Espiritual; é ele que distingue o Espírito da matéria; sem o pensamento o Espírito não seria Espírito. O pensamento, força viva e atuante, cuja velocidade supera a da luz, emitido por nós, volta inevitavelmente a nós mesmos, compelindo-nos a viver, de maneira espontânea, em sua onda de formas criadoras, que naturalmente se nos fixam no Espirito quando alimentadas pelo combustível de nosso desejo ou de nossa atenção. O pensamento, qualquer que seja a sua natureza, é uma energia, tendo, conseguintemente, seus efeitos. 2- Instrumento de trabalho do Espírito no processo evolutivo em nossa Dimensão existencial, como surgiu o corpo físico? O corpo de carne é criação mental no caminho evolutivo. O prodigioso corpo do homem na Crosta Terrestre foi erigido pacientemente, no curso dos séculos, e o delicado veículo do Espírito, nos planos mais elevados, vem sendo construído, célula a célula, na esteira dos milênios incessantes. O Espírito preside à formação e à sustentação do corpo físico, consciente ou inconscientemente, desde a hora primeira da organização fetal. O corpo físico é mantido pelo corpo espiritual (perispírito) a cujos moldes se ajusta e, desse modo, a influência sobre o organismo sutil é decisiva para o envoltório de carne, em que a mente se manifesta.. O períspirito, para a mente, é uma capsula mais delicada, mais suscetível de refletir-lhe a glória ou a viciação, em virtude dos tecidos rarefeitos de que se constitui. Nossa atividade mental nos marca o períspirito.  3- Como sob o prisma do Mundo Espiritual entender a falta de saúde ou a manifestação das doenças? A saúde é questão de equilíbrio vibracional, de conformação de frequências. Naturalmente, enquanto na Terra, esse problema implica uma equação de vários parâmetros, quais sejam a respiração e a atividade, o banho e o alimento. Forçoso é, todavia, convir que as raízes morais são sempre os fatores de maior importância, não somente na vida normal, senão também, e em particular, nas horas conturbadas. A extrema vibratilidade do Espírito produz estados de hipersensibilidade, os quais em muitas circunstâncias se fazem sentir por verdadeiros desastres organopsíquicos. Energias atraem energias da mesma natureza, e, quando estacionários na viciação ou na sombra, as forças mentais que exteriorizamos retornam ao nosso Espírito, reanimadas e intensificadas pelos elementos que com elas se harmonizam, engrossando, dessa forma, as grades da prisão em que nos detemos irrefletidamente, convertendo-se-nos a alma num mundo fechado, em que as vozes e os quadros de nossos próprios pensamentos, acrescidos pelas sugestões daqueles que se ajustam ao nosso modo de ser, nos impõem reiteradas alucinações. Durante a reencarnação, a criatura elege, automaticamente, para si mesmo, grande parte das doenças que se lhe incorporam às preocupações. Rende-se, habitualmente, às sugestões do mal, criando em si não apenas condições favoráveis à instalação de determinadas moléstias no cosmo orgânico, mas também ligações aptas a funcionarem como pontos de apoio para as influências perniciosas interessadas em vampirizar-lhe a vida. A grande maioria das doenças tem a sua causa profunda na estrutura semimaterial do corpo espiritual.  Havendo o Espírito agido erradamente, nesse ou naquele setor da experiência evolutiva, vinca o corpo espiritual com desequilíbrios ou distonias, que o predispõem à instalação de determinadas enfermidades, conforme o órgão atingido.



sexta-feira, 27 de maio de 2016

ESQUIZOFRENIA

A evolução no século 20 do conhecimento sobre o corpo humano, seus distúrbios e comportamento deles derivados, abriu campo para a grande ampliação e aprofundamento das chamadas doenças mentais bem como diagnósticos e terapias observadas na atualidade. Novas nomenclaturas baseadas nas especificidades de cada caso ante o adensamento demográfico do Planeta. Um dos tipos foi descoberto pelo médico Eugen Broiler que a denominou esquizofrenia já na primeira década do século passado e que sobre o tema mantinha intensos debates com Freud e Jung. Estima-se atingir hoje algo em torno de 24 milhões de pessoas, sendo que a doença caracteriza-se pela chamada demência precoce, atingindo com uma deterioração mental jovens entrando na vida adulta. Apesar das conquistas desde os debates citados há muito a pesquisar no que tange às origens do problema. Nesse sentido, a visão oferecida pelo Espiritismo tem algo a dizer.  Afirmando que o Ser humano na verdade é a resultante do complexo Espírito (mente)/ corpo espiritual/ corpo físico integrado num processo denominado reencarnação que objetiva a evolução da individualidade tendo a regulá-lo a chamada Lei de Causa e Efeito, oferece elementos importantes para a compreensão das origens da doença até porque o problema atinge faixas etárias compreendidas pela infância e juventude. Solicitado algumas vezes a se manifestar sobre a questão, o médium Chico Xavier explicou: SOBRE A ORIGEM: -Muitas vezes, nascemos com processos alusivos a moléstias chamadas incuráveis, como resultados de complexos de culpas adquiridos por nós mesmos em existências passadas. Por exemplo: um homem extermina a vida de outro homem e parte para o Além; a vítima perdoou ao verdugo, mas a consciência do verdugo não concordou com esse perdão, e ele continua com o remorso, com o problema da culpa a lhe estragar a tranquilidade íntima. Dessa forma, os pensamentos de remorso repercurtem sobre o corpo espiritual e determinam o desequilíbrio da distribuição dos agentes químicos do organismo, já que, em verdade, cada um de nós tem determinada farmácia na sua própria vida íntima e as substâncias químicas erram o seu nível ideal, particularmente no cérebro, a cabine por onde o Espírito se manifesta. Adquirindo culpas intensas e profundas, é muito natural que e criatura renasça com problemas de esquizofrenia. SOBRE A INCIDÊNCIA NA INFÂNCIA: - A esquizofrenia, na essência, decorre de transformações de caráter negativo  do quimismo da vida cerebral. Esse problema, no entanto, procede da Vida Espiritual, antes do processo reencarnatório, de vez que o problema da culpa, instalando em nós, por nós mesmos, na experiência terrestre, se transfere conosco, pela desencarnação, no rumo do mais Além. Muitas vezes, atravessamos condições de vida purgatorial, no Outro Mundo, mas somos devolvidos à Terra mesmo, aos núcleos habitacionais em que as nossas culpas foram adquiridas, e, frequentemente, carreamos conosco as telas da esquizofrenia. Quando o processo da esquizofrenização se patenteia violento, eis que as pertubações consequentes se manifestam na criatura em período de desenvolvimento infantil, mas na maioria dos caso a esquizofrenia aparece depois da puberdade ou logo após a maioridade física. Os Instrutores Espirituais são unânimes em afirmar que esse desequilíbrio decorre de nossos próprios débitos, nas áreas das forças espirituais de que dispomos no campo da própria consciência. SOBRE O FATOR PREPONDERANTE: -A esquizofrenia é o homicida que se fez suicida, porque o complexo de culpa é tão grande, o remorso é tão terrível que aquilo se reflete na própria vida física da criatura durante algum ou muito tempo.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

