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sábado, 29 de setembro de 2012

O Sexo Além da Morte


“...seu filho anda partido em dois, tamanho é o meu anseio de realizar-me na condição de homem(...). Muitos rapazes se desligam facilmente desses anseios. Tenho visto centenas que me participam estarem transfigurados pela religião e outros adotam exercícios de ioga com o objetivo de cortarem essas raízes da mocidade com o mundo(...).Meu tio Ivo fala em amor entre jovens apenas usufruindo o magnetismo das mãos dadas, e até já experimentei, mas a pequena não apresentava energias que atraíssem para longos diálogos sobre as maravilhas da vida por aqui. Fiz força e ela também; no entanto, nos separamos espontaneamente, porque não nos alimentávamos espiritualmente um ao outro. Creio que meu caso é uma provação que apenas vencerei com o apoio do tempo(...). Dizem por aqui que os pares certos trocam emoções criativas e maravilhosas no simples toque de mãos; no entanto, estou esperando o milagre”. O desabafo foi feito por Ivo Barros Correia Menezes à mãe, em carta psicografada por Chico Xavier, seis anos após seu desencarne aos 18 de idade, quando o veículo em que se encontrava com amigos foi colhido por ônibus cujo motorista ultrapassou o sinal vermelho. Embora o sexo além da morte não tenha sido objeto de mais aprofundados estudos por Allan Kardec, os Espíritos que auxiliaram no cumprimento do programa desenvolvido através do médium de Pedro Leopoldo, deixaram importantes subsídios para nossas reflexões. André Luiz, por exemplo, acompanhando a benfeitora Narcisa num atendimento num dos pavilhões em que começava a servir na colônia descrita em NOSSO LAR (feb), atraído por gritaria próxima, foi contido por ela, no instintivo movimento de aproximação, ouvindo dela: “- Não prossiga, localizam-se ali os desequilibrados do sexo. O quadro seria extremamente doloroso para seus olhos”. Mais à frente, num diálogo com Dona Laura que o acolhia em sua residência na colônia, registra que “toda experiência sexual da criatura que já recebeu alguma luz do Espírito, é acontecimento de enorme importância para si mesma”. MISSIONÁRIOS DA LUZ (feb), expõem situação verificada com  Marcondes que “no desdobramento natural do sono físico deveria estar em palestra proferida durante a madrugada pelo Instrutor Alexandre, em instituição localizada na Crosta e que é localizado em seu quarto de dormir, parcialmente desligado do corpo que descansava com bonita aparência, sob as colchas rendadas (...), revelando posição de relaxamento, característica dos viciados do ópio, tendo a seu lado, três entidades femininas” - definidas por André como da pior espécie de quantas já tinha visto nas regiões das sombras -, em atitude menos edificante, atraídas, segundo disseram pelos pensamentos curtidos pelo encarnado no dia anterior”.  O caso de Odila apresentado no ENTRE A TERRA E O CÉU (feb), mostra a situação de mulher desencarnada, evidenciando no corpo espiritual, o centro genésico plenamente descontrolado, não querendo senão o marido, em vista do apego enlouquecedor aos vínculos do sexo, que a paixão nada faz senão desvirtuar”. Segundo análise do Instrutor Clarêncio, embora “possua admiráveis qualidades morais, jazem eclipsadas. Desencarnou em largo vigor de seu idealismo, sem uma fé religiosa capaz de reeducar lhe os impulsos, justificando-se desse modo a superexcitação em que se encontra”. Calderaro, o Benfeitor apresentado em NO MUNDO MAIOR (feb), explica que “a sede do sexo não se acha no corpo grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização”. Acrescenta que “o cativeiro nos tormentos do sexo(...) é questão da alma, que demanda processo individual de cura, e sobre esta só o Espírito resolverá no tribunal da própria consciência”.  Na mesma obra, acompanhando tarefa socorrista efetuada em recinto reservado de um clube de dança, André observa: “-Algumas dezenas de pares encarnados dançavam, tendo as mentes absorvidas nas baixas vibrações que a atmosfera vigorosamente insuflava. Indefinível e dilacerante impressão dominou-me o Ser. Não provinha da estranheza que a indiferença dos cavalheiros e a leviandade das mulheres me provocaram; o que me enchia de assombro era o quadro que eles não viam. A multidão de entidades conturbadas e viciosas que aí se movia era enorme. Os dançarinos não bailavam sós, mas, inconscientemente, correspondiam, no ritmo açodado da música inferior, a ridículos gestos dos companheiros irresponsáveis que lhes eram invisíveis. Atitudes simiescas surgiam aqui e ali, e, de quando em quando, gritos histéricos feriam o ar”. Comentando a cena, o Orientador diz: “- Observamos, neste recinto, homens e mulheres dotados de alto raciocínio, mas assumindo atitudes de que muitos símios talvez se pejassem(...). Muitos deles são profundamente infelizes, precisando de nossa ajuda e compaixão. Procuram sufocar no vinho ou nos prazeres certas noções de responsabilidade que não logram esquecer”.  Na obra SEXO E DESTINO (feb), Neves, um dos personagens da narrativa, encontra o genro e funcionária de sua empresa numa – como ele diz –  furna penumbrosa em plena madrugada, qual marido e mulher, entregues à champanha e música lasciva. “Entidades perturbadoras e perturbadas, jungidas ao corpo dos bailarinos(...). Em recanto multicolorido, onde algumas jovens exibiam formas seminuas em coleios esquisitos, vampiros articulavam trejeitos, completando, em sentido menos digno, os quadros que o mau gosto humano pretendia apresentar em nome da arte. Tudo rasteiro, impróprio, inconveniente”. Chamando a atenção para essa realidade não divisada  pelos nossos sentidos normais, inúmeros depoimentos poderiam ser acrescentados a estes. Finalizando, porém, destacamos um que de certo modo surpreende por sua peculiaridade. Provém do E A VIDA CONTINUA (feb), envolvendo Ernesto Fantini que, vários meses após ter desencarnado, ansioso, retorna ao lar que fora dele defrontando-se com um quadro que jamais poderia imaginar. Conta: “-Elisa – a esposa -, descansava... O corpo magro, o rosto mais profuzamente vincado de rugas e os cabelos mais grisalhos. No entanto, junto dela, estirava-se um homem desencarnado”. Tratava-se de colega de infância, cuja amizade conservara adulto e que, embora também casado, pressentia nutrir atração anormal por sua esposa, a qual, a compartilhava. Anos antes, acreditava ter eliminado o rival numa caçada – na verdade atingido por tiro fatal desferido por outro – e, desligado compulsoriamente do corpo, passou a viver a partir de então  na casa e na cama com a pretendida  que o percebia pela ignorada mediunidade, ao longo do anos que se seguiram até aquele momento de reencontro”. Por tudo que foi mostrado nessa compilação, percebe-se que, a natureza não dando saltos, carregamos sempre conosco os efeitos causados por nós mesmos no uso de nossas potencialidades. Inclusive no campo do sexo. 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A Obsessão Sob Ângulos Inusitados




Um encontro casual após um esbarrão no final da tarde de 22 de outubro de 1946, numa das principais avenidas de Belo Horizonte, resultou numa amizade e convivência quase diária pelos próximos doze anos, até que as circunstancias obrigassem Chico Xavier a mudar-se para Uberaba, no Triângulo Mineiro. Assim explica Arnaldo Rocha sua ligação com o médium mineiro, que já na primeira oportunidade, surpreendeu o ateu e materialista Arnaldo, ainda abalado com a morte da querida esposa 21 dias antes. Após as apresentações, Chico, sem nunca tê-lo visto nesta existência, comenta sobre a beleza da jovem falecida, pedindo para ver a foto guardada no bolso traseiro de sua calça. A jovem chamara-se na existência recem terminada, Irma de Castro, apelidada Meimei, forma carinhosa com que o apaixonado esposo a tratava. Saber-se-ia mais tarde que remotas ligações uniam os três personagens, que ao longo de várias encarnações se encontraram nesta dimensão, assumindo compromissos que justificavam a reaproximação. Arnaldo, convertido ao Espiritismo, procurou recuperar-se da difícil perda, desdobrando-se em várias atividades doutrinárias, além de tornar-se ativo participante das desenvolvidas por Chico no Centro Espírita Luiz Gonzaga em sua cidade natal,  privando da intimidade da família Xavier, por mais de uma década. No início dos anos 50, Chico assoberbado pelo grande número de necessitados que o cercavam insistiu na importância de reativar de forma regular os trabalhos de desobsessão a que se consagrara até a morte de seu irmão José Xavier, em 1939. Assim , em 31 de julho de 1952, começava a funcionar o Grupo Meimei, sob a coordenação em nosso Plano de Arnaldo, apesar de não se reconhecer com o preparo necessário. Mergulhou numa confusão mental, como escreveria no livro MANDATO DE AMOR (uem), derivada do entristecimento pela “vivência e participação em situações tão infelizes”. Ocorreu-lhe a ideia de, através de Chico, pedir ao orientador espiritual Emmanuel, fornecesse maiores esclarecimentos sobre a obsessão. Instantes depois, o médium disse-lhe: “- Nosso Benfeitor pede para inteirar-lhe que no momento acha-se ocupado em determinados setores de serviço, que o impedem de atender-nos, como seria de eu desejo. Mas solicitará a um amigo a cooperação fraterna de sua experiência nesse mister”.  Semanas, depois, nos instantes finais das reuniões do Grupo Meimei, após modificações significativas na fisionomia de Chico, apresentou-se o Espírito do Dr. Francisco Menezes Dias da Cruz. Era a noite de 15 de julho de 1954, e o médico desencarnado, explicou estar atendendo às solicitações de Emmanuel, desdobrando desde então um ciclo de sete explanações sobre o assunto solicitado. Na primeira intitulada ALERGIA E OBSESSÃO, estabelece interessante proposição afirmando que “a obsessão é um processo alérgico, interessando o equilíbrio da mente”. Didaticamente explica: “- Recordemos que as radiações mentais, que podemos classificar por agentes “R”, na maioria das vezes se apresentam, na base de formação da substância “H”, desempenhando importante papel em quase todas as perturbações neuropsíquicas e usando o cérebro como órgão de choque. Todos os nossos pensamentos definidos por vibrações, palavras ou atos, arrojam de nós raios específicos. Assim sendo, é indispensável cuidar de nossas próprias atitudes, na autodefesa e no amparo aos semelhantes”. Na abordagem seguinte, PARASITOSE MENTAL, aprecia o vampirismo, figurando-o como sendo inquietante fenômeno de parasitose mental. Considera que “pelo imã do pensamento doentio e descontrolado, o homem provoca sobre si a contaminação fluídica de entidades em desequilíbrio, capazes de conduzí-lo à escabiose e à ulceração, à dispsomania e à loucura, à cirrose e aos tumores benignos ou malignos de variada procedência, tanto quanto aos vícios que corroem a vida moral, e, através do próprio pensamento desgovernado, pode fabricar para si mesmo as mais graves eclosões de alienação mental, como sejam as psicoses de angústia e ódio, vaidade e orgulho, usura e delinquência, desânimo e egocentrismo, impondo ao veículo orgânico processos patogênicos indefiníveis, que lhe favorecem a derrocada ou a morte”. Na terceira manifestação, tratou do DOMÍNIO MAGNÉTICO, serve-se do hipnotismo, comparando o estado de sujeição da vontade hipnotizado ao do obsediado. Diz que “o processo se assemelha ao utilizado pelos desencarnados de condição inferior, consciente ou inconscientemente, na cultura do vampirismo. Justapõem-se à aura das criaturas que lhes oferecem passividade e, sugando-lhes as energias, senhoreiam-lhes as zonas motoras e sensórias, inclusive os centros cerebrais, em que o espírito conserva as suas conquistas de linguagem e sensibilidade, memória e percepção, dominando-as à maneira do artista que controla as teclas de um piano, criando assim, no instrumento corpóreo dos obsessos as doenças-fantasmas de todos os tipos que, em se alongando no tempo, operam a degenerescência dos tecidos orgânicos, estabelecendo o império de moléstias reais, que persistem até a morte”. Seguindo, o Dr. Dias da Cruz, comentou a FIXAÇÃO MENTAL, dizendo que “as reações contínuas, hauridas pelos nervos da organização sensorial, determinando a compulsória movimentação do cérebro, associadas aos múltiplos serviços da alimentação, da higiene e da preservação orgânica, estabelecem todo um conjunto vibratório de emoções e sensações sobre as cordas sensíveis da memória, valendo por impactos diretos da luta evolutiva no espírito em desenvolvimento, obrigando-o a exteriorizar-se para a conquista da experiência”. Na visita seguinte, o assunto foi A TERAPEUTICA DA PRECE, em que ele considera que “no tratamento da obsessão, é necessário salientá-la como elemento valioso na introdução à cura”. Revela que “a técnica das Inteligências que nos exploram o patrimônio mento-psíquico baseia-se, de maneira invariável, na comunhão telepática, pela qual implantam naqueles que lhes acedem ao domínio as criações mentais perturbadoras, capazes de lhes assegurar o continuísmo da vampirização”. As duas últimas    abordagens seriam dedicados à AUTOFLAGELAÇÃO, em que lembra que “toda violência praticada por nós, contra os outros, significa dilaceração em nós mesmos”. Concluindo, o comentário dedicou-se à OBSESSÃO OCULTA, salientando o “impositivo de nossa vigilância em todos os estados passivos de nossa alma, porque, através da meditação e do sono, nos identificamos, muita vez de modo imperceptível, com os pensamentos que nos são sugeridos pelas inteligências desencarnadas ou não, que se afinam conosco e, se não nos guardamos na fortaleza das obrigações retamente cumpridas, caímos sem dificuldade nas malhas da obsessão oculta”. Os textos que podem ser lidos, estudados e meditados na íntegra nas páginas de dois monumentos literários - INSTRUÇÕES PSICOFÔNICAS e VOZES DO GRANDE ALÉM (feb), servem de base para pesquisas mais aprofundadas do grave e comum problema da obsessão.