TEMPOS DE QUESTIONAMENTOS

Vivemos uma época prodigiosa pela liberdade que oferece ao pensamento humano.  Claro que há países onde a intolerância religiosa ou política não concedem esse direito básico aos seus seguidores ou governados.   A questão da origem da espécie humana estar assentada no mito de Adão, hoje não se sustenta mais. No número de janeiro de 1862 da REVISTA ESPÍRTA, Allan Kardec desenvolve interessantes raciocínios sobre a questão. Diz ele: -“Do presente, como ponto conhecido, procuremos deduzir o desconhecido, ao menos por analogia, se não tivermos a certeza de uma demonstração matemática. A questão de Adão, como tronco único da espécie humana na Terra é, como se sabe, muito controvertida, porque as leis antropológicas lhe demonstram a impossibilidade, sem falar dos documentos autênticos da história chinesa, que provam que a população do globo remonta a uma época muito anterior à atribuída a Adão pela cronologia bíblica. Então a história de Adão é pura invencionice? Não é provável; é uma imagem que, como todas as alegorias, deve encerrar uma grande verdade, cuja chave só poderá ser dada pelo Espiritismo. Em nossa opinião, a questão principal não é saber se a personagem de Adão realmente existiu, nem em que época viveu, mas se a raça humana, designada como sua posteridade, é uma raça decaída. A solução dessa questão não é destituída de conteúdo moral, porque, esclarecendo-nos quanto ao passado, pode orientar a nossa conduta para o futuro. Antes de mais, notemos que, aplicada ao homem, a ideia da queda, sem a reencarnação, é um contra-senso, assim como a responsabilidade que carregássemos pela falta de nosso primeiro pai. Se a alma de cada homem é criada ao nascer, é que não existia antes; não terá, desse modo, nenhuma relação, nem direta, nem indireta, com a que cometeu a primeira falta, o que nos leva a indagar como poderia ser responsável por sua própria queda. A dúvida sobre este ponto conduz naturalmente à dúvida ou, mesmo, à incredulidade sobre muitos outros, porquanto, se falso o ponto de partida, igualmente falsas devem ser as consequências. Tal o raciocínio de muita gente. Pois bem! esse raciocínio cairá se considerarmos o espírito, e não a letra do texto bíblico, e se nos reportarmos aos princípios mesmos da Doutrina Espírita, destinados, conforme já foi dito, a reavivar a fé que se extingue. Notemos, ainda, que a ideia dos anjos rebeldes, dos anjos decaídos e do paraíso perdido se acha em quase todas as religiões e, como tradição, entre quase todos os povos. Deve, pois, fundamentar-se numa verdade. Para compreender o verdadeiro sentido que se deve ligar à qualificação de anjos rebeldes, não é necessário supor uma luta real entre Deus e os anjos, ou Espíritos, desde que o vocábulo anjo é aqui tomado numa acepção geral. Admitindo-se sejam os homens Espíritos encarnados, o que são os materialistas e os ateus senão anjos ou Espíritos em revolta contra a Divindade, pois que negam a sua existência e não reconhecem seu poder, nem suas leis? Não é por orgulho que pretendem que tudo aquilo de que são capazes vem deles mesmos, e não de Deus? Não é o cúmulo da rebelião pregar o nada depois da morte? Não são muito culpados os que se servem da inteligência, de que se ufanam, para arrastar os semelhantes ao precipício da incredulidade? Até certo ponto não praticam também um ato de revolta os que, sem negar a Divindade, desconhecem os verdadeiros atributos de sua essência? Os que se cobrem com a máscara da piedade para cometer más ações? Os que a fé no futuro não os desliga dos bens deste mundo? Os que em nome de um Deus de paz violentam a primeira de suas leis: a lei de caridade? Os que semeiam perturbação e ódio pela calúnia e pela maledicência? Enfim aqueles, cuja vida, voluntariamente inútil, se escoa na ociosidade, sem proveito para si próprios, nem para os seus semelhantes? A todos serão pedidas contas, não só do mal que tiverem feito, mas do bem que tiverem deixado de fazer. Pois bem! todos esses Espíritos, que tão mal empregaram as suas encarnações, uma vez expulsos da Terra e enviados a mundos inferiores, entre hordas ainda na infância da barbárie, o que serão, senão anjos decaídos, remetidos à expiação? A Terra que deixam não será para eles um paraíso perdido, em comparação ao meio ingrato onde ficarão relegados durante milhares de séculos, até o dia em que tiverem merecido a libertação?

segunda-feira, 23 de maio de 2016

INSPIRADORA ORIENTAÇÃO

Até quando seu corpo físico desgastado permitiu Chico Xavier não deixou de exercitar a caridade em favor dos desventurados do caminho. Foram mais de oito décadas de compartilhamento do pouco que tinha e, mais à frente do que lhe entregavam para minimizar as penúrias de pessoas socialmente carentes do pão, da vestimenta, do abraço, da palavra amiga de esperança. Poucos sabem como tudo começou, dias após a primeira mensagem psicografada, em 8 de julho de 1927. Recordando o fator desencadeante, Chico conta: -“Na noite de 10 de julho referido, dois dias depois de haver recebido a primeira mensagem, quando eu fazia as orações da noite, vi o meu quarto pobre se iluminar, de repente. As paredes refletiam a luz de um prateado lilás. Eu estava de joelhos, conforme os meus hábitos católicos, e descerrei os olhos, tentando ver o que se passava. Vi, então, perto de mim uma senhora de admirável presença, que irradiava a luz que se espraiava pelo quarto. Tentei levantar-me para demonstrar- lhe respeito e cortesia, mas não consegui permanecer de pé e dobrei, involuntariamente, os joelhos diante dela. A dama iluminada fitou uma imagem de Nossa Senhora do Pilar que eu mantinha em meu quarto e, em seguida, falou em castelhano que eu compreendi, embora sabendo que eu ignorava o idioma, em que ela facilmente se expressava: - "Francisco - disse-me pausadamente - em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, venho solicitar o seu auxílio em favor dos pobres, nossos irmãos." A emoção me possuía a alma toda, mas pude perguntar-lhe, embora as lágrimas que me cobriam o rosto: - Senhora, quem sois vós? Ela me respondeu: - "Você não se lembra agora de mim, no entanto em sou Isabel, Isabel de Aragão." Eu não conhecia senhora alguma que tivesse este nome e estranhei o que ela dizia, entretanto uma força interior me continha e calei qualquer comentário, em tomo de minha ignorância. Mas o diálogo estava iniciando e indaguei: - Senhora, sou pobre e nada tenho para dar. Que auxílio poderei prestar aos mais pobres do que eu mesmo? Ela disse: - "Você nos auxiliará a repartir pães com os necessitados." Clamei com pesar: - Senhora, quase sempre não tenho pão para mim. Como poderei repartir pães com os outros?...!A dama sorriu e me esclareceu: - "Chegará o tempo em que você disporá de recursos. Você vai escrever para as nossas gentes peninsulares e, trabalhando por Jesus, não poderá receber vantagem material alguma pelas páginas que você produzir, mas vamos providenciar para que os Mensageiros do Bem lhe tragam recursos para iniciar a tarefa. Confiemos na Bondade do Senhor." Em seguida a estas palavras a dama se afastou deixando o meu quarto em pleno escuro. Chorei sob emoção para mim inexplicável até o amanhecer do dia imediato. Não tinha mais o Padre Scarzelli para consultar e notei que os meus novos companheiros não poderiam me auxiliar, porque eu não sabia o que vinha a ser a expressão "gentes peninsulares" ouvidas por mim; quanto a estas duas palavras, nenhum deles conseguiu fornecer qualquer explicação. Sentindo-me a sós com a lembrança da inesquecível visão, passei a orar, todas as noites, pedindo a Nossa Senhora para que alguém me socorresse com as informações que eu julgava precisas. Duas semanas após a ocorrência, estando eu nas preces da noite, apareceu-me um senhor vestido em roupa branca que, por intuição, notei tratar-se de um sacerdote. Saudei-o com muito respeito e ele me respondeu com bondade, explicando-se: - "Irmão Francisco, fui no século XIV um dos confessores da Rainha Santa, D. Isabel de Aragão, que se fez esposa do Rei de Portugal, D. Dinis. Ela desenvolveu elevadas iniciativas de beneficência e instrução nos dois reinos que formam a Península, conhecida na Europa, e voltou ao Mundo Espiritual em 4 de julho de 1336. Desde então, ela protege todas as obras de caridade e educação na Espanha e Portugal. Foi ela que o visitou, há alguns dias, nas preces da noite, e prometeu lhe assistência. Ela me recomenda dizer-lhe que não lhe faltará recursos para a distribuição de pães com os necessitados. Meu nome em 1336 era Fernão Mendes. –“Confiemos em Jesus e trabalhemos na sementeira do bem." Eu não tive garganta livre para falar. O padre se retirou e, sentindo a premência do que desejava a nobre senhora, que eu não sabia ter sido, na Terra, tão amada e tão ilustre Rainha. No primeiro sábado que se seguiu às ocorrências que descrevo, fui com minha irmã Luíza até uma ponte muito pobre, na cidade onde nasci, conduzindo um pequeno cesto com oito pães. Ali estavam refugiados alguns indigentes; parti os pães, a fim de que cada um tivesse um pedaço, e assim foi iniciado o nosso serviço de assistência.