terça-feira, 25 de setembro de 2012

FEA



   A família já estava dormindo quando o telefone tocou, solicitando a presença do pai no PS do Hospital das Clínicas, em São Paulo, pois seu filho mais velho tinha sido ferido gravemente durante tentativa de assalto, horas antes. O descontrole e alvoroço tomou conta de todos que, aflitos, se dirigiram ao local indicado, para a dura e triste constatação: Renato não resistira aos ferimentos resultantes dos tiros que o atingiram e viera a falecer. Jovem de apenas 22 anos, apesar da pouca idade, Renato José Sorrentino ostentava um currículo exemplar: cursava o quarto ano da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo e exercia o cargo de Analista de Sistemas da Bolsa de Valores de São Paulo. Desprendido dos bens materiais, afável, filho amoroso e dedicado aos pais e irmãos, cultivava o gosto pela música, dedicando-se ao estudo de violão clássico e piano. Cheio de planos para o futuro que se anunciava brilhante, com pressa de viver, na intenção de ganhar tempo no caótico trânsito da capital paulista, Renato adquirira uma moto que encurtava o tempo nos vários deslocamentos diários. Evidentemente não poderia supor que naquele final de noite de 5 de junho de 1984, ela fosse motivo da ação que culminaria com sua morte física. Isto porque ao término das aulas daquele dia, ao se dirigir ao estacionamento a fim de apanhar a moto, foi abordado por um rapaz que lhe pedia uma carona na garupa para sair da Cidade Universitária. “-Não podendo imaginar-lhe as reais intenções’, lembraria na carta que escreveria através de Chico Xavier, “coloquei-lhe a garupa ao dispor e seguimos juntos. Não houve tempo para muito diálogo. Passados alguns minutos, o rapaz pediu parada e deixou o pedal que eu lhe havia cedido. Mal nos defrontamos e ele sacou um revólver e os projéteis me atingiram com violência. Compreendi que era o fim. Fixei o infeliz que me prostrara sem comiseração e roguei a Deus em silêncio que me fizesse entender aquele estranho assalto, em que os meus melhores sentimentos haviam sido cruelmente explorados...O desventurado amigo ou inimigo (ainda não sei bem) procurou ganhar distância, mas foi reconhecido. A sangria desatada não me permitia qualquer movimento. Recordo-me de que alguns desconhecidos se abeiraram de mim, no entanto, meu cérebro como que se apagara”.  O desespero dos familiares e da noiva, a revolta dos colegas da Faculdade e amigos do trabalho pode ser imaginada. Embora a vida de seus pais tenha obedecido sequência normal nesses casos - velório, sepultamento, tentativa de suportação e superação da dor da perda -, a história nem a vida de Renato terminara. Exatamente cinco meses depois, seus pais restabeleceram contato com o querido filho, na noite/madrugada de 9 de novembro, na reunião pública do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba (MG), onde Chico Xavier, entre outras, leu perante numeroso publico, a carta escrita pelo filho, elucidando dúvidas e apreensões naturais em tragédias como a que o envolveu. Na comunicação, Renato, após saudar os pais, comenta lembrar-se exatamente da última frase do jovem que o abordou ainda no estacionamento da Faculdade: “-Oi, companheiro, dê-me por favor uma carona. Sou seu colega sem nica no bolso...”. Revela ter atravessado seus derradeiros momentos nessa vida, lúcido, totalmente consciente do que se passava. Comenta que o que se seguiu foi “um torpor, que nunca imaginei pudesse ser assim tão forte”,  se lhe apoderando do corpo e da mente. Essa “anestesia”, também citada por Allan Kardec em suas considerações no capítulo sobre o PASSAMENTO no livro O CÉU E O INFERNO, é sensação recorrente nos relatos transcritos por Chico Xavier, nas centenas de cartas recebidas de forma mais intensa no últimos trinta anos de trabalho a serviço da expansão do conhecimento em torno do Espiritismo. Seguindo Renato conta: “- Quanto tempo permaneci naquele desmaio sofrido de profunda inconsciência, ainda não sei. Acordei num aposento confortável, assistido por uma senhora em cuja presença adivinhava uma enfermeira prestimosa. Não pude articular a palavra logo após retomar a própria consciência, abrindo os olhos. Notei que uma grande dificuldade me tomara a garganta e, entre pensamentos enfileirando orações, esperei o momento no qual me foi permitido falar. Então, perguntei à protetora diligente sobre o meu próprio destino, já que a minha triste cena final me voltava à memória. Estaria em algum recanto de tratamento na Terra mesmo ou me achava em algum lugar fora do plano físico? O corpo estava quebrado, dolorido. A senhora me informou que a minha presença, fosse onde fosse, lhe seria muito grata ao coração e me recomendou chamá-la por vovó Josefina. Vovó Josefina era um nome que, muitas vezes, ouvi como sendo alguém de nossa família que a morte arrebatara, e ainda estávamos naquele início de conversação, que me espantava, quando outra senhora veio até nós, abraçou-me afetuosamente e me solicitou nomeá-la por vovó Benedita. Então, não tive mais dúvida. Chorei ali mesmo, refletindo em meus queridos pais, em meus irmãos e em nossa querida Sílvia, a quem prometera casamento. Vovó Josefina consolou-me e, qual se fizesse de mim um menino de volta à infância, me fez rememorar preces do tempo de criança que eu desde muito havia esquecido... Entendi, no entanto, que não estava numa universidade e sim num santuário. O santuário do lar em cujo clima de amor formara o coração”. Evidentemente a aceitação dos fatos que o tiraram dessa vida, não foram facilmente admitidos por Renato, afinal deixava para trás tudo aquilo pelo qual lutara até o momento, bem como, projetos imaginados para o próprio futuro. Sua pouca idade física, porém, por tudo que valorizou até então sua passagem por nossa dimensão, ocultava certamente um Espírito amadurecido, até pela reação demonstrada na sequência: “-Minhas avós me recomendaram pedir à Divina Providência bastante força para perdoar ao jovem que me despojara da vida física. E quando fiz isso, com todo o meu coração, pois, repeti as petições por vários dias consecutivos até que conseguisse repeti-las com sinceridade, pensei no infeliz companheiro qual se fosse ele meu próprio irmão do lar e, desde essa hora, um calor diferente me animou por dentro da própria alma”. Ainda na carta, preservada na obra VIAJARAM MAIS CEDO (geem), Renato daria outras demonstrações de ser ele mesmo a escrever, citando dados, que de forma alguma seriam do conhecimento prévio de Chico Xavier, inclusive o nome de seu agressor – Marcelo -, que veio a saber pelas conversas ouvidas na casa dos pais, à qual se mantinha mental e emocionalmente ligado, para onde, esporadicamente, era levado pelas bisavós paternas que o acompanharam na volta ao Plano Espiritual, a fim de aplacar a saudade.