sábado, 21 de maio de 2016

UM AVANÇO IMPORTANTE

Segundo convencionado, o resultado de uma pesquisa somente é validado por dois critérios: 1- ter sido realizada dentro  de protocolo estabelecido reconhecido pelos meios acadêmicos e, 2- ter sido reproduzido o resumo analítico da pesquisa em publicação avaliada como merecedora de credibilidade no meio. Foi o que aconteceu com o trabalho desenvolvido por profissionais da área de saúde ligados à uma das mais importantes e conceituadas instituições de ensino superior do Brasil,   a UNESP - Universidade Estadual Paulista, que tiveram seu experimento avaliado, reconhecido e incluído no veículo TERAPIAS COMPLEMENTARES EM MEDICINA, uma das publicações da holandesa  Elsevier, editora academica especializada em literatura médica e científica em sua edição de 6 de maio de 2016. O estudo clínico dos médicos brasileiros foi randomizado, o que é considerado uma das ferramentas mais poderosas na obtenção de evidências para o cuidado à saúde.Consistiu na utilização durante oito semanas, da transferência de energia no metodo conhecido como passe  conforme praticado nos meios espíritas acompanhando 50 pacientes adultos, ambos os sexos, diferentes credos religiosos ou não, escolhidos entre 97, diagnosticados como acometidos de ansiedade cronica a fim de verificar a existência ou não da redução dos sintomas conhecidos. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: Intervenção (23 submetidos sessões espíritas de "Passe”) e controle (simulação de aplicação do "Passe" – efeito placebo, n = 27). A ansiedade foi avaliada usando o Inventário de Ansiedade Traço (IDATE-traço). Ao final do estudo, 17% e 63% dos participantes de intervenção e controle, respectivamente, ainda cumpria o critério para a ansiedade. No entanto, a redução da ansiedade foi mais acentuado no grupo espírita "passe" (p = 0,02). Em outras palavras, o grupo placebo teve melhora de 37% da ansiedade e o grupo passe a melhora foi de 83%. Se recorrermos às informações disponibilizadas pelo Espiritismo, descobriremos que acrescentam às descobertas desenvolvidas pelo médico Franz Anton Mesmer desde o final do século 18 que casualmente descobriu que os corpos humanos emanam o que ele chamava Fluido Elétrico Animalizado e que, segundo exposto em nota à pergunta 70 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS é denominado Fluido Vital. Mas afirmando a existência de um corpo intermediário entre o Espírito e o corpo físico chamado períspirito, Allan Kardec explica emanar dele o fluido perispiritual que, por sua vez, se constitui num elemento importante no procedimento conhecido como passe, seja na transferência do que o aplica, seja na absorção  daquele que o recebe. De forma mais simples: o que aplica cede durante a transfusão, fluidos perispirituais associados ao próprio fluido vital, enquanto o receptor absorve pelo corpo espiritual - ou períspirito - essa carga de energia, identificada pelo Espírito do beneficiado que a reenvia para o corpo físico produzindo as sensações de bem estar ou reequilíbrio de que o indivíduo se sentia necessitado. O assunto, apesar dos resultados obtidos em milhões de atendimentos ao longo do século 20, especialmente no Brasil onde o Espiritismo alcançou um nível de desenvolvimento como em nenhum outro País, sempre foi visto como algo místico, fruto da boa fé ou ignorância popular. Com a contribuição da pesquisa comentada, um passo importante é dado no sentido de abrir caminho para outras investigações que levem a um aprofundamento da questão, até porque há alguns anos, na busca de um titulo de Doutorado, o biólogo molecular Ricardo Monezzi alcançou resultados positivos na ministração de outro processo de transferência de fluidos ou energias a camundongos nos quais foram injetadas células cancerígenas

quinta-feira, 19 de maio de 2016

ESQUECIMENTO DO PASSADO: RECURSO PROVIDENCIAL

Uma das heresias cometidas pelo Espiritismo em sua apresentação à sociedade humana foi afirmar a Pluralidade dos Mundos Habitados, dizendo que as fascinantes imagens capturadas pelo nosso acanhado sentido da visão e aprofundadas pela evolução dos instrumentos óticos (como o telescópio Huble, por exemplo)  que a Terra não é o único planeta habitado. Tudo tem sua utilidade na Criação Divina. Ousa afirmar que há uma hierarquização dentro das construções do Cosmos, variando essa classificação conforme o estágio evolutivo da maioria humana predominante. No caso do Sistema Solar, o Planeta Júpiter estaria enquadrado como um Mundo Superior. O advento da Teoria das Cordas e suas evoluções a partir dos anos 70 sugerem que as afirmações dos Espíritos que auxiliaram Allan Kardec a compor as bases da Terceira Revelação podem ter fundamento, como que ressoando vida além dos limites da matéria como definida e estruturada. Esses comentários surgem a propósito da seção QUESTÕES E PROBLEMAS DIVERSOS da edição de fevereiro de 1861 da REVISTA ESPÍRITA, onde três perguntas sobre o esquecimento do passado são levantadas e respondidas pelo dirigente espiritual das reuniões da Sociedade Espírita de Paris: 1. Em um Mundo Superior, como Júpiter ou outro, tem o Espírito encarnado a lembrança de suas existências passadas, assim como a do seu estado errante? - Não; desde que o Espírito se reveste do envoltório material, perde a lembrança de suas existências anteriores. 2-Entretanto, sendo rarefeito em Júpiter o envoltório corporal, ali o Espírito não seria mais livre? – Sim, mas ainda suficientemente denso para extinguir, no Espírito, a lembrança do passado. 3- Então os Espíritos que habitam Júpiter e que se comunicaram conosco encontravam-se mergulhados no sono? – Certamente. Naquele mundo, sendo o Espírito muito mais elevado, melhor compreende Deus e o Universo; mas o seu passado se apaga por enquanto, sem o que se obscureceria a sua inteligência. Ele mesmo não se compreenderia; seria o homem da África, o da Europa ou da América? o da Terra, de Marte ou de Vênus? Não se recordando mais, é ele mesmo, o homem de Júpiter, inteligente, superior, compreendendo a Deus; eis tudo. Em observação adicional, o Editor Allan Kardec pondera: – Se o esquecimento do passado é necessário num mundo adiantado como Júpiter, com mais forte razão deve sê-lo em nosso mundo material. É evidente que a lembrança de nossas existências precedentes causaria lamentável confusão em nossas ideias, sem falar de todos os outros inconvenientes já assinalados a respeito. Tudo quanto Deus faz leva o selo de sua sabedoria e de sua bondade; não nos cabe criticar, ainda mesmo quando não compreendamos o objetivo. A questão do esquecimento do passado serve de argumento para muitos dos que tentam justificar as ações possibilitadas pelo livre arbítrio que caracteriza as individualidades em processo de evolução. Os homens que no século 20 aprofundaram alguns estudos em torno da veracidade ou não da reencarnação, concluíram que o intervalo curto entre reencarnações denominado por eles de intermissão seria o responsável pelo aflorar de lembranças de vida passada, sobretudo na infância, bem como a genialidade demonstrada por instrumentistas, conhecedores de física, matemática, aspectos científicos de maneira geral. A lógica confirma a exatidão das revelações espirituais segundo as quais o esquecimento tem fins terapêuticos, visto que seria muito difícil alguém que tivesse conhecimento de que o filho rebelde oculta o rival ou desafeto do passado conseguir conviver com ele sem reincidir em antigos atos extremos. Assim sendo, a reencarnação como instrumento de aperfeiçoamento através da educação do Espírito somente dará certo se durante a permanência no corpo físico, seja por limitações deste, seja por medidas providenciais, esquecermos quem é quem no novo enredo que vamos construindo dia após dia.