domingo, 23 de setembro de 2012

Quem Foi (6) - a primeira mensagem


“–Olha, você quer saber de uma coisa? Eu vou escrever o que puder, pois a sua cabeça não aguenta mesmo”. O irritado desabafo foi manifestado ao jovem Chico Xavier, próximo de completar 21 anos, pelo poeta Augusto dos Anjos que tentava ditar ao médium um poema, enquanto ele regava os canteiros de alho existentes nos fundos da venda do senhor José Felizardo, como fazia todos os dias, após as seis da tarde. Lembrava Chico ser um momento de grande prazer tal atividade, porque ele se isolava de todo serviço no modesto armazém, ficando plenamente à disposição dos Espíritos amigos, enquanto as mãos despejavam água na plantação. Augusto dos Anjos, registrado Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos, nasceu em Engenho do Pau D’ Arco, na Paraíba, em 20 de abril de 1884, desencarnando 30 anos depois de pneumonia, em 12 de novembro de 1914, na cidade de Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor de Colégio. Formado advogado em 1907, pela Faculdade de Direito do Recife, não exerceu a profissão, dedicando-se ao magistério na Paraíba, lecionando português, até que após uma briga com o Governador em exercício, mudou-se para o Rio de Janeiro, passando a residir na casa de uma irmã, que desconfiava de sua sanidade mental pelo fato de falar em voz alta enquanto compunha seus versos no quintal de sua anfitriã. A propósito, um amigo contava que Augusto compunha ‘de cabeça’, gesticulando e pronunciando os versos de forma excêntrica, só depois transcrevendo o poema para o papel. Chico, por sinal, em resposta no primeiro programa PINGA FOGO a que compareceu, disse que o Espírito Augusto dos Anjos lhe dissera que gostava de escrever no campo e que aquela era uma hora - o final de tarde já citado – em que ele queria ditar para que, ouvindo, pudesse compreender com mais facilidade na hora de escrever. Augusto casou-se em 1910, perdendo prematuramente o primeiro filho dessa união, em 1911. Poeta precoce já que aos sete anos tinha escrito seu primeiro trabalho, teve seu único livro publicado em 1912, sob o sugestivo título EU, não se perdendo outros trabalhos por iniciativa de um amigo que os reuniu na obra, OUTRAS POESIAS. Com estilo oscilando entre o simbolismo e o parnasianismo, é considerado pelo conhecido poeta Ferreira Gullar, como um expoente do pré-modernismo. Materialista, grande crítico do seu tempo, influenciou-se fortemente por pensadores céticos, como Spencer, Haeckel e Schopenhauer. Sua poesia chocou a muitos, por romper o modelo formal clássico, preocupando-se em utilizar um conteúdo que a subverte através de uma tensão que repudia e é atraída pela ciência. Ciência que marca fortemente seu trabalho, através de termos e conceitos científicos. As imagens de sua poesia se caracterizam pela teratologia exacerbada por imagens de dor, horror e morte. Trinta e um anos depois de sua morte e catorze depois do primeiro encontro com Chico citado há pouco, na noite de 17 de junho de 1945, o médium após atender as obrigações profissionais junto ao seu chefe envolvido numa exposição agropecuária em Leopoldina, foi visitar o Centro Espírita Amor ao Próximo, daquela cidade. Um dos presentes à reunião pública que congregava algumas dezenas de pessoas, meio que descrente, comentou que “se os Espíritos se comunicam conosco, seria interessante que o Augusto dos Anjos viesse contar, em versos, com foi seu enterro já que morrera naquela localidade”. E o poeta veio mesmo, psicografando através de Chico, que se postara concentrado junto à mesa de trabalho, a descrição, em versos, de suas primeiras impressões após a morte sob o título RECORDAÇÕES EM LEOPOLDINA, onde, em 15 estrofes, começa contando: “-À sombra amiga destes montes calmos,  /  Meu pobre coração de anacoreta,  /  Amortalhado em fina roupa preta    /   Desceu à escuridão dos sete palmos”. Pede, a certa altura: “-Oh! Que ninguém perturbe os meus destroços,  /  Nem arranque meu corpo à última furna,  /  É Leopoldina, a generosa urna,  /  Que, acolhedora, me resguarda os ossos”. Por fim, após tecer ilações curiosas em torno das suas observações e percepções da substancial mudança de forma de vida, Augusto dos Anjos termina dizendo: “- Bendita seja a Terra, augusta e forte,  /  Onde, através das vascas da agonia,  /  Encontrei a mim mesmo, em novo dia,  /  Pelas revelações de luz da morte”. Retornando ao canteiro de alho em que se deu o singular diálogo com que abrimos este comentário, rememorando o, até certo ponto cômico desfecho, Chico disse que a poesia intitula-se VOZES DE UMA SOMBRA – talvez, para contrastar com MONÓLOGO DE UMA SOMBRA, escrito quando ainda estava encarnado. Inserida no livro PARNASO DO ALÉM TÚMULO (feb), a poesia contém “só o que conseguiu filtrar por mim, mas era muito mais bonita. Falava de fótons, cores, de mundos, galáxias”. Admite: “-Quem era eu para entender aquilo, eu que estava regando canteiros de alho?”. Por ser extensa, composta de vinte estrofes de cinco versos, por limitações de espaço, a reproduziremos parcialmente demonstrando o porquê das dificuldades do moço de baixa escolaridade de um vilarejo inexpressivo. “-Donde venho? Das eras remotíssimas  /  Das substâncias elementaríssimas,  /  Emergindo das cósmicas matérias.  /  Venho dos invisíveis protozoários,  /  Da confusão dos seres embrionários,  /  Das células primevas, das bactérias.     /     Venho da fonte eterna das origens,  /  No turbilhão de todas as vertigens,  /  Em mil transmutações, fundas e enormes;  /  Do silêncio da mônada invisivel,  /  Do tetro e fundo abismo, negro e horrível,  /  Vitalizando corpos multiformes.     /     Sei que evolvi e sei que sou oriundo  /  Do trabalho telúrico do mundo,  /  Da Terra no vultoso e imenso abdômen;  /  Sofri, desde as intensas torpitudes  /  Das larvas microscópicas e rudes,  / À infinita desgraça de ser homem”. Mais adiante, diz: “-E vejo os meus incógnitos problemas  /  Iguais a horrendos e fatais dilemas,  /  Enigmas insolúveis e profundos;  /  Sombra egressa de lousa dura e fria,  /  Grito ao mundo o meu grito que se alia  /  A todos os anseios gemebundos:     /     “-Homem! Por mais que gastes teus fosfatos  /  Não saberás, analisando os fatos,  /  Inda que desintegres energias,  /  A razão do completo e do incompleto,  /  Como  é que em homem se transforma o feto  /  Entre os duzentos e setenta dias.     /     A flor de laranjeira, a asa do inseto,  /  Um estafermo e um Tales de Mileto,  /  Como existiram, não perceberás:  /  E nem compreenderás como se opera  /  A mutação do inverno em primavera,  /  E a transubstanciação da guerra em paz”. Finalizando, conclui: “-Os fenômenos todos geológicos,  /  Psíquicos, científicos, sociológicos,  /  Que inspiram pavor e inspiram medo;  /  Homem! Por mais que a ideia tua gastes,  /  Na solução de todos os contrastes, Não saberás o cósmico segredo.     /     E apesar da teoria mais abstrusa  /  Dessa ciência inicial, confusa,  /  A que se acolhem míseros ateus,  /  Caminharás lutando além da cova,  /  Para a Vida que eterna se renova,  /  Buscando as perfeições do Amor em Deus”.
                 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A Função Educativa da Dor


Tentando mostrar aos pais como cresceu, a criança pega na faca para cortar   um pedaço de pão e, acidentalmente, fere o próprio dedo. Outra, desafiando a ordem de sua mãe, põe a mão no ferro de passar roupa aquecido e se queima. Compondo sua memória periférica da personalidade atual, tanto uma quanto a outra, descobriram o significado da dor física. Premida pelas necessidades financeiras, terminada a licença maternidade, a mãe deve retornar ao trabalho, precisando deixar sua criança no berçário, testemunhando a reação desesperada da mesma ante a pressentida primeira provisória separação. Os pais, como num ritual, repetem brigas diárias ignorando a presença da criança no ambiente doméstico, por vezes, envolvendo ou usando-a como instrumento de mútua agressão. Ante esses fatos, a criança começa a experienciar outro tipo de dor: a emocional. Confinada no apartamento da família, a criança desconhece o significado da palavra disciplina, seja alimentar, comportamental ou social, transformando-se no adolescente obeso, deslocado, sendo discriminado na escola, no condomínio em que vive, vivenciando outro tipo de dor: a psicológica. Educadores, especialistas na saúde mental, naturalmente possuem teses e conhecimentos capazes de tipificar ou colorir esses quadros com suas próprias cores e tintas, provavelmente concordando em um único ponto: são situações muito comuns no desenvolvimento do Ser humano que desde o nascimento caminha para a fase adulta de sua existência em nossa Dimensão. Na formação da personalidade que o identificará na sociedade, além da impressão digital ou o mapa genético, como vemos, a dor constitui-se em elemento importante na definição do indivíduo que se inserirá no meio em que atuará. Personalidade - como qualquer um de nós pode dizer -, derivada mais do senso de observação individual que de orientações verbais ou exemplos oferecidos. E o pior é que centrada exclusivamente nessa realidade em que nos reconhecemos, ignorando - ou preferindo ignorar- outras pretéritas ou futuras. Aqui, o fim chega para todos, mais dia, menos dia. A prova pode ser feita contemplando nossa imagem refletida no espelho hoje e a fotografia de dez ou vinte anos atrás. Não temos como nos enganar. Nem em relação ao antes e o depois. Absorvidos na visão de curto prazo, desdenhamos a de médio ou longo prazo.  Se prestarmos atenção, por exemplo, em famílias de vários irmãos, oriundos dos mesmos pais, evidenciam-se sugestivas diferenças. Tendências, gostos e preferências absolutamente diferentes, apesar da origem e influência comuns, sugerindo características desenvolvidas pela individualidade antes do berço. Para os desprovidos de preconceitos, efetivamente interessados em refletir sobre os “porquês?”, o Espiritismo e vários Instrutores Espirituais têm muito a oferecer. No tópico da dor, por exemplo, apresentam-nos uma visão bastante ampla. Precedendo em alguns anos a extraordinária obra vertida para nossa Dimensão pelo Espírito conhecido como André Luiz, o Orientador Espiritual de Chico Xavier, por seu intermédio construiu o livro O CONSOLADOR (feb). Organizando de forma muito didática as 411 respostas que dá à equivalente número de perguntas, variando de temas focalizando a visão do Espiritismo sobre Ciência, Filosofia e Religião, no tópico EVOLUÇÃO, tratando da dor, opina: “- Podemos classificar o sofrimento humano do Espírito como a dor-realidade e o tormento físico, de qualquer natureza, como a dor-ilusão. Em verdade, toda dor física colima o despertar da alma para seus grandiosos deveres, seja como expressão expiatória, como consequência dos abusos humanos, ou como advertência da natureza material ao dono do organismo. Mas, toda dor física é um fenômeno, enquanto que a dor moral é essência. Daí a razão porque a primeira vem e passa, ainda que se faça acompanhar das transições de morte dos órgãos materiais, e só a DOR ESPIRITUAL é bastante grande e profunda para promover o luminoso trabalho do aperfeiçoamento e da redenção”. Anos depois, o benfeitor Clarêncio, explicaria ao recém-chegado André Luiz em NOSSO LAR (feb): “-Dor, para nós, significa possibilidade de enriquecer a alma; a luta constitui caminho para a divina realização”. Na convivência com a mãe de Lísias, registra: “- Na Terra temos sempre a ilusão de que não há dor maior que a nossa. Pura cegueira: há milhões de criaturas afrontando situações verdadeiramente cruéis, comparadas às nossas experiências”. Posteriormente, em MISSIONÁRIOS DA LUZ (feb), acompanhando as apreciações dum Espírito apresentado como Irmão Francisco, colhe interessante observação: “- No leito de morte, as criaturas são mais humanas e mais dóceis. Dir-se-ia que a moléstia intransigente enfraquece os instintos mais baixos, atenua as labaredas mais vivas das paixões interiores, desanimaliza a alma, abrindo-lhe, em torno, interstícios abençoados por onde penetra infinita luz. E a dor vai derrubando as pesadas muralhas da indiferença, do egoísmo cristalizado e do amor-próprio excessivo. Então, é possível o grande entendimento”.  N’ OBREIROS DA VIDA ETERNA (feb), o Instrutor Jerônimo, em certo diálogo com André Luiz, observa que “a dor desenha a tela da lógica no fundo da consciência, com muito mais nitidez que todos os compêndios do mundo”. Em ENTRE A TERRA E O CÉU (feb), Clarêncio, ouvido por André Luiz em NOSSO LAR (feb), considera “a dor e a luta, a provação e o sofrimento, únicos elementos reparadores, suscetíveis de produzir em nós o reajuste necessário, quando nos pomos em desacordo com a Lei”, enquanto em LIBERTAÇÃO (feb),  a entidade de nome Matilde afirma que “somos diamantes brutos, revestidos pelo duro cascalho de nossas milenárias imperfeiçoes, localizados pela magnanimidade do Senhor na ouriversaria da Terra. A dor, o obstáculo e o conflito são bem-aventuradas ferramentas de melhoria em nosso favor”. Mas, a mais reveladora das informações disponibilizadas pela repórter André Luiz, reproduz comentário do Instrutor Druso na obra AÇÃO E REAÇÃO. Diz o seguinte: “- A dor é ingrediente dos mais importantes na economia em expansão. O ferro sob o malho, a semente na cova, o animal em sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semiconsciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a DOR-EVOLUÇÃO, que atua de fora para dentro, aprimorando o Ser, sem a qual não existiria progresso (...). Há a DOR-EXPIAÇÃO, que vem de dentro para fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados labirintos de aflição, para regenerá-la, perante a Justiça (...). Como temos ainda a DOR-AUXÍLIO, na qual, pela intercessão de amigos devotados à nossa felicidade e vitória, recebemos a bênção de prolongadas e dolorosas enfermidades no envoltório físico, seja para evitar-nos a queda no abismo da criminalidade, seja, mais frequentemente, para o serviço preparatório da desencarnação, a fim de que não sejamos colhidos por surpresas arrasadoras, na transição da morte. O enfarte, a trombose, a hemiplegia, o câncer penosamente suportado, a senilidade prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes, DORES-AUXÍLIO, para que a alma se recupere de certos enganos em que haja incorrido na existência do corpo denso, habilitando-se, através de longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso  na Vida Espiritual”.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Ainda a Lei de Causa e Efeito e o Suicídio



“-Por que não se é livre de pôr termo aos próprios sofrimentos?”, propõe para reflexão Allan Kardec, em comentário à resposta da questão 957 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, comentando na sequência que “estava reservado ao Espiritismo demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram que o suicídio não é apenas uma falta como uma infração a uma Lei Moral, consideração que pouco importa para certos indivíduos, mas um ato estúpido, pois, que nada ganha quem o pratica. Não é pela teoria que ele nos ensina isso, mas pelos próprios fatos que coloca sob nossos olhos”. Aprofundando ainda mais o tema, Kardec explica que “a afinidade que persiste entre o Espírito e o corpo produz, em alguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo sobre o Espírito, que assim ressente, mau grado seu, os efeitos da decomposição, experimentando sensações cheias de angústias e horror, estado que pode persistir tão longamente quanto tivesse de durar a vida que foi interrompida”. Como, por sinal, pode-se perceber nas postagens anteriores. Nas obras produzidas pelo Espírito André Luiz, através de Chico Xavier, dentro da série conhecida como NOSSO LAR, encontramos vários casos ilustrando a temática do suicídio, além de ponderações bastante esclarecedoras de vários Instrutores Espirituais. Clarêncio, por exemplo, na obra ENTRE A TERRA E O CÉU (feb), diz que “o suicídio acarreta vasto complexo de culpa. A fixação mental do remorso opera inapreciáveis desequilíbrios no corpo espiritual. O mal como se instala nos recessos da consciência que o arquiteta e concretiza(...). O pensamento que desencadeia o mal encarcera-se nos resultados dele, por que sofre fatalmente os choques de retorno, no veículo em que se manifesta”. Em outro momento, considera que “a morte prematura, quando traduz indisciplina diante das leis infinitamente compassivas que nos governam, constrange o Espírito que a provoca a dilatada purgação na paisagem espiritual. Não podemos trair o tempo, e a existência planificada subordina-se a determinada quota de tempo, que nos compete esgotar em trabalho justo. Quando esses recursos não são suficientemente aproveitados, arcamos com tremendos desequilíbrios na organização que nos é própria (...). Em qualquer tempo, receberemos da vida, de acordo com as nossas próprias obras”. No AÇÃO E REAÇÃO (feb),o Ministro Sânzio comenta que “da justiça ninguém fugirá, mesmo porque a nossa consciência, em acordando para a santidade da vida, aspira a resgatar dignamente todos os débitos de que se onerou perante a Bondade de Deus(...). Assim é que, se claudicamos nessa ou naquela experiência indispensável à conquista da luz que o Supremo Senhor nos reserva, é necessário nos adaptemos à justa recapitulação das experiências frustradas, utilizando os patrimônios do tempo. Figuremos um homem acovardado diante da luta, perpetrando o suicídio aos quarenta anos de idade no corpo físico. Esse homem penetra no mundo espiritual sofrendo as consequências imediatas do gesto infeliz, gastando tempo mais ou menos longo, segundo as atenuantes e agravantes de sua deserção, para recompor as células do veículo perispirítico, e, logo que oportuno, quando torna a merecer o prêmio de um corpo carnal na Esfera Humana, dentre as provas que repetirá, naturalmente se inclui a extrema tentação ao suicídio na idade precisa em que abandonou a posição de trabalho que lhe cabia”. Em esclarecedora mensagem escrita por Emmanuel, a propósito da questão 957 citada no início desses comentários, inserida no livro RELIGIÃO DOS ESPÍRITOS (feb), encontramos que “os resultados do suicídio não se circunscrevem aos fenômenos de sofrimento íntimo, porque surgem os desequilíbrios consequentes nas sinergias do corpo espiritual, com impositivos de reajuste em existências próximas. É assim que após determinado tempo de reeducação, nos círculos de trabalho fronteiriços da Terra, os suicidas são habitualmente reinternados nos plano carnal, em regime de hospitalização na cela física, que lhes reflete as penas e angústias na forma de enfermidades e inibições(...). Adita a isso, que “segundo o tipo de suicídio, direto ou indireto, surgem as distonias orgânicas derivadas, que correspondem a diversas calamidades congênitas, inclusive a mutilação e o câncer, a surdez e a mudez, a cegueira e a loucura, a representarem terapêutica providencial na cura da alma”. Ilustra sua observação dizendo que “os que se envenenaram, conforme os tóxicos de que se valeram, renascem trazendo as afecções valvulares, os achaques do aparelho digestivo, as doenças do sangue e as disfunções endócrinas, tanto quanto outros males de etiologia obscura; os que incendiaram a própria carne amargam as agruras da ictiose ou do pênfigo; os que se asfixiaram, seja no leito das águas ou nas correntes de gás, exibem processos mórbidos das vias respiratórias, como no caso do enfisema ou dos cistos pulmonares; os que se enforcaram carreiam consigo os dolorosos distúrbios do sistema nervoso, como sejam as neoplasias diversas e a paralisia cerebral infantil; os que estilhaçaram o crânio ou deitaram a própria cabeça sob rodas destruidoras, experimentam desarmonias da mesma espécie, notadamente as que se relacionam com o cretinismo, e os que se atiraram de grande altura reaparecem portando os padecimentos da distrofia muscular progressiva ou da osteíte difusa”. Evidente que a generalização como em qualquer caso em que o Espiritismo ou a mediunidade tenham servido para ampliar-nos o entendimento, não é cabível. Mas grande número de incompreensíveis doenças manifestadas ainda na fase embrionária ou infantil podem se enquadrar nas associações expostas no texto do condutor das tarefas mediúnicas de Chico Xavier. Quanto aos vínculos dos que recebem Espíritos portando qualquer tipo de inibição física ou mental, o Instrutor Ribas, na obra E A VIDA CONTINUA (feb), explica sob a ótica da Lei de Ação e Reação, que “somos mecanicamente impelidos para pessoas e circunstâncias que se afinem conosco ou com nossos problemas”,  de certa forma, sintetizando informação do Instrutor Druso em AÇÃO E REAÇÃO (feb), que disse “as entidades que necessitam de tais lutas expiatórias são encaminhadas aos corações que se acumpliciaram com elas em delitos lamentáveis, no pretérito distante ou recente ou, ainda, aos pais que faliram junto dos filhos, em outras épocas, a fim de que aprendam na saudade cruel e na angústia inominável o respeito e o devotamento, a honorabilidade e o carinho que todos devemos na Terra ao instituto da família. A dor coletiva é o remédio que nos corrige as falhas mútuas”.  