terça-feira, 17 de maio de 2016

AINDA SOBRE A ESCRAVIDÃO NO BRASIL

Escolhida por editores e leitores como uma das mais importantes obras mediúnicas do século 20, curiosamente esperou quase três décadas para se tornar conhecida pelo grande público na forma de um livro. Tudo pelo temor da médium Yvonne do Amaral Pereira em relação aos possíveis efeitos na mente e coração dos leitores. Uma revisão do Espírito Léon Denis, todavia, infundiu-lhe a segurança necessária para nos anos 50, disponibilizar a obra MEMÓRIAS DE UM SUICÍDA (feb, 1954). O trabalho descortina a intensa atividade desenvolvida nos Planos Espirituais em favor dos que cedem aos impulsos pessoais ou induzidos para a consumação do suicídio. No terceiro capítulo da segunda parte, uma revelação histórica importante e interessante é apresentada. Comenta um Instrutor Espiritual de nome Epaminondas de Vigo: "— As sociedades brasileiras, meus caros discípulos, sofrem hoje e sofrerão ainda por espaço de tempo que estará ao seu alcance o dilatar ou reprimir, as consequências das iniquidades que em pleno domínio da Era Cristã permitiram fossem cometidas em seu seio. Refiro-me, como bem percebeis, à escravização de seres humanos, tratados por elas com maior rigor do que o eram os próprios animais inferiores, para a extração de posses e haveres que lhes facultassem o gozo e o império das paixões! Se não foi crime individual e sim coletivo, será a coletividade que expiará e reparará o grande opróbrio, o grande martírio infligido a uma raça carecedora do amparo fraternal da Civilização cristã, a fim de que, por sua vez, também se gloriasse as alvíssaras da educação fornecida através da Boa Nova do Reino de Deus! Sob os céus assinalados pelo símbolo augusto da Iniciação como do Cristianismo — a Cruz —, ressoam ainda, ecoando aflitivamente na Espiritualidade, os brados angustiosos de milhares de corações torturados que durante o dobar dos decênios se compungiram ante a infâmia de que eram vítimas! Não deixaram de repercutir ainda nas ondas delicadas do éter, onde se assentam as Esferas de proteção às sociedades humanas, os rumores trágicos dos látegos sanhudos dos capatazes diabólicos, a vergastarem homens e mulheres indefesos, cujas lágrimas, recolhidas uma a uma pela Incorruptível Justiça do Todo Poderoso, foram, por lei, espalhadas, em seguida, sobre essa mesma coletividade criminosa, para que, por sua vez, as sorvesse em pelejas posteriores, a se purificarem do acervo de maldades e infâmias praticadas! (...) E assim prosseguirão até que a Voz Celeste dos Missionários do Senhor as oriente para finalidade apaziguadora, no trabalho sublime da reconciliação individual por amor do Cristo de Deus! (...) Sabei que entre os escravos que, sob os céus do Cruzeiro Sublime, choraram, vergados sob o trabalho excessivo, famintos, rotos, doentes, tristes, saudosos, desesperados frente à opressão, à fadiga, à maldade, nem todos traziam os característicos íntimos da inferioridade, como bastas vezes foi comprovado por testemunhas idôneas; nem todos apresentavam caracteres primitivos! Grandes falanges de romanos ilustres, do império dos Césares; de patrícios orgulhosos, de guerreiros altivos, autoridades das hostes de Diocleciano, como de Adriano e Maxêncio, dolorosamente arrependidas das monstruosas séries de arbitrariedades cometidas em nome da Força e do Poder contra pacíficos adeptos do Cordeiro Imaculado, pediram reencarnações na África infeliz e desolada, a fim de testemunharem novos propósitos ao contacto de expiações decisivas, fustigando, assim, o desmedido orgulho que a raça poderosa dos romanos adquirira com as mentirosas glórias do extermínio da dignidade e dos direitos alheios! Suplicaram, ainda e sempre corajosos e fortes, novas conquistas! Mas, agora, nas pelejas contra si próprios, no combate ao orgulho daninho que os perdera! Suplicaram disfarce carnal qual armadura redentora, em envoltórios negros, onde peadas fossem suas possibilidades de reação, e arvorada em suas consciências a branca bandeira da paz, flâmula augusta concedida pela reparação do mal! E os escravizadores de tantos povos e tantas gerações dignas! Os desumanos senhores do mundo terráqueo, que gargalhavam enquanto gemiam os oprimidos! Que faziam seus regalos sobre o martírio e o sangue inocente dos cristãos, expungiram sob o cativeiro africano a mancha que lhes enodoava o Espírito!Daí, meus discípulos queridos, a doce, mesmo sublime resignação dessa raça africana digna, por todos os motivos, da nossa admiração e do nosso respeito, a passividade heroica que nem sempre se estribou na ignorância e na incapacidade oriunda de um estado inferior, mas também no desejo ardente e sublime da própria reabilitação espiritual!