domingo, 16 de setembro de 2012

A Lei de Causa e Efeito e o Suicídio

Em resposta à questão a ele endereçada no livro O CONSOLADOR (feb), o Orientador Espiritual Emmanuel, através de Chico Xavier, opinou que “de todos os desvios da vida humana o suicídio é talvez, o maior deles pela sua característica de falso heroísmo, de negação absoluta da Lei de Amor e de suprema rebeldia à vontade de Deus, cuja justiça nunca se fez sentir, junto dos homens, sem a luz da Misericórdia”. Complementando a mesma pergunta sobre quais as impressões dos que desencarnam por suicídio, disse que “a primeira decepção que os aguarda é a realidade da vida que não se extingue com as transições da morte do corpo físico, vida essa agravada por tormentos pavorosos, em virtude de sua decisão tocada de suprema rebeldia”.  E, embora muitos possam considerar as imagens fortes demais, acrescenta que “suicidas há que continuam experimentando os padecimentos físicos da última hora terrestre, em seu corpo somático, indefinidamente. Anos a fio, sentem as impressões terríveis do tóxico que lhe aniquilou as energias, a perfuração do cérebro pelo corpo estranho partido da arma usada no gesto supremo, o peso das rodas pesadas sob as quais se atirou na ânsia de desertar da vida, a passagem das aguas silenciosas e tristes sobre os seus despojos, onde procuraram o olvido criminoso de suas tarefas no mundo e, comumente, a pior emoção do suicida é a de acompanhar, minuto a minuto, o processo da decomposição do corpo abandonado no seio da terra, verminado e apodrecido”. Um curioso depoimento que pode ser enquadrado nas situações evocadas por Emmanuel, faz parte dos relatos incluídos no livro VOZES DO GRANDE ALÉM (feb), composto de transcrições de manifestações psicofônicas através de Chico Xavier, entre os anos 52/56, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo (MG). Foi feito por uma entidade ali tratada nas reuniões de desobsessão. Seu nome Luis Alves. Como ele mesmo explicou, tendo reencarnado para cumprir determinada tarefa no socorro aos doentes, sob o signo da solidão individual, para que mais eficiente se tornasse seu concurso a benefício dos outros, em chegando aos trinta anos de idade, vendo-se pobre e sozinho, apesar dos múltiplos trabalhos de enfermagem que lhe angariavam larga soma de afetos, entregou-se, acovardado, ao desespero e, com um tiro no coração, aniquilou seu corpo. Desde esse instante, recorda, começou para ele uma odisseia singular, reconhecendo-se muito mais vivo que antes, continuando ligado à própria carcaça inerte. Não dispondo de parentes ou amigos que lhe solicitassem os despojos, foram entregues a uma escola de Medicina, sentindo-se a eles chumbado, passando seu corpo a servir em demonstrações anatômicas. Completamente como que “anestesiado”, ignorava dores físicas, não obstante cortado de mil modos; contudo, se tentava afastar-se da múmia que passara a ser sua sombra, terrível sofrimento, a expressar-se por inigualável angústia, lhe constrangia o peito, compelindo-o a voltar. Confessa que ninguém na Terra, enquanto no corpo denso, pode calcular o martírio de um Espírito desencarnado, indefinidamente jungido aos próprios restos. Sua aflição parecia não ter fim. Chorava, gritava, reclamava. Com o transcurso do tempo, desgastou-se-lhe a vestimenta de carne nas atividades de cobaia, mas, ainda assim, professores e médicos afeiçoaram-se-lhe ao esqueleto, que diziam   original e bem posto, e prosseguiu em seu cárcere oculto por vinte e seis anos – provavelmente  o tempo que lhe faltava para concluir a experiência reencarnatória -, até que situação “aparentemente” casual iniciou sua liberação.Evidente que há casos e casos, assim como não existem duas impressões digitais ou DNAs iguais. Como os mostrados na postagem anterior que revelam atenuantes a abrandar o sofrimento há pouco descrito e, por nós, imaginado.  Ainda do extraordinário acervo construído através do médium Chico Xavier nas reuniões públicas em que serviu mais intensivamente para que centenas de familiares pudessem restabelecer o contato com entes queridos desaparecidos pelas imposições da morte, destacamos alguns trechos de cartas de jovens desligados de nossa Dimensão pela equivocada decisão do suicídio. Antes, porém, reproduzimos pedido de um dos depoentes apresentados a seguir: “Ensinem que o suicídio é um despenhadeiro nas trevas e digam a  quantos sofram no mundo que a dor é bendita e que a vida se aperfeiçoa por ela, em nome de Deus”. CASO 1 – Milton Higino de Oliveira: “- A dor se aliviava com a aflição em meu cérebro, mas não consegui ver mais nada...Despertar foi um sofrimento muito mais agudo...Os filetes de sangue que me desciam da ferida feita por mim mesmo, tinham a vida de meu próprio arrependimento, estampado na memória. Muito a custo, percebi entre os que me tratavam, na casa de socorro em que me supunha vivo em meu corpo físico, tanto como antes da triste ocorrência, a presença de vovó Hipólita e do meu avô Manuel, que me cercavam de atenções”. CASO 2 – José Teodoro Caldeira: “- Desde o dia 16 de março, entrei num martírio sem saber que tempo estou. Escuto apenas a explosão... Terrível suicídio, dura lição, horrível prova... Ninguém morre. Pensei erradamente. Rebelei-me, mãezinha, até contra...Deus, rebelando-me contra a vida, e pago muito caro a decisão de criança irrefletida. Meu pai Ademar e vovó Iracema são aqui meus novos pais”. CASO 3  -  Lúcia Ferreira: “- A princípio, me vi numa nuvem, com a garganta em fogo, e uma dor que não parecia não ter fim. Chorei muito, mais do que choro hoje, até que me  vi no regaço de uma senhora que me disse ser a vovó Ana. Ela me ensinou a orar de novo, porque a dor não me deixava trabalhar com a memória. Amparou-me e como que me limpou os olhos para que eu enxergasse a luz do dia Fui internada num hospital-escola”. CASO 4 – Fernanda Luiza Batista dos Santos: “- Ninguém conseguirá imaginar o sofrimento da infeliz menina que fui por minha própria conta! Tenho o coração doente e a cabeça ainda bastante desorientada. Não tenho palavras para descrever o meu arrependimento...Não estou desvalida, porque a Infinita Bondade de Deus não nos abandona. Apenas ignoro como conseguirei rearticular o meu organismo, agora dilapidado”. CASO 5 – Francisco Adonias Nogueira Filho: “- A verdade é que a vida não me deixou e sofri o indescritível para aprender a veneração que me cabia dedicar ao corpo que Deus me dera, através de meus pais...Eu caí numa tremenda escuridão. O que se passou, não tenho vocábulos para contar. Quanto tempo me arrastei naquelas sombras densas, arrependido e infeliz, não sei dizer. Chorei mais ainda, ao verificar que alguém acertara comigo naquela imensidão de escuro em que me debatia. A voz me pediu paciência e oração e me afirmou  que era das vovós Evangelina e Tertinha a me buscarem. Desde então, fui hospitalizado para tratamento; no entanto, reconheço que a minha coluna se desajustou”. CASO 6 – Dimas Luiz Zornetta: “- Mãezinha, seu filho lhe pede perdão pelo que fez, conquanto saiba que agiu sob a pressão de inimigos invisíveis que me golpearam a mente...Eu fui um simples autômato para aquele ou aqueles que me indicaram o suicídio como sendo o melhor a fazer. Tinha um monte de desculpas dentro de mim. Sei que não tenho desculpas e que devo assumir os meus próprios atos, mas a senhora não imagina como sofro... Me vi sozinho num pesadelo em que tentava debalde retomar o meu corpo sem vida, e nesse pesadelo estive muitas semanas, até que escutei vozes amigas a me convidarem para segui-las na direção de socorro de urgência. Eu estava cego e deixei-me conduzir para tratamento,  nesse tratamento estou eu”.

sábado, 15 de setembro de 2012

O Que as Estatísticas Não Revelam


Estudo conduzido pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz através dos médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira, no mês de julho de 1965, em Nova Iorque, reproduzido no livro ENTRE IRMÃOS DE OUTRAS TERRAS (feb) – organizado com mensagens psicografadas por ambos em meio ao roteiro cumprido por eles no Exterior naquele ano -, revelava que a média de desencarnações por suicídio em dez países, era tão grave e significativamente alta, quanto a  do câncer e da arteriosclerose. Quase meio século depois, a Organização Mundial de Saúde (OMS), demonstra que as mortes por suicídio superam atualmente as causadas por guerras e homicídios, são mais elevadas em países do leste da Europa, perfazendo no mundo, um milhão de pessoas por ano. Estima que a cada quarenta segundos uma pessoa morra por suicídio, ocorrendo anualmente, 20 milhões de tentativas, enquadrando o problema como de saúde publica, que vai se agravando continuamente. Diferentemente da maioria das escolas religiosas e filosóficas, O Espiritismo tem algo importante a dizer sobre o problema. Indagados sobre o desgosto pela vida que se apodera de alguns indivíduos sem motivos plausíveis, responderam: “–Efeito da ociosidade, da falta de fé e geralmente da saciedade. Para aqueles que exercem suas faculdades com um fim útil e segundo suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente”. Acrescentam que “o louco que se mata não sabe o que faz”. A sociedade materialista do final do século 20, em sua maioria alheia e desinteressada, acomodada e indiferente às questões espirituais – não necessariamente religiosas -, expõe-se a outro fator por ela ignorado: a influência perturbadora dos desencarnados oriundos de experiências fracassadas do passado ou invejosos, despeitados e frustrados, para os quais a felicidade do próximo é insuportável. Nesse caso, aqueles que são arrastados para tal prática, imaginando ou não terminar com tudo, experimentam o abandono dos que a influenciaram. Foi o que disse a jovem Renata Zaccaro Queiroz, que aos 18 anos atirou-se do oitavo andar do prédio em que residia com os pais, na região dos Jardins, em São Paulo, no dia 5 de setembro de 1979, reaparecendo viva em carta psicografada pelo médium Chico Xavier seis meses depois em reunião pública em Uberaba (MG). Explica à mãe presente naquela noite/madrugada: “- Ainda não sei que força me tomou naquela quarta-feira. Tive a ideia de que uma ventania me abraçava e me atirava fora pela janela. Certamente devia  mobilizar minha vontade e impedir que o absurdo daquele momento me enlouquecesse. Obedecia maquinalmente aquela voz que me ordenava projetar-me no vácuo. Quis recuar, mudar o sentido da situação, não consegui. Nunca imaginaria que tanto sofrimento se seguiria ao meu gesto. Não desejo fugir às responsabilidades e inventar desculpas que não tinham razão de ser. O que sei é que agi na condição de uma rã que uma serpente atraísse”. Noutros pontos de sua carta, Renata tranquiliza a mãe, dizendo: “- Não senti qualquer dor quando meu corpo registrou o impacto do encontro com o piso do prédio. Não me achava em condições de ver ou ouvir. Tudo em mim era um redemoinho qual se tivesse arrancada de casa, assim como a tempestade desloca para longe uma árvore forte com suas próprias raízes” e “estou melhorando, se bem que me veja na posição de alguém com necessidade de socorro ortopédico”. Essas duas observações da mensagem, confirmam revelação da Espiritualidade de que: 1- o suicídio por indução de processos obsessivos, contam com o pronto socorro daqueles que nos acompanham e assistem nos bastidores, interessados no nosso êxito na experiência reencarnatória, o que, é claro, não isenta o praticante das lesões e traumas consequentes da forma a que sucumbiu; 2- O corpo espiritual ou períspirito é tratável na outra Dimensão através de procedimentos – cirúrgicos, ortopédicos até hemodiálises -, muito parecidos com aqueles a que submetemos o corpo físico que utilizamos aqui. De qualquer forma, a mais difícil das constatações daquele que imagina acabar com os sofrimentos que o perturbavam no fluxo continuo da vida não é tanto a constatação de que não conseguiu seu intento, ou seja, deixar de existir. O mais traumatizante é experimentar de forma contínua as impressões ou sensações derivadas do gesto radical. Wladimir Cezar Ranieri que aos 25 anos aniquilou seu corpo com um tiro no peito, em carta aos pais constante do livro AMOR E SAUDADE (ideal), revive suas últimas horas em nosso Plano: “- Idéias lamentáveis pareciam marimbondos em meu cérebro, sugerindo-me pusesse termo à existência de rapaz errante, em busca de um emprego que não aparecia. Deixei-me invadir por aqueles pensamentos amargos, quando me falaram de almoço. Antes que me retirasse do trabalho, alvejei o meu próprio coração com um tiro certo(...). Arrependi-me de tanto mal praticado contra mim, no entanto era tarde(...). Sei que entrei num pesadelo em que via o meu próprio sangue a rolar do peito como se aquele filete rubro não tivesse recursos de terminar. Despertei num hospital, onde me encontro até agora, em tratamento(...) Graças a Deus, melhorei da hemorragia incessante que me enlouquecia. Depois de algumas semanas de aflição, um médico apareceu com uma boa nova. Ele me disse que as preces de uma pessoa que se beneficiara com a córnea que doei ao Banco de Olhos se haviam transformado para mim num pequeno tampão que, colocado sobre o meu peito no lugar que o projétil atingira, fez cessar o fluxo do sangue imediatamente. Eu, que não fizera bem aos outros, que me omiti sempre na hora de servir, compreendi que o bem mesmo feito involuntariamente por uma pessoa morta é capaz de revigorar-nos as forças da existência”. De qualquer modo, o suicídio não se justifica em hipótese alguma. Mesmo quando uma pessoa vê à sua frente uma morte inevitável e terrível - como uma doença incurável -, que a leva a procurar abreviar alguns instantes de seu sofrimento, através, por exemplo, da eutanásia. Proposta a situação por Allan Kardec aos Instrutores que lhe esclareciam as dúvidas, estes disseram que “sempre se é culpado de não esperar o termo fixado por Deus. Aliás, haverá certeza de que ele tenha chegado, apesar das aparências, e não se pode receber um socorro inesperado no derradeiro momento?”. Finalizando, Kardec pondera no capítulo cinco d’ O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO: “- A calma e a resignação hauridas na maneira de encarar a vida terrestre, e na fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra o suicídio”. 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Fascinante Mundo Dos Fluidos

–“Emmanuel me disse que aquela senhora teve uma discussão forte com o marido, chegando quase a ser agredida fisicamente por ele. O marido desejou dar-lhe uma bofetada, não o fazendo por um recato natural. Contudo, agrediu-a vibracionalmente, provocando uma concentração de fluidos deletérios que lhe invadiram o aparelho auditivo, causando a dor de cabeça. Tão logo começou a reunião, Dr Bezerra colocou a mão sobre sua cabeça e vi sair de dentro do seu ouvido um cordão fluidico escuro, negro, que produzia a dor. Estava psicografando, mas, orientado por Emmanuel, pude acompanhar todo o fenômeno”. O comentário de Chico Xavier incluído na obra MANDATO DE AMOR (uem), se refere a uma vivência quando ainda trabalhava no Centro Espírita Luiz Gonzaga, envolvendo cooperadora do grupo a que pertencia que compareceu para o trabalho em determinada noite, reclamando de forte for de cabeça num dos lados do rosto. Ainda sobre a relação fluidos/palavra, no livro LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER (lake), o médium lembra que certa vez, tendo saído atrasado para o trabalho por ter perdido a hora, caminhava apressadamente quando uma vizinha gritou-lhe o nome, e, tentando esquivar-se dizendo que a atenderia na hora do almoço, foi impedido por Emmanuel que lhe determinou voltasse e se inteirasse do problema. A senhora solicitava explicações sobre orientação dada por escrito pelo Dr. Bezerra de Menezes. Esclarecida a dúvida, retomou o caminho, percebendo que a mulher, alegre, despedindo-se, diz: - Obrigada,Chico!.Deus lhe pague!.Vá com Deus!.. Neste instante, ouve o Benfeitor Espiritual sugerir: - Pare um pouco e olhe para trás.  Surpreso, observa uma massa branca de fluidos luminosos saindo da boca da irmã atendida, encaminhando-se para ele, entrando-lhe no corpo. Ouve ainda Emmanuel observar-lhe - “-Imagine se, ao invés de “Vá com Deus !”, dissesse magoada, “-Vá com o diabo”. De seus lábios estariam saindo coisas diferentes”. A questão dos fluidos foi substancialmente ampliada pelas observações e conclusões de Allan Kardec, sobretudo através das páginas da REVISTA ESPÍRITA, fundada e editada de janeiro de 1858 até sua desencarnação em 1869. Em artigo publicado em 1867, por exemplo, afirma que “o ar é saturado de fluidos conforme a natureza dos Espíritos (ou dos pensamentos dominantes)”. Consequentemente, “ambiente carregado de fluidos salutares ou malsãos exerce influência tanto sobre a saúde física como sobre a saúde moral”. Sendo assim, “em razão do seu grau de sensibilidade, cada indivíduo sofre a influência desta atmosfera, viciada ou vivificante”. Acrescenta que “pensamentos colhidos na fonte das más paixões - ódio, inveja, ciúme, orgulho, egoísmo, animosidade, cupidez, falsidade, hipocrisia, malevolência, etc -, espalham em torno de si eflúvios fluidicos malsãos que reagem sobre os que o cercam”. Comenta ainda que assim como  o “ar viciado é saneado com correntes de ar saudável, atmosfera com maus fluidos o é como fluidos bons. Como se percebe, o pensamento mais uma vez está por trás dos fenômenos do mundo dos efeitos. Kardec considera que “o pensamento age sobre os fluidos ambientes como o som age sobre o ar; esses Fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som”. Afirma que “os fluidos que emanam dos Espíritos (encarnados ou desencarnados) são mais ou menos salutares, conforme seu grau de depuração. As qualidades do fluido estão na razão direta das qualidades do Espírito encarnado ou desencarnado. Quanto mais elevados os sentimentos e desprendidos das influências da matéria mais depurado será seu fluido”. Já n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, na questão 70, alertara que “a quantidade de fluido vital se esgota; se transmite de um indivíduo para outro; que os órgãos do corpo estão, por assim dizer, impregnados de fluido vital, o qual dá a todas as partes do organismo uma atividade que as une em certas lesões e restabelece as funções momentaneamente suspensas; a quantidade de fluido vital não é fator absoluto para todos os seres orgânicos, variando segundo as espécies, não sendo fator constante,  seja no mesmo indivíduo, seja nos indivíduos da mesma espécie, e , por fim, quando os seres orgânicos morrem, o fluido vital remanescente retorna à massa”. Estudos posteriores, revelaram também que “a matéria inanimada absorve potencialmente fluidos humanos, retendo toda espécie de vibrações e emanações físicas, psíquicas e vitais”. Convertem-se assim em agentes evocadores das impressões psicométricas, como Ernesto Bozzano mostra na obra ENIGMAS DA PSICOMETRIA (feb). Sendo assim, da mesma forma que a influência deixada num objeto por pessoa viva tem a virtude de por o sensitivo em relação com a subconsciência dessa pessoa, assim também a mesma influência, deixada nos objetos por uma pessoa desencarnada tem o poder de por o sensitivo em relação com esses registros fluídicos ou mesmo, até com o Espírito que as deixou neles gravadas. Dai o fato de roupas de uma pessoa desencarnada poder causar sensações desconfortáveis naquela outra que a passa a usar. A água e a exposição ao Sol, desimpregnam tais peças dessa energia chamada remanente.  Os alimentos também sofrem a influência dos fluidos de quem os manipula ou consome. Chico Xavier conta que certa vez, solicitado a dar explicações na casa de pessoas publicamente reconhecidas como desregradas moralmente, ao adentrar a moradia, teve a atenção despertada por uma penca de bananas de sua preferência, deixando de pedir um dos seus frutos, por vergonha, apesar da fome que sentia. Entretido no diálogo com os anfitriões, olhou para a porta da rua e viu dois Espíritos galhofeiros. Um deles dizia: “-Vamos entrar e comer estas bananas”. Entraram, comeram as bananas e sairam. Posteriormente, buscando esclarecimentos com o Orientador Espiritual Emmanuel, dele ouviu “- Isto acontece com as casas cujos moradores não oram nem vigiam. Agora, essas bananas, desvitalizadas, apenas farão mal aos que as comerem, em virtude, de se acharem impregnadas de fluidos pesados. Tem razão nossos irmãos protestantes, quando oram às refeições”. A propósito da água fluidificada, o Espírito Emmanuel esclarece que “a água é dos corpos mais simples e receptivos da Terra (...). Alerta “que a água como fluido criador, absorve em cada lar, as características mentais dos seus moradores”. Confirma que “a água pode ser fluidificada de modo geral em benefício de todos e, se em caráter particular para determinado enfermo, é conveniente que o uso seja pessoal e exclusivo”. Recomenda que “se desejas, portanto, o concurso dos Amigos Espirituais na solução de tuas necessidades fisio-psíquicas ou nos problemas de saúde e equilíbrio dos companheiros, coloca o teu recipiente de água cristalina, à frente de tuas orações, espera e confia. O orvalho do Plano Divino magnetizará o líquido com raios de amor em forma de bênçãos”.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Impacto das Emoções em Nós

Ouvimos um não quando esperávamos um sim. Alguém chega até nós e comunica o falecimento de alguém muito próximo. Somos informados que nossos serviços não interessam mais à empresa em que trabalhávamos e estamos demitidos. A ideia do “soco” na boca do estomago não está de todo errada. Em interessante mensagem incluída no livro PENSAMENTO E VIDA    (feb), o Espírito Emmanuel, através de Chico Xavier, explica: “- Sabe hoje a Medicina que quase toda tensão mental acarreta distúrbios de importância no corpo físico. Estabelecido o conflito espiritual, quase sempre as glândulas salivares paralisam as suas secreções, e o estômago, entrando em espasmo, nega-se à produção de ácido clorídrico, provocando perturbações digestivas a se expressarem na chamada colite mucosa. Atingido este fenômeno primário, muita vez, abre porta a temíveis calamidades orgânicas, os desajustamentos gastrintestinais repetidos acabam arruinando os processos de nutrição que interessam o estímulo nervoso, determinando variados sintomas, desde a mais leve irritação da membrana gástrica até a loucura de abordagem complexa”. Os conhecimentos disponibilizados pela Espiritualidade através do Espiritismo nos levam a enxergar o corpo físico como um veiculo de manifestação do Espírito imortal que se serve dele em múltiplas reencarnações para buscar seu aperfeiçoamento, evolução, iluminação interior. Ao adentramos a Dimensão em que nos encontramos, replicamos no embrião que se tornará feto, que se tornará corpo, os registros repassados pelo Espírito ao corpo espiritual, arquivados na memória profunda, trazidos não só das existências anteriores, mas muitas vezes trabalhados pelos técnicos que, a partir de determinado nível, nos supervisionam o preparo da experiência a ser iniciada. Cumprida a gestação, nos primeiros anos da vida chamada física, dotados de um implemento cerebral “zerado” - ou seja, com uma memória periférica limpa de informações, como uma “esponja” -, vamos absorvendo imagens, sons, exemplos, que irão construindo a personalidade, que efetivamente começará a se definir quando as leis biológicas ativarem nosso mecanismo reprodutor, acordando a sexualidade, o erotismo, a fonte de prazer que leva o Ser humano a êxtases até aquele ponto não vivenciados na encarnação iniciada anos antes. Lembranças das relações familiares – ou não – traumatizantes; os apelos da mídia que se apoia na fome de sensações para induzir a comportamentos desequilibrantes; a visão de uma realidade caótica e atemorizadora; os exemplos observados das atitudes de insegurança, agressividade, definem o adulto com dificuldade de inserção social em que, geralmente, todos acabam se transformando. As situações inevitáveis resultantes de nossa liberdade – ou não - de agir, reagem sobre nosso emocional, repercutindo no organismo de manifestação resultando nas enfermidades de trato difícil por nascerem na estrutura espiritual que cada um representa. Os recursos da Medicina tecnológica dos nossos dias, bem como a farmacopeia focam apenas efeitos, ignorando a causa determinante que está longe de ser acessada. Parte de uma sociedade imediatista, acomodados à ideia de soluções de fora para dentro, por vezes, superamos reações orgânicas violentas para alcançar a estabilização. Presos a um ritmo frenético de vida, desdenhamos  a  origem da maior parte dos nossos males. Emmanuel em outro momento da mensagem há pouco citada, diz: “ –O pensamento sombrio adoece o corpo são e agrava os males do corpo enfermo. Se não é aconselhável envenenar o aparelho fisiológico pela ingestão de substâncias que o aprisionem ao vício, é imperioso evitar os desregramentos da alma que lhe impõem desequilíbrios aviltantes, quais sejam aqueles hauridos nas decepções e nos dissabores que adotamos por flagelos constante do campo íntimo. Cultivar melindres e desgostos, irritação e mágoa é o mesmo que semear espinheiros magnéticos e adubá-los no solo emotivo de nossa existência, é intoxicar, por conta própria, a tessitura da vestimenta corpórea, estragando os centros de nossa vida profunda e arrasando, consequentemente, sangue e nervos, glândulas e vísceras do corpo que a Divina Providência nos concede entre os homens, com vistas ao desenvolvimento de nossas faculdades para a Vida Eterna”. Ressalta que “ninguém poderá dizer que toda enfermidade, a rigor, esteja vinculada aos processos de elaboração mental, mas  podemos garantir que os processos de elaboração da vida mental guardam positiva influenciação sobre todas as doenças. Há moléstias que tem, sem dúvida, função preponderante nos serviços de purificação do Espírito, surgindo com a criatura no berço ou seguindo-a, por anos a fio, na direção do túmulo. Em outra mensagem, vaticina que “enquanto nos escasseie educação, nos domínios da mente, a enfermidade por mortificação involuntária, desempenhará expressivo papel em nossa vida espiritual. Na maioria das circunstâncias, somos nós quem lhe pede a presença e o concurso, antes da reencarnação, no campo da existência física, à maneira do viajor, encomendando recursos de segurança para a travessia do mar; e, em ocasiões outras, ela constitui auxílio de urgência, promovido pela bondade de amigos, que se erigem, nas esferas superiores, à condição de patronos da nossa libertação para a Vida Maior”. Lembra que “não somos as células orgânicas que se agrupam, a nosso serviço, quando necessitamos da experiência terrestre. Somos Espíritos imortais e esses microrganismos são naturalmente intoxicados, quando os viciamos ou aviltamos, em nossa condição de rebeldia ou de inferioridade. Os estados mórbidos são reflexos ou resultantes de nossas vibrações mais íntimas. Não trates as doenças com pavor e desequilíbrio das emoções. Cada uma tem sua linguagem silenciosa e se faz acompanhar de finalidades especiais. Adverte que “pela inconformação e indisciplina, desordenamos o fígado, estragamos os órgãos respiratórios, o estômago. Observamos, assim, que essas doenças-aviso se verificam por causas de ordem moral. Quando as advertências não prevalecem, surgem as úlceras, as nefrites, os reumatismos, as obstruções, as enxaquecas”. Ampliando-nos ainda mais nossa visão sobre as doenças, o Instrutor Espiritual pondera que, “quando não seja a advertência das células queixosas do tirânico senhor que as domina, é a mensageira amiga, convidando-nos a meditações necessárias”. Finalizando, aconselha: “-Desejas a cura é natural. Mas precisas tratar-te a ti mesmo, para que possas remediar o corpo. Nos pensamentos ansiosos, recorre ao exemplo de Jesus. Não nos consta que o Mestre estivesse algum dia de cama (...). Cumpre teus deveres, repara como te alimentas, busca prever antes de remediar e, pelas muitas experiências dolorosas que já vivi no mundo terrestre, recorda comigo aquelas sábias palavras do Senhor ao paralítico de Jerusalém: - Eis que já estás são; não peques mais ,para que não te suceda o pior”.