domingo, 15 de maio de 2016

O PREÇO ALTO DA INTOLERÂNCIA

Há varias formas pela qual ela se manifesta na vida das pessoas. Intolerância religiosa, politica, social, racial. As revelações do Espiritismo, contudo, demonstram que ninguém foge à responsabilidade, quaisquer sejam seus atos. O exemplo a seguir confirma isso, tornando-se publico através de depoimento através da mediunidade de Chico Xavier em 13 de maio de 1954.  O fato envolve lamentável decisão adotada no final do século 19 na cidade de Vassouras, Estado do Rio de Janeiro. Uma das proeminentes figuras da cidade foi convidada a participar de uma “reunião para estudar-se medidas compatíveis com a campanha abolicionista, então em culminância”. Discussões acaloradas resultaram em nada, deliberando-se pelas surpresas governamentais. O escravagista radical, “de volta ao lar, porém, veio a saber que a inspiração da providência sugerida partira inicialmente de um homem simples, de um homem escravizado, Ricardo, servo de sua casa, a quem presumia dedicar minha melhor afeição. Era seu  companheiro, confidente, amigo... Inteligência invulgar, traduzia o francês com facilidade. Comentávamos juntos as notícias da Europa e as intrigas da Corte... Muitas vezes, era ele o escrivão predileto em meus documentários, orientador nos problemas graves e irmão nas horas difíceis... Minha amizade, contudo, não passava de egoísmo implacável. Admirava-lhe as qualidades inatas e aproveitava-lhe o concurso, como quem se reconhece dono de um animal raro e queria-o como se não passasse de mera propriedade minha. Enraivecido, propus-me castigá-lo. E, para escarmento das senzalas, na sombra da noite, determinei a imediata prisão de quem havia sido para mim todo um refúgio de respeito e carinho, qual se me fora filho ou pai. Ricardo não se irritou ante o desmando a que me entregava. Respondeu-me às perguntas com resignação e dignidade. Calmo, não se abateu diante de minhas exigências. Explicou-se, imperturbável e sereno, sem trair a humildade que lhe brilhava no espírito. Aquela superioridade moral atiçou-me a ira. Golpeado em meu orgulho, ordenei que a prisão no tronco fosse transformada em suplício. Gritei, desesperado. Assemelhava-me a fera a cair sobre a presa.
Reuni minha gente e as pancadas — triste é recordá-las! — dilaceraram-lhe o dorso nu, sob meus olhos impassíveis.

O sangue do companheiro jorrou, abundante. A vítima, contudo, longe de exasperar-se, entrara em lacrimoso silêncio. E, humilhado por minha vez, à face daquela resistência tranquila, induzi o capataz a massacrar-lhe as mãos e os pés. A recomendação foi cumprida. Logo após, porque o sangue borbotasse sem peias, meu carrasco desatou-lhe os grilhões... Ricardo, na agonia, estava livre... Mas aquele homem, que parecia guardar no peito um coração diferente, ainda teve forças para arrastar-se, nas vascas da morte, e, endereçando-me inesquecível olhar, inclinou-se à maneira de um cão agonizante e beijou-me os pes... Não acredito estejais em condições de compreender o martírio de um Espírito que abandona a Terra, na posição em que a deixei... Um pelourinho de brasas que me retivesse por mil anos sucessivos talvez me fizesse sofrer menos, pois desde aquele instante a existência se me tornou insuportável e odiosa. A Lei Áurea não me ocupou o pensamento. E quando a morte me requisitou à verdade, não encontrei no imo do meu ser senão austero tribunal, como que instalado dentro de mim mesmo, funcionando em ativo julgamento que me parecia nunca terminar... Lutei infinitamente. Um homem perdido por séculos, em noite tenebrosa, creio eu padece menos que a alma culpada, assinalando a voz gritante da própria consciência. Perdi a noção do tempo, porque o tempo para quem sofre sem esperança se transforma numa eternidade de aflição. Sei apenas que, em dado instante, na treva em que me debatia, a voz de Ricardo se fez ouvir aos meus pés: — Meu filho!... meu filho!... Num prodígio de memória, em vago relâmpago que luziu na escuridão de minhalma, recordei cenas que haviam ficado a distância, quadros que a carne da Terra havia conseguido transitoriamente apagar... Com emoção indizível, vi-me de novo nos braços de Ricardo, nele identificando meu próprio pai... Meu próprio pai que eu algemara cruelmente ao poste de martírio e a cuja flagelação eu assistira, insensível, até ao fim... Não posso entender os sentimentos contraditórios que então me dominaram... Envergonhado, em vão tentei fugir de mim mesmo. Em desabalada carreira, desprendi-me dos braços carinhosos que me enlaçavam e busquei a sombra, qual o morcego que se compraz tão somente com a noite, a fim de chorar o remorso que meu pai, meu amigo, meu escravo e minha vítima não poderia compreender... No entanto, como se a Justiça, naquele momento, houvesse acabado de lavrar contra mim a merecida sentença condenatória, após tantos anos de inquietação, reconheci, assombrado, que meus pés e minhas mãos estavam retorcidos... Procurei levantar-me e não consegui. A Justiça vencera. Achava-me reduzido à condição de um lobo mutilado e urrei de dor... Mas, nessa dor, não encontrei senão aquelas mesmas criaturas que eu havia maltratado, velhos cativos que me haviam conhecido a truculência... E, por muitos deles, fui também submetido a processos pavorosos de dilaceração. Passei, porém, a rejubilar-me com isso. Guardava, no fundo, a consolação do criminoso que se sente, de alguma sorte, reabilitado com a punição que lhe é imposta”.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

VIDA E EVOLUÇÃO: AMPLIANDO CONCEITOS

Abrindo a edição de abril de 1865 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec apresenta interessante matéria em que sintetiza conforme o Espiritismo a dinâmica da evolução espiritual. Diz ele: -“A verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no invólucro corporal, do mesmo modo que não está no vestuário. Está no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo. Esse princípio necessita do corpo, para se desenvolver pelo trabalho que lhe cumpre realizar sobre a matéria bruta. O corpo se consome nesse trabalho, mas o Espírito não se gasta; ao contrário, sai dele cada vez mais forte, mais lúcido e mais apto. Que importa, pois, que o Espírito mude mais ou menos frequentemente de envoltório?! Não deixa por isso de ser Espírito. É precisamente como se um homem mudasse cem vezes no ano as suas vestes. Não deixaria por isso de ser homem. Por meio do incessante espetáculo da destruição, ensina Deus aos homens o pouco caso que devem fazer do envoltório material e lhes suscita a ideia da Vida Espiritual, fazendo que a desejem como uma compensação. Objetar-se-á: não podia Deus chegar ao mesmo resultado por outros meios, sem constranger os seres vivos a se entre destruírem? (...) Desde que na sua obra tudo é sabedoria, devemos supor que esta não existirá mais num ponto do que noutros; se não o compreendemos assim, devemos atribuí-lo à nossa falta de adiantamento. (...) Há também considerações morais de ordem elevada. É necessária a luta para o desenvolvimento do Espírito. Na luta é que ele exercita suas faculdades. O que ataca em busca do alimento e o que se defende para conservar a vida usam de habilidade e inteligência, aumentando, em consequência, suas forças intelectuais. Um dos dois sucumbe; mas, em realidade, que foi o que o mais forte ou o mais destro tirou ao mais fraco? A veste de carne, nada mais; ulteriormente, o Espírito, que não morreu, tomará outra.  Nos seres inferiores da Criação, naqueles a quem ainda falta o senso moral, nos quais a inteligência ainda não substituiu o instinto, a luta não pode ter por móvel senão a satisfação de uma necessidade material. Ora, uma das mais imperiosas dessas necessidades é a da alimentação. Eles, pois, lutam unicamente para viver, isto é, para fazer ou defender uma presa, visto que nenhum móvel mais elevado os poderia estimular. É nesse primeiro período que a alma se elabora e ensaia para a vida. Quando a alma atingiu o grau de maturidade necessário à sua transformação, recebe de Deus novas faculdades: o livre arbítrio e o senso moral, numa palavra a centelha divina, que dão novo curso às suas ideias e a dotam de novas aptidões e percepções. Mas as novas faculdades morais de que é dotada só se desenvolvem gradualmente, pois nada é brusco na Natureza. No homem, há um período de transição em que ele mal se distingue do bruto. Nas primeiras idades, domina o instinto animal e a luta ainda tem por móvel a satisfação das necessidades materiais. Mais tarde, contrabalançam-se o instinto animal e o sentimento moral; luta então o homem, não mais para se alimentar, porém, para satisfazer à sua ambição, ao seu orgulho, à necessidade, que experimenta, de dominar. Para isso, ainda lhe é preciso destruir. Todavia, à medida que o senso moral prepondera, desenvolve-se a sensibilidade, diminui a necessidade de destruir, acaba mesmo por desaparecer, por se tornar odiosa. O homem ganha horror ao sangue. Contudo, a luta é sempre necessária ao desenvolvimento do Espírito, pois, mesmo chegando a esse ponto, que parece culminante, ele ainda está longe de ser perfeito. Só à custa de muita atividade adquire conhecimento, experiência e se despoja dos últimos vestígios da animalidade. Mas, nessa ocasião, a luta, de sangrenta e brutal que era, se torna puramente intelectual. O homem luta contra as dificuldades, não mais contra os seus semelhantes.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

ESCRAVIDÃO: UM PROBLEMA RESOLVIDO?