domingo, 9 de setembro de 2012

O "Racha"

A vida seguia seu curso normal para o casal Helena e André Monteiro Rodrigues, residentes na cidade de Ourinhos, no sudeste paulista. Três dos seus filhos cumpriam a rotina comum da formação estudantil, enquanto o mais velho, Wellington, então com 21 anos, cursava a Faculdade de Engenharia de Bauru, na qual ingressara alguns anos antes. O dia 7 de junho de 1979, contudo mudaria radicalmente a vida de todos os familiares, com inesperado telefonema solicitando a presença dos pais em Bauru, pois, o filho havia sofrido um acidente. Desarvorados e pressentindo o pior, seguiram para o endereço indicado, constatando a terrível e nunca esperada situação: Wellington estava morto, não tendo resistido aos múltiplos ferimentos decorrentes dos vários capotamentos do carro que ganhara, semanas antes, do pai, e, com o qual participava na noite anterior de um “racha” com amigos na rodovia Bauru-Piratininga. Perplexidade, inconformação, revolta, foram os sentimentos experimentados por todos a partir daquele dia, especialmente o pai que se culpava pelo fato do caro com que presenteara o filho pensando facilitar-lhe o acesso à Faculdade e o deslocamento pela cidade em que passara a viver, ter sido a causa de sua morte. Relembrando aqueles tristes dias, o Dr. André Monteiro Rodrigues, pai do rapaz, conta que “com o passar do tempo, amigos espíritas de Ourinhos que o visitavam, traziam notícias de Wellington e do Carlinhos, o amigo que ocupava o banco do passageiro e que igualmente morrera”. Confessa que “acreditava em tudo, contudo, não se conformava”. Por sugestão de um amigo médico, Dr. José Apolinário, três meses e vinte e cinco dias depois, foi com a esposa a Uberaba (MG), procurar Chico Xavier. Dentro da casa do Chico, teve a felicidade de ouvir que “o Wellington estava presente em companhia do avô Oswaldo meu pai”. Neste momento, não me contive e as lágrimas encharcaram-me a face. À noite, já na reunião, Chico psicografou a primeira mensagem do meu filho. Ouvi sua leitura aos prantos... No local, havia cerca de 200 pessoas. Pedi a palavra, e, naquele momento, fiz minha profissão de fé. Disse que ao Espiritismo uns vão por amor e outros pela dor. Tinha ido pela dor com a perda do filho estimado, mas graças a Deus fui”. À medida que falava e chorava, contagiava a todos, e, no final o choro foi um só. Dizendo-se desnorteado para escrever sua carta, Wellington, pede aos pais “não chorarem com tanta expressão de sofrimento e chamarem por ele”. Na ampla e profunda pesquisa que desenvolvemos ao longo dos anos nas centenas de cartas/mensagens recebidas por Chico Xavier, este é um pedido constante, pois, as mentalizações e verbalizações dos que ficam em nossa dimensão remoendo detalhes da perda e das circunstâncias que a assinalaram repercutem no Espírito que também sofre com a inesperada mudança, precisa de paz para se harmonizar e mantem-se sob intenso bombardeio de ondas de pensamentos carregadas de vibrações de dor moral. Reconstituindo seus derradeiros momentos em nossa dimensão, Wellington acrescenta: “- Realmente o problema foi uma “parada” difícil de resolver. Tive a ideia de que nos achávamos num pano de bilhar. Os carros eram as nossas bolas para pontos felizes e infelizes. Toquei para determinada direção, mas outro veículo nos acertou em cheio. Desejei socorrer o Carlinhos, mas não consegui. Não sei quanto tempo perdurou aquela situação de sono enfermiço, recolhendo as mais estranhas sensações. Queria manter-me aceso, mas nada consegui. Um sono profundo, traçado de sonhos em que tudo me vinha na memória, desde os meus primeiros dias de criança empolgou-me totalmente. Não tive outra saída senão cair num torpor esquisito no qual se falei alguma coisa foi claramente sem pensar”. Esses dois momentos também se repetem em inúmeros outros depoimentos psicografados por Chico Xavier: a chamada visão retrospectiva ou a recapitulação dos acontecimentos de todas a existência num átimo de tempo e a ideia do torpor, espécie de desmaio de curta ou longa duração até que o que morreu para nossa Dimensão, desperte no chamado Mundo Espiritual. Continuando seu depoimento, Wellington conta: “- Depois de algum tempo – que julgo longo -, acordei numa tarde agradável. Reconheci o lugar. Era o Jardim Melo Peixoto (praça pública em Ourinhos, SP), propício à meditação e aos bons pensamentos. Quis arrancar-me de lá para casa, mas não consegui. Parecia que eu entrara em outros processos de existência, no campo de gravitação. Reconheci-me preso à terra e, sentado, esperei que alguém me orientasse nos passos de volta ao lar. Muitas pessoas passaram por mim. Mas não me viam e nem me ouviam”. Tem se a impressão que Wellington estava num ponto de transição entre as duas Dimensões: a Material e a Espiritual. Wellington segue: - “Estranhando o caso, e com minha recordação do acidente a me empolgar o pensamento, continuei esperando... até que meu avô Oswaldo surgiu à minha frente, com dois amigos que se identificaram na condição de amigos dele, de nome Cristone e José Fernandes Grillo, que me convidaram para acompanha-los. E surpreendi-me, porque entrelaçando o meu braço com o de meu avô, senti-me leve de inesperado, buscando junto deles o refúgio onde me vejo ainda em tratamento. Estou melhor, mas nada sei do Oldack”. Os personagens citados, são antigos moradores de Ourinhos, desencarnados há vários anos, enquanto o outro é Carlos Oldack de Bem, o Carlinhos que encontrava-se no carro acidentado. A carta inserida no livro ASSUNTOS DA VIDA E DA MORTE (geem), contem outros detalhes importantes, dentre os quais destacamos o seguinte: - “Nosso corpo aqui não está isento dos resultados difíceis que remanescem dos acidentes. Não temos um corpo de impressões, e, sim, um veículo de manifestação com fisiologia maravilhosamente organizada. E a qualquer estrago obtido no mundo, nos casos de impacto, somos obrigados a tratamentos laboriosos, como acontece em qualquer hospital de Ourinhos. É um mundo novo, com faculdades novas a servir-nos, mas não disponho de outro recurso, senão aguardar a passagem do tempo, a fim de fazer as minhas próprias averiguações”.



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Que Foi (5) - a primeira mensagem