O calendário histórico do Brasil registra o dia 13 de maio como a data da assinatura da Lei que libertou os escravos. No lado Ocidental da Terra, por sinal, foi a última das Nações a fazê-lo (1888) ao lado de Cuba (1886). O monitoramento das atividades humanas em torno do trabalho, contudo, revela que ela ainda existe em várias partes do Planeta, demonstrando o nível de evolução precário dos habitantes da Terra. De várias formas, explorando a mão de obra desde crianças até adultos, homens e mulheres. Prostituição infantil, feminina, tráfico de drogas, confecção de roupas e calçados, produtos manufaturados comercializados, em todos os Países, independentemente do seu grau de desenvolvimento econômico. Dados de 2014 estimam que 36 milhões de seres humanos são explorados em sua força de trabalho, mantidos em cativeiro contra sua vontade sem que tais indivíduos tenham condição de se libertar a não ser ocasionalmente através de fugas espetaculares. Calcula-se que o Brasil foi de longe o que mais recebeu escravos trazidos da África: mais de 5 milhões embora pouco mais de 4 milhões tenham chegado vivos durante os três séculos em que a prática perdurou. Quando do surgimento do Espiritismo (1857), a prática ainda resolvia os problemas da mão de obra nas regiões mais desenvolvidas do Planeta, fazendo com que o tema bastante incômodo para os detentores do poder econômico. Nas quatro perguntas (829 a 832) formuladas por Allan Kardec aos Espíritos que o assessoraram na organização d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS oferecem elementos para várias reflexões sobre o problema, infelizmente, ainda não resolvido Confirmemos: 1- Haverá homens que estejam, por natureza, destinados a ser propriedades de outros homens? É contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem. A escravidão é um abuso da força. Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os abusos. É contrária à Natureza a lei humana que consagra a escravidão, pois que assemelha o homem ao irracional e o degrada física e moralmente. 2- Quando a escravidão faz parte dos costumes de um povo, são censuráveis os que dela aproveitam, embora só o façam conformando-se com um uso que lhes parece natural? O mal é sempre o mal e não há sofisma que faça se torne boa uma ação má. A responsabilidade, porém, do mal é relativa aos meios de que o homem disponha para compreendê-lo. Aquele que tira proveito da lei da escravidão é sempre culpado de violação da lei da Natureza. Mas, aí, como em tudo, a culpabilidade é relativa. Tendo-se a escravidão introduzida nos costumes de certos povos, possível se tornou que, de boa-fé, o homem se aproveitasse dela como de uma coisa que lhe parecia natural. Entretanto, desde que, mais desenvolvida e, sobretudo, esclarecida pelas luzes do Cristianismo, sua razão lhe mostrou que o escravo era um seu igual perante Deus, nenhuma desculpa mais ele tem. 3- A desigualdade natural das aptidões não coloca certas raças humanas sob a dependência das raças mais inteligentes? Sim, mas para que estas as elevem, não para embrutecê-las ainda mais pela escravização. Durante longo tempo, os homens consideram certas raças humanas como animais de trabalho, munidos de braços e mãos, e se julgaram com o direito de vender os dessas raças como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais puro os que assim procedem. Insensatos! Nada veem senão a matéria. Mais ou menos puro não é o sangue, porém o Espírito. 4- Há, no entanto, homens que tratam seus escravos com humanidade; que não deixam lhes falte nada e acreditam que a liberdade os exporia a maiores privações. Que dizeis disso? Digo que esses compreendem melhor os seus interesses. Igual cuidado,  dispensam aos seus bois e cavalos, para que obtenham bom preço no mercado. Não são tão culpados como os que maltratam os escravos, mas, nem por isso deixam de dispor deles como de uma mercadoria, privando os do direito de se pertencerem a si mesmos.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

A ÚNICA SAÍDA

A reflexão sobre a complexa e caótica situação observada na sociedade humana nestes tempos de transição planetária, conduz a uma resposta única para reverter o quadro: a educação integral. O que seria? Do estudo desenvolvido em torno do tema dentro da série AS RESPOSTAS QUE O ESPIRITISMO DÁ, destacamos três das 27 oferecidas para sua avaliação. Partimos de quatro premissas básicas: 1- Quando se pensa, na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das consequências desastrosas desse fato? (LE) 2- Somente a educação pode reformar os homens. (LE, 796). 3- Educação é conjunto de hábitos adquiridos. (LE; 685ª/nota) 4-Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará – (Jesus) Vamos às respostas selecionadas: 1 - O que vem a ser Educação Integral? Atividade meio – ou fim -  dos ciclos evolutivos capazes de conduzir a individualidade ou Espírito na direção da conquista da felicidade e paz, ou progresso pleno. Principia no reconhecimento do Ser como Espírito, imortal, preexistente e sobrevivente a caminho da perfeição através de reencarnações sucessivas na condição humana, controlado pela Lei de Causa e Efeito cujo mecanismo e conceito funcionando adentro de si mesmo, vai se ampliando à medida que o grau de inteligência e consciência se desenvolvem. Pode ser considerada sob dois ângulos: do indivíduo que se compenetra dessa realidade e daquele que tem sob sua responsabilidade outros Espíritos na condição de tutelados com o nome de filhos. 2- Considerando ser a evolução espiritual consequência da educação do Espírito percebe-se que após a ascensão do Princípio Inteligente à condição humana ele vai como que sendo empurrado pelas circunstâncias. Em que ponto a Individualidade começa a agir conscientemente no seu processe evolutivo? O Espírito fica num estado inconsciente durante numerosas encarnações; a luz da inteligência não se faz senão aos poucos e a responsabilidade real só começa quando o Espírito age livremente e com conhecimento de causa. (RE, 1864) Não é nem após a primeira, nem à segunda encarnação que a alma tem consciência bastante nítida de si mesma, para ser responsável por seus atos, talvez só após a centésima ou milésima.  Durante longos períodos o Espírito encarnado é submetido a influência exclusiva dos instintos de conservação; pouco a pouco se transformam em instintos inteligentes ou, melhor dito, se equilibram com a inteligência; mais tarde, e sempre gradativamente, a inteligência domina os instintos. Só então começa a séria responsabilidade. A responsabilidade cresce em razão do desenvolvimento da inteligência. No ponto em que estamos, a inteligência está bastante desenvolvida para permitir ao homem julgar sadiamente o Bem e o mal; e é também deste ponto que a sua responsabilidade é mais seriamente empenhada. (RE) 3 - Neste contexto de mudanças, a visão do papel da família na busca de soluções para o caos social dominante precisa ser revisto e melhor compreendido? Sendo os primeiros médicos da alma de seus filhos, os pais deveriam estar instruídos, não só de seus deveres, mas dos meios de cumpri-los; não basta ao médico saber que deve procurar curar, é preciso que saiba como deve fazê-lo.  Ora, para os pais, onde estão os meios de se instruírem sobre essa parte tão importante de sua tarefa? Dá-se às mulheres muita instrução hoje; fazem-na suportar exames rigorosos, mas jamais foi exigido de uma mãe que ela saiba como deve fazer para formar o moral de seu filho?  São-lhes ensinadas receitas do governo da casa; mas se a iniciou nos mil segredos de governar os jovens corações? Os pais são, pois, abandonados sem guia à sua iniciativa, é por isso que, frequentemente, tomam um falso caminho; também recolhem, nos erros de seus filhos tornados grandes, o fruto amargo de sua experiência ou de uma ternura mal combinada, e a sociedade toda disso recebe o contra golpe. Uma vez que está reconhecido que, o egoísmo e o orgulho são a fonte da maioria das misérias humanas, que enquanto reinarem sobre a Terra, não se podem esperar nem paz, nem caridade, nem fraternidade, é preciso, pois, atacá-los no seu estado de embrião, sem esperar que sejam vivazes. (RE, 1864)

  



sábado, 7 de maio de 2016

AFINAL, O ESPIRITISMO É OU NÃO RELIGIÃO?

Má fé, ignorância, intolerância são alguns dos aspectos relacionados à resposta ouvidas das pessoas comuns sobre a pergunta: -“O Espiritismo é ou não uma religião? No número de dezembro de 1868, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec oferece elementos para reflexões a respeito. Argumenta ele: -“O verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção larga e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças; consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé. (...). Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto, porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza. Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinião se levantou. Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral. As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isto é, com o recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupa; pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem que, por isto, sejam tomadas por assembleias religiosas. Não se pense que isto seja um jogo de palavras; a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão não provém senão da falta de uma palavra para cada ideia. Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para com todos ou, em outras palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, pois sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade. A caridade é a alma do Espiritismo; ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade. Mas a caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, cujo inteiro alcance deve ser bem compreendido; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e defini-la, é que, provavelmente, reconhecem que isto ainda é necessário. O campo da caridade é muito vasto; compreende duas grandes divisões que, em falta de termos especiais, podem designar-se pelas expressões Caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais de que se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todos, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à benevolência.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

UMA EXPERIÊNCIA INCRÍVEL DE CHICO XAVIER


Chico Xavier vivenciou como médium situações proporcionadas pelo Espírito Emmanuel que nos oferecem interessantes ensinamentos sobre variados temas. A relatada por ele a seguir demonstra bem isso: -“Em outubro de 1958, ouvi, pela primeira vez, referência ao ácido lisérgico (...). Perguntei ao Espírito de Emmanuel, se eu poderia ter uma experiência desta com amigos de Belo Horizonte. Ele disse que eu não precisava ter essa experiência e que, me facultaria um ensinamento, nesse sentido, na primeira oportunidade. Quando foi à noite, vi-me no desdobramento fora do corpo. Emmanuel se aproximou informando que iria fazer a experiência desejada. Colocou uma bebida branca num copo – naturalmente em outro estado de matéria – e disse-me que aquele líquido era um alcaloide que iria me facultar experiência semelhante à que se tem com o ácido lisérgico. Depois que bebi aquela bebida, que era um tanto quanto amarga, comecei a me sentir muito mal, senti que estava entrando num pesadelo, vendo animais monstruosos em torno de mim, vendo criaturas de interpretação difícil, cenas muito desagradáveis, e acordei com a impressão de muito mal-estar, passando um dia terrível. Em Outubro, na minha terra, comumente, temos muita bruma seca e vi, então, o Sol como se fosse uma fogueira incendiando o céu e a bruma seca como se fosse a fumaça daquela fogueira. Tudo me irritava, tudo me descontrolava. Ã noite, então, ele me informou que na experiência que estava tendo e desejava, o alcaloide não fez senão aumentar os recursos que estava alimentando na minha mente. A bebida alterou minhas percepções e estava tendo resultado: vendo por fora de mim o que estava acontecendo dentro de mim. Com o espírito aflito, porque a situação era muito desagradável, pedi instruções para readquirir minha tranquilidade. Mandou-me que orasse, procurasse recolher-me ao silêncio e não falasse, e procurasse lugar onde praticar o bem para adquirir vibrações de alegria. Comecei a visitar doentes desamparados; procurar vibrações de simpatia aqui e ali, e durante uns cinco dias estive trabalhando por me desfazer daquele estado terrível da minha mente, que não era um estado muito longe da alienação mental. No sexto dia, melhorou. Aquela nuvem passou e adquire otimismo, compreensão da vida e paz de espírito. À noite, ele informou-me que eu iria ter a mesma experiência, iria beber o mesmo alcaloide do Mundo Espiritual, semelhante ao da Terra. Tornei aquela bebida de gosto amargo e o meu otimismo se transformou numa expressão de alegria profunda, numa embriaguez de felicidade. No outro dia tive sonhos maravilhosos, como se estivesse numa cidade de cristal, como se o céu fosse todo de vidro e qualquer luz se refletia em muitos ângulos. Acordei feliz. Fui para a repartição e o meu chefe de serviço tinha para mim expressão angélica. Os meus companheiros estavam todos nimbados de uma luz que eu não podia explicar. Os livros pareciam encadernados por pedras preciosas. As plantas e os animais tinham luz. Eu me sentia com aquele anseio de comunhão, aquela vontade de abraçar as pessoas, coma se todas fossem minhas e eu pertencesse a elas, sem nenhuma ideia de sexo, mas uma ideia, um desejo de transubstanciação, de transmutação nos outros seres. Durante uns quatro dias estive assim, naquele estado de alegria anormal. Ele, então, me disse: – Você também está vendo seu estado mental aumentado pelo alcaloide. Está vendo seu próprio mundo íntimo fora de você. Quero, então dizer-lhe que é preciso ter muito cuidado, porque o cérebro terrestre está condicionado a guiar a nossa mente para os assuntos alusivos à vida humana. Nós não podemos estar nem muito à frente, nem muito na retaguarda. O cérebro está condicionado para guardar-nos em equilíbrio, a fim de que possamos suportar a carga dos acontecimentos da vida, das provas de que necessitamos. Explicou-me, então, que a criatura, conforme seu estado mental traz para si mesma os próprios reflexos. Se a pessoa está muito triste, muito pessimista e toma ácido lisérgico, cai numa condição temível e não se sabe quais serão as consequências. Se ela está muito otimista, pode cair num problema de irresponsabilidade É um estado de embriaguez incompatível com a nossa necessidade de lutar com os nossos problemas humanos, com os nossos deveres. Nós estamos aqui para cumprir obrigações. Não estamos aqui para gozar de um céu imaginário, nem para fantasiar um inferno que devemos evitar. Chegamos à conclusão de que o acido lisérgico, ou um alcaloide qualquer, ou produto sintético que provoque estas sensações, são de resultados ruinosos se a Ciência não entra no assunto.

terça-feira, 3 de maio de 2016

JESUS TERIA SIDO APENAS UM MITO?