Terminada a reunião, após a leitura de mensagens e receitas, Chico parou, virou-se, e disse, timidamente: - Dr Melo, o senhor vai me perdoar, mas houve uma confusão muito grande, que eu não pude compreender. Eu tenho aqui um soneto de Hermes Fontes, dirigido à sua viúva, que ele diz estar aqui presente, e ser aquela senhora”, apontando para aquela que ele, Chico, pensara ser sua esposa. Melo Teixeira, catedrático de Psiquiatria e Crítico Literário, chegara ao modesto Centro Espírita – vários bancos e toscos caixotes, sob um teto de palha e sobre um chão de tijolos, faceando grande mesa, coberta por toalha branca, trazendo o nome LUIZ GONZAGA -, em Pedro Leopoldo, procedente de Belo Horizonte, com duas senhoras e outro amigo, Alberto Deodato, poucos minutos antes do início da reunião programada para aquela noite. Apresentou-se ao médium sem fazer o mesmo com seus acompanhantes. Chico, como de costume, após dizer-se honrado pela visita ilustre, indicou os lugares para todos. O Dr Melo Teixeira tomou assento à esquerda de Chico; mostrando um lugar à direita para a esposa do médico; mais adiante, fulano e beltrano; cicrano, ainda à frente. Após o receituário, o médium grafou inúmeras mensagens, sob o desconfiado olhar do visitante, que se traía de surpreso, diante de tal velocidade. O papel era de padaria, havendo diversos lápis com ponta muito bem feita. Chico pegava um lápis...deixava-o; pegava outro...deixava-o...enquanto alguém ia virando as folhas já psicografadas. Cesar Burnier, testemunha e narrador do fato no livro LUZ BENDITA (ideal), organizado por Rubens Silvio Germinhasi, comenta que “tinha-se a impressão que uma pedra havia caído num imenso reservatório de água: as lágrimas jorraram dos olhos da infeliz senhora, comovendo a todos, e enchendo de espanto o recinto singelo e desataviado”. O Dr. Melo, atônito, quase desconcertado, olhou para todos os lados e disse: “- Deixe-me ver o soneto Chico”... Leu-o, primeiramente, em silêncio. À medida que o fazia, todos pressentiam em seu semblante indescritíveis emoções. A testa vincada, tinha lívido o rosto... Súbito, ele, que era um homem honesto e leal ao extremo, vira-se para o público, que era reduzido, e confessa, fortemente chocado: “ – Meus amigos... Se eu andasse atrás de uma prova definitiva, comprobatória mesmo do mediunismo, jamais a encontraria como a encontrei aqui, neste instante. Ela veio às minhas mãos, sem esforço algum. Eu não conhecia Chico Xavier; Chico Xavier não me conhecia, e muito menos sabia que a ilustre senhora que aqui se encontra é viúva do grande poeta Hermes Fontes(...). Neste soneto Hermes Fontes faz referências ao seu auto-extermínio, motivado por inúmeros problemas, envolvendo o desalento familiar. Preciso notar ainda: Eu conheço toda a obra de Hermes Fontes e a conheço muito bem. O estilo é cem porcento o do poeta inesquecível. Todas as características poéticas estão profundamente assinaladas na peça. Este soneto só poderia ter sido produzido pelo Espírito do nosso querido Hermes”. Alberto Deodato, o outro integrante do grupo visitante, na obra RECORDAÇÔES DE CHICO XAVIER (lake), escrito por Rafael Ranieri, dá seu testemunho: “- Eu era muito amigo do Hermes Fontes. Ele era feio, pequeno, cabeça enorme. Éramos amigos de muitos anos. Assisti o casamento dele. Era da minha terra. Éramos muito unidos. O Hermes sofreu demais com a  mulher. Ele não tomava atitude, até que um dia se suicidou. A mulher, com o suicídio, ficou desesperada, não sabia o que fazer. Sei que tempos depois me procurou acompanhada de alguém. Queria ver o Chico Xavier. Fui com ela e o outro amigo a Pedro Leopoldo. Chico recebeu uma mensagem, um poema do Hermes. Não sabia que ali estava a esposa dele que chegara do Rio de Janeiro. Eu fiquei assombrado. Ela caiu em prantos e saiu carregada, desmaiada do pequeno Centro. Voltou amparada por nós, lavada em lágrimas. Impressionante”!... A peça poética, contudo, após a leitura pública naquela noite, extraviou-se, tendo uma cópia sido resgatada décadas depois como conta Cesar Burnier: “- Um dia, em 1968, fui a uma sessão de materialização, que não se realizou, porque nossa querida médium, sofrendo a interferência espiritual na barca que atravessava a baia da Guanabara, dormiu a sono solto, atravessando de Niterói para o Rio inúmeras vezes. No entanto, levara comigo um pequeno gravador, já antigo, mas em bom funcionamento. No meio da conversa, estimada senhora, de chofre, me diz: ‘- Vi um soneto uma única vez, e, encantada com sua beleza, decorei-o, quando o Sr. Leopoldo Cirne para mim o leu, de imediato, como se tivesse tirado uma fotografia mental dos versos. E dele jamais me esqueci: até hoje o guardo”. Como estivéssemos em ambiente espírita, franco e interessado nas coisas do “outro mundo”, perguntei-lhe que soneto era aquele, afinal. Ela insistiu em não deixar seu nome ligado ao episódio, mas arrematou: ‘- O soneto era de Hermes Fontes. Ele foi recebido em Pedro Leopoldo, na presença do Dr Melo’... Interrompi-lhe, a voz: - Melo Teixeira?... Ela acrescentou: ‘- É um soneto dedicado à viúva do poeta’. Interrompi-lhe novamente dizendo: “- Minha filha, este soneto está desaparecido há anos. Ninguém lhe tem cópia. A última vez que o vi, há muito tempo, estava já puído, dentro da carteira do Dr. Melo Teixeira. Ele desencarnou e o soneto perdeu-se. Pelo amor de Deus, vamos até a copa. A senhora precisa recitar para mim este soneto. Vou gravá-lo”. E assim foi. O soneto surgiu, novamente. Evocando o desfecho daquele momento inesquecível que a Espiritualidade, habilmente preparara, cujos lances do episódio eram totalmente desconhecidos pelo Chico, revejamos na tela da memória, as palavras do Dr Melo Teixeira: “- Vou lê-lo, para cumprir um dever de honra, fazendo com que sua voz ecoasse, comovida, no pequeno recinto: ( Para X, que está na sala)  / “ Não condeno o teu dia de ventura, / Dessa ventura que eu antegozei / Em meus sonhos lindíssimos de rei / Que em prazeres as mágoas transfigura.  /   Eras a luz suave, terna e pura, / A encantadora estrela que eu amei, / Sonho divino, que idealizei / Em meu mundo de sombra e de amargura.    /    A teu lado busquei amparo e um ninho, / Tomando, ávido, a mão que me estendeste, / Num grande e abençoado afeto irmão.   /   E deixaste-me, só, no meu caminho.... / Mas há nest’alma, que não compreendeste,Uma fonte sublime de perdão”.


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Os Animais

Quando morrem, por vezes, deixam um vazio na família a que se ligavam como se fosse um de seus membros. Quando fogem ou se perdem, provocam sérios desequilíbrios emocionais, sobretudo nas crianças. Quando maltratados, especialmente os cães, recebem seus agressores como se nada tivesse acontecido. Assim são os animais domésticos nos grupos sociais aos quais se vinculam. Tornam-se tão queridos e importantes que um Ministro de Estado do Governo brasileiro indagado sobre o uso de veículo público para levar ser cão ao veterinário, justificou-se dizendo que “cachorro também é gente”. O Espiritismo, de Allan Kardec aos nossos dias, tem interessantes informações sobre essas criaturas. Essencialmente evolucionista, muito além do que Charles Darwin conseguiu enxergar, a Doutrina Espírita considera o animal irracional uma forma que precede a do animal racional, ou seja, o homem. Afirmando que o que nos diferencia dos seres inferiores é nossa capacidade do pensamento contínuo, informa-nos o Espírito André Luiz, através de Chico Xavier, na obra EVOLUÇÃO EM DOIS MUNDOS (feb), que “há ideias-fragmento de determinado sentido mais avançadas em certos animais que em outros. Ainda assim, o cão e o macaco, o gato e o elefante, o muar e o cavalo são elementos de nossa experiência usual mais amplamente dotados de riqueza mental, como introdução ao pensamento contínuo”. Na mesma obra, revela que “aperfeiçoando as engrenagens do cérebro, o princípio inteligente sentiu a necessidade de comunicação com o semelhante e, para isso, a linguagem surgiu entre os animais (...). De início, o fonema e a mímica foram os processos indispensáveis ao intercâmbio de impressões ou para o serviço de defesa, como, por exemplo, o silvo de vários répteis, o coaxar dos batráquios, as manifestações sonoras das aves (...). Contudo, à medida que se lhe acentuava a evolução, a consciência fragmentária investia-se na posse de mais amplos recursos. O lobo grita pelos companheiros na sombra noturna, o gato encolerizado mostra fúria característica, miando raivosamente, o cavalo relincha de maneira particular, expressando alegria ou contrariedade, a galinha emite interjeições adequadas para anunciar a postura, acomodar a prole, alimentar os pintainhos ou rogar socorro quando assustada, e o cão é quase humano, em seus gestos de contentamento e em seus ganidos de dor”. Indagando a Espiritualidade Superior se os animais tem linguagem, Kardec obteve como resposta na questão 594 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS: “- Se pensais numa linguagem formada de palavras e de sílabas, não; mas num meio de se comunicarem entre si, então, sim. Eles se dizem muito mais coisas do que supondes, mas a sua linguagem é limitada, como as próprias ideias, às suas necessidade”. Sobre os que não possuem voz, parecerem destituídos de linguagem, revelaram que “compreendem-se por outros meios. Vós, homens, não tendes mais do que a palavra para vos comunicardes? E dos mudos, que dizeis? Os animais, sendo dotados de vida de relação, têm meios de se prevenir e de exprimir as sensações que experimentam. Pensas que os peixes não se entendem? O homem não tem o privilégio da linguagem, mas a dos animais é instintiva e limitada pelo circulo exclusivo das suas necessidades e das suas ideias, enquanto a do homem é perfectível e se presta a todas as concepções da sua inteligência”. A reencarnação nas diferentes espécies animais é mecanismo indutor à evolução como explicou o Instrutor Espiritual Aniceto no livro ENTRE A TERRA E O CÉU (feb): - “Cada Ser que retoma o envoltório físico revive, automaticamente, na reconstrução da forma em que se exprimirá na Terra, todo o passado biológico que lhe diz respeito, estacionando na mais alta configuração típica que já conquistou, para o trabalho que lhe compete, de acordo com o degrau evolutivo em que se encontra”. Talvez por isso, o Embriologista, contemplando o feto humano em seus primeiros dias, não possa afirmar com certeza, se tem sob os seus olhos o germe dum homem ou dum cavalo. “Renascidos, esses seres inferiores e necessitados do Planeta – ressalta o Instrutor Espiritual Alexandre em MISSIONÁRIOS DA LUZ (feb) -, não nos encaram como superiores generosos e inteligentes, mas como verdugos cruéis. Confiam na tempestade furiosa que perturba as forças da natureza, mas fogem, desesperados, à aproximação do homem de qualquer condição, excetuando-se os animais domésticos que, por confiar em nossas ´palavras e atitudes, aceitam o cutelo no matadouro, quase sempre com lágrimas de aflição, incapazes de discernir com o raciocínio embrionário onde começa a nossa perversidade e onde termina a nossa compreensão”. E, observa: “- Em nada nos dói o quadro comovente das vacas-mãe, em direção ao matadouro, para que nossas panelas transpirem agradavelmente”. Questionado sobre o porquê das deformidades congênitas no seio dos animais, nascidos cegos ou deformados, se eles não tem livre-arbítrio, o Espírito Emmanuel, através de Chico Xavier disse o seguinte: “- Se determinado cão é treinado para o ataque e a morte, com requintes de crueldade, se ele é programado para o mal (...), aí teremos um desajuste induzido pela irresponsabilidade humana. Ora, este mesmo cão aspira crescer espiritualmente para a inteligência e o livre-arbítrio. Mas, para isso, precisará experimentar o sofrimento que lhe reajuste o campo emotivo, aprendendo a pouco e pouco a Lei de Ação e Reação. Assim, ele provavelmente renascerá com sérias inibições congênitas. A responsabilidade de tudo isto, no entanto, dever-se-a à maldade humana”.  Ainda sobre o sofrimento entre os animais, Chico acrescenta que “os Espíritos explicam que eles passam por esses traumas para que possam adquirir memória e sensibilidade”. Embora na questão 600, esteja gravado, que “o Espírito do animal é classificado após a morte pelos Espíritos incumbidos de sua evolução, sendo utilizados quase imediatamente, não dispondo de tempo para se por em relação com outras criaturas”, a generalização não se aplica às questões da Evolução, mesmo porque Allan Kardec ressaltou que O LIVRO DOS ESPIRITOS não é uma obra acabada e os fatos acrescentaram outras informações sobre a vida dos animais no Plano Espiritual. Gabriel Delanne, na obra REENCARNAÇÃO (feb), colige vários depoimentos relacionados a espíritos de animais já desencarnados que se mantinham ao lado dos donos e Ernesto Bozzano, em meio às compilações que se tornaram sua marca registrada, revelou nos Anais das Ciências Psíquicas de 1905, deter 69 casos sobre o tema.  Delanne baseado em todas essas informações concluiu: 1- Que existem comunicações telepáticas entre o homem e os animais domésticos; 2- Que os animais apresentam, por vezes, fenômenos de clarividência, isto é, que percebem seres invisíveis; 3- Que são capazes de experimentar pressentimentos; 4- Que possuem uma forma fluídica que lhes permite desdobrar-se; 5- Que esse períspirito animal (corpo espiritual),persiste depois da morte, sob uma forma invisível, que pode ser descrita pelos videntes; 6- Que a materialização desse princípio, que individualiza a alma animal, foi por vezes observada nas sessões espíritas”.