Uma das inteligências mais impregnadas do pensamento espírita no século XX, foi o professor de Filosofia, Jornalista e escritor J. Herculano Pires. Com ele, a divulgação do Espiritismo ganhou importante espaço na mídia impressa  e radiofônica, neste caso em particular através de um programa que esclareceu muitas dúvidas de interessados na visão espírita sobre variadas questões: NO LIMIAR DO AMANHÃ. Valiosos conhecimentos foram ali desdobrados e alguns admiradores da época recuperaram as opiniões do Professor e os enfeixaram em livro pouco conhecido. Dentre as dúvidas levantadas e ali preservadas destacamos uma tão interessante quanto curiosa: JESUS FOI UM MITO APENAS? Com a palavra Herculano Pires: -“A ideia de que Jesus é um “mito” levou alguns pensadores europeus a publicarem livros a respeito. Mas todo o esforço nesse sentido foi mal dado, diante daquilo que Deus negou a esses pensadores, isto é, diante das provas históricas irrefutáveis da existência de Jesus. Pois Jesus não está na História. Ele fez a História. O mundo em que vivemos é o mundo cristão e o mundo cristão nasceu de que? Dos ensinamentos de Jesus. Alguns naturalmente se apegam a certas exposições de pensadores materialistas, que querem negar a existência de Jesus. Mas a mesma é tão mais firmada na História do que qualquer outra. Além disso, os fatos comprovados e investigados atualmente, nas pesquisas universitárias, não apenas nas pesquisas dos religiosos, mostram que realmente Jesus existiu, foi um homem, agiu intensamente na Palestina, criou uma nova concepção do mundo, que foi registrada pelos seus discípulos, aparecendo mais tarde nas formulações dos Evangelhos. Poderão dizer, por exemplo: Os Evangelhos foram escritos muito depois da morte de Jesus (...). Ernesto Renan, por exemplo, que foi o grande investigador histórico, famoso por suas obras de investigação da história do Cristianismo, tem livros dedicados aos Evangelhos em que explica pormenorizadamente e afirma, de maneira decisiva, que os mesmos nasceram do círculo dos mais íntimos de Jesus, dos seus familiares, dos seus discípulos, daqueles que privaram com Ele. Passados mais de cem anos depois de Renan, aparece na França Charles Lindenberg, grande pesquisador e professor de história do Cristianismo na Sorbonne, que afirma, depois de profundos estudos a respeito, a mesma coisa que Renan. Os Evangelhos nasceram nos círculos mais íntimos, ligados a Jesus, portanto procedem da fonte dos Seus ensinos orais. Se isso não bastasse para provar a existência de Jesus, existem todos os testemunhos, dados pelos apóstolos. Alguém pode dizer: não há na História um registro assim, por um historiador qualquer, da passagem de Jesus na Terra. Realmente, essa passagem foi obscura. Jesus viveu na época do mundo clássico greco-romano. O que era importante, no tempo, era a história de Roma e não a história da Palestina. O que se passava na Palestina tinha pouca importância. Quando o historiador judeu Josefo trata da história da Palestina, ele não dá atenção a Jesus, porque Jesus era um rabino popular. Ele era uma figura exponencial do mundo judaico; não era nem sequer um sacerdote do templo. Ele era um daqueles tipos de rabinos populares, mestres do povo, que andavam pela Palestina, ensinando. A grandeza de Jesus não era material, exterior. Não era dada pelos nomes, nem pelos títulos. Era a grandeza moral e espiritual de Jesus que transparecia nos Seus ensinos. E a melhor grandeza desses ensinos se confirma pelos resultados que eles produziram no mundo. Qual foi o homem que, humildemente andando de sandálias, pelas praias de um lago humilde, como o lago de Genesaré, pregando nas estradas, nos povoados, nas ruas das cidades judaicas daquele tempo, numa província obscura do império romano, que era a Judéia, qual foi o homem, repito, que dessa humildade e nessa humildade conseguiu produzir, através simplesmente de palavras, ensinos orais, uma revolução total, que transformou a civilização greco-romana na Civilização Cristã? Quem conseguiu isso? Ninguém. Só Jesus. Esta é a maior prova, a mais decisiva prova de sua existência, do seu trabalho, da sua grandeza. 

domingo, 1 de maio de 2016

MAUS ESPÍRITOS: COMO AFASTÁ-LOS

Os Espíritos constituem todo um mundo, toda uma população que enche o espaço, circula ao nosso lado, mistura-se a tudo quanto fazemos. Se o véu que nô-los oculta viesse a ser levantado, nós os veríamos à nossa volta, indo e vindo, seguindo-nos ou nos evitando, conforme o grau de simpatia; uns indiferentes, verdadeiros desocupados do mundo oculto, outros muito ocupados, quer consigo mesmos, quer com os homens aos quais se ligam, com um propósito mais ou menos louvável, segundo as qualidades que os distinguem”. O comentário de Allan Kardec é amplamente autenticado por outro, o do físico Marcelo Gleiser no seu livro CRIAÇÃO IMPERFEITA (record) ao se referir visão da Teoria das Supercordas ao considerar que diz, “mesmo que as dimensões do espaço sejam imperceptíveis, são elas que determinam a realidade física em que vivemos”. Se pensarmos o nível de exposição às influências possíveis na atualidade pela desconexão que as pessoas vivem pelo afastamento dos assuntos da Espiritualidade, bem como, o desconhecimento sobre a realidade da revelação oferecida pelo Espiritismo, vale a pena avaliarmos o exposto no artigo que abre a edição de setembro de 1859 da REVISTA ESPÍRITA. Entre outras coisas, escreveu o autor da matéria sobre essas influências recíprocas do Mundo Espiritual ao Material e vice-versa: -“uma cópia perfeita do gênero humano, com suas boas e más qualidades, com suas virtudes e vícios. Esse envolvimento, ao qual não podemos escapar, já que não há recantos por demais ocultos que sejam inacessíveis aos Espíritos, exerce sobre nós e à nossa revelia, uma influência permanente. Uns nos impelem ao bem, outros ao mal; muitas vezes as nossas determinações resultam de suas sugestões; felizes daqueles que têm juízo suficiente para discernir o bom ou o mau caminho por onde nos procuram arrastar. Considerando-se que os Espíritos nada mais são que os próprios homens despojados de sua indumentária grosseira, ou almas que sobrevivem aos corpos, segue-se que há Espíritos desde que há seres humanos no Universo”. Tratando do fator desencadeador de qualquer processo de envolvimento e influencia observa: -“Antes de tudo podemos estabelecer como princípio que os Espíritos maus não aparecem senão onde alguma coisa os atrai. Portanto, quando se intrometem nas comunicações, é que encontram simpatias no meio onde se apresentam ou, pelo menos, lados fracos que esperam aproveitar; em todo caso, porque não encontram uma força moral suficiente para os repelir. Entre as causas que os atraem, é preciso colocar em primeira linha as imperfeições morais de qualquer natureza, porque o mal simpatiza sempre com o mal”. Como orientação para nos precavermos contra as más influências, devemos refletir sobre o seguinte: -“A primeira coisa é não os atrair e evitar tudo quanto lhes possa dar acesso. Como vimos, as disposições morais são uma causa preponderante. Todavia, abstração feita dessa causa, o modo empregado não deixa de ter influência. (...). Ora, se nos recordarmos do que já dissemos sobre a variada e numerosa população dos Espíritos que nos cercam, compreenderemos sem dificuldade que isso seria colocar-nos à mercê do primeiro que viesse, bom ou mau. E como nessa multidão há mais Espíritos maus do que bons, existe mais oportunidade para os maus, exatamente como se abríssemos a porta a todos os passantes da rua”., (...) Os bons chegam mesmo a permiti-lo para exercitar a nossa sagacidade em reconhecê-los, mas não terão nenhuma influência”